Doutrina Espiritual
A Inabitação da Trindade na criatura
Para Elisabete, o mistério da Inabitação divina é a certeza,
pela fé, da presença de Deus no ser humano, o ponto central da doutrina da
Inabitação e de sua vida: entrar neste “Castelo Interior”, como fala Santa
Teresa de Jesus, para aí encontrá-lo e perceber os sinais de sua presença.
O Espírito Santo leva cada pessoa no caminho da conversão e
da santificação pessoal, quando esta se deixa “conduzir” por Ele , permite o
Espírito agir, orar e amar nela.
Eleva-a à Trindade, até que “Elisabete desaparece, perde-se
e se deixa invadir pelos Três”.
A Trindade é a verdadeira Pátria da nossa alma, “A Trindade:
aquí está nossa morada, nosso lugar, a casa paterna de onde jamais devemos
sair... ".
O fim último do homem, o motivo da sua existência, para
Isabel é a visão no Céu, desta Trindade
na Unidade Divina, ‘’o conhecimento da Trindade na Unidade é o fruto e o termo
final de toda a nossa vida’’.
No Céu, porque na terra mesmos os Santos apenas
conseguem um vislumbre nublado desse Grande Mistério.
A criatura humana é o lugar predileto da Inabitação da
Trindade, haja visto que, com ela, Deus entra em um intercâmbio dialógico e
amoroso.
O “Nada” que descobriu ser não a impedia de avançar firme e
mergulhar no “Tudo”: Deus.
Elisabete está consciente da necessidade de morrer,
para ressuscitar.
“Se o grao de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá
só” (Jo 12,24)
A vivência do mistério da Inabitação é um constante
exercício de identificação com Jesus Cristo,na busca da Vontade do Pai, na
realidade onde está inserido.
É total obediência.
Estabelece-se a Inabitação de Deus, quando Ele vive e mora
no ser humano, quando dispõe da vontade humana, como oferecimento e
consentimento.
Habitar em uma casa é dispor dela; a habitação perfeita
supõe a propriedade e o poder de usar de tudo que a casa tem, segundo o próprio
querer.
Deus Trindade não quer ser somente hóspede, mas também estabelecer a
sua morada permanente, como alguém íntimo e participativo de tudo o que
acontece nessa casa.
Fazer-se casa é ter a mentalidade de ser casa.
Elisabete compreende que é necessário se deixar orientar e
conduzir pela Ruah (sopro, vento, vendaval e furacão) divina.
Reconhece que tudo do que é capaz de transformar nela é
graça de Deus, o próprio Deus agindo nela.
O amor transforma, aos poucos, todo
ser e agir de Elisabete.
Quem ama tem o
coração conectado com o objeto amado, fala e age de acordo com essa conexão de
amor.
A participação da vida social não a desvia de seu objetivo : viver na
interioridade.
A sua vida interior intensa a faz voltar-se constantemente
Àquele que aí habita e recolher-se em sua “casa” e nela desfrutar da companhia
do morador divino.
Basta entrar dentro de si e aí encontrá-lo.
Deseja elevar-se acima de todo o criado; viver desnudada
daquilo que impede sua transfiguração; encontrar-se inteira e chegar ao cume de
seu itinerário espiritual: “Só com o Só”
Viver o mistério da Inabitação é perceber a presença amorosa
e envolvente de Deus no universo, sem confundi-lo com seu Criador.
O silêncio
Elisabeth da Trindade tem um amor especial pelo silêncio, porque
o silêncio é o que a permite estar a sós com Deus.
Para ela, a fim de poder
viver com Deus, uma ascese do silêncio é necessária: na realidade todos os
barulhos exteriores e interiores (a imaginação, a sensibilidade e o
intelectualismo) são obstáculos à presença de Deus.
Silêncio do intelecto: nada de pensamentos inúteis.
Silêncio do julgar: nada da hiper-critica do mundo
moderno.
Silêncio da vontade; que opera na alma o grande silêncio
do Amor.
‘’Se tudo em mim, desejos, temores, alegrias, dores, não estiver ordenado para Deus, eu não serei silenciosa, haverá ruido em mim e a minha alma não conseguirá vibrar na mesma frequencia de Deus e Ele não a toca, porque ainda há muito excesso de humano nela’’.
"Escuta minha filha, apura o teu ouvido, esquece o
teu povo, e a casa do teu pai e o Rei ficará enamorado de ti".
Apura o teu ouvido para escutares o silêncio das
potências adormecidas, pela unidade do teu ser.
Esquece o teu povo, esquece teus apegos ao mundo
exterior, sensibilidades, recordações, impressões, numa palavra...o teu eu.
Esquece a casa do teu pai, deixa a vida natural para
viveres a sobrenatural, deixa a carne para viveres do Espírito.
Logo que rompas, te libertes disso tudo, o Rei fica
enamorado da tua beleza, porque sendo Uno és Belo.
És uno se viveres no Eterno presente, sem antes ou
depois, inteiro na unidade do teu ser, no agora Eterno. Então serás perfeito
como o Pai é Perfeito.
Quando a criatura despojada vive no seu silêncio, o
Criador contempla-a e enamora-se dela e fá-la passar para essa imensa, infinita
solidão, esse lugar 'espaçoso', onde Ele se faz ouvir, pois essa solidão é a Sua
própria Divindade.
‘’Se tudo em mim, desejos, temores, alegrias, dores, não estiver ordenado para Deus, eu não serei silenciosa, haverá ruido em mim e a minha alma não conseguirá vibrar na mesma frequencia de Deus e Ele não a toca, porque ainda há muito excesso de humano nela’’.
O silêncio, segundo a espiritualidade de Elisabeth da
Trindade, não tem então um fim em si mesmo, mas procura permitir que a alma
possa estar com Deus.
Silenciar, para ouvir o “balbuciar” do Eterno em seu
coração, Elisabete direciona os sentidos exteriores no que diz respeito às
relações com as coisas terrenas.
Eles devem se aquietar, para dar lugar à Ruah
divina que sussurra palavras inaudíveis.
Tudo em nós se deve calar ; os sentidos exteriores, em relação
ás coisas da terra; e as potências interiores, em relação a todos os ruidos que
vêm do intimo de nós.
Quando este silêncio interior se estabelece na alma, ‘’ele
permite a Deus se imprimir nelas e as transformar em Si’’.
Realiza-se então o fim último da vida humana, a União
Transformadora onde o Mestre fica livre, livre de Se escoar, de Se dar, tanto
quanto a alma O comporta; e a alma assim simplificada se torna o trono do
Imutável, como a Unidade é o trono da Trindade.
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