O Dom da Piedade
O segundo Dom do Espírito Santo é o Dom da Piedade, que
significa amor por Deus (ou amar a Deus).
Corresponde à Virtude da Justiça e ao
pecado da Luxúria.
Pela Virtude da Justiça, damos ao outro (a Deus ou ao
próximo) aquilo que lhe pertence.
A Virtude infusa da religiao ligada à Virtude
da Justiça, rende a Deus o culto que Lhe é devido na Sua qualidade de Senhor,
Ser Supremo e Criador.
Pelo Dom da Piedade, damos ao outro, tudo o que podemos dar,
sem medidas.
O Dom da Piedade só presta atenção à excelência incriada de
Deus, e só admite como medida do seu louvor a glória que Deus encontra em Si
mesmo e nas Suas infinitas perfeições.
Só se fixa no Mistério insondável no
centro mesmo da Sua Trindade, Ela própria a destinatária deste Dom da Piedade.
Este Dom produz no coração um afeto filial para com Deus e
uma terna devoção às Pessoas e às coisas divinas, para fazer-nos cumprir com
presteza e alegria os deveres religiosos.
Quando nós tentamos amar a Deus, fazemos de uma forma
egoísta, não com 'amor' mas com 'desejo'.
Só Deus (o Espírito Santo) nos pode
dar o verdadeiro amor com o qual O podemos 'amar', e não 'desejar'.
Este amor
de Deus é uma espécie de amor universal.
Não é tanto uma sensação de amar
alguém do tipo 'amar a Jesus Cristo' que não passa de uma idolatria.
É mais um
amor do tipo 'amar o Universo'.
Uma espécie de amor impessoal que passa através
de nós, como se fosse uma espécie de brisa.
Só Deus (o Espírito Santo) nos pode
dar esse amor, e não vale a pena tentar forçar porque ele não aparece devido ao
nosso esforço.
Em termos simples, a Virtude da Justiça ajoelha-se perante o
Senhor, o Dom da Piedade coloca-nos no colo do Pai.
Apenas porque "Ele é Grande em Si mesmo" o Dom da
Piedade exalta sobretudo essa Altura Divina que mal se apercebe nas obras
criadas exteriores a Ele, que são apenas uma ínfima manifestação dessa Altura.
É o abandono nos braços do Pai para que Ele faça da
criatura, Seu filho, assim abandonada o que Ele sabe que é o melhor para ela.
O filho entrega-se totalmente sem pré-condições sem nada
pedir, sem considerações interesseiras, sejam necessidades ou benefícios, aqui
estou, faz de mim uma Tua imagem.
Isabel da Trindade
O Dom da Piedade na sua máxima expressão liga-se à
eternidade dos Bem Aventurados que "adoram Deus por causa Dele
mesmo", se têm como nada, se desprezam, se perdem de vista, para apenas se
encontrarem no Louvor eterno ao Ser adorado em êxtase de Amor esmagado pela
beleza, pela força, pela imensa grandeza
desse Ser.
A ternura, como atitude sinceramente
filial para com Deus, exprime-se na oração.
A experiência da própria pobreza
existencial, do vazio que tantas coisas terrenas deixam na alma, suscita no
homem a necessidade de recorrer a Deus para obter graça, ajuda, perdão.
O Dom
da Piedade orienta e alimenta essa necessidade, enriquecendo-a com sentimentos
de profunda confiança em Deus, experimentado como Pai providente e bom.
A ternura, como abertura
autenticamente fraterna ao próximo, manifesta-se na mansidão.
Com o Dom da Piedade,
o Espírito Santo infunde no crente uma nova capacidade de amar o próximo,
fazendo com que o seu coração de certa forma participe da mesma mansidão do
Coração de Cristo.
O cristão piedoso sempre consegue ver os outros como filhos
do mesmo Pai.
Por isto, sente-se
impelido a tratá-los com a gentileza e amabilidade próprias de uma genuína
relação fraterna.
Acresce que o Dom da Piedade extingue no coração os focos de
tensão e de divisão como a amargura, a cólera, a impaciência e alimenta-o com
sentimentos de compreensão, tolerância e perdão.
Este Dom está, por isso, na
raiz daquela nova comunidade humana que se fundamenta na civilização do amor.
Deus nos trata com Piedade.
Dá-nos o que necessitamos, muito
mais do que aquilo que merecemos.
Progressão deste Dom
Desenvolve-se em quatro estágios:
1) Coloca em nossa alma uma ternura filial para com Deus
nosso Pai: Deus é, acima de tudo, nosso Pai.
2) A piedade nos coloca na alma um filial abandono nos
braços do Pai celeste.
3) Faz-nos ver no próximo um filho de Deus e nosso irmão.
4) O Dom da Piedade nos leva a devotar amor sincero a todas
as pessoas e coisas que estão de algum modo relacionadas com a paternidade de
Deus.
Necessidade deste Dom
Deus é visto com este Dom como um Pai bom e que nos acolhe
não já como um Senhor e isso nos dá alento para nos abrigarmos nesse aconselho
e Lhe darmos também a nossa gratidão por nos ter criado.
Então toda a prática espiritual se torna uma necessidade da
alma, um prazer e um voo do coração para Deus.
Sem isso a oração apenas ao
Senhor seria mais ‘obrigação’ que ‘deleite’ , as provações e desalentos surgiriam
como castigos severos e injustos.
Sem isso a nossa prática apenas buscaria a
nossa consolação e não a consolação do nosso Pai amigo.
Igualmente no dia a dia,
tudo o que fazemos é por amor ao Pai, numa atenção constante ao Seu deleite e
satisfação.
É pois esta Piedade activa que O adora ao fazer a Vontade
Dele, pois fazemos a Vontade do nosso Pai e não já do Senhor Todo Poderoso e
Criador.
É uma entrega e obediência total por ‘movimento’ amoroso nas
mãos Dele e nos deixarmos por Ele conduzir nos caminhos da nossa vida, pois só
Ele sabe o que nos mais convém em cada momento para nos purificar e unir a Ele.
Meios de cultivar este Dom
1) Lendo textos sagrados onde Deus mostra a sua bondade e
misericórdia paternal com os homens e sobretudo com os justos.
2) Transformando
nossas acções diárias em actos de Piedade filial para com nosso Pai e de
Piedade fraternal com nosso próximo.
Sem comentários:
Enviar um comentário