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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 10






O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos


Parte 10


O Processo de Renascimento

Se a ilusão se manteve devido ao mau karma e à falta de compreensão da pessoa, segue-se o caminhar para o renascimento num ventre.


Existem ainda duas possibilidades de isso não acontecer (o renascimento) : 

1) Impedir o defunto de entrar num ventre.
Aqui o defunto tem uma derradeira possibilidade de se libertar se conseguir manter a serenidade e meditar seja na sua divindade tutelar seja no Bem e desfazendo essa imagem se concentrar de seguida na Clara Luz.

2) Fechar as portas de entrada no ventre existindo 5 métodos possiveis. 

Método A
Decidir firmemente ter um único proposito, pensar apenas o bem, abandonar toda a inveja e conservar apenas o amor e a fé.

Método B
Perante visões cada vez mais pressionantes de casais copulando e atraindo-o, o defunto deve pensar na sua divindade tutelar, mestre, guru e solicitar deles a graça de o libertar e fechar os ventres que o solicitam.

Método C 
As visões de actos sexuais aumentam, o defunto deve evitar qualquer sentimento em relação aos seus hipotéticos futuros pais, seja de ódio/repulsa ou atracção.

Normalmente quem nasce macho tem ódio ao pai e atracção pela mãe e vice versa. 

Deve manter a mente nessa firme determinação de distanciamento emocional.

A mensagem aqui é :
‘’ És livre agora, não queiras ser enclausurado numa forma oval num ventre e ser transformado num cachorro, és agora um ser humano, não queiras sofrer como um cachorro num canil ou um porco numa pocilga.
Não queiras provar a estupidez, a brutalidade, e a obscuridade intelectual miseráveis e sofrer inúmeros sofrimentos ligados ao nascimento no mundo’’.


Método D 
Aqui o defunto deve pensar que tudo é ilusório e nada tem realidade.
Tudo são sonhos e fantasias da sua mente.
Para quê então se prender a algo que não tem realidade ?
Para quê então ter medo de algo que não tem realidade ?
Se o defunto estiver concentrado nisto, consegue imprimir esta convicção na sua consciencia e verá a porta do ventre fechada.


Método E 
Aqui o defunto deve conservar a mente em atitude serena, natural (não modificada) meditando na Clara Luz ou no vazio. 


Nota :
Pode perguntar-se para quê tantas e sucessivas confrontações ?

Porque quando se está morto todas as nossas faculdades estão ‘amplificadas’ (ouvimos e de imediato compreendemos e captamos), a memória é nove vezes mais lúcida que em vida e por aí adiante relativamente ás restantes faculdades .

O morto já não tem suporte fisico que o impeça de pensar e ‘estar lá’, não tem barreiras fisicas e de compreensão, pode por isso comprender algo de imediato se lhe for dito.

Por isso, há que ‘aproveitar’ esse estado mais ‘desperto’ do morto para lhe incutir as instruções necessárias à sua libertação por meio de sucessivas confrontações até ele perceber que, se quiser, se tiver vontade forte, pode ser livre e evitar o renascimento. 


Daí os inúmeros actos funerários simbólicos em todas as tradições e os 49 dias do Bardo para confrontar o morto sucessivas vezes. 


A Escolha do ventre 

Para quem não fechou as portas anteriores agora tem de fazer uma ‘boa’ escolha do ventre para renascer. 

O defunto verá várias alternativas, seja em continentes, paises , cidades, aldeias, e finalmente seus pais. 

A mensagem aqui é :
‘’ Não entres em lugares escuros, desertos, decrépitos, desolados, lugares de forte atracção ou repulsão, procura locais onde a religião e o espiritual prevaleça.

Agora que tens um pequeno poder de presciência, podes escolher adequadamente.

Se vires ameaças (de entidades, sons, visões terriveis) não te inquites e mantém a calma sem buscar refúgio (num ventre) por isso.

Se buscares um refúgio para te esconderes-protegeres das ameaças, dificil será de lá saires (pois o ventre é ‘acolhedor’) e teres errado na escolha do ventre, um renascimento em local errado e que te trará sofrimentos.

Escolhe um ventre sem estares ‘pressionado’e mantém tua mente serena’’. 



Nascimento Sobrenatural e no Ventre 

O defunto tem aqui duas alternativas: 

Num derradeiro esforço da sua consciência pode transferi-la para outro nível-plano existencial de Buda puro (céus, paraisos, edens, purgatórios ,etc ) sem renascer como humano impuro e escravo do destino.

Para isso tem de meditar:

‘’ Ai de mim, este nascer em ventre me desgosta, me horroriza, me repugna, quero nascer na Terra pura de Buda no meio da uma flor de lótus.’’

Esta firme e sentida resolução se for mantida pelo defunto irá libertá-lo do renascimento em ventre humano.

Caso contrário, o ventre o espera e só pode de melhor escolher aquele que for o mais adequado para si, como se disse acima , sem atracção nem repulsão, com a maior imparcialidade e onde o espirito mais prevaleça.

O defunto mais inapto nestas práticas deve pelo menos, antes de entrar num ventre, de manter a cabeça erguida e meditar na Luz e no paraiso.

Ao ventre e pais escolhidos, dirigir sentimentos de amor e confiança, assim como se abençoa uma catedral-igreja a inaugurar, ‘ visualiza como uma catedral celeste o ventre onde estás entrando para o purificar’.

O ventre ideal dará um corpo dotado e livre das 8 servidões :

Prazeres excessivos, guerras-conflitos continuos, escravidão da brutalidade, sede e fome, frio e calor, irreligião, defeitos fisicos e cargas genéticas negativas.

A entrada num ventre ideal seria : Entrar nele intencionalmente, estar nele consciente e sair dele sábiamente.


Assim se conclui o Bardo Thodol, livro da Arte de BEM  viver para MELHOR morrer.

Em conclusão, os mais adiantados no momento da morte (Chikhai Bardo) apreendem de imediato a Clara Luz e têm libertação imediata.


Os menos exercitados passam ao Chonyid Bardo onde poderão apreender ainda a Clara Luz em algumas das suas ramificações secundárias e seguir caminho ascendente ou se integrar mais tarde nas Divindades pacificas e iradas e passar aos planos respectivos.

Os mais fracos de espirito passam ao Sipda Bardo e terão hipóteses de renascer seja em planos espirituais ou em ventres humanos para prosseguir sua evolução kármica. 





Notas finais : 

A leitura do Bardo Thodol é aconselhada aos vivos para se prepararem para a morte. 

É aconselhada à pessoa (se tiver ainda faculdades activas) que está a morrer, recitar e reflectir no texto para se relembrar ou fixar agora nesse momento crucial o que precisa saber para se ‘orientar’ pós morte. 

É aconselhada que seja lida pelos parentes ou religiosos que acompanham o morto, pois este está agora a ‘ouvir’ melhor que em vida (e a leitura fica melhor ‘impressa na sua mente) e assim pode ‘despertar’ para uma ‘mudança’ de atitude fundamental para na filosofia budista (que não acredita em alma individual ou Deuses) alcançar o Nirvana, o estado de Buda e se libertar do ciclo de renascimento como ser humano. 


Para obter esse ‘efeito’ os parentes/familiares devem ser abster de excessos emocionais (choros incontidos, lamúrias e gemidos) que só ‘destabilizam e intraquilizam ‘ o defunto e o podem fazer ‘desviar’ do seu caminho.

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 9


 Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos

Parte 9



O Juizo 

Nesta 3º fase do Bardo surge também um Juizo, semelhante ao Juizo final cristão e ao Juizo da balança dos mortos do Egipto. 



O Juiz é a consciência imparcial e recta do defunto.

Os carrascos executores da sentença são os Senhores da Morte (as próprias alucinações do defunto).

A mensagem aqui é :
‘’ Estás aqui devido ao teu próprio karma. 

Caso não consigas ou não saibas como orar, te concentrar na(s) tua(s) Divindade(s) tutelares, então verás surgir diante de ti o Bom Génio que contigo habitou em vida e que contará as tuas boas acçoes com seixos brancos e o teu Mau Génio que também contigo sempre habitou em vida e que contará com seixos pretos as tuas más acções.

De nada serve mentir ou iludir as questões e a Realidade dos factos.

O Senhor da Morte executará sem piedade a decisão (que é a decisão da tua própria consciência) e o castigo pode ser cortar-te a cabeça, extrair teu coração, arrancar teus intestinos, devorar teu cérebro, beber teu sangue, cortar teu corpo em pedaços e terás intensa dor e tortura.

Que isso não te espante ou atemorize, mas não mintas e não temas o Senhor da Morte, sabe que todas as torturas que ele te fizer não te podem afectar pois teu corpo actual astral não morre e não sofre danos mesmo decapitado ou esquartejado. 

Evita pois o temor e o medo.

Compreende agora, e isto é importante, que excepto as tuas próprias alucinações, na realidade não existe exteriormente mais nada, nem Senhores da Morte, nem deuses, nem demónios.

Reconhece que estás no Bardo, tenta meditar numa tua Divindade tutelar que tiveste em vida, se não a tiveste, ao menos analisa com atenção o que se passa agora à tua volta e que te está espantando, como um observador curioso mas imparcial e verás que afinal isso nada mais é que um vazio sem consistência real, vazio esse que á verdadeira natureza da realidade.

Estás agora na linha que separa os Budas dos seres sensíveis, se te distraires agora, não sairás tão cedo do Atoleiro do Sofrimento’’. 




Aqui o defunto está num momento critico onde ‘num instante uma grande diferença é criada (entre ser Buda iluminado ou ser sensivel não-iluminado) ou uma Iluminação alcançada.’ 

Mesmo a um rude analfabeto (espiritual) é dito para considerar as terriveis torturas como simbolos divinos (como parte do seu karma e portanto como provas divinas) e lembrar-se de algum nome sagrado que ouviu em vida a que se possa ‘agarrar’ agora. 

O defunto não se deve apegar nem às alegrias nem às dores e tristezas, tipo molas para cima e para baixo do karma, deve considerar tudo isso como algo irreal que ele observa o mais impávido e sereno possivel sem medo nem temores.

Este é o segredo.

Como o defunto deve reagir ao que ficou para trás, bens, amigos, parentes? 



Com desapego, com confiança e Fé no seu caminho, sem se prender seja a bens materiais que deixou ou a familiares ou amigos.

Manter apenas um sentimento sereno e humilde de carinho/amor por eles seja lá o que eles estiverem agora pensando ou fazendo em nome do defunto.

Isto é fundamental para se libertar e não entrar pelas portas erradas do ódio, inveja, avareza.

Neste momento tudo o que o defunto pensa, actua com grande poder, seja para o levar para ‘cima’ ou para ‘baixo’, logo deve ter apenas afeições puras e fé humilde, é preciso não se esquecer deste cuidado muito importante pois ainda há esperança.



As luzes dos 6 Lokas 
Quem ainda não conseguiu se libertar verá agora mais claro qual o seu futuro destino.
Verá surgirem 6 cores que simbolizam 6 locais de possiveis renascimentos.

A luz a que o defunto se prender será o seu destino (seu plano/nível de proximo renascimento evolutivo).

Luz branca = Mundo dos Deva ( tipo Paraiso cristão) .

Luz verde = Mundo dos Asura , mundo das guerras e batalhas.

Luz amarela = Mundo humano

Luz azul = Mundo dos brutos ( simbolo da humanidade embrutecida)

Luz vermelha = Mundo dos preta ( espiritos negativos, falsos)

Luz negra fumaça = Mundo infernal

Aqui a mensagem é :
‘’ Seja qual for a luz que te surja não te ligues a nenhuma, conserva-te sereno e medita simplesmente nela como sendo o Bem, esta é a grande arte que tens de usar agora.
Se fores capaz medita alternadamente na tua divindade tutelar e no Bem para permitir ao teu intelecto se manter vazio e capaz de se manter despegado das luzes’’.

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 8




O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos

Parte 8


A 3º Fase do Bardo 

O Sidpa Bardo 

Esta 3º parte, que dura perto de 22 dias (dos 49 dias no total das 3 partes) dependendo do karma de cada um, é a derradeira oportunidade para o defunto (que aqui chegou devido ao seu mau karma e vicios em vida e que por isso se atemorizou até agora e não foi capaz de confrontar as suas próprias ilusões) de evitar novo renascimento em ventre humano e de continuar sua evolução noutro plano.

O defunto neste Bardo possui um corpo etéreo-astral, corpo criado pelo seu próprio desejo em forma-pensamento. 

Houve como que um nascimento ( desse corpo de desejo) sobrenatural ( pois é defunto agora).

Vai ver surgir á sua frente várias visões que o ‘solicitam e atraem’ para a elas aderir e assim seguir várias opções de renascimento. 




A mensagem aqui é :
‘’ Não sigas as visões, não te deixes atrair, não sejas fraco. 
Se te deixares atrair vais errar perdido e sofrer dor, conserva a tua mente em repouso, como aprendeste em vida com teu mestre (no estado de não pensar , de não-pegar, primordial ) e medita com amor e confiança humilde em tuas divindades e teu mestre.
Lembra-te dos ensinamentos, lembra-te dos ensinamentos, isto é de grande importância, não te distraias.’’


Com esse corpo astral o defunto pode viajar á velocidade do seu pensamento, pensa aquilo e está lá, pois sem corpo fisico isso se torna possivel. 

Como o vento, o karma está em movimento permanente e o intelecto do morto sem o corpo fisico que o ‘ancorava’ desse vento, é o brinquedo desse karma.

Mas nova mensagem :
‘’ Não desejes isso, não o faças, mantém-te sereno, calmo, não te deixes entusiasmar com as ‘magias espectaculares’, conserva a tua atenção no Teu Senhor’’

O defunto vê seus parentes e amigos, que o choram e ele sente grande dor e sabe ‘que estou morto, e agora que faço?’ 



Aqui a mensagem é :
‘’ Não te deixes prender pela dor e aflição por estares separado dos teus próximos, foca-te no teu Mestre, no teu Guia, no Teu Anjo da Guarda, não te apegues à dor da separação e não terás pesar, terror ou temor.’’

Ou seja, está morto mas não se deve afligir por isso.

O ambiente envolvente é de um tom acinzentado, tipo crepúsculo astral.

Consoante o karma de cada um, agora surgirão mais visões (ilusões próprias) que podem ser terriveis com fortes sons e expressões como : ‘Mata, mata’ e ameaças semelhantes.

O defunto pode sentir-se perseguido e atormentado por animais sanguinários, por sons terriveis e explosões, por fogo turbulento, por mares bravios, por ventos furiosos.

Quer fugir de todos eles e depara-se com 3 precipícios profundos e aterradores e sente que está prestes a despenhar-se neles. Estes precipícios simbolizam as 3 paixões más e cair nelas seria entrar num ventre antes do tempo. 




Aqui a mensagem é :
‘’ Não temas essas visões terriveis, nem esses precipios, eles são a Ira, a Luxúria e a Estupidez, e invoca apenas a Divindade a que estiveste ligado em vida, seja ela qual for, isto é de grande importância.’’ 


Quem em vida esteve sinceramente ligado a alguma religião sentirá prazeres e felicidade. 

Quem em vida foi neutro espiritualmente não sentirá nem prazer nem dor mas apenas uma incolor, indiferente estupidez.

Aqui a mensagem é :
‘’Abandona as afeições excessivas e anseios de felicidade e conforto. 
Mesmo em estado de indiferença, conserva a tua atitude de não-distracção, de não apego, sem sequer pensares que estás meditando, isto é de grande importância.’’

Nesta fase o morto está numa instabilidade permanente, e como já se disse, seu corpo astral se move como o vento, com um mero pensamento e isso deixa-o intranquilo, aflito, quer repousar e não consegue, quer se demorar a ver os seus parentes e não consegue lá ficar muito tempo. 

Vê seus próximos e amigos e, consoante seu karma, deseja ter um corpo de novo para ‘experimentar de novo estar vivo’, e ansiosamente procura por um corpo, por um ventre para renascer.

Aqui a mensagem é :
‘’ Como não podes permanecer muito tempo em algum lugar e tens de continuar, não penses em muitas coisas, conserva teu intelecto em seu próprio estado (não modificado-original), afasta o desejo de um corpo e mantem tua mente em estado de resignação e age de modo a permaneceres assim’’.

Quem assim proceder será liberto e evitará o renascimento.

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 7




O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos

Parte 7


Os 7 dias das Divindades Iradas 

Muita gente foi libertada nos 7 dias anteriores pela confrontação feita com as luzes transparentes e opacas das divindades Pacificas oriundas do centro psiquico do coração.

Mas grande ainda é o número daqueles que não conseguiram a libertação face ao seu bruto karma e agora segue-se a fase onde surgem do 8 º ao 14º dias as divindades Iradas oriundas do centro psiquico do cerebro que mais não são que as formas reflexas, excitadas e iradas das divindades Pacificas, a outra face da moeda.

Para o defunto confuso, dominado por temores e medos, torna-se dificil a tarefa de reconhecimento e confrontação a partir de agora, mas como ele também fica muito concentrado e focado (devido a mudanças súbitas, tipo flashes, de esplendores de origens diversas), isso pode ajudar uma eventual libertação.

Nesta fase a ‘arte’ do defunto é reconhecer as divindades iradas como contrafaces das pacificas, não as temendo, por mais horriveis e sanguinárias que sejam e as encarando com a naturalidade de um encontro ‘familiar’ com formas-pensamento-imagens do seu próprio interior, como suas divindades tutelares e fazendo assim uma diluição nelas em harmonia sem se atemorizar.

Esta arte é equivalente a temer uma pele de leão quando não se sabe o que é uma pele de leão, quando alguém nos informa o que é e ficamos esclarecidos, a pele deixa de nos meter medo. 
Só temos medo do que desconhecemos e nunca enfrentámos. 

Nestes 7 dias as divindades iradas que surgem representam igualmente símbolos da existência mundana e da sua impermanência e da necessidade do defunto a ela renunciar por ilusória e bestial. 





Essas divindades emanam apenas do conteúdo mental que o falecido experimentou em vida e daí poderem ser reconhecidas, enfrentadas e integradas. 


Nota :
Mais uma vez se reafirma que quem em vida teve evolução espiritual prática (não apenas teórica) se pode servir dessas experiências, visualizações, mantras, meditações para reconhecer pós morte todas as formas pensamento que aí possam surgir e as enfrentando-integrando passar ao nivel correspondente da sua evolução espiritual. 

Mais práticas em vida , mais cedo ocorre a Libertação no Bardo e melhor se controlam as inevitáveis ilusões e desorientação pós morte.  

’Aquilo por que o homem tanto deseja, morrer bem, seguro, merecidamente, sem perigo, para isso ele deve ter atenção,estudar e aprender esta Arte e as suas liçoes enquanto ainda estiver vivo e com saúde ( sem saúde, também não aproveitará ) e não esperar que a morte o possua.’’ 
A Arte de morrer

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 6




O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos

Parte 6


A 2 ª Fase do Bardo 

O Chonyid Bardo  

O morto que não se fixou nem na Clara Luz Primária nem na secundária e não alcançou assim a Libertação, passa agora para uma nova fase onde surgem as ilusões kármicas. 

Surgem flashes de imagens, sons, luzes, raios que atemorizam, e causam fatiga e descontrole ao morto.

Nota: 
A morto vivencia a nova Realidade como incerta (daí a fadiga e descontrole) pois a vislumbra através da contraparte Bardo (que é um estado intermédio, incerto) das faculdades ilusórias-limitadas do corpo terrestre e não da consciência suprahumana desobscurecida do estado da Clara Luz). 

Aqui de novo são preciosas as práticas espirituais-religiosas que tiver feito em vida para se manter em controle da situação assim como as palavras dos ‘assistentes’que lhe dizem:

‘’Ó nobre filho, não te apegues, por gosto ou fraqueza, a esta vida, pois não tens o poder de aqui permaneceres, nada ganharás com isso a não ser errar neste labirinto( Samsara), não sejas fraco, lembra-te da Preciosa Trindade’’.

‘’Ó nobre filho, quando teu corpo e mente estiverem separados, deverás ter vislumbrado a Clara Luz da Verdade Pura, viva, subtil, intensa, deslumbrante, radiosamente medonha, não te assustes com ela, nem temas, trata-se do esplendor da tua própria e verdadeira natureza.
Reconhece-a, aceita-a, não te deixes ofuscar por ela.
Do meio desse esplendor virá o som natural da Realidade, como milhares de trovões, não te assustes, nem temas, trata-se sómente do som natural do teu próprio eu verdadeiro.
O corpo que agora tens chama-se corpo-pensamento de inclinações, já não tens o corpo de carne e osso, e tudo o que venha, sons, luzes, raios, não te podem fazer mal, és incapaz de morrer neste teu novo estado.
É suficiente para ti saber que tais aparições são tuas próprias formas-pensamentos.
Reconhece isso como sendo o Bardo e está tranquilo.
Se não o fizeres e por muita prática que tenhas tido em vida (meditação –exercicios iniciáticos), as luzes te assustarão, os sons te aterrorizarão e errarás no labirinto (Samsara)’’. 




Os 7 dias das Divindades Pacificas

O defunto nesta 3º fase irá de seguida ver surgir durante 7 dias, vários simbolos, divindades, formas que tem de enfrentar e reconhecer de modo a se fixar num Reino intermédio (existem pois 7 destes Reinos) sem necessidade de renascer.

O 1º destes 7 dias começa, a partir do momento, que ele desperta para o facto de estar morto e no caminho do renascimento (sem se ter fixado antes nas Claras Luzes), mais ou menos 3 a 4 dias após a morte. 

Os ‘assistentes’ dir-lhe-ão que agora tudo está em revolução e as aparências dos fenómenos que vão surgir serão esplendores e divindades e que é necessário o defunto se acostumar a essa ‘confusão’ tal como um bebé se acostuma quando nasce ao novo ‘ambiente’. 

Ou seja, agora vão surgir as formas mentais ilusórias que o morto adquiriu em vida consoante as suas práticas (religiosas-misticas-iniciáticas-ateias) como simbolos, deuses, sons, abstracções.


Se o morto se conseguir ‘fixar’ nalgum destes 7 dias como deve, então estabiliza o karma e permanece num estado-Reino intermédio de existência, cada dia com seu Reino. 



No 1º dia o defunto enfrentará dois tipos de Luzes, uma azul transparente, gloriosa, ofuscante que de tão brilhante mal é capaz de olhar e que atemoriza (tal como olhar de frente para o Sol) e outra branca, mas opaca e mais ‘acolhedora’.

Aqui a mensagem para o morto é :

‘’Não te deixes afeiçoar pela luz branca e opaca senão errarás perdido mas liga-te à luz azul e transparente com profunda fé, se assim procederes acedes ao Reino dos Budas’’.

Se o defunto não se fixou (porque se deixou dominar pelas ilusões) na luz azul do 1º dia, passa ao 2º dia onde é confrontado com suas más acções-pecados em vida e de novo com dois tipos de Luz , uma branca pura e transparente da Sabedoria e outra opaca escura do inferno. 

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes com a luz branca transparente, não fujas dela, ela é Sabedoria, coloca nela a tua humilde e fervorosa fé, refugia-te nela e nela medita. 
Ela é o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino da Felicidade Suprema. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas pela luz opaca do inferno vais seguir o caminho do teu mau karma e da tua cólera acumulada e cairás no reino do inferno, por isso não olhes para ela e evita o rancor’’.

Nota : 
Começa aqui a referência chave ao ‘gancho’ da salvação da alma que surgirá igulamente nas próximas oportunidades de salvação nos dias que se seguem. 
Este gancho é o equivalente à mão que o Deus egipcio Ra faz descer do Céu em forma de raio para ajudar o defunto ou à acção salvadora da Graça cristã. 





Quem não foi agarrado pelo gancho no 2ºdia devido ao mau karma e ao orgulho é confrontado no 3ºdia duas luzes amarelas, uma transparente ( que amedronta de tão intensa) e outra opaca (que atraie de tão ‘suave’), aqui de novo se pede ao defunto para se unir à luz transparente e se afastar da opaca.

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes com a luz amarela transparente, não fujas dela, coloca nela a tua humilde e fervorosa fé, refugia-te nela e nela medita. 
Ela é o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino da Glória. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas pela luz opaca do mundo humano vais seguir o caminho do teu egoismo e más inclinações e nascerás no mundo humano e no seu lodo e lamaçal mundano , por isso não olhes para ela e evita o egoismo’’.


Quem não foi agarrado pelo gancho no 3ºdia devido ao mau karma pela cobiça e avareza é confrontado no 4ºdia por duas forças, da Luz e da avareza-cobiça-afectividade, duas luzes vermelhas fogo, uma transparente (que amedronta de tão intensa) e outra opaca (que atraie de tão ‘suave’), aqui de novo se pede ao defunto para se unir à luz transparente e se afastar da opaca. 

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes devido à tua afectividade pela luz vermelha transparente, não fujas dela, confia na sua deslumbrante e brilhante luz vermelha limpida, coloca nela a tua humilde e fervorosa fé, refugia-te nela e nela medita. 
Ela é o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino Oeste. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas devido a tua afectividade e fraqueza pela luz vermelha opaca cairás no mundo do Espiritos infelizes e não conseguirás ganhar a Libertação, por isso não olhes para ela e evita essa emboscada da afectividade sem sentido’’. 



Quem não foi agarrado pelo gancho no 4ºdia (pois devido a uma longa associação com seus erros são incapazes de os abandonar) e possuia karma muito negativo e muita inveja é confrontado no 5ºdia por duas forças, da Luz e paixão da inveja, duas luzes verdes ar , uma transparente (que amedronta de tão intensa) e outra opaca (que atraie de tão ‘suave’), aqui de novo se pede ao defunto para se unir à luz transparente e se afastar da opaca. 

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes pela luz verde transparente, resigna-te a ela, não fujas dela, refugia-te na sua imparcialidade e nela medita. 
Ela é o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino Norte. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas devido a tua fraca capacidade mental e à tua forte inveja pela luz verde opaca cairás no mundo do sofrimento das guerras intermináveis, por isso não olhes para ela e evita essa tua inclinação invejosa’’.


Quem não foi agarrado pelo gancho no 5ºdia devido a fortes má inclinações e carente de familiarização com a Sabedoria e errou caminho abaixo por ter-se deixado dominar pelo sentimento de temor e terror das luzes e raios dos ganchos é confrontado no 6ºdia por duas forças, uma que vai representar as 4 entidades e as 4 cores do arco iris de Luz transparente que o incentivam a ligar-se a elas, outra que representa as 6 entidades negativas e as 6 luzes opacas de obstrução. 

Apenas a luz verde não se mostra ao defunto neste momento pois a faculdade de Sabedoria do seu intelecto ainda não está preparada–desenvolvida para ‘apreender’ essa cor e esse brilho.

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes pela luzes opacas que te surgem, liga-se simplesmente ao brilho e esplendor das luzes do arco iris transparentes, não fujas delas, fica apenas em estado de não-formação de pensamento, elas são as tuas divindades tutelares, elas são um reflexo da tua prórpia luz interior, conhece-as e aceita-as como um filho compreende sua mãe. 
Elas são o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino sem Retorno e fechas as portas dos 6 reinos negativos. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas às 6 luzes ilusórias e opacas, devido à tua própria impureza cairás nos mundos impuros onde serás arrastado e de onde jamais te emanciparás, por isso não olhes para elas’’. 




Quem, por grave mau karma e por desrespeito completo de qualquer fé religiosa não se consegue fixar no 6º dia vai arrastar-se para o 7 ºdia e virá surgirem divindades (símbolos do caminho) do Conhecimento vindas do paraiso e entidades que representam a estupidez, o vicio bruto, a paixão obscura (representam o simbolismo do caminho para o mundo dos brutos e carniceiros) que o porão em confronto. 


A mensagem neste dia é :Ò nobre filho, dos corações das Divindades do Conhecimento sairão esplendores das 5 cores ( unidade em arco iris do centro, branco do leste, amarelo do sul, vermelho do oeste e verde do norte) tão brilhantes e puras que teus olhos não suportarão mirar essa visão esplendorosa.

Ao mesmo tempo surgirá uma luz azul opaca do mundo bruto e devido às influências das tuas más propensões, sentirás medo das luzes transparentes e puras e atracção pela luz azul opaca.
Não te atemorizes pelo esplendor das 5 luzes, elas são o teu gancho e a tua própria Sabedoria e vão conduzir-te ao Reino do Paraiso.

Não te deixes atrair pela luz azul senão cairás no mundo da brutalidade, da escravidão e das bestas.

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 5





O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos

Parte 5


A 2ª Parte do Chikhai Bardo 


 A Clara Luz secundária 


Ao morto que não se fixou na Clara Luz Primária (e ainda não alcançou a Libertação) surge a Clara Luz secundária num espaço de tempo que ‘é um pouco maior que uma refeição’ após ter cessado a expiração mas depende muito da pessoa e sobretudo se fez ou não prática-exercicios em vida sobre esta confrontação. 

O principio da consciência agora terá saido do morto (sem ter havido a tal continuidade para a Libertação) e o morto agora vê os seus familiares á volta do seu corpo fisico, ouve seus lamentos mas já não pode comunicar com eles. 
Ainda não lhe surgiram as ilusões kármicas nem as horriveis visões dos Senhores da Morte.


Tem um corpo de natureza ilusória brilhante (corpo astral, contraparte éterea do corpo fisico).

Inicia-se aqui um processo de ‘descida’ do principio da consciência, é como uma bola que atinge o máximo de altura de seu impulso depois de bater pela 1º vez no solo, a cada nova batida no solo a sua altura é menor até se imobilizar, assim para o morto o seu primeiro ‘pulo’ espiritual é o mais alto imediatamente após abandonar o corpo fisico e o próximo será mais baixo e assim sucessivamente até se esgotar a força kármica pós-morte e ocorrer um eventual renascimento. 


Nesta fase é crucial para o morto se lembrar do que aprendeu e exercitou em vida sobre este momento de confrontação e se concentrar-meditar na sua entidade tutelar (seja Anjo da Guarda, Buda da Compaixão, etc, etc..). 

Quem em vida foi ensinado sobre esta confrontação ( via mestre-guru, escola inciática , escola religiosa) mas não a praticou, não está ‘familiarizado’ com ela e não será capaz de por si só, reconhecer claramente esta fase do Bardo.

É como alguém que foi ensinado a nadar mas nunca praticou, quando é lançado à agua fica confuso-desorientado e sente-se incapaz de nadar.


Assim acontece ao morto que num ‘meio’ a que não está ‘habituado’ perde o controle da situação e começa a ‘esbracejar’, e não consegue evoluir e beneficiar desta oportunidade oferecida pela morte.


Para ajudar o morto a concentrar-se existiam em algumas civilizações os ‘auxiliares’ da passagem que recitavam ao ouvido do morto as ‘instruções‘ para ele se ‘orientar’ neste novo ‘meio’ e assim conseguir manter a continuidade da sua consciência e se fixar á Clara Luz secundária , agarrando esta oportunidade que lhe é oferecida.


Para quem consegue se fixar nesta fase (ou as instruções forem aplicadas com êxito), o karma deixa de controlar o morto e este une a Realidade Mãe com a Realidade filha.

Tal como os raios de sol dissipam a escuridão, a Clara Luz, no Caminho, dissipa o poder do karma.

Nota : 
A Realidade ou Verdade filha alcança-se em vida por práticas espirituais continuadas (meditação –exercicios iniciáticos), a Realidade ou Verdade Mãe só após a morte fisica pode ser ‘vivenciada’ quando o Conhecedor estiver em controle da situação ao se ter fixado na Clara Luz secundária (ou antes na Primária). 
Estas duas Realidades estão uma para a outra como um objecto fotografado está para a fotografia.

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 4


   


O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos

Parte 4


A 1ª Fase do Bardo - O Chikhai Bardo

1º parte do Chikhai Bardo

Os sintomas da morte e a Clara Luz primária 

Os sintomas da morte 

Os 3 sintomas principais da morte que devem ser vivenciados em vida para na hora da morte eles serem reconhecidos, enfrentados e aceites são:

1) A terra a desaparecer na água.
Fisicamente é uma sensação de pressão.


2) A água a desaparecer no fogo.
Sensação fisica de frio humido como se estivessemos imersos em água, que gradualmente entra num calor fervente.


3) O fogo desaparecendo no ar.
Como se o corpo explodisse em pedaços, em átomos pelo universo.
Completa dispersão da individualidade e quebra da unidade corporal.


Estes sintomas são acompanhados por perda de controle no corpo, dos musculos, da audição, da visão, com a respiração a tornar-se convulsiva momentos antes da quebra de consciência.

Na morte ocorre uma transferência de consciência assim como no nascimento, de um plano para outro. 
Assim como o recém nascido tem de aprender como funciona o mundo onde acabou de nascer assim o morto tem de se adaptar a esse novo plano para onde acabou de passar.

Se foi em vida um adepto iniciado nestes ‘mistérios’ (que de misterioso nada têm para quem os procura e os acaba por compreender) e os viveu em vida (aquele que em vida ‘soube morrer’), pode nele ocorrer uma transferência instantânea de consciência, ou melhor dito, uma continuidade, por assim dizer, da consciência e passar de ‘vivo a morto’ com uma naturalidade e suavidade ‘divinas’e isto pelo simples ‘relembrar’ do que em vida praticou. 


Quem assim morre conscientemente, no momento de deixar o corpo fisico, reconhece a Clara Luz Primária que lhe surge e une-se a ela de imediato, quebrando quaisquer laços com as ilusões da vida, o Sonhador encontra a Realidade e nela repousa, num estado extático de consciência que no Ocidente esotérico se chama Iluminação ou em forma de parábola cristã, chegou a casa do Pai e prepara-se para trabalhar com Ele na Sua vinha. 

Quem não aproveitou a vida para se educar espiritualmente, chega a este novo plano com espanto, surpresa e completamente confuso e desorientado e esta quebra de consciência (a que o povo chama o ‘desmaio’ ou ‘estertor’ do morto) vai influenciar o seu percurso seguinte. 

Esta quebra de consciencia pode durar 3-4 dias ou menos (a tradição diz que quem viveu uma vida só de vicios esse tempo é o de um estalar de dedos) consoante a força vital de cada pessoa. 

Nessa fase do 1º Bardo é crucial o morto ser confrontado e aceitar a Clara Luz Primária se não se quiser ‘desviar‘ para outros caminhos.

Aqui o morto deve recordar ‘agora, chegou a altura, de te conheceres, e permanecer neste estado aceitando a Clara Luz Primária que te confronta pois assim obterás o melhor proveito da situação única onde agora te encontras’. 


Assim como ‘ esta é a única Realidade, o Vazio informe, reconhece-o como contendo o teu verdadeiro intelecto, a mente do Todo Bondoso e a tua verdadeira consciência que é a Clara Luz imutável e eterna’ .

Nesta fase o morto pode usar as praticas-rituais espirituais que fez em vida para se manter neste estado de plena aceitação da Clara Luz Primária. 





O que é a Clara Luz Primária ?

O que em todas as tradições se chama Deus ou equivalente, surge no momento da morte como um Esplendor abstracto (informe, sem forma alguma do mundo material) e segundo essas mesmas tradições pode surgir como uma representação-desenho geométrico, um mandala simbólico, rodas engrenadas umas nas outras, tudo sempre no abstracto sem hipótese de racionalização teórica





Para quem não vai ‘preparado’ isto tudo é tudo uma confusão a que quer escapar (pois não a compreende e não se consegue ‘agarrar’ a nada para se ‘fixar’), deixa ‘fugir a oportunidade’ de evoluir e segue para caminhos mais ‘fáceis’, não percebendo que teve à sua frente a ‘galinha dos ovos de ouro’.

Porque é tão dificil se manter na presença da Clara Luz Primária ? 

Existe uma história que explica isto de uma maneira muito adequada.

É dificil colocar uma agulha em equilibrio a girar numa linha mas quando se consegue ele fica lá equilibrada mas não por muito tempo devido á acção da gravidade que a força a cair ao fim de algum tempo. A agulha esteve, temporariamente, numa situação ‘a
normal’ para a ‘normalidade’ da natureza. 



Ao ser confrontado pela presença da Clara Luz Primária, o morto desfruta inicialmente dessa Estabilidade, desse equilibrio Perfeito, dessa Unidade, de um estado intenso de lucidez, mas ao fim de algum tempo, devido a esta ‘situação’ (estado extatico de não-ego, de consciencia subliminar) não lhe ser ‘familiar’ e não lhe permitir ‘funcionar’ como ‘está habituado’ e ele inevitávelmente tem de começar a ‘funcionar’ (seja aderindo ou rejeitando a Clara Luz Primária), surgem-lhe de imediato as suas inclinações/âncoras karmicas (pensamentos de ego, de personalidade, de dualismo, de ser individualizado) que fazem o seu principio de consciência perder o ‘equilibrio’ anterior e abandonar a Clara Luz Primária (obscurecida, tapada por essas inclinações).

É a vitória do ego, sobre a realização da Realidade (que é o contrário, o apagar dos desejos egoistas) e assim a Roda da vida continua a girar.

A Roda só pára para aqueles que, em vida, pela sua evolução espiritual, já ‘viram e sentiram’ essa Clara Luz Primária, em breves instantes cada vez mais longos, e a sabem reconhecer e aceitar plenamente (sabem ser dignos e humildes na Sua presença e nela aceitam serem integrados, pois ‘sabem’ pela prática vivida que nada perdem mas tudo ganham). 

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 3





O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos


Parte 3


No Bardo Thodol existem as 3 fases seguintes :

No momento da morte existe um Conhecimento da Verdade em todos os casos.

Depois o morto consoante o seu percurso em vida, segue as ilusões karmicas ou as rejeita.

Caso as siga, inicia o processo de ‘descida’ para estados, Reinos intermédios, ou para uma nova encarnação.

Se as rejeitar, inicia o processo de União com a Clara Luz da Verdadeira Realidade.

O Bardo nas suas 3 fases demora cerca de 49 dias após a morte até a uma eventual encarnação-renascimento. 

A visão suprema não vem no fim do Bardo (que trata do renascimento) mas no começo, no momento da morte. 







Afinal o climax espiritual é no momento da morte e se entende assim que a vida humana é o veiculo da maxima perfeição que é possivel alcançar.

Pela vida se gera o karma (fruto dos esforços e desejos em vida), seja de Conhecimento ou de Ignorância, que leva o morto para a ‘descida’ ou para a Luz, pois ela contém tudo.

O Bardo Thodol foi concebido como um guia para os vivos e só tem valor para aqueles que praticam e compreendem seus ensinamentos em vida. 


Tem a ver com a própria vida e não como missa para o morto.

Uma das suas funções é sobretudo ajudar os vivos que assistem ao morto, os que foram deixados para trás a adoptar uma nova atitude perante a vida para serem capazes de morrer com dignidade e verticalidade e não para orientar o morto que segundo a tradição budista já traçou o seu caminho ‘karmico’ (do qual não se desviará) pela vida que agora terminou.

Nascer como ser humano é um Privilégio, pois oferece uma oportunidade preciosa de libertação através do esforço decisivo de cada um, mas muitos não se dão conta disso a tempo.

A vida, a encarnação como ser humano permite multiplas possibilidades de corrigir um mau karma anterior, de nos elevarmos espiritualmente, que seres não humanos não dispõem.

Não se pense que mesmo para um adepto iniciado em vida este processo é fácil. 

Como bem diz D.H. Lawrence :

‘É duro morrer, é dificil passar a porta, mesmo quando ela se abre. Quem pensa que sabe tudo sobre este processo e que o controla, desengane-se pois a morte tem sempre novidades a mostrar, tem o seu próprio processo, haverá medo, desorientação, as nossas capacidades testadas ao limite, zonas escuras reveladas, é pois precisa muita coragem e sobretudo aceitação e verdadeira humildade’. ‘A ideia de morrer é muito diferente do facto de morrer.’
Dito popular.

A morte não se deixa organizar como um evento mundano, nem a questão é saber controlá-la e manipulá-la, a questão é em mergulhar na nossa humanidade e aceitar morrer em quaisquer circunstâncias que surjam, e assim aprender com a morte como deveriamos aprender em vida com os desgostos, frustações e perdas, em suma, com as pequenas mas importantes mortes diárias na nossa vida. 

Quem em vida sabe aprender (adquirindo novas atitudes=transformando-se numa nova pessoa) com estas mortes diárias melhor saberá aprender-enfrentar o processo sempre imprevisto (sem controle possivel) da morte. 




Quem em vida se esforça por evoluir espiritualmente e se esquece da sua morte, vai pelo caminho errado enganando-se a si mesmo, segue apenas o orgulho espiritual que a nada conduz. 

As suas práticas espirituais (via meditações elaboradas, ordens religiosas ou iniciáticas) se não incluem o tema da sua morte ‘iminente’ são meras distracções mundanas e egoistas que só satisfazem o ego, o orgulho e só desviam do verdadeiro caminho.

Os Sábios dizem ser a morte uma escola de um só golpe.

A morte diz : ‘Esforça-te, aprende e conhece, mas conserva um olho em mim, pois só eu tenho a palavra final.

Crescer espiritualmente é travar um relacionamento com a morte, aceitá-la, descobri-la e integrá-la na nossa vida, pois estudando a morte se aprende a viver. 




O Yogue Milarepa, foi instruido pelo seu mestre a fazer casas de pedra num dia e a desfazê-las no dia seguinte. 

Construir e destruir são 2 faces da mesma moeda.
Neste momento somos outra pessoa daquela que éramos há 1 segundo atrás.
Saibamos aceitar e integrar este facto, que é podermos morrer a qualquer instante.

O Bardo Thodol procura alertar para isso e dar ao homem as ferramentas para o conseguir.

‘ O Bardo da Vida despontou em mim, abandonei a indolência, não há tempo a desperdiçar com distracções inúteis’.

O discipulo iniciado pelo Bardo começa a escutar o seu coração (nasce a Fé) , de seguida transforma essa atitude intuitiva em conhecimento pela razão, e finalmente quer o sentimento intuitivo quer o entendimento intelectual são transformados em realidade viva através da experiência prática directa. 

Ao perceber a natureza ilusória da morte, deixa de a temer.
Ao identificar-se em vida com a Luz Eterna, ao morrer continua nessa identificação sem sobressaltos e não segue as luzes ilusórias opacas que o levariam para ‘outros‘ caminhos mas se une à Luz clara e informe da Realidade.

O iniciado em vida, quando morre, não tem a quebra de consciência normal na pessoa não-desperta, faz apenas uma transição para outro nivel de consciência e não precisa que lhe seja lido o Bardo, já o praticou em vida.


Antes do momento da morte, o moribundo visualiza diante de si, tipo filme, as imagens, desejos, sentimentos de toda a sua vida, isto para se recordar do que fez e poder julgar-se a si mesmo mais á frente.

No momento da morte para o homem não-desperto a consciência empirica a que esteve ligado em vida se perde, ocorre um ‘desfalecimento’(desorientação, o chamado ‘estertor’ do morto) e surge uma Luz que representa a Consciência Pura.

Quem já a conheceu em vida de imediato se liga a ela pois sabe que é esse o caminho a seguir. 
Esta Luz está sempre ‘pronta’ a ser descoberta em vida por aqueles que têm vontade de a procurar e o poder para encontrá-la. 
Não está escondida em lugar secreto. 





Só precisa que o buscador remova o véu que a cobre da luz opaca do mundo. 

É uma questão de mudança de atitude, afinal de ver o que sempre esteve á nossa frente e não vemos porque não lhes prestamos atenção. 

O homem está, de facto, libertado, só que ele não sabe disso, e não sabendo não se preocupa a retirar o véu que o impede de ver a Realidade e continua ligado à falsa realidade material dos desejos.

Quem não a conhece (a Luz Pura), estranha, fica surpreso e confuso (pois a Luz é informe e incolor) e o morto não está ‘habituado’ (não conhece) a essa Presença, a essa Consciência Pura e fica á espera do que acontece a seguir.

Na 1º fase da morte, tal como na 1º fase da via, predomina o coração, a pureza de sentimentos da criança (por isso consegue ver a Luz Pura) e a seguir vem a racionalidade, a maturidade adulta (para quem não ‘compreendeu’ ainda essa Luz Pura e não se une a ela).

Na 1º fase é mostrada a todos os mortos essa Luz Pura e os seus atributos (principios divinos), isso é um teste ao morto para, ele próprio, perceber se em vida desenvolveu alguns desses atributos divinos (humildade, pureza, etc..) ou não, seja na totalidade (e se unir eternamente á Luz Pura) ou apenas parcialmente (e seguir para os ‘niveis de existência’ respectivos para continuar a sua evolução). 

A seguir surgem ao morto, via razão/intelecto, as inúmeras ilusões (na forma de ‘luzes opacas’), sentimentos a que se agarrou em vida que o ‘puxam’ para as seguir e aí o morto começa a sentir o desejo de as viver de novo e como só o pode fazer em vida, terá tendência a procurar um novo corpo para renascer de novo na 3º e última fase do Bardo.

No entretanto vive como que num sonho real (assim como em vida os seus sonhos reflectiam os seus desejos e pensamentos, pois os sonhos são os filhos dos pensamentos do sonhador) uma existência tipo prolongamento da sua vida passada (ou seja, como não se libertou na 1º fase, continua preso aos seus desejos passados e só anseia novo corpo para os materializar). 

Em suas visões ou sonhos aparecem simbolos (Deuses) bons-pacificos ou maus-agressivos, que apenas refletem de novo os seus próprios desejos bons (coração) ou maus (razão/mente), tudo o que lhe aparece em ‘simbolos’ é só e apenas o que ele semeou dentro de si em vida.

O morto então é como uma criança, que olha maravilhada as figuras simbolicas que lhe surgem à frente, não ciente da não-realidade disso tudo, se não for iniciado em vida e se agarra a elas e as quer ‘viver’(em nova encarnação) de novo. 





Existem, pois, dois caminhos : Conhecimento ou Ignorância. 

O Bardo Thodol exorta o morto (e os vivos) a reconhecer nessas ilusões, as criações da sua própria mente que lhe tapam a Clara Luz, se ele o fizer (na 1ª fase) , liberta-se dos ciclos de renascimento e une-se a Ela para sempre.

O Bardo Thodol ensina que aquilo tudo que o sujeito vê, é devido inteiramente ao seu próprio conteudo mental, não há visões de infernos, paraisos, ceús, deuses ou demónios que não sejam originários das suas formas-pensamentos karmicas alucinatórias que constituem a sua personalidade, produto da sua sede de existência e da sua vontade de viver e de crer. 
Daí o seu papel quase que psicológico-cientifico.

O objectivo do Bardo Thodol é fundamentalmente provocar o despertar do Sonhador para a Realidade (da Clara Luz, que alguns chamam Deus), livre de ilusões karmicas e de presenças futuras em quaisquer paraisos, infernos, purgatórios ou mundos de encarnação.





O Juizo Final

Neste acto de julgamento o morto analisa o que fez enquanto viveu, se viveu praticando o bem e se lembrando da morte ou pelo contrário, praticou maus actos e se esqueceu que um dia ia morrer, e ele mesmo decide (pela sua própria consciência) o proximo passo a seguir, se é libertado da cadeia de renascimentos e passa a ser o Espectador (o Conhecedor) que não encarna nem reencarna (e veste um novo ‘corpo’ formado de particulas elementares-etéreas puras) ou se necessita de mais purificações por meio dessa roda de encarnações e de um corpo de novo mais grosseiro e mais sensível às dores.