O Orgulho ou Soberba
O orgulho é um pecado capital universal dos seres humanos.
Segundo teólogos, o orgulho (soberba) foi o primeiro pecado cometido pelos
seres humanos.
Teve sua origem na antiga Serpente, representação do mal e da
mentira, que o transmitiu à Eva, mãe da raça humana pecadora.
O orgulho é um pecado inconsciente.
Assim é que, muitas
vezes, os mais orgulhosos são aqueles que pensam que não têm orgulho nenhum.
gloriar-se da própria humildade é tomar um banho de orgulho... Este pecado é
muito perigoso, pois chega sem ser notado.
Um amor desordenado de si mesmo que faz que o homem se
estime explícita ou implicitamente, como se fosse o seu primeiro princípio ou
último fim.
E uma espécie de idolatria, porque o homem se considera como o seu
próprio Deus.
O orgulho é um desvio daquele sentimento legítimo que nos
leva a estimar o que há de bom em nós, e a procurar a estima dos outros na
medida em que ela é útil às boas relações que devemos manter com eles.
Não há
dúvida que podemos e devemos estimar o que Deus pôs em nós de bom, reconhecendo
que Ele é o primeiro princípio e o último fim de tudo: é um sentimento que
honra a Deus e nos leva a respeitar-nos a nós mesmos.
Pode-se, outrossim, desejar
que os outros vejam esse bem, que o apreciem e dêem por ele glória a Deus, do
mesmo modo que devemos reconhecer e estimar as qualidades do próximo: esta
mútua estima não faz senão favorecer as boas relações que existem entre os
homens.
Mas pode haver desvio ou excesso nestas duas tendências.
Por
vezes esquece o homem que Deus é autor desses dons, e atribui-os a si mesmo: o
que é evidentemente desordem, porque é negar, ao menos implicitamente, que Deus
é o nosso primeiro princípio.
Assim mesmo, pode alguém ser tentado a operar
para si próprio, ou para ganhar a estima dos outros, em lugar de trabalhar para
Deus e de lhe referir toda a honra do que faz: é também desordem, porque é
negar, implicitamente ao menos, que Deus é o nosso último fim. Tal é a dupla
desordem que se encontra neste vício.
"O orgulho alimenta-se do amor-próprio. Pois bem, é
preciso que o amor de Deus seja tão forte, para apagar todo amor de nós
mesmos".
Isabel da Trindade
Na Divina Comédia de Dante no 1º circulo do Purgatório os orgulhosos andam com um enorme peso de rochas nas costas, por andarem a vida inteira a olhar os outros de cima, são agora eles que não se podem erguer até que percebam o peso dos pecados cometidos.
Na Divina Comédia de Dante no 1º circulo do Purgatório os orgulhosos andam com um enorme peso de rochas nas costas, por andarem a vida inteira a olhar os outros de cima, são agora eles que não se podem erguer até que percebam o peso dos pecados cometidos.
As principais formas do orgulho
1.º A primeira forma consiste em se considerar a si mesmo o
homem, explícita ou implicitamente, como seu primeiro princípio.
A) Há relativamente poucos que explicitamente se amem de
forma tão desordenada que cheguem a considerar-se primeiro princípio de si
mesmos.
a) É o pecado dos ateus que voluntariamente rejeitam a Deus,
por não quererem senhor, nem Dieu, nem mestre.
Foi o pecado de Lúcifer, que,
pretendendo ser autônomo, recusou submeter-se a Deus; o dos nossos primeiros
pais, que, desejando ser como deuses, quiseram conhecer por si mesmos o bem e o
mal; e o dos racionalistas que, ufanos da própria razão, não querem submetê-la
à fé.
É, outrossim, o pecado de certos intelectuais, que, demasiadamente
orgulhosos para aceitarem a interpretação tradicional dos dogmas, os atenuam e
deformam, para os harmonizarem com as suas exigências.
B) É maior o número dos que caem implicitamente neste
defeito, procedendo como se os dons naturais e sobrenaturais, que Deus nos
liberalizou, fossem completamente nossos.
Reconhece-se, é verdade, em teoria
que Deus é o nosso primeiro princípio; mas na prática, tem-se da própria pessoa
uma estima desmesurada, como se cada um fosse autor das qualidades que possui.
a) Há quem se compraza nas suas qualidades e merecimentos,
como se fosse único autor deles: “A alma, vendo-se bela, diz Bossuet,
deleitou-se em si mesma e adormeceu na contemplação da própria excelência:
deixou um momento de se referir a Deus: esqueceu a própria dependência; primeiramente
demorou-se e depois entregou-se a si mesma.Mas, procurando ser livre até se
emancipar de Deus e das leis a Justiça tornou-se o homem cativo do seu
pecado”.
b) Mais grave é o orgulho dos que se atribuem a si mesmo a
prática das virtudes como os Estóicos; dos que imaginam que os dons gratuitos
de Deus são frutos dos nossos merecimentos e que as nossas boas obras nos
pertencem mais que a Deus, quando em realidade é Ele a sua causa principal; ou
enfim, dos que nelas se comprazem como se fossem unicamente suas.
C) É este mesmo princípio que faz que o orgulhoso exagere as
suas qualidades pessoais.
a) Fecham-se os olhos sobre os próprios defeitos, e
remiram-se as qualidades com óculos de aumento; por esse processo chega o homem
a atribuir-se qualidades que não possui ou que ao menos não têm mais que a
aparência da virtude; e assim é que, dando esmola por ostentação, julgará que e
caritativo, quando não passa de orgulhoso; imaginará que é um santo, porque tem
consolações sensíveis, ou escreveu belos pensamentos ou excelentes resoluções,
quando na realidade está ainda nos primeiros degraus da escala da perfeição.
Outros crêem ter uma grande alma, porque fazem pouco caso das pequenas regras,
querendo-se santificar pelos grandes meios.
b) Daí a preferir-se injustamente aos demais não vai mais
que um passo: examinam-se à lente os defeitos alheios, nos próprios nem se
sonha; vê-se o argueiro nos olhos do vizinho, nos próprios não se enxerga a
trave.
Por este caminho chega muitas vezes o orgulhoso, a desprezar os irmãos;
outras, sem ir tão longe rebaixa-os injustamente no próprio conceito,
julgando-se melhor que eles, quando na realidade lhes é inferior.
Do mesmo
princípio vem procurar dominar os demais e fazer reconhecer a sua superioridade
sobre eles.
c) Com relação aos Superiores, traduz-se o orgulho pelo
espírito de crítica e revolta, que leva a espiar os seus mais pequeninos gestos
ou passos, para os censurar: quer-se julgar, sentenciar de tudo. Deste modo se
torna muito mais difícil a obediência; sente-se enorme dificuldade em acatar a
sua autoridade e decisões, em pedir-lhes as licenças necessárias; aspira-se à
independência, isto é, em última análise, a ser seu primeiro princípio.
2.º A segunda forma do orgulho consiste em se considerar um
a si mesmo explícita ou implicitamente como seu último fim, fazendo as próprias
ações sem as referir a Deus e desejando ser louvado, como se elas fossem
completamente suas. Este defeito deriva do primeiro; pois, quem se considera
como seu primeiro princípio, quer ser também seu último fim.
A) Explicitamente, pouquíssimos são os que se consideram seu
último fim, exceto os ateus e os incrédulos.
B) Muitos são, porém, os que procedem na prática, como se
estivessem imbuídos desse erro.
a) Querem ser louvados, cumprimentados pelas suas boas
obras, como se fossem os seus autores principais e tivessem o direito de
proceder por sua conta, para satisfação da própria vaidade. Em lugar de
referirem tudo a Deus, entendem antes que devem receber felicitações pelos seus
pretensos triunfos, como se tivessem direito a toda a honra que daí provém.
b) Procedem por egoísmo, pelos próprios interesses,
dando-se-lhes muito pouco da glória de Deus, e ainda menos do bem do próximo.
E
assim, vão até o excesso de imaginar praticamente que os outros devem organizar
a sua vida para lhes agradarem e prestarem serviço; fazem-se assim centro e, a
bem dizer, fim dos demais.
Não será isto usurpar inconscientemente os direitos
de Deus?
c) Sem irem tão longe, há pessoas piedosas, que se buscam a
si mesmas, se queixam de Deus, quando Ele as não inunda de consolações, se
desalentam, quando se vêem na aridez, e imaginam assim falsamente que o fim da
piedade é gozar das consolações, sendo que em realidade a glória de Deus deve
ser o nosso fim supremo em todas as ações, mas sobretudo na oração e nos
exercícios espirituais.
É, pois, forçoso confessar que o orgulho, sob uma ou outra
forma, é defeito muito comum, até mesmo entre as pessoas que se dão à
perfeição, defeito que nos segue através de todas as fases da vida espiritual e
que só conosco morrerá.
Os principiantes quase nem sequer dão por ele, porque
não se estudam assaz profundamente.
Importa chamar-lhes a atenção para este ponto, indicar-lhes as formas mais ordinárias deste defeito, para as tomarem por matéria do exame particular.
Importa chamar-lhes a atenção para este ponto, indicar-lhes as formas mais ordinárias deste defeito, para as tomarem por matéria do exame particular.
Os defeitos que nascem do orgulho
Os principais são a presunção, a ambição e a vanglória-vaidade.
1.º- A presunção é o desejo e a esperança desordenada de
querer fazer coisas além das próprias forças.
Nasce de ter o homem opinião demasiado subida de si mesmo, das suas faculdades naturais da sua ciência, forças, virtudes.
Nasce de ter o homem opinião demasiado subida de si mesmo, das suas faculdades naturais da sua ciência, forças, virtudes.
a) Sob o aspecto intelectual, crê-se o presunçoso capaz de
discutir e resolver os mais intrincados problemas, as questões mais árduas ou
ao menos, de empreender estudos em desproporção com os seus talentos.
Persuade-se facilmente que tem muita discrição e sabedoria, e, em vez de saber
duvidar, decide com entono as questões mais controversas.
b) Sob o aspecto
moral, imagina que tem bastante luz para se guiar e que não há grande utilidade
em consultar um diretor. - Persuade-se que, apesar das faltas passadas, não tem
que temer recaídas, e lança-se imprudentemente nas ocasiões de pecado, em que
sucumbe; daí desânimos e despeitos que são muitas vezes causa de novas quedas.
c) Sob o aspecto
espiritual, é mais que medíocre o seu gosto das virtudes ocultas e
crucificantes, prefere as virtudes brilhantes; e, em vez de construir sobre o
fundamento sólido da humildade, afaga sonhos de grandeza de alma, força de
caráter, magnanimidade, zelo apostólico, triunfos imaginários com que a
fantasia doira o futuro.
Logo, porém, às primeiras tentações graves se percebe
quão fraca e vacilante é ainda a vontade. Às vezes chegam-se até a menosprezar
as orações comuns e as que se acoimam de pequenas práticas de piedade; tem
aspirações talvez a graças extraordinárias, quem ainda está nos princípios da
vida espiritual.
2.° Esta presunção, junta ao orgulho, gera a ambição, isto
é, o amor desordenado das honras, das dignidades, da autoridade sobre os
outros. Como presume demasiado das próprias forças e se julga superior aos
demais, quer o ambicioso dominá-los, governá-los, impor-lhes as suas próprias
idéias.
A desordem da ambição
pode-se manifestar de três maneiras :
1)
buscando as honras que se não merecem e ultrapassam os nossos meios;
2)
buscando-as para si, para a própria glória, e não para a glória de Deus;
3) parando
no gozo das honras por si mesmas, sem as fazer servir ao bem dos outros, em
contrário da ordem estabelecida por Deus, que exige que os superiores trabalhem
pelo bem dos inferiores.
Esta ambição estende-se a todos os campos:
1) ao campo político, em que o ambicioso aspira a governar
os outros, e muitas vezes à custa de quantas baixezas, de quantos compromissos,
de quantas covardias que cometem, para obterem os votos dos eleitores;
2) ao campo intelectual,
procurando com obstinação impôr aos outros as próprias idéias, até mesmo nas
questões livremente controvertidas;
3) à vida civil,
buscando com avidez os primeiros lugares, as funções de mais brilho, as
homenagens da multidão;
3.° A vaidade é o amor desordenado da estima dos outros.
Distingue-se do orgulho, que se compraz na sua própria
excelência.
Mas geralmente a vaidade deriva do orgulho: quem se estima a si
mesmo de maneira excessiva, deseja naturalmente ser estimado dos outros.
A) Malícia da vaidade.
Há um desejo de ser estimado que não é desordem: desejar que
as nossas qualidades, naturais ou sobrenaturais, sejam reconhecidas, para Deus
ser por elas glorificado e a nossa influência para o bem ser por esse modo
aumentada, em si não é pecado.
A ordem pede, efetivamente, que o bem seja
estimado, contando que se reconheça que Deus é o autor de todo o bem e que só
Ele deve Ser por isso louvado e engrandecido.
Quando muito, pode-se dizer que é
arriscado demorar o pensamento em desejos desses, porque se corre perigo de
desejar a estima dos outros para fins egoístas.
A desordem consiste,
pois, em querer ser estimado por si mesmo sem referir essa honra a Deus, que em
nós pôs tudo quanto há de bom: ou em querer ser estimado por coisas vãs que não
merecem louvor; ou enfim em procurar a estima daqueles, cujo critério não tem
valor, dos mundanos, por exemplo, que não apreciam senão as coisas vãs.
Ninguém descreveu
melhor este defeito que São Francisco de Sales: “Chamamos vã a glória que nos
atribuímos, ou por coisa que não existe em nós, ou por coisa que está em nós,
mas não é nossa, ou por coisa que está em nós e é nossa, mas que não merece que
dela nos gloriemos.
A nobreza da raça, o favor dos grandes, a honra popular,
são coisas que não estão em nós, senão em nossos predecessores ou na estima de
outrem.
Há quem todo se envaideça e pavoneie, por se ver em cima dum bom
cavalo, por levar um penacho no chapéu, por estar vestido suntuosamente, mas
quem não vê esta loucura?
É que, se há glória nessas coisas, essa glória é para
o cavalo, para a ave ou para o alfaiate... Outros miram-se e remiram-se, por
terem o bigode frisado, a barba bem penteada, os cabelos anelados, mãos muito
finas, por saberem dançar, tocar, cantar; mas não será de ânimo vil, querer
encarecer o seu valor e acrescentar a reputação com coisas tão frívolas e
ridículas?
Outros, por um pouco de ciência, querem ser honrados e respeitados
do mundo, como se cada qual tivesse obrigação de ir à escola a casa deles e
tê-los por mestres; é por isso que os chamam pedantes.
Outros narcisam-se
extasiados na própria formosura e crêem que toda a gente os galanteia.
Tudo
isto é extremamente vão, insensato e impertinente, e a glória que se toma de
tão fracos motivos chama-se vã, louca e frívola”.
B) Defeitos que derivam da vaidade.
A vaidade produz vários defeitos, que são como a sua
manifestação exterior; em particular a jactância, a ostentação e a hipocrisia.
1) A jactância é o
hábito de falar de si ou do que pode reverter em seu favor, no intuito de se
fazer estimar.
Há alguns que falam de si mesmos, de sua família, de seus
triunfos com uma candura que faz sorrir aos que escuta; outros têm uma
habilidade rara para fazerem deslizar a conversa para um assunto em que possam
brilhar; outros ainda falam timidamente dos seus defeitos com a esperança
secreta de que os desculparão, pondo em relevo as suas boas qualidades.
2) A ostentação consiste em atrair sobre si a atenção por
certas maneiras de proceder, pelo fausto que alardeia, pelas singularidades que
dão o que falar.
3) A hipocrisia toma os exteriores ou as aparências da
virtude, ocultando sob essa máscara vícios secretos muito reais.
A malícia do orgulho
Para bem se julgar desta malícia, pode-se considerar o
orgulho em si mesmo ou nos seus efeitos.
1.º - Em si mesmo:
A) O orgulho propriamente dito, o que consciente e
voluntariamente usurpa, ainda mesmo implicitamente, os direitos de Deus, é
pecado grave, o mais grave até dos pecados, diz Santo Tomás, porque não se quer
submeter ao supremo domínio de Deus.
a) Assim,
querer ser independente, recusar obediência a Deus ou aos Seus representantes
legítimos em matéria grave, é pecado mortal, porque é revoltar-se contra Deus,
nosso legítimo soberano.
b) É falta
grave também atribuir-se a si mesmo o que vem manifestamente de Deus, sobretudo
os dons da graça, porque é negar implicitamente que Deus seja o primeiro
princípio de todo o bem que há em nós. Muitos contudo o fazem, dizendo, por
exemplo: eu sou filho das minhas obras.
B) O orgulho atenuado que, conquanto reconheça a Deus como
primeiro princípio e último fim, Lhe não dá tudo o que Lhe é devido, antes Lhe
rouba implicitamente uma parte da Sua glória, é falta venial bem caracterizada.
Tal é o caso dos que se gloriam das suas boas qualidades e virtudes, como se
estivessem persuadidos que tudo isso lhes pertence como próprio; ou então o dos
que são presunçosos, vaidosos, ambiciosos, sem contudo fazerem nada que seja
contrário a uma lei divina ou humana em matéria grave.
Podem contudo estes
pecados degenerar em mortais, impelindo-nos a atos gravemente repreensíveis.
Assim a vaidade, que em si não passa de falta venial, torna-se grave, quando
leva a contrair dívidas que se não poderão pagar, ou a excitar nos outros amor
desordenado. É preciso, pois, examinar também o orgulho nos seus resultados.
2.º- Em seus efeitos:
A) O orgulho que se não reprime chega por vezes a efeitos
desastrosos.
Quantas guerras não foram ateadas pelo orgulho dos governantes e
às vezes dos mesmos povos?
Sem ir tão longe, quantas divisões nas famílias,
quantos ódios entre particulares se devem atribuir a este vício? Os Santos
Padres ensinam com razão que ele é a raiz de todos os outros vícios, e que
ademais corrompe muitos atos virtuosos, porque nos leva a praticá-los com
intenção egoísta.
B) Encarando esses
efeitos pelo lado da perfeição, que é o que nos interessa, pode-se dizer que o
orgulho é o seu maior inimigo, porque produz em nossa alma uma lastimosa
esterilidade e é fonte de numerosos pecados.
a) Priva-nos, efetivamente, de muitas graças e merecimentos:
1) De muitas graças, porque Deus, que dá com liberalidade a
Sua graça aos humildes, recusa-a aos soberbos: Pesemos bem estas palavras, Deus resiste aos
soberbos, porque como o soberbo ataca diretamente e aborrece a soberania
divina, Deus lhe resiste às pretensões insolentes e horríveis “e, como se quer
conservar no que é, abate e destrói o que se eleva contra Si”.
2) De muitos
merecimentos: uma das condições essenciais do mérito é a pureza de intenção;
ora o orgulhoso opera para si, ou para agradar aos homens, em lugar de
trabalhar para Deus e assim merece a censura dirigida aos Fariseus, que faziam
as suas boas com ostentação, para serem vistos dos homens, e, por esta razão,
não podiam esperar recompensa de Deus
b) É, além disso, fonte de numerosas faltas:
1) faltas pessoais:
por presunção, expõe-se ao perigo em que sucumbe: por orgulho, não pede
instantemente as graças de que precisa, e cai; depois vem o desalento correndo
até perigo de dissimular os pecados na confissão;
2) faltas contra o
próximo: por orgulho, não se quer ceder, ate mesmo quando se não tem razão,
empregam-se a picuinhas mordazes na conversação, travam-se discussões ásperas e
violentas que acarretam dissensões e discórdias; daí, palavras amargas,
injustas até, contra os rivais, para os abater, críticas acerbas contra os
superiores, recusa de obedecer às suas ordens.
c) É, enfim, uma
causa de infelicidade para quem cede habitualmente ao orgulho: como o orgulhoso
quer ser grande em tudo e dominar os seus semelhantes, para ele deixa de haver
mais paz e repouso.
E na verdade, como por um lado não pode sossegar, enquanto
não consegue triunfar de seus rivais, e por outro jamais o consegue
completamente, vive perturbado, agitado, infeliz. Importa, pois buscar remédio
para este vício tão perigoso.
Os remédios do orgulho
O remédio mais eficaz contra o orgulho é reconhecer que Deus
é o autor de todo o bem, e que, por conseguinte, só a Deus pertence toda a
honra e glória.
De nós mesmos não somos mais que nada e pecado, e por
conseguinte, não merecemos senão esquecimento e desprezo.
1.º- Não somos mais que nada:
É esta uma convicção
fundamental que os principiantes devem haurir da meditação, refletindo
lentamente, à luz divina, nos pensamentos seguintes: não sou nada, não posso
nada, não valho nada.
A) Não sou nada: aprouve, é certo, à Bondade divina
escolher-me entre milhões e milhões de possíveis, para me dar a existência, a
vida, uma alma espiritual e imortal, e por esses benefícios devo-Lhe dar graças
todos os dias. Mais:
a) eu saí do nada, e pelo meu próprio peso tendo para o
nada, aonde me precipitaria infalivelmente, se o meu Criador me não conservas:
pela Sua ação incessante; o meu ser não me pertence, pois, mas é todo
inteiramente de Deus, e a Deus é que eu devo fazer dele homenagem.
b) Este ser que Deus
me deu é uma realidade viva, um imenso benefício, de que jamais Lhe poderei dar
graças excessivas; mas, por mais admirável que seja, este ser, comparado ao Ser
divino, é um puro nada, tão imperfeito é!
1) É um ser contingente, que poderia desaparecer, sem que
nada faltasse à perfeição do mundo;
2) é um ser de empréstimo, que não me é dado senão com a
reserva expressa do soberano domínio de Deus;
3) é um ser frágil que não pode subsistir por si mesmo e
necessita de ser sustentado a cada instante por Aquele que o criou.
É, pois, um
ser essencialmente dependente de Deus, sem outra razão de existir mais que dar
glória ao seu autor. Esquecer esta dependência, proceder como se as nossas
qualidades fossem completamente nossas e envaidecermo-nos delas, é pois erro,
loucura e injustiça inconcebíveis.
E o que dizemos do homem na ordem da natureza, mais verdade
é ainda na ordem da graça: esta participação da vida divina, que faz a minha
dignidade e grandeza, é um dom essencialmente gratuito, que tenho de Deus e de
Jesus Cristo, que não posso conservar muito tempo sem a graça divina, que não
aumenta em mim senão com o concurso sobrenatural de Deus ;
Que ingratidão e
injustiça atribuir a si mesmo a menor parcela deste dom essencialmente divino!
B) Não posso nada por mim mesmo: é certo que recebi de Deus
faculdades preciosas que me permitem conhecer e amar a verdade e a bondade.
Estas
faculdades foram aperfeiçoadas pelas virtudes sobrenaturais e pelos dons do
Espírito Santo; e mal poderíamos admirar em excesso esses dons da natureza e da
graça que tão perfeitamente se completam e harmonizam.
Mas de mim mesmo de
minha própria iniciativa, não posso nada para pôr em ação e os aperfeiçoar:
nada, na ordem natural, sem o concurso de Deus: nada, na ordem sobrenatural,
sem a graça atual, nem sequer, formar um bom pensamento salutar, um bom desejo
sobrenatural. E, sabendo isto poderia eu envaidecer-me destas faculdades
naturais e sobrenaturais, como se elas fossem inteiramente propriedade minha?
C) Não valho nada: se considero o que Deus pôs em mim e o
que em mim opera pela Sua graça não há dúvida que sou um valor: valho o que
custei e custei o sangue de Deus!
Mas a honra da minha redenção e santificação
é a mim que deve referir-se ou e a Deus?
A resposta não pode oferecer a menor
dúvida.
Apesar de tudo, diz o amor
próprio vencido, ainda tenho alguma coisa que é minha e me dá valor: é o meu
livre consentimento ao concurso e a graça de Deus.
Certo que temos nisso alguma
parte, mas não a principal: esse livre consentimento não é mais que o exercício
das faculdades que Deus nos deu gratuitamente, e, no próprio momento em que o
damos, é Deus que opera em nós, como causa principal: E, por uma vez que
consentimos em seguir o impulso da graça, quantas vezes lhe resistimos, quantas
vezes não cooperamos com ela senão imperfeitamente! Verdadeiramente que não
temos neste ponto nada de que nos ufanar, senão de que nos humilhar.
Quando um grande mestre pintou uma obra-prima, é a ele que
atribuímos e não aos artistas da terceira ou quarta ordem que foram seus
colaboradores.
Com mais força de razão devemos atribuir os nossos méritos a
Deus, como causa primária e principal, pois que segundo canta a Igreja, depois
de Santo Agostinho, Deus coroa os seus dons, quando coroa os nossos méritos.
Assim pois, seja qual for a luz a que nos consideremos, seja
qual for o preço imenso dos dons que há em nós, e até mesmo dos nossos próprios
méritos, não temos o direito de nos jactarmos deles, mas o dever de os referir
a Deus na mais sentida homenagem de ação de graças, pedindo-lhe ao mesmo tempo
perdão do mau uso que deles temos feito.
2.º- Sou pecador, e, como tal, mereço o desprezo, todos os
desprezos com que aprouver a Deus esmagar-me.
A) Se tive a infelicidade de cometer um só pecado mortal,
mereço eternas humilhações, pois que mereci o inferno. Posso ter, é certo, a
doce confiança de que Deus já me perdoou; mas nem por isso deixa de continuar a
ser verdade que cometi um crime de lesa-majestade divina uma espécie de deicídio
e suicídio espiritual, e que, para expiar a ofensa à Majestade divina, devo
estar disposto a aceitar, a desejar até todas as humilhações possíveis, as
maledicências, as calúnias, as injúrias, os insultos: tudo isso fica muito
aquém do que merece aquele que uma só vez ofendeu a infinita Majestade de Deus.
E, se O ofendi muitas vezes, qual não deve ser a minha resignação, a minha
alegria até, quando tenho ocasião de expiar os meus pecados por meio de
opróbrios de curta duração!?
B) Todos nós temos cometido pecados veniais, e, sem dúvida,
de propósito deliberado, preferindo a nossa vontade e o nosso prazer à vontade
e glória de Deus.
Ora isto, como dissemos, é uma ofensa à Majestade divina,
ofensa que merece humilhações tão profundas que, nem mesmo com uma vida inteira
passada na prática da humildade, poderíamos por nós mesmos restituir a Deus
toda a glória de que injustamente O despojamos.
Se a alguém parecer exagerada esta linguagem, lembre-se das
lágrimas e penitência austera dos Santos, que não tinham cometido senão faltas
veniais, e que nunca se podiam persuadir que faziam demais para purificar a sua
alma e reparar os ultrajes infligidos à Majestade divina. Estes Santos viam
nisto mais claro do que nós; se não pensamos como eles, é porque estamos
obcecados pelo orgulho.
Devemos, pois, como pecadores, não somente não procurar a
estima dos outros, mas desprezar-nos a nós mesmos e aceitar todas as
humilhações que a Deus aprouver enviar-nos.
Vencer o orgulho pela humildade
A maneira de vencer o orgulho, evidentemente, é cultivar a
humildade.
Humildade é a qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre o
outro. É saber que, para que um seja feliz, o outro não precisa sucumbir, ao
contrário;
A humildade é a virtude que nos dá a consciência exata de
nossa pequenez, fraqueza e modéstia diante de Deus Todo-Bom e Todo-Poderoso.
Concede-nos um sentimento de reverência e imenso respeito, e isso
necessariamente se estende ao mundo que nos cerca, à natureza e principalmente
ao nosso próximo, pois também é obra do mesmo Deus.
Ser humilde é ser mais humano, pois é ser consciente da
própria condição humana, por um lado privilegiada e especialíssima, por outro
frágil e pequenina, se comparada à enormidade da Criação e o Infinito da Glória
Divina.
O orgulho, além de pecado grave, é enorme estupidez.
Lembre-se, porém: a prática da humildade, que vence o pecado capital do
orgulho, se dá de si para si mesmo, na observância da própria insignificância e
reconhecimento das próprias incapacidades e imperfeições.
Não é você que deve julgar o orgulho ou a humildade do seu próximo, e sim sómente Deus.
Não é você que deve julgar o orgulho ou a humildade do seu próximo, e sim sómente Deus.
Conscientizar-se disso já é um começo.
Gera:
Jactância - Coloca-se a si mesmo à frente e dá-se valor por
presunção...
Afetação das novidades - ou querendo causar admiração e
impressionar pelas suas atitudes audaciosas ou rebuscadas (modas, idéias, etc.)
Hipocrisia - ou ainda, simulando a posse de certas
qualidades, para parecer o que na verdade não é.
Obstinação - Distingue-se dos outros pela teimosia do seu
espírito...
Discórdia - ou pela sua vontade de desacordo, onde os
corações deviam estar unidos...
Contenção - Impõe-se os outros por palavras duras.
Desobediência - manifesta-se desde a insubmissão à revolta.
Sem comentários:
Enviar um comentário