A Ira ou Cólera
A Ira é uma aberração daquele sentimento instintivo que nos
leva a defender-nos, quando somos atacados, repelindo com força.
A Ira manifesta-se nos acesso de cólera característicos, mas também na impaciência, na intolerância para com os outros e as suas (deles) fraquezas.
Manifesta-se também em maus modos quando a pessoa é contrariada.
Ou quando os planos não correm como gostaria que corressem.
Há mesmo uma Cólera que volta a pessoa contra si própria, se a pessoa é contrariada.
A Ira manifesta-se nos acesso de cólera característicos, mas também na impaciência, na intolerância para com os outros e as suas (deles) fraquezas.
Manifesta-se também em maus modos quando a pessoa é contrariada.
Ou quando os planos não correm como gostaria que corressem.
Há mesmo uma Cólera que volta a pessoa contra si própria, se a pessoa é contrariada.
Natureza da ira.
Há ira paixão e
ira sentimento.
1.º A ira, considerada como paixão, é uma necessidade
violenta de reação, determinada por um sofrimento ou contrariedade física ou
moral.
Esta contrariedade desencadeia uma emoção violenta que distende as
forças no intuito de vencer a dificuldade: sentem-se então impulsos de
descarregar a cólera sobre pessoas, animais ou coisas.
Distinguem-se duas formas principais: a cólera rubra ou
expansiva nos fortes, e a cólera branca ou pálida, ou espasmódica nos fracos.
Na primeira, bate o coração com violência e impele o sangue para a periferia:
acelera-se a respiração, purpureia-se o rosto, incha o pescoço, desenham-se as
veias sob a pele; eriçam-se os cabelos, faísca o olhar, saltam das órbitas as
pupilas, dilatam-se as narinas, enrouquece a voz, entrecortada, exuberante.
Aumenta a força muscular, todo o corpo se distende para a luta, e o gesto
irresistível fere, quebranta ou afasta violentamente o obstáculo.
Na cólera
branca, contrai-se o coração, torna-se a respiração difícil, cobre-se a face de
palidez extrema, goteja a fronte suor frio, cerram-se as maxilas, guarda-se um
silêncio impressionante; mas a agitação, contida no interior, acaba por estalar
brutalmente, descarregando-se por meio de golpes violentos.
2.º A ira,
considerada como sentimento, é um desejo ardente de repelir e castigar um
agressor.
A) Há uma cólera legítima, uma santa indignação, que não é
senão o desejo ardente, mas radical, de infligir aos criminosos o justo
castigo.
Foi assim que Cristo Senhor Nosso entrou em justa cólera contra os
vendilhões que com o seu tráfico contaminavam a casa de Seu Pai;
a) justa no seu
objeto, não tendo em vista senão castigar a quem o merece e na medida em que o
merece;
b) moderada no
seu exercício, não indo mais longe do que reclama a ofensa cometida e seguindo
a ordem que demanda a justiça;
c) caritativa na
sua intenção, não se deixando arrastar a sentimentos de ódio, não procurando
senão a restauração da ordem e a emenda do culpado.
Qualquer destas condições
que falte, haverá excesso repreensível.
É sobretudo nos superiores e pais
que a cólera é legítima; mas os simples cidadãos têm por vezes direito e dever
de se deixarem inflamar de cólera santa, para defenderem os interesses da
cidade e impedirem o triunfo dos maus; é que, efetivamente, há homens que a doçura
deixa insensíveis, e nada temem senão o castigo.
B) Mas a cólera, que
é vício capital, é um desejo violento e imoderado de castigar o próximo, sem
atender às três condições indicadas. Muitas vezes é a cólera acompanhada de
ódio, que procura não somente repelir a agressão, mas ainda tirar dela
vingança; é um sentimento mais refletido, mais duradouro, e que por isso mesmo
tem mais graves conseqüências.
3. ° A cólera tem graus:
a) ao princípio, é apenas um movimento de impaciência:
mostra-se mau humor à primeira contrariedade, ao primeiro revés;
b) depois, é arrebatamento, que faz que um se irrite
desmedidamente e manifeste o descontentamento com gestos desordenados;
c) às vezes, vai até à violência e traduz-se somente por
palavras, mas até por golpes;
d) pode chegar ao furor, que é uma loucura passageira; o
colérico nesse caso já não é senhor de si mesmo, mas deixa-se arrebatar a
palavras incoerentes, a gestos tão desordenados que antes se diriam um
verdadeiro acesso de loucura;
e) enfim, degenera por vezes em ódio implacável que não
respira mais que vingança e vai até desejar a morte do adversário. Importa
discernir estes graus, para apreciar a sua malícia.
Na Divina Comédia, Dante coloca a Ira no no Quinto Ciclo do Inferno, quem comete o pecado da Ira era atirado no Lago Estiges, e se agrediam violentamente tentando sair do lago que parecia um pântano.
Na Divina Comédia, Dante coloca a Ira no no Quinto Ciclo do Inferno, quem comete o pecado da Ira era atirado no Lago Estiges, e se agrediam violentamente tentando sair do lago que parecia um pântano.
Contudo tais pecadores nunca conseguiriam sair do lago e passariam a eternidade se agredindo dentro dele.
Já no Purgatório, Dante conta que os irados eram punidos no Terceiro Ciclo, onde viviam em meio a uma densa fumaça e cantavam o hino da misericórdia.
A fumaça seria uma alusão à "cegueira" causada pela Ira.
Já no Purgatório, Dante conta que os irados eram punidos no Terceiro Ciclo, onde viviam em meio a uma densa fumaça e cantavam o hino da misericórdia.
A fumaça seria uma alusão à "cegueira" causada pela Ira.
Malícia da ira
Podemo-la
considerar em si mesma e nos seus efeitos.
1. ° Em si mesma,
pode sugerir ainda várias distinções:
A) Quando a cólera é
simplesmente um movimento transitório de paixão, é de sua natureza pecado
venial: porque então há excesso na maneira por que ela se exerce, neste sentido
que ultrapassa a medida, mas não há, assim o supomos, violação das grandes
virtudes da justiça ou da caridade.
Há casos contudo em que é tal o excesso,
que o colérico perde o domínio de si mesmo e se deixa arrastar a graves
insultos contra o próximo.
Se estes movimentos, posto que passionais, são
deliberados e voluntários, constituem falta grave; muitas vezes, porém, não
passam de semi-voluntários.
B) A cólera, que
chega a ódio e rancor, quando é deliberada e voluntária, é pecado moral de sua
natureza, porque viola gravemente a caridade e muitas vezes a justiça.
Mas, se o
movimento de ódio não é deliberado, ou se não se lhe dá senão consentimento
imperfeito não passará de leve a falta.
2. ° Os efeitos da cólera, quando não são reprimidos, são às
vezes terríveis.
A) Sêneca descreveu-os em termos expressivos: atribui-lhes
traições, assassínios, envenenamentos, divisões intestinais nas famílias,
dissensões e lutas civis, guerras com as suas funestas conseqüências.
Ainda
quando não chega a tais excessos, é fonte dum sem-número de faltas, porque nos
faz perder o senhorio de nós mesmos, e em particular perturba a paz das
famílias e cria inimizades tremendas.
B) Sob o aspecto da perfeição, é a ira, diz São Gregório, um
grande obstáculo ao progresso espiritual.
É que, de fato, se a não reprimimos,
faz-nos perder:
a sabedoria ou a
ponderação;
a amabilidade, que
faz o encanto das relações sociais;
a preocupação da
justiça, porque a paixão impede de reconhecer os direitos do próximo;
o recolhimento
interior, tão necessário à união íntima com Deus, à paz da alma, à docilidade,
às inspirações da graça. Importa, pois, encontrar-lhe o remédio.
Remédios contra a ira
Estes remédios devem combater a paixão da cólera e o
sentimento do ódio que às vezes dela resulta.
1. ° Para triunfar da
paixão, não se deve descurar meio nenhum.
A) Há meios
higiênicos, que contribuem para prevenir ou moderar a cólera: tais são um
regime alimentício emoliente, banhos tépidos, duchas, abstenção de bebidas
excitantes, e em particular das alcoólicas: por causa da união íntima entre o
corpo e a alma, é mister saber moderar o mesmo corpo.
B) Mas os remédios
morais são ainda melhores.
a) Para prevenir a
cólera, é bom acostumar-nos a refletir, antes de fazer qualquer coisa, para nos
não deixarmos dominar pelos primeiros ímpetos da paixão: trabalho de longa
duração, mas eficacíssimo.
b) Quando esta
paixão, a despeito de todas as cautelas, nos sobressaltou o coração, «melhor é
sacudi-la com presteza que querer negociar com ela; porque, por pouco lugar que
lhe demos, se faz senhora de toda a praça, havendo-se como a serpente que
introduz facilmente todo o corpo, por onde pode meter a cabeça... E mister,
logo que a sentirdes, convocar prontamente vossas forças, não áspera nem
impetuosamente, mas suave e ainda assim seriamente».
Aliás, se quisermos
reprimir a cólera com ímpeto, mais nos perturbaremos.
c) Para melhor
sofrear a ira, é útil divertir a atenção, isto é, pensar em qualquer coisa
diversa do que a possa excitar; é necessário, pois, desterrar a lembrança das
injúrias recebidas, afastar as suspeitas, etc.
d) Devemos invocar o
auxílio de Deus, quando nos vemos agitados pela cólera, à imitação dos
Apóstolos, combatidos pelo vento e tempestade no meio do mar, porque Deus
mandará às nossas paixões que sosseguem e sobrevirá grande tranquilidade.
Como ensina Isabel da Trindade, ''quando te sobreveêm estas agitações, imprevistos e contrariedades, desce para o mais fundo de ti, onde tens uma cela pequenina e onde sabes que Deus lá se encontra à tua espera, descansa Nele e espera para Ele te instruir a seu tempo. Assim te acalmas, dás tempo ao tempo e não te deixas levar para fora de ti por movimentos coléricos e impetuosos que só danificam a tua alma e não te deixam avançar no caminho da salvação dela.''
Como ensina Isabel da Trindade, ''quando te sobreveêm estas agitações, imprevistos e contrariedades, desce para o mais fundo de ti, onde tens uma cela pequenina e onde sabes que Deus lá se encontra à tua espera, descansa Nele e espera para Ele te instruir a seu tempo. Assim te acalmas, dás tempo ao tempo e não te deixas levar para fora de ti por movimentos coléricos e impetuosos que só danificam a tua alma e não te deixam avançar no caminho da salvação dela.''
2. ° Quando a cólera
excita em nós sentimentos de ódio, rancor ou vingança, é impossível curá-los
radicalmente com outro remédio que não seja a caridade fundada no amor de Deus.
É caso, então, de nos lembrarmos que somos todos filhos do mesmo Pai celestial,
incorporados no mesmo Cristo, chamados à mesma felicidade eterna, e que estas
grandes verdades são incompatíveis com qualquer sentimento de ódio. Assim pois:
a)
Recordaremos as palavras do Pai-Nosso: perdoai-nos as nossas (dívidas), assim
como nós perdoamos (aos nossos devedores); e como desejamos vivamente receber o
perdão divino, de mais bom grado perdoaremos aos nossos inimigos.
b) Não
esqueceremos os exemplos de Cristo Senhor Nosso, chamando a Judas Seu amigo,
ainda no momento da traição, e orando do alto da cruz pelos próprios verdugos;
e pedir-lhe-emos ânimo para esquecer e perdoar.
c)
Evitaremos pensar nas injúrias recebidas e em tudo que a elas se refira.
Os
perfeitos orarão pela conversão de quem os ofendeu, e encontrarão nesta prece
bálsamo suavíssimo para as feridas da sua alma.
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