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domingo, 15 de março de 2015

A saída consciente da Torrente do Mundo



Existem duas grandes possibilidades de cada ser humano reagir ao meio em que vive.

Uma delas, de forma natural e instintiva (pelo seu longo sofrimento na Terra), a chamada Via Natural;
Outra, de forma objetiva e consciente (por intermédio da evolução que a prática do Conhecimento possibilita) a Via Úmida Solar,  fundamentada na Teurgia Ígnea. 

O mestre Jâmblico dizia que o teurgo é um «atleta do fogo».

De modo geral, vivemos na primeira dessas condições e somente passamos para a segunda quando desenvolvemos nossa Alma através da educação; Do equilíbrio nas relações familiares; Da ampliação dos sentimentos de amor e fraternidade para com nossos semelhantes; Por intermédio do cumprimento de nossas responsabilidades no mundo e, especialmente, mediante o exercício de uma elevada religiosidade prática, isenta de preconceitos.

A primeira condição – a instintiva – já nos acompanha desde o nascimento e, portanto, é inata; não necessita de qualquer esforço. 
Se nada fizermos, ela norteará toda a nossa existência apenas com ligeiras variações em função da idade, do amadurecimento e das condições de vida que levarmos.

Ou seja: o meio agirá, quase sem que o percebamos, de forma a suavizar ou a enrijecer, naturalmente, as nossas atitudes em relação às pessoas e ao mundo que habitamos, sempre em função do nosso jeito de encarar as coisas.

Por outro lado, agora, começando a conhecer um pouco mais as peças deste grande quebra-cabeças de que fazemos parte, temos a possibilidade de escolher o nosso futuro direcionando-o da maneira que nos parecer mais conveniente, a fim de atingirmos um objetivo; um porvir, que, sendo perfeitamente possível, requer que seja melhor “trabalhado” para que efetivamente ocorra. 

O futuro, efetivamente, está em nossas mãos. 


O objetivo tem que ser claramente definido. 

Sem um objetivo claro, ninguém chega a lado nenhum. 
Mas, geralmente, não se consegue atingir o objetivo com um único salto. 
Não se ganham os Jogos Olímpicos com uma única corrida. 
É necessário subdividir o objetivo em objetivos intermédios, atingíveis, mas que puxem pelo atleta, no sentido que ele vá melhorando a sua performance. 
Primeiro corre nos campeonatos locais, depois nos regionais, depois nos nacionais, depois nos internacionais, e só depois é que corre nos Jogos Olímpicos. E isto, se tiver progredido nos sub-objetivos anteriores.

O «atleta do fogo» trabalha na pista, e trabalha sobre si próprio. 
Não basta estar bem preparado fisicamente, psicologicamente e espiritualmente, é necessário que coloque as suas aptidões em prática, no dia a dia. 
Só aí, na pista, se vê a solidez da preparação física, psicológica e espiritual.

Alguns autores antigos deram à condição instintiva em que o homem vive o nome de Torrente, simbolizando um fluxo contínuo de água num rio imaginário em que a humanidade inconsciente se encontra imersa – o Flumen Terribilis.

O ser humano comum é levado por essa corrente que o carrega deslizando entre pedras e corredeiras, sem que haja qualquer reação por parte dele no sentido de mudar a rota, a velocidade ou o destino que o espera.

Imaginemos milhares de pessoas nesse grande rio sendo levadas pela corrente, batendo umas nas outras, chocando-se também contra as pedras, contra as árvores submersas, e parando em obstáculos de toda espécie, sem contar com qualquer tipo de ajuda ou compreensão entre elas, submergindo e emergindo ao sabor das águas sem saber o que existe depois da próxima curva e sem consciência até, de onde esse fluxo, afinal, irá desembocar.

É uma visão aterradora para quem observa esse quadro do lado de fora. 
Lá dentro, na Torrente, porém, não existe qualquer referência para a humanidade. 
Todos estão na mesma situação, passando pelos mesmos obstáculos, sem ideia precisa do que está acontecendo. 


Aquele que está envolvido pela correnteza tenta apenas sobreviver e não tem muitas possibilidades de lançar um olhar lúcido para fora das corredeiras.

Se pudesse olhar, com certeza decidiria lutar contra esse terrível fluxo e dar um rumo consciente à sua vida, escolhendo um caminho mais seguro.

Compreender os aspectos dos quais o homem é composto, é o primeiro olhar lançado para fora da Torrente. 

Depois, mais conscientes, entenderemos melhor com que meios podemos contar para tentar alterar essa marcha desordenada na qual estamos envolvidos, procurando sair desse curso avassalador que nos conduz a um destino ignorado e incerto. 
 
A primeira etapa é conhecer-se a si próprio.
 
A segunda etapa é planear a sua vida.


Logo depois de definir os objetivos e sub-objetivos, tem que se passar ao planeamento.

Embora não pareça, o planeamento é a chave de todo o processo.
Porque quando se planeia, está-se a sair da torrente, está-se a tomar a nossa vida nas nossas mãos. 

Já não é mais a vida que diz para onde é que nós vamos. 
Agora, seguindo o nosso plano, somos nós que dizemos para onde é que nós vamos. 

Quando começa o planeamento, «O futuro, efetivamente, está em nossas mãos.»


Quando planeamos os nossos exercícios (com vista ao objetivo), temos que contar sempre com os "meios") que nos podem auxiliar a atingir a nossa meta: um bom treinador (hoje chama-se um "coach"), bons livros, bons locais de treino, apoio dos familiares e amigos, etc. 

Mas também é preciso não esquecer os "obstáculos". 
Não vale a pena meter a cabeça na areia como a avestruz. 
Porque, quanto melhor conhecermos os "obstáculos", melhor os podemos contornar.

Saber que existe a possibilidade do homem ser diferente daquilo que foi até agora, é o preâmbulo necessário de uma tomada de providências práticas que virão depois.

Talvez tenhamos chegado à conclusão de que somos seres complexos em lento desenvolvimento, e que, infelizmente, ainda não estamos entre a elite que já deixou a impetuosa Torrente que tudo carrega nas águas dos instintos e das baixas emoções.

Já sabemos que enquanto nosso Corpo Inferior ou Instintivo nos aprisionar, por nossa culpa de não termos tentado sair dessa prisão, em seu nível de influência e enquanto a Alma Inferior nos envolver em sua esfera de ação, permaneceremos ao sabor das ondas que nos carregam sem que quase nada possamos fazer para mudar esse assustador trajeto. 
 
Se o «Corpo Inferior ou Instintivo» está mal treinado, a culpa é nossa. 
Se ele está a fazer o que não deve, a culpa é nossa. 
A culpa é da nossa inércia, da nossa preguiça. 
A culpa é de nos deixarmos levar pela enxurrada (a Torrente). 
Portanto, o que há a fazer é treiná-lo para que ele faça o que está certo. 
Ele tanto se habitua a fazer o que está bem, como se habitua a fazer o que está mal.

Entretanto, para os que buscam a Sublimação, certamente algo de bom já aconteceu.
Percebemos que lançado o primeiro olhar para fora de nós mesmos, existe um mundo de esperanças e realizações aguardando por nós, na medida em que nos elevamos em sentimentos e atos, olhando para o Alto e estendendo a mão, suplicante, em direção ao Criador. 


Mas, trata-se de um trabalho estritamente pessoal, pois o conhecimento místico, e o seu resultado, é sempre individual.

No plano da Alma até podemos desenvolver uma certa sabedoria, mas, seria praticamente impossível, supondo que a tivéssemos, transferi-la diretamente a alguém. 
E é por isso que a maneira pela qual encararmos esse desafio; a força que empregarmos para continuar essa busca; a perseverança que não nos deixará desanimar e a fé em nossa capacidade de reagir, é que determinará o tempo e a forma como, daqui para a frente, iremos evoluir. 

A "motivação" é crucial. 

Ou a "motivação" é muito forte, ou o atleta desiste após as primeiras dificuldades. 
Não se pode tentar dar o passo maior do que a perna, mas pelo contrário também não se pode treinar às segundas, quartas e sextas. 

O treino tem que ser diário. O treino tem que ser hora a hora. Cada hora perdida, pode ser uma meta falhada, porque o «tempo» está contado. 
Pode ser essa hora perdida que, no fim, faltou. Por uma hora se ganha, por uma hora se perde.


Paisagens são colocadas às margens do grande rio para que, observando-as, possamos meditar, e assim, nos decidamos a agir.
São os 4 elementos que teremos de trabalhar antes de passar aos três materiais – a Tria Prima – que serão processados no nosso Laboratorium interno.

Não podemos conduzir ninguém pela mão para que persevere no caminho que parece ser o melhor, pois lhe tiraríamos o mérito de vencer por si próprio.

Apenas apontamos, de longe, uma Senda; uma possível Rota a seguir, que, pelo seu particular discernimento cada um poderá trilhar, se assim, conscientemente, o decidir. 
As conclusões finais sempre deverão ser desenvolvidas individualmente, através de uma profunda meditação pessoal. 
 
É sempre o atleta quem decide qual é o caminho que pretende trilhar. 
É a sua vida que está em jogo, portanto ninguém pode nem deve decidir por ele. 
Para além disso, é necessário que o atleta tenha uma convicção tão profunda na Meta que essa convicção tem que partir do mais profundo dele próprio, e nunca poderá vir de outra pessoa.


O certo é que cada um chegará a atingir o nível de conhecimento para o qual estiver preparado. 
Uns mais, outros menos.
Todos, entretanto, poderão usufruir uma nova visão das coisas, e mais do que isso, divisarão novas perspectivas em suas vidas, tornando-as mais úteis para a maioria.

A elevação que cada um puder realizar nos três planos – do Corpo, da Alma e do Espírito – dar-lhe-á uma visão muito mais ampla, vista desde um patamar superior como se estivesse num estádio esportivo e fosse subindo os degraus da arquibancada cada vez mais para o alto.

A visão do conjunto será cada vez mais extensa na medida em que ascender aproximando-se do topo e, as coisas inferiores da matéria – os vícios e as paixões desenfreadas – representadas pelo nível mais baixo do campo, dele cada vez mais se afastarão, tornando-se pouco significativas em sua vida.

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