O segredo das Religiões de Mistérios
São conhecidas as cerimónias de Mistérios que se
desenrolaram na Grécia antiga seja em Elêusis ou na ilha de Samotrácia mas pouco se
sabe dos seus rituais.
Para que serviam? Qual o simbolismo dos seus rituais?
Sabe-se que :
---A regra do silencio é comum a todos os cultos de Mistérios.
-- A prática dos cultos não se divulga senão ao circulo fechado
de pessoas (Iniciados) que neles participam.
Acredita-se que o fundamental desses cultos esteja ligado à
evolução da pessoa humana como ser espiritual e a fazer-lhe ‘ver’ por
determinadas práticas que o que ‘importa’ não é a pessoa se ‘ligar’ ao mundo fisico
e viver apenas em função dele, mas ao contrário, ‘vendo’ através dos rituais que
existe uma realidade espiritual para além deste mundo, se possa ‘libertar’
dele, com amplos beneficios próprios seja em vida seja pós morte.
Felizes aqueles que perceberam antes de descerem á terra.
Sabem o que é a morte, o fim da vida.
Sabem o que é a morte, o fim da vida.
Pindaro citado por Clemente de Alexandria
Três vezes felizes aqueles mortais que conheceram os Mistérios
Quando morrerem, esses viverão
Os outros sofrerão males terriveis.
Quando morrerem, esses viverão
Os outros sofrerão males terriveis.
Sófocles
No Mistério e pelo ritual iniciático, o que conta é a ‘Visão’
que se tem, a visão garante do bem estar futuro ( em vida como ser equilibrado
consigo mesmo, com os outros e com o mundo, e em morte como ser cooperante com
o Divino).
Essa ‘Visão’ poderia não ser ensinada expressamente mas apenas
‘pressuposta’ pelo candidato durante a sua expêriencia ritual.
Os Mistérios ensinam a morrer com uma esperança melhor,
oferecem aos mortais um refúgio contra os sofrimentos terrenos, uma sobrevivência
bem aventurada em companhia dos deuses.
Cícero
Os iniciados livres dos corpos, se alegrarão dos beneficios
celestes.
Proclus
Mais piedosos, mais justos e em tudo, melhores.
Diodoro de Sicile
Quem passou nos Mistérios domou o Cerbero, o cão monstruoso.
Euripedes faz dizer a Herácles
Haveria duas fases na iniciação aos Mistérios, a fase dos
Pequenos Mistérios e a fase dos Grandes Mistérios (chamada também de Epoptia ou
Iniciação Perfeita).
Ambas consistem, não em teorias intelectuais mas profundas experiências
marcantes.
O Iniciado não aprende nada, o Iniciado recebe-vive impressões,
sentimentos-emoções após ser colocado em ‘disposições’ que o predispõem a recebê-las.
Aristóteles
Nota : Que lhe mudam o sentido da vida que até aí tinha vivido,
ocasionando uma morte para a vida antiga e um nascimento para uma nova vida, que
é no fundo uma nova maneira de encarar, de perpectivar a vida. O que muda é como se vive, de virado para fora
para virado para dentro.
Nos Mistérios apenas se contempla.
Clemente de Alexandria
Nota : Contemplar está associado á Epoptia.
As consagrações ( os ritos iniciáticos) são para as almas,
de um modo desconhecido e divino, uma causa de uma Simpatia.
Proclus
Nota: Simpatia equivale ao ‘abrir os olhos’ para uma nova
realidade.
Nos Pequenos Mistérios haveria uma purificação corporal com
lavagens rituais, determinado tipo de jejum, e eventualmente um periodo de abstinência
sexual.
Nos Grandes Mistérios, que se praticavam um ano após os
Pequenos, o neófito passa ‘por labirintos confusos, desvios penosos, marchas
perturbadoras e sem fim, com tremores, angústia e suores frios’, tudo isto às
escuras até finalmente ‘ver uma Luz pura e maravilhosa’, a Epoptia que coroa essa
noite de trevas.
Existiria uma dupla impressão, terror inicial e serenidade final.
‘Descia através dos elementos à escuridão dos defuntos, via
em plena noite um sol radioso, contemplava os deuses de cima e de baixo e maravilhado,
conhecia-se a si mesmo e fazia-se re-conhecer pelos deuses’.
O simbolo dos Grandes Mistérios era a ‘espiga de trigo colhida
em silêncio’, representando o trigo que morre no inverno para renascer na
primavera ( se o grão vingar=se o iniciado preservar) como um regresso à vida
pela morte (pela mudança de atitude que fez), sendo que depois da morte fisica o
Iniciado viveria integrado na existência celeste-divina-eterna que comprovou em
vida ao passar pelos Mistérios.
Quando a terra for verdejante das flores primaveris, tu te
elevarás por cima das brumas negras para o regalo dos deuses e dos homens
mortais.
Hino de Homero
Saí da sala dos mistérios como que estranho a mim mesmo.
Sópatros
Nota : Que melhor definição da mudança de atitude obtida ? Passou
a ser Ele, deixou de ser eu.
Os Mistérios têm como vocação de servir de ponte, de relação
entre o homem e o Divino, de nos unir ao mundo e aos deuses para com eles
cooperarmos.
Servem para simbolizar os acontecimentos da vida humana e
dar resposta às perguntas dos homens ‘inquietos’, como disse Marguerite
Yourcenar referindo-se aos Mistérios de Elêusis.
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