O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos
Parte 3
No Bardo Thodol existem as 3 fases seguintes :
No momento da morte existe um Conhecimento da Verdade em todos os casos.
Depois o morto consoante o seu percurso em vida, segue as ilusões karmicas ou as rejeita.
Caso as siga, inicia o processo de ‘descida’ para estados, Reinos intermédios, ou para uma nova encarnação.
Se as rejeitar, inicia o processo de União com a Clara Luz da Verdadeira Realidade.
O Bardo nas suas 3 fases demora cerca de 49 dias após a morte até a uma eventual encarnação-renascimento.
A visão suprema não vem no fim do Bardo (que trata do renascimento) mas no começo, no momento da morte.
Afinal o climax espiritual é no momento da morte e se entende assim que a vida humana é o veiculo da maxima perfeição que é possivel alcançar.
Pela vida se gera o karma (fruto dos esforços e desejos em vida), seja de Conhecimento ou de Ignorância, que leva o morto para a ‘descida’ ou para a Luz, pois ela contém tudo.
O Bardo Thodol foi concebido como um guia para os vivos e só tem valor para aqueles que praticam e compreendem seus ensinamentos em vida.
Tem a ver com a própria vida e não como missa para o morto.
Uma das suas funções é sobretudo ajudar os vivos que assistem ao morto, os que foram deixados para trás a adoptar uma nova atitude perante a vida para serem capazes de morrer com dignidade e verticalidade e não para orientar o morto que segundo a tradição budista já traçou o seu caminho ‘karmico’ (do qual não se desviará) pela vida que agora terminou.
Nascer como ser humano é um Privilégio, pois oferece uma oportunidade preciosa de libertação através do esforço decisivo de cada um, mas muitos não se dão conta disso a tempo.
A vida, a encarnação como ser humano permite multiplas possibilidades de corrigir um mau karma anterior, de nos elevarmos espiritualmente, que seres não humanos não dispõem.
Não se pense que mesmo para um adepto iniciado em vida este processo é fácil.
Como bem diz D.H. Lawrence :
‘É duro morrer, é dificil passar a porta, mesmo quando ela se abre. Quem pensa que sabe tudo sobre este processo e que o controla, desengane-se pois a morte tem sempre novidades a mostrar, tem o seu próprio processo, haverá medo, desorientação, as nossas capacidades testadas ao limite, zonas escuras reveladas, é pois precisa muita coragem e sobretudo aceitação e verdadeira humildade’. ‘A ideia de morrer é muito diferente do facto de morrer.’
Dito popular.
A morte não se deixa organizar como um evento mundano, nem a questão é saber controlá-la e manipulá-la, a questão é em mergulhar na nossa humanidade e aceitar morrer em quaisquer circunstâncias que surjam, e assim aprender com a morte como deveriamos aprender em vida com os desgostos, frustações e perdas, em suma, com as pequenas mas importantes mortes diárias na nossa vida.
Quem em vida sabe aprender (adquirindo novas atitudes=transformando-se numa nova pessoa) com estas mortes diárias melhor saberá aprender-enfrentar o processo sempre imprevisto (sem controle possivel) da morte.
Quem em vida se esforça por evoluir espiritualmente e se esquece da sua morte, vai pelo caminho errado enganando-se a si mesmo, segue apenas o orgulho espiritual que a nada conduz.
As suas práticas espirituais (via meditações elaboradas, ordens religiosas ou iniciáticas) se não incluem o tema da sua morte ‘iminente’ são meras distracções mundanas e egoistas que só satisfazem o ego, o orgulho e só desviam do verdadeiro caminho.
Os Sábios dizem ser a morte uma escola de um só golpe.
A morte diz : ‘Esforça-te, aprende e conhece, mas conserva um olho em mim, pois só eu tenho a palavra final.
Crescer espiritualmente é travar um relacionamento com a morte, aceitá-la, descobri-la e integrá-la na nossa vida, pois estudando a morte se aprende a viver.
O Yogue Milarepa, foi instruido pelo seu mestre a fazer casas de pedra num dia e a desfazê-las no dia seguinte.
Construir e destruir são 2 faces da mesma moeda.
Neste momento somos outra pessoa daquela que éramos há 1 segundo atrás.
Saibamos aceitar e integrar este facto, que é podermos morrer a qualquer instante.
O Bardo Thodol procura alertar para isso e dar ao homem as ferramentas para o conseguir.
‘ O Bardo da Vida despontou em mim, abandonei a indolência, não há tempo a desperdiçar com distracções inúteis’.
O discipulo iniciado pelo Bardo começa a escutar o seu coração (nasce a Fé) , de seguida transforma essa atitude intuitiva em conhecimento pela razão, e finalmente quer o sentimento intuitivo quer o entendimento intelectual são transformados em realidade viva através da experiência prática directa.
Ao perceber a natureza ilusória da morte, deixa de a temer.
Ao identificar-se em vida com a Luz Eterna, ao morrer continua nessa identificação sem sobressaltos e não segue as luzes ilusórias opacas que o levariam para ‘outros‘ caminhos mas se une à Luz clara e informe da Realidade.
O iniciado em vida, quando morre, não tem a quebra de consciência normal na pessoa não-desperta, faz apenas uma transição para outro nivel de consciência e não precisa que lhe seja lido o Bardo, já o praticou em vida.
Antes do momento da morte, o moribundo visualiza diante de si, tipo filme, as imagens, desejos, sentimentos de toda a sua vida, isto para se recordar do que fez e poder julgar-se a si mesmo mais á frente.
No momento da morte para o homem não-desperto a consciência empirica a que esteve ligado em vida se perde, ocorre um ‘desfalecimento’(desorientação, o chamado ‘estertor’ do morto) e surge uma Luz que representa a Consciência Pura.
Quem já a conheceu em vida de imediato se liga a ela pois sabe que é esse o caminho a seguir.
Esta Luz está sempre ‘pronta’ a ser descoberta em vida por aqueles que têm vontade de a procurar e o poder para encontrá-la.
Não está escondida em lugar secreto.
Só precisa que o buscador remova o véu que a cobre da luz opaca do mundo.
É uma questão de mudança de atitude, afinal de ver o que sempre esteve á nossa frente e não vemos porque não lhes prestamos atenção.
O homem está, de facto, libertado, só que ele não sabe disso, e não sabendo não se preocupa a retirar o véu que o impede de ver a Realidade e continua ligado à falsa realidade material dos desejos.
Quem não a conhece (a Luz Pura), estranha, fica surpreso e confuso (pois a Luz é informe e incolor) e o morto não está ‘habituado’ (não conhece) a essa Presença, a essa Consciência Pura e fica á espera do que acontece a seguir.
Na 1º fase da morte, tal como na 1º fase da via, predomina o coração, a pureza de sentimentos da criança (por isso consegue ver a Luz Pura) e a seguir vem a racionalidade, a maturidade adulta (para quem não ‘compreendeu’ ainda essa Luz Pura e não se une a ela).
Na 1º fase é mostrada a todos os mortos essa Luz Pura e os seus atributos (principios divinos), isso é um teste ao morto para, ele próprio, perceber se em vida desenvolveu alguns desses atributos divinos (humildade, pureza, etc..) ou não, seja na totalidade (e se unir eternamente á Luz Pura) ou apenas parcialmente (e seguir para os ‘niveis de existência’ respectivos para continuar a sua evolução).
A seguir surgem ao morto, via razão/intelecto, as inúmeras ilusões (na forma de ‘luzes opacas’), sentimentos a que se agarrou em vida que o ‘puxam’ para as seguir e aí o morto começa a sentir o desejo de as viver de novo e como só o pode fazer em vida, terá tendência a procurar um novo corpo para renascer de novo na 3º e última fase do Bardo.
No entretanto vive como que num sonho real (assim como em vida os seus sonhos reflectiam os seus desejos e pensamentos, pois os sonhos são os filhos dos pensamentos do sonhador) uma existência tipo prolongamento da sua vida passada (ou seja, como não se libertou na 1º fase, continua preso aos seus desejos passados e só anseia novo corpo para os materializar).
Em suas visões ou sonhos aparecem simbolos (Deuses) bons-pacificos ou maus-agressivos, que apenas refletem de novo os seus próprios desejos bons (coração) ou maus (razão/mente), tudo o que lhe aparece em ‘simbolos’ é só e apenas o que ele semeou dentro de si em vida.
O morto então é como uma criança, que olha maravilhada as figuras simbolicas que lhe surgem à frente, não ciente da não-realidade disso tudo, se não for iniciado em vida e se agarra a elas e as quer ‘viver’(em nova encarnação) de novo.
É uma questão de mudança de atitude, afinal de ver o que sempre esteve á nossa frente e não vemos porque não lhes prestamos atenção.
O homem está, de facto, libertado, só que ele não sabe disso, e não sabendo não se preocupa a retirar o véu que o impede de ver a Realidade e continua ligado à falsa realidade material dos desejos.
Quem não a conhece (a Luz Pura), estranha, fica surpreso e confuso (pois a Luz é informe e incolor) e o morto não está ‘habituado’ (não conhece) a essa Presença, a essa Consciência Pura e fica á espera do que acontece a seguir.
Na 1º fase da morte, tal como na 1º fase da via, predomina o coração, a pureza de sentimentos da criança (por isso consegue ver a Luz Pura) e a seguir vem a racionalidade, a maturidade adulta (para quem não ‘compreendeu’ ainda essa Luz Pura e não se une a ela).
Na 1º fase é mostrada a todos os mortos essa Luz Pura e os seus atributos (principios divinos), isso é um teste ao morto para, ele próprio, perceber se em vida desenvolveu alguns desses atributos divinos (humildade, pureza, etc..) ou não, seja na totalidade (e se unir eternamente á Luz Pura) ou apenas parcialmente (e seguir para os ‘niveis de existência’ respectivos para continuar a sua evolução).
A seguir surgem ao morto, via razão/intelecto, as inúmeras ilusões (na forma de ‘luzes opacas’), sentimentos a que se agarrou em vida que o ‘puxam’ para as seguir e aí o morto começa a sentir o desejo de as viver de novo e como só o pode fazer em vida, terá tendência a procurar um novo corpo para renascer de novo na 3º e última fase do Bardo.
No entretanto vive como que num sonho real (assim como em vida os seus sonhos reflectiam os seus desejos e pensamentos, pois os sonhos são os filhos dos pensamentos do sonhador) uma existência tipo prolongamento da sua vida passada (ou seja, como não se libertou na 1º fase, continua preso aos seus desejos passados e só anseia novo corpo para os materializar).
Em suas visões ou sonhos aparecem simbolos (Deuses) bons-pacificos ou maus-agressivos, que apenas refletem de novo os seus próprios desejos bons (coração) ou maus (razão/mente), tudo o que lhe aparece em ‘simbolos’ é só e apenas o que ele semeou dentro de si em vida.
O morto então é como uma criança, que olha maravilhada as figuras simbolicas que lhe surgem à frente, não ciente da não-realidade disso tudo, se não for iniciado em vida e se agarra a elas e as quer ‘viver’(em nova encarnação) de novo.
Existem, pois, dois caminhos : Conhecimento ou Ignorância.
O Bardo Thodol exorta o morto (e os vivos) a reconhecer nessas ilusões, as criações da sua própria mente que lhe tapam a Clara Luz, se ele o fizer (na 1ª fase) , liberta-se dos ciclos de renascimento e une-se a Ela para sempre.
O Bardo Thodol ensina que aquilo tudo que o sujeito vê, é devido inteiramente ao seu próprio conteudo mental, não há visões de infernos, paraisos, ceús, deuses ou demónios que não sejam originários das suas formas-pensamentos karmicas alucinatórias que constituem a sua personalidade, produto da sua sede de existência e da sua vontade de viver e de crer.
Daí o seu papel quase que psicológico-cientifico.
O objectivo do Bardo Thodol é fundamentalmente provocar o despertar do Sonhador para a Realidade (da Clara Luz, que alguns chamam Deus), livre de ilusões karmicas e de presenças futuras em quaisquer paraisos, infernos, purgatórios ou mundos de encarnação.
O Juizo Final
Neste acto de julgamento o morto analisa o que fez enquanto viveu, se viveu praticando o bem e se lembrando da morte ou pelo contrário, praticou maus actos e se esqueceu que um dia ia morrer, e ele mesmo decide (pela sua própria consciência) o proximo passo a seguir, se é libertado da cadeia de renascimentos e passa a ser o Espectador (o Conhecedor) que não encarna nem reencarna (e veste um novo ‘corpo’ formado de particulas elementares-etéreas puras) ou se necessita de mais purificações por meio dessa roda de encarnações e de um corpo de novo mais grosseiro e mais sensível às dores.
O objectivo do Bardo Thodol é fundamentalmente provocar o despertar do Sonhador para a Realidade (da Clara Luz, que alguns chamam Deus), livre de ilusões karmicas e de presenças futuras em quaisquer paraisos, infernos, purgatórios ou mundos de encarnação.
O Juizo Final
Neste acto de julgamento o morto analisa o que fez enquanto viveu, se viveu praticando o bem e se lembrando da morte ou pelo contrário, praticou maus actos e se esqueceu que um dia ia morrer, e ele mesmo decide (pela sua própria consciência) o proximo passo a seguir, se é libertado da cadeia de renascimentos e passa a ser o Espectador (o Conhecedor) que não encarna nem reencarna (e veste um novo ‘corpo’ formado de particulas elementares-etéreas puras) ou se necessita de mais purificações por meio dessa roda de encarnações e de um corpo de novo mais grosseiro e mais sensível às dores.
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