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sexta-feira, 8 de abril de 2016

Os Pecados Mortais - A Gula



Os Pecados Mortais - A Gula

A gula é o amor desordenado de todo o tipo de excessos, sejam eles comida, bebida ou outros. 

É o abuso do prazer legítimo que Deus quis acompanhasse o comer e o beber, tão necessários à conservação do indivíduo.

Mas também o desejo desordenado por excesso de livros, doutrinas, iniciações, nada é suficiente, nada lhe chega, o guloso quer sempre mais e mais, nunca consegue ficar 'satisfeito', nunca nada é 'suficiente'.

A gula é o pecado capital que contrasta com a virtude da temperança. 

Seus excessos levam à degradação do próprio corpo humano, que uma vez sendo alimentado com mais do que necessita, perde o seu equilíbrio natural e saudável. A saúde esvai-se se não mantida com a temperança.

Para Evágrio e Santo Agostinho, a Gula era um pecado, pois representava o excessivo gosto por questões materiais.

Para Evágrio as pessoas deveriam evitar os vícios e de se apegarem as coisas mundanas. 

Se alimentar é essencial, porém, naquela época se entendia que a pessoa que se dedicava a passar parte do seu dia apenas comendo e bebendo, acabava esquecendo de outros afazeres, negando obrigações, e de certa forma esquecendo-se de Deus.

O se "esquecer" de Deus refere-se a duas linhas de entendimento: a primeira, é que o glutão ou guloso, não passaria a dedicar parte de seu tempo a orar para Deus, e ao mesmo tempo não realizaria outras atividades.   


Segundo, a Gula vai de encontro a ideia pregada por Cristo durante a Última Ceia, onde o mesmo compartilhou com os apóstolos o pão e o vinho, e realizou o simbolismo de que o pão seria sua "carne" e o vinho o seu "sangue".  

Quando a pessoa come de forma gulosa, é considerado uma afronta a essa metáfora de Cristo e ao ensinamento da temperança e da partilha. 

Ou seja, aquele que come muito e bebe muito, de certa forma está tirando o acesso a tais alimentos de outras pessoas, está agindo de forma gananciosa e egoísta, pois milhões de pessoas padecem de fome diariamente.


Natureza da Gula

A desordem da Gula consiste em procurar o prazer do alimento, por si mesmo, considerando explícita ou implicitamente como um fim, a exemplo daqueles que fazem do seu ventre um deus, ou em o procurar com excesso, sem respeitar as regras que dita a sobriedade, algumas vezes até com prejuízo da saúde.
 
Os teólogos assinalam quatro maneiras diversas de faltar a essas regras:

1) Comer antes de sentir necessidade, fora das horas marcadas para as refeições, e isto sem motivo legítimo, só para satisfazer a gula.
  
2) Buscar iguarias esquisitas ou preparadas com demasiado apuro, para gozar delas mais; é o pecado dos gulosos ‘gourmet’ ou gastrônomos.
 

3) É ultrapassar os limites do apetite ou da necessidade, enfartar-se de comida ou bebida, com risco de arruinar a saúde; é evidente que só o prazer desordenado pode explicar este excesso, que no mundo se chama glutonaria.

4) Comer com avidez, com sofreguidão, como fazem certos animais; e esta maneira de proceder é considerada no mundo como grosseria.

A obesidade, a embriaguez, a alcoolismo, etc., são consequências geradas pela Gula.

  
A malícia da gula 
A malícia da gula vem de escravizar a alma ao corpo, materializar o homem, enfraquecer a vida intelectual e moral, preparando-o, por um pendor insensível, ao prazer da volúpia, que, em substância, é do mesmo gênero. 

Para lhe determinarmos com precisão a culpabilidade, importa fazer esta distinção.

A)  A gula é falta grave:

a)  Quando chega a excessos tais que nos torne incapazes, por tempo notável, de cumprir os nossos deveres de estado ou obedecer às leis divinas ou eclesiásticas; por exemplo, quando prejudica a saúde, quando dá origem a despesas loucas que põem em risco os interesses da família, quando leva a faltar às leis da abstinência ou do jejum.

b)  O mesmo se diga, quando se torna causa de faltas graves.

Os excessos da mesa, dispõem à incontinência, que é filha da gula.

Incontinência dos olhos e dos ouvidos, que vão buscar pasto doentio aos espetáculos e canções licenciosas; incontinência do pensamento que, extraviando-se, se derrama sobre os objetos ilícitos; incontinência da vontade, que abdica para se escravizar aos sentidos... 


A intemperança da mesa leva à intemperança da língua. 
Que faltas não comete a língua no decurso de banquetes pomposos e prolongados!

Faltas contra a gravidade!... Faltas contra a discrição! 
Atraiçoam-se os segredos que havia promessa de guardar, segredos profissionais que são sagrados, e entrega-se à malignidade a reputação dum marido, duma esposa, duma mãe, a honra duma família, quando não é o futuro duma nação.

Faltas contra a justiça e caridade! 
A maledicência, a calúnia, a detração, sob as suas formas mais inescusáveis, exprimem-se com uma liberdade desconcertante... 

Faltas contra a prudência! 
Tomam-se compromissos que não será possível guardar, sem ofender todas as leis da moral....



B) A gula não passa de falta venial, quando alguém cede aos prazeres da mesa imoderadamente, mas sem cair em excessos graves, sem se expor a infringir qualquer preceito importante. Assim, por exemplo seria pecado venial comer ou beber mais do que de costume, por prazer, para fazer honra a um lauto banquete ou agradar a um amigo, sem cometer excesso notável.

C) Sob o aspecto da perfeição, é a gula um obstáculo sério:

1) Enfraquece a vontade e desenvolve o amor do prazer sensual que prepara a alma para capitulações perigosas;

2) É fonte de muitas faltas, produzindo uma alegria excessiva, que leva à dissipação, à loquacidade, aos gracejos de gosto duvidoso, à falta de recato e modéstia, e abre assim a alma aos assaltos do demônio. 
Importa, pois, combatê-la.

A gula trava luta constante entre o prazer da carne e o crescimento espiritual, afastando o homem de Deus, que se torna no furor do seu apetite, negligente com a alimentação espiritual.


Remédio 

O princípio que nos deve dirigir na luta contra a gula, é que o prazer não é fim, senão meio, e que por conseguinte, deve ser subordinado à reta razão iluminada pela fé . 
Ora, a fé diz- nos que é necessário santificar os prazeres da mesa com pureza de intenção, sobriedade e mortificação.

1) Antes de tudo, é preciso tomar as refeições com intenção reta e sobrenatural, não como o animal que não busca mais que o prazer, não como o filósofo que se limita a uma intenção honesta, senão como cristão, para melhor trabalhar na glória de Deus: com espírito de reconhecimento para com a bondade de Deus que se digna conceder-nos o pão de cada dia; com espírito de humildade, dizendo-nos a nós mesmos, com São Vicente de Paulo, que não merecemos o pão que comemos; com espírito de amor, empregando as forças, que recuperamos, no serviço de Deus e das almas. 

«Quer comais, quer bebais, fazei tudo para glória de Deus (I Cor. 10,31)» 



2) Esta pureza de intenção nos fará guardar a sobriedade ou justa medida: e na verdade, se queremos comer para adquirir as forças necessárias ao cumprimento dos nossos deveres de estado, evitaremos todos os excessos que poderiam comprometer-nos a saúde.

Ora, dizem-nos os higienistas, a «sobriedade (ou frugalidade) é a condição essencial do vigor físico e moral».
Já que comemos para viver, devemos comer sadiamente para sadiamente viver. 
Fujamos, pois, de comer ou beber demais... 
Devemos levantar-nos da mesa com uma sensação de leveza e vigor, ficar um pouco aquém do apetite, e evitar ficar entorpecidos com os excessos da lauta mesa.

É bom, contudo, observar que a medida não é a mesma para todos. 

À sobriedade junta o cristão a prática de algumas mortificações.

A)  Como é fácil escorregar por esta ladeira e conceder demais à sensualidade, convém privar-nos, de vez em quando, de alguns acepipes de que gostamos, úteis até, mas não necessários. 
Desse modo se adquire domínio sobre a sensualidade, privando-a de algumas satisfações legítimas; desembaraça-se o espírito da servidão dos sentidos, dá-se-lhe mais liberdade para a oração e para o estudo e evitam-se muitas tentações perigosas.

B)  É uma excelente prática habituar-se a não tomar refeição alguma, sem nela fazer qualquer mortificação. É excelente prática habituar-se a comer um pouco de que não agrada.

C)  Entre as mortificações mais úteis, contamos as que se referem a bebidas alcoólicas, onde a regra é o uso moderado sem excessos viciosos.


Na Divina Comédia de Dante os pecadores da gula são castigados no 6º nivel do Purgatório. 

Aqui transitam os gulosos. 
Essas almas têm os olhos enegrecidos, encovados, batem os dentes mastigando o vazio, são pálidas e tão magras que suas faces mostram-se desfiguradas e é possível ver o fantasma de seus ossos. 
A pena torna-se mais aflitiva porque o Sexto Terraço é um pomar pleno de frutos e repleto de veios de água pura e cristalina. 
Porém, as almas do gulosos não podem comer nem beber porque os frutos e as águas fogem de suas mãos. 

É um jejum que parece sem fim.

Aí, os gulosos se encontravam nus e com aparência esquelética, aparência de pessoas passando fome e com sério grau de desnutrição; com os ossos salientados sob a carne magra. 

Aqui a pena para a gula é oposto do que os gulosos fizeram em vida, ou seja, em quanto vivos, abusaram da comilança e da bebedeira, e agora no Purgatório passariam fome, na tentativa de se redimirem de seus pecados e conseguirem o perdão, senão, cairiam no Inferno, onde seriam atacados por Cérbero.

No inferno os pecadores da gula eram castigados no Terceiro Ciclo, onde se encontravam sob uma forte tempestade com chuva, neve e granizo, além de serem arranhados e devorados por Cérbero, o cão de três cabeças que na mitologia grega era o guardião dos Portões do Inferno.


Gera:

Estupidez - A inteligência indisposta pelos vapores que sobe à cabeça e que impedem a reflexão, a oração, etc.

Alegria vã - A razão perde a sua ascendência sobre a vontade; já não manda, porque “o vinho faz crer que tudo é bem estar e felicidade".

Loquacidade - Desordem nas palavras: "a língua agita-se a torto e a direito".

Palhaçada - Desordem dos gestos: "tudo é bom para rir".

Impureza - Desordem do corpo: a falta de asseio, falta de reserva e todas as espécies de excessos.

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