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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Virtudes Teologais - A Caridade



A Virtude da Caridade

O amor é um movimento da nossa alma para algo a que nos queremos unir. 
Se esse algo fôr outra pessoa será um amor sensivel, se fôr uma actividade honesta será um amor racional. 

Quando esse algo é Deus, o Ser Perfeito a que fomos conduzidos pela Fé e pela Esperança, será um amor sobrenatural a que se chama Caridade. 

A Caridade junta assim ao amor a Perfeição. 
Amamos a Perfeição e queremos ser Perfeitos na nossa vida.


A Caridade é o vinculo da Perfeição, porque reune as demais virtudes num todo harmonico e perfeito. 

A Caridade é a forma das virtudes: articula-as e ordena-as entre si. 

A Caridade assegura e purifica a nossa capacidade humana de amar e eleva-a à Perfeição sobrenatural do Amor divino, pois é nele que está o fim: é para a conquista dele que corremos; corremos para lá chegar e, uma vez chegados, é nele que descansamos. 

Caridade é assim um movimento continuo para Deus, para o termos sempre em nosso pensamento, e a todo o momento estarmos para Ele virados e não virados para as criaturas e o mundo.


Movimento que nos leva a tudo fazer, pensar, falar em nome de Deus e assim a santificar a nossa vida.

A Fé e a Esperança dizem-nos que Deus é o único Bem que precisamos.
Daí termos amor sobrenatural a Deus, como nosso Pai e a Ele dedicarmos as nossas vidas.

A Inteligência, o Entendimento sobrenaturais também nos apontam a certeza de toda a Criação ser obra de Deus, serem um reflexo perfeito da Perfeição divina.
Assim amamos os outros seres como nossos irmãos e filhos do mesmo Pai.

Por isso, a Caridade é um continuo movimento em direção a Deus, ao Bem Perfeito e ao próximo que é o Seu reflexo. 

Na prática é no dia a dia tudo fazermos tendo como meta sermos perfeitos como o nosso Pai e ajudarmos também o próximo como nosso irmão nessa direção de perfeição para o Pai.


Amamos o próximo porque Deus está nele e ao amar a Deus amamos todos os seus reflexos, todos os seus filhos de uma maneira sobrenatural. 

Trata-se da possibilidade de nos referirmos ao Tu divino para transferir este Tu ao tu do nosso próximo.

Assim a Caridade pode se definir como a Virtude Teologal infusa em nós que nos direcciona a amar Deus como Ele se ama e ao próximo por amor a Deus.

A caridade, embora seja uma virtude teologal, isto é, infundida por Deus na alma fiel, requer muito empenho e esforço humano para ser levada à plenitude.


A caridade não é só virtude a ser realizada, mas caminho a ser percorrido, itinerário espiritual pelo qual, sob a direção do Espírito Santo, podemos aproximar-nos de Deus e de Suas Perfeições.

Pela Caridade desejamos ser Perfeitos nesta vida ou na eternidade para a nossa alma ser salva e poder permanecer junto ao Pai em contemplação eterna.


A Caridade aspira à união, à amizade perfeita da criatura aperfeiçoada com o seu Perfeito Criador. 

Tarefa imensa, até porque, como se sabe, a caridade é a rainha e  a raiz das outras virtudes cristãs: a humildade, a pobreza, a religiosidade, a coragem da verdade e o amor da justiça e de todas as outras formas operantes do homem novo. 

Sendo a caridade a manifestação mais alta de Deus e o dom mais sublime outorgado ao homem, ela pode ser compreendida e tornar-se operante onde age o Espírito Santo. 

Levado assim pelo Espírito Santo a viver com o Senhor num diálogo de amor, o cristão se aproxima do próprio mistério de Deus. 

Pois Deus não revela logo de início quem é: fala, chama, age, e o homem chega por esse caminho a um conhecimento mais profundo onde finalmente percebe que  ‘Deus é amor’  e é esse ‘amor’ que melhor nos pode fazer entrever o mistério do Deus Trindade, o dom recíproco e eterno do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 

O nosso amor a Deus é puro e desinteressado pois como não amar Alguém que nos deu a vida e a sustenta a cada momento?

Evolução da Caridade em 4 tempos

1) Começamos por nos amar a nós mesmos. 

2) Percebendo aos poucos as nossas limitações, descobrimos a Deus pela Fé e o amamos para nos ajudar. 

3) Com o tempo de contacto com Deus, começamos a amá-lo por Ele mesmo mantendo-nos Dele distintos. 

4) Enfim, em último grau, que poucos alcançam em vida, amamo-nos únicamente por Deus, uma união perfeita, é já Deus que vive em nós.

A Caridade tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. 

A virtude da Caridade leva-nos, pelo amor e serviço  que dedicamos exclusivamente a Deus, a abrir um canal de comunicação permanente com o plano divino através dos planos intermédios de anjos e arcanjos.

Esse canal, essa vida dedicada só a Deus, faz-nos participar e cooperar com as obras divinas como filhos de Deus, como deuses secundários,  e nos faz agir como Deus age, conhecendo como Ele conhece, amando como Ele ama.



Papel da Caridade na nossa alma

Unifica a alma inteira a Deus com todas as suas faculdades, do espirito ao ter Deus sempre presente, da vontade ao submeter-se à Vontade de Deus, do coração ligando os afectos ao amor divino, da nossa força e energias pondo-as ao serviço de Deus.

Transforma-a por essa forte união, pois queremos imitar o nosso modelo, queremos ser como Ele, Perfeitos como Ele, saber e penetrar mais na sua intimidade. 


Fá-nos compreender e gostar mais Dele e das coisas divinas.

Centuplica as nossas energias para o bem, arranjamos forças para tudo vencer que nunca imaginámos ter, dá-nos asas para voar, fazer grandes coisas e aspirar ao mais perfeito sempre em nome Dele pois não pode saciar-se senão com o próprio Deus...que é a sua origem.

Dá-nos uma alegria e dilatação da alma, pois temos mais consciência da presença de Deus em nós e isso dá-nos a Paz profunda de estarmos junto da nossa Fonte.

Faz parte da evolução da nossa ligação ‘afectiva’ a Deus para níveis mais altos, e isto num duplo sentido: no sentido da exclusividade, ‘apenas com esta única pessoa’, e no sentido de ser ‘para sempre’.


A prática da Caridade

Pelo amor penitente
Quem pela Caridade deseja a Perfeição, deve evitar o pecado e as tentações, deve arrepender-se quando ofende a Deus com um amor penitente, que se auto pune pelas suas faltas, assim estreitando a união com Deus, o pensamento continuo em Deus.

Pelo amor de gratidão
Acolhem e agradecem tudo o que lhes ocorre, pois tudo vem de Deus para seu aperfeiçoamento. Os benefícios recebidos em breve se transformam em amor ao Benfeitor.

Pelo amor da complacência
Pela Fé e reflexão sabemos que Deus é Perfeito e queremos por amor a Ele ser perfeitos como Ele, assim atraimos a nós essas perfeições ( e o próprio Deus)  e alimentamo-nos dessa Bondade, dessa vida eterna onde o nosso coração se alimenta, se enriquece, se compraz em deleite.
''Que eu morra ou viva, nada importa, pois me basta que o meu Amado viva eternamente, pois vivo mais Naquele que amo que naquele que animo''.


Pelo amor de benevolência
Quem se deleita nas perfeições e dádivas de Deus, tem o desejo ardente de O glorificar, de O louvar eternamente, buscando mais conhecer e aprofundar as belezas e perfeições divinas, para mais O louvar e dar a conhecer aos outros essas perfeições para que o Seu Nome seja louvado não só por nós mas por todas as criaturas.
''Que Seu nome seja glorificado com a glória que tinha antes de haver criaturas, na sua infinita eternidade e eterna infinidade''.

Pelo amor de conformidade
Para expandirmos o nosso louvor a Deus é preciso ser conforme à Sua Vontade.
Vivermos para Deus e não para o mundo, aceitarmos tudo o que nos dá, pois quem nos ama, só pode nos dar o necessário.
Esta entrega, esta conformidade, nos traz uma profunda paz, seja na dor como na alegria.
''Faz-nos repousar, não em nosso próprio contentamento mas no Seu, e nós só desejamos que o nosso Amado se contente fazendo de nós o que mais agradar à Sua Bondade eterna pela Sua Vontade.

Pelo amor da amizade, da comunicação continua entre amantes.
Se Deus nos ama apenas para nosso bem, se vem habitar a nossa alma para nos divinizar, se mendiga o nosso amor como se dele precisasse, então o nosso dever permanente é ir ao Seu encontro e amá-lo com todo o nosso ser durante a nossa vida.
Não recusando nada que nos peça, procurando sempre Lhe agradar, pela entrega total de nós mesmos à Sua Vontade.
Fazendo Dele o centro da nossa inteligência por meio de reflexões frequentes sobre Ele.
O centro da nossa vontade, pela humilde submissão aos Seus desejos.
O centro dos nossos sentidos não permitindo que as nossas afeições se apeguem a algo que não seja Ele.
Das nossas ações fazendo tudo ao Seu serviço para Lhe agradar.
Este amor, dedicação total a Deus, será sempre em crescendo e desinteressado, apenas O amamos porque sim, porque é o nosso Pai e Senhor, nada mais.


Pelo amor da dádiva desinteressada.
A caridade supõe não só a vitória sobre o nosso egoísmo, mas também o exercício de humildade. A filantropia pode ocultar também egoísmo refinado. Pode brotar, não da preocupação com o bem da pessoa a que se dirige, mas do desejo, ainda que inconsciente, de receber elogio pelo o que fez: ‘Quando deres esmola, não te ponhas a tocar a trombeta em público, como fazem os hipócritas... com o propósito de serem glorificados pelos homens...Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita’ (Mt 6,2-3)

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