Carnaval e seu Simbolismo Espiritual
O Carnaval, essa festa que arrebata multidões para as ruas,
promove desfiles suntuosos, comida farta e excessos.
"É Carnaval, ninguém leva a mal"
Qual a sua origem e simbolismo?
Provavelmente originário dos “Ritos da Fertilidade da
Primavera Pagã“, o primeiro carnaval que se tem origem foi na Festa de Osiris
no Egito, o evento que marca o recuo das águas do Nilo.
Adorada pelos Gregos e
pelos Romanos, Ísis era considerada a deusa universal e suprema, a iniciadora,
aquela que detinha o segredo da fecundidade, da vida, da morte e da ressurreição.
Das cerimónias com as quais a celebravam, destacava-se a de lançar ao mar uma
barcaça – o carrus navalis (carro naval) – repleta de oferendas, após ter sido
abençoada por um sacerdote, tendo o ritual por objectivo a purificação e a
fecundidade das terras.
A multidão assistia
mascarada à partida da barca, prosseguindo depois em procissão pelas ruas,
crente nos favores de Ísis, isto é, na generosidade da terra com o germinar das
novas sementeiras e o provir de colheitas abundantes.
O carrus navalis fazia-se
representar nas procissões e nas mais diversas manifestações festivas, ficando
o seu nome, com o passar do tempo, associado, com ou sem razão, ao do Carnaval.
O Carnaval dos nossos dias, urbano ou rural, remonta, na sua
origem, às antigas festas da Natureza, "de fundo agrário" , as
Saturnais romanas e as Lupercais celebradas em honra de Pan, o deus dos
rebanhos.
A expressão popular "é Carnaval, ninguém leva a mal"
encontra o seu fundamento nos rituais licenciosos próprios destas festividades,
uma licenciosidade autorizada que, a par de outros rituais expurgatórios,
constitui ainda hoje a sua principal característica.
A destruição pelo fogo de figuras alusivas ao passado (tudo
o que é velho), o julgamento e queima, em cerimónia pública, do Entrudo, do
Velho e de outras figuras míticas, o castigo que os mascarados infligem às
mulheres que se atrevem, nesse dia, a sair à rua, a serra da velha, as
"chocalhadas", como rito regenerador e fecundante que os
espalhafatosos caretos aplicam às mulheres e a crítica
social expressa são rituais expurgatórios deste
período de passagem que é o fim do Inverno e a entrada na Primavera e a
celebração do renascimento da natureza.
Procura-se acalmar a ira dos céus e
garantir favores de uma boa colheita. Nesses tempos idos da agricultura de
subsistência, a diferença entre a vida e a morte quase se cingia à dimensão da
lavra.
Por outro lado, o carnaval permite paródias, e separação
temporária de constrangimentos sociais e religiosos.
Por exemplo, escravos são
iguais aos seus mestres durante a Saturnália Romana; os pobres vestem-se de
ricos e mascarados percorrem as vilas gozando com os habitantes mostrando que a
vida é mudança continua, e a cada segundo tudo pode mudar para cada um, seja
rico ou pobre.
Apesar da "cristianização" que todas estas
práticas festivas sofreram ao longo de dois milénios, podemos entender ser
ainda hoje esse mesmo o sentido a dar aos actuais rituais carnavalescos.
O importante é que se possa falar de tudo e de todos, num
ambiente de permissiva licenciosidade, em que tudo é permitido e consentido.
Estaremos perante um momento de escape e de purificação social que a comunidade
conserva como absolutamente necessário à sua boa saúde social.
São momentos que
podem ser considerados de escape ou de válvula em que publicamente tudo e a
todos se pode dizer sem que qualquer sanção daí resulte e sem que os visados
possam levar a mal tais palavras, gestos ou atitudes.
A função das máscaras
O mascarado na Antiguidade era um elemento de ligação entre
os vivos e os mortos, entre o homem e a divindade, hoje o mascarado parece desempenhar,
de forma inconsciente, as mesmas funções mas, aos olhos do povo, representa o
diabo e conscientemente se assume como tal nos gesto e atitudes que toma.
Mascaram-se de diabos para gozar com as pessoas e se
perceber que os ‘diabos’ andam á solta todos os dias e não só este....neste são
‘permitidos’ pela sociedade ‘ética’, nos
outros andam escondidos dentro de cada um, com a máscara de cada um....
Qualquer momento de passagem é crítico para a comunidade que
o vive.
O carnaval situa-se no momento de passagem do Inverno para a Primavera.
Logo, o Carnaval corresponde a um momento crítico para as sociedades agrárias.
A presença do mascarado justifica-se assim e a sua acção relaciona-se com a
preparação para essa passagem, através do desempenho das suas funções sagradas:
purificação das comunidades, pela crítica social; o culto da Natureza, pelas
suas atitudes licenciosas relacionadas com as mulheres com o apelo à fecundidade,
num apelo à fertilidade da Mãe-Natureza, no início do novo ciclo de vida.; o
culto dos mortos e da divindade com a transformação de uma pessoa humana num
ser com poderes que estão acima das normas sociais instituídas.
Por isso, o mascarado activo transforma-se num ser superior, gozando de uma força e liberdade sem
paralelo; coloca-se acima de toda a lei humana e, como se se tratasse de um ente sagrado, mas possuído pelo diabo, se liberta de
todos os entraves e dá largas às suas faculdades de destruir e de castigar, de
troçar e de acariciar, de dançar e de gritar, a seu bel prazer.
Os mascarados de Podence em Trás os Montes enquadram-se
nestas funções: expurgatórias por um lado, ao castigar os elementos da
comunidade com as suas "chocalhadas" violentas (pelas ruas, correm
atrás das mulheres – principalmente das novas e solteiras – para
«chocalhá-las», isto é, para abraçá-las lateralmente e com movimentos rápidos
de semi-rotação da cintura fazer com que os chocalhos que transportam à cinta
lhes batam repetidamente nas nádegas) e, por outro lado, propiciatórias, ao
tomarem atitudes licenciosas para com as mulheres, outrora consideradas
fecundantes, num apelo à fertilidade da Mãe-Natureza, no início do novo ciclo
de vida.
http://caretosdepodence.no.sapo.pt/
http://casadopovodelazarim.com.sapo.pt/a_tradicao.html
http://www.progestur.net/nlcarnaval/newscarnaval.html
http://fugas.publico.pt/viagens/281114_lazarim-um-carnaval-de-caretos-demonios-e-senhorinhas?pagina=1
http://www.entrudo.lazarim.pt/
http://casadopovodelazarim.com.sapo.pt/a_tradicao.html
http://www.progestur.net/nlcarnaval/newscarnaval.html
http://fugas.publico.pt/viagens/281114_lazarim-um-carnaval-de-caretos-demonios-e-senhorinhas?pagina=1
http://www.entrudo.lazarim.pt/
O mesmo se poderá entender das funções dos
"diabos" que, em Bragança e Vinhais, saem à rua, no dia seguinte ao
Carnaval, a Quarta-feira de Cinzas.
http://museudamascara.cm-braganca.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=27582
As atitudes castigadoras que tomam são relacionadas "nas Festas Lupercais celebradas pelos sacerdotes de Pan a 15 de Fevereiro, que despidos, tapando apenas as partes genitais com uma tira de pele caprina, recentemente imolada e tinta de sangue, percorriam as ruas, batendo com um chicote em quantos encontravam, principalmente nas mulheres, que julgavam fecundar com estas pancadas".
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