A mortificação das paixões
Aquele que alcançou o desapego das coisas materiais tem sua atenção sempre fixa em Deus através da contemplação das coisas impressionantes que acontecem antes e depois da morte.
E recebe por graça o ensinamento sobre estas coisas, para que através do sofrimento interior (ao pensar e reflectir nessas coisas), possa mortificar as paixões e, na altura devida , alcançar a paz e mansidão em seus pensamentos.
Renuncia às alegrias deste mundo porque começa a ver que os seus defeitos são incontáveis como a areia do mar.
Este é o começo da iluminação da alma e o sinal da sua saúde.
As lágrimas e os pensamentos aparentemente divinos que podem ocorrer antes são todos enganos e artimanhas dos demônios, principalmente no caso daqueles que vivem entre os homens, ou sujeitos a distração, mesmo leve que seja.
Ninguém que ainda se sinta atraído por qualquer objeto sensível pode superar as paixões.
Deus, por vezes, ‘deixa ‘ que sejamos ‘distraidos’ por ‘coisas vãs’ para não sermos tentados por coisas ainda piores , é uma forma de ‘mal menor ‘ e Ele pode actuar nesse sentido para a nossa saude espiritual.
Mas aquele que pela graça de Deus alcançou um certo grau de conhecimento espiritual e pode entender as coisas incríveis que ocorrem antes e depois da morte, a queda do homem pela sua desobediência, deve continuar em quietude e desprendimento a ocupar-se com tais pensamentos e não deve deixar-se distrair com ‘coisas vãs’.
"Na verdade tudo é vaidade, e a vida é apenas uma sombra e um sonho."
Preocupamo-nos e ‘apaixonamo-nos’ pela nossa vida e coisas deste mundo em vão, pois o que pode ser mais inútil e vão que uma vida cujo fim é a putrefação e poeira?
A mortificação não é do intelecto, mas de impulsos para o prazer e conforto.
Porque o desejo de conforto, mesmo ligeiro, é um desejo não-espiritual.
E quando a alma se já encontra em actividade totalmente espiritual , ela sente um desconforto ainda maior com a presença deste desejo não-espiritual, pois se a alma ainda tem actividades não espirituais, o Espírito de Deus não irá habitá-la.
Quando um homem esclarecido percebe os seus próprios erros , ele não cessa de se lamentar por si e por todos os homens, vendo a grande paciência de Deus e os pecados que nós, na nossa miséria cometemos insistentemente.
Como resultado disso, ele fica cheio de gratidão e não se atreve a condenar ninguém, envergonhado pela profusão de bênçãos de Deus ,pela sua ingratidão e pela multidão das suas faltas.
Então, ele renuncia a tudo que seja contra a vontade de Deus e está atento aos seus próprios sentidos, de modo a impedi-los de fazer algo para além de o que é inevitavelmente necessário.
Mas depois de ter alcançado tais alturas, ele deve ser cuidadoso para evitar negligência ou arrogância, pecar é fácil, enquanto que o arrependimento é dificil.
Cuidadoso para não cair, mas se cair, que se levante novamente.
Ao cair não devemos desesperar e assim afastar-nos do Senhor, pois, se assim O desejar, Ele pode lidar com misericordia com a nossa fraqueza.
Não devemos é nos desligamos d’Ele quando nos sentimos constrangidos pelos Seus mandamentos, nem devemos perder o ânimo quando ainda estamos aquém do nosso objetivo.
Em vez disso, vamos aprender a dar tempo ao tempo , a não ser apressados e estar sempre prontos para fazer um novo início.
Se cairmos, levantamo-nos de novo.
Só não devemos nunca abandonar o nosso médico em desespero.
Espere por Ele e Ele será misericordioso, vai transformá-lo ou enviar novas provas , através talvez de alguma outra maneira que você desconhecia , ele é o mestre das surpresas.
É preciso atenção constante e termos a graça de discriminação para discernir entre as obras de Deus e as obras do diabo , aquele que tem o dom de discriminação recebeu-o pela sua humildade.
Por ela, ele conhece todas as coisas pela graça e, quando o tempo está maduro, ele alcança o discernimento espiritual.
Pelo desprendimento morremos para o mundo.
Também podemos morrer para o mundo, suportando pacientemente e não desesperando quando vemos á nossa volta desânimo e morte, nem estando com confiança orgulhosa por termos alcançado o nosso objetivo.
Assim na nossa humildade nos considerarmos como inferiores a todos os outros homens e percebemos as bênçãos que recebemos por meio da graça de Deus .
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