A importância do Caminho e o Abismo
Porque tem de haver um Caminho?
Porque demora tanto tempo a percorrer?
Porque não ficamos iluminados quando tomamos essa decisão
?
Já alguma vez sentiram o mundo a desmoronar-se à vossa
volta?
Já alguma vez sentiram vos faltar a terra debaixo dos pés
?
Já alguma se sentiram cair num poço sem fundo?
Se as circunstâncias se proporcionarem,
eu encontrarei onde a Verdade está escondida,
apesar de
sempre ter estado no centro.
William Shakespeare, Hamlet
O homem nasce inocente e desapegado, é uma criança
ignorante.
Cresce e vai ficando menos inocente e mais apegado aos
outros, ao mundo e às coisas.
O seu ego cresce em proporção a esse apego continuo
durante a vida.
Apegos a pessoas, bens, seitas, grupos, enfim tudo onde a
pessoa encontre conforto, protecção e segurança.
A maioria morre assim, apegado, poucos abrem os olhos em
vida.
Quando o fazem, percebem que estão apegados a algo
'errado' e o quão dificil é se fixarem no algo 'certo' para onde por um breve
instante abriram os olhos.
O apego é feito ao longo de anos, torna-se um hábito de
vida, por isso o desapego demora o resto da vida e não se faz de repente.
Ficamos horrorizados ao perceber isso, que andávamos
enganados e precisamos de começar do principio e que antes de atingirmos a paz
do 'certo' existe a instabilidade, a escuridão, a 'morte' do velho e as dores
da transformação pelo meio.
O processo nada tem de pacifico e estável.
Existe um fase crucial
no caminho, chamada de Abismo.
É a fase onde o velho apego começa a enfraquecer.
Ficamos sem o velho e ainda....não estamos fixados no
novo.
É um horror, um sentido de perda horrível.
Parecemos uma criança a quem tiraram um brinquedo.
Parece o fim do mundo.
E agora ? Sem o que tinhamos 'agarrado' durante anos ,
ficamos com quê?
O racional podia dizer: Não estejas assim deprimido, se o
velho apego era falso, afinal nada perdeste, pois era tudo uma ilusão, um sonho
mau.
O problema é que estamos agarrados a esse sonho mau como
estamos agarrados a todos os outros sonhos que queremos que sejam reais para
nossa segurança.
O nosso ego quer estar seguro a alguma coisa, precisa de
uma rede de protecção, resiste ao vazio, à mudança.
Sem isso, o homem pode resvalar perigosamente para o
Abismo, seja ele depressão ou mesmo suicidio.
Prefere uma dor familiar a uma Luz desconhecida.
Se o desconhecido se encaixasse na rotina do velho, tudo
bem, senão preferimos a dor habitual-familiar.
Ter dor de dentes, é bom, significa que temos dentes, é
habitual...
A solidez do nosso mundo a que estamos apegados, mesmo
com suas dores e irritações, serve para confirmar a nossa existência, temos um
ego, somos alguma coisa...do ponto de vista do ego isto é mais importante que tudo o resto.
Pensamos que ser alguma coisa é melhor que ser Nada! Mais
uma ilusão !
Ser alguma coisa=Ter apego a algo.
Ser Nada= Ser ele mesmo, desapegado de tudo.
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