-- De onde vens e para onde vais ?
-- Venho de Deus na escuridão e para Deus vou na Luz.

domingo, 24 de maio de 2015

O Sonho e a Morte na Tradiçao Tibetana



O Sonho e a Morte na Tradiçao Tibetana


Yoga dos sonhos, controlar os sonhos para controlar a morte

Em várias tradições de Sabedoria, como a Egipcia e Tibetana, o sonho é visto como um 'ensaio' para a morte, pois  partilha muitas características com o estado de morto no Bardo e as estradas na terra dos mortos podem ser percorridas em vida através dos sonhos e assim nos tornarmos familiares com aquilo que surge e sabermos distinguir o trigo do joio através da experiencia prática.

Quem em vida através de práticas continuas consegue permanecer consciente dos seus sonhos e os consegue manipular e integrar nas suas vidas, quando morre encontra 'paisagens' semelhantes e não tem medo dessa nova situação.

O medo e a ignorância são os piores inimigos dos mortos.


Costuma dizer-se que a maioria das pessoas que morrem não entram no caminho certo (no 'Céu' ) porque não percebem sequer o que é, quando passam mesmo junto a ele.....ou mesmo até  fogem dele.... porque têm medo do que não conhecem e vão para outros caminhos mais negros....mais seus conhecidos desta vida!

Na morte vamos sempre para o que conhecemos em vida....

Por isso a tradição Tibetana tem ensinamentos mas sobretudo práticas constantes para conseguir manter a plena consciência durante o sono e assim estar preparado para o que vamos encontrar na morte e não termos medo ou entrarmos em pânico com o que lá vamos encontrar.

É uma aprendizagem em vida para uma transição suave e sem turbulencias na morte, uma passagem tranquila para outro plano de existencia.


Há duas razões porque os praticantes tibetanos procuram o controle do sonho: um é associado com a vida, o outro com a morte.

Com a vida pois a realidade do mundo é uma espécie de  sonho, e então certamente pode ser manipulado como os sonhos do sono da noite, ficando assim dia e noite a ‘trabalhar’ consciente e focado na nossa Essencia interior, a plena consciência da Verdade.

Com a morte porque o yoga dos sonhos tornou-se um meio eficaz para perceber o estado depois da morte e para alcançar a iluminação e a libertação da roda das sucessivas vidas.

A prática do yoga dos sonhos é pois um ‘ensaio’ em vida para o evento real pós-morte, pois sonhando se partilha muitas características com o estado de morto no Bardo.

Examinando a mecânica do sonho em si, enquanto sonho lúcido, você pode vir a entender como seu corpo de sonho, seu ambiente de sonho e a estrutura subjacente de sua mente são todos a mesma coisa - corpo e ambiente são simplesmente projecções mentais.

Isto feito, você pode usar o sonho lúcido para experimentar a dissolução gradual da sua consciência na morte antes de realmente morrer.

Você pode sentir por si mesmo o que é deslizar para a Clara Luz e, em seguida,  interagir mesmo com outros estados do Bardo que possam surgir para aprender como são e não ser surprendido na morte quando eles surgirem de novo.


O praticante prepara-se em  vida para o processo de morrer, simulando as alterações de consciência do processo de dissolução, culminando com a experiência da luminosidade ou "Clara luz". 



O praticante também procura manter a consciência dessas mudanças, quando cai no sono porque é importante lembrar que esta sequência de dissolução progressiva dos estados de consciência não acontece só quando morremos.  
Também ocorre, geralmente despercebido, quando dormimos e mesmo segundo alguns mestres  também acontece nos processos psicológicos do nosso dia a dia em estado acordado.

Desta forma, você treina-se a enfrentar a morte em plena consciência do que se está a passar.

Para os praticantes de yoga de sonho, este treino é  importante, seja qual for seu estado individual de evolução espiritual.
Se a sua prática espiritual é elevada, o treino permitirá que você passe sem medo ou repulsa diretamente para a Clara Luz quando você morrer e ficar lá.
Você irá ignorar os outros estados do Bardo. Já não será preciso reencarnar. Libertação e nirvana serão seus.

Indivíduos menos evoluidos ainda conservam a possibilidade de iluminação também.

Mesmo se você é incapaz de manter-se no estado de Clara Luz no início, as experiencias de sonho lúcido pelo menos lhe permitirão reconhecê-lo e predizer a aparência ilusoria dos estados do Bardo que surgem.

Esta constatação em si pode ser suficiente para lhe permitir a residência na Clara Luz, apesar do tropeço inicial.

Dado que é em grande parte o medo que leva as pessoas a se afastar da Clara Luz, mesmo os iniciantes podem beneficiar da sua experiência de yoga do sonho.

Isso permite-lhes compreender que no estado de sonho da morte, não há nada a temer, e o "refúgio" de reencarnação é uma ilusão vazia. Às vezes isso em si pode ser suficiente para bloquear o processo de renascimento e permitir que o indivíduo, com um pouco de coragem e determinação, busque os reinos da Clara Luz.


Vejamos então o que nos diz a tradição tibetana sobre este tema dos sonhos.

Dormir é semelhante ao  Bardo de morrer, onde os elementos e processos de pensamento se dissolvem, abrindo caminho para a experiência da Clara Luz.

Sonhar é semelhante ao Bardo Intermédio ou do Renascimento, o estado onde você tem um "corpo mental" clarividente e altamente móvel que passa por todos os tipos de experiências. No estado de sonho, também temos um tipo semelhante de corpo, o corpo de sonho, no qual passamos por todas as experiências dessa ‘vida de sonho’.


Claro, os Bardos da morte são muito mais profundos e poderosos que os estados de consciência do sono e sonhos em vida, mas as suas semelhanças podem ser usadas nas práticas espirituais.

É difícil é manter a consciência durante os estados pós morte.

Em vida quantos de nós estamos cientes da mudança de consciência quando adormecermos? Ou do momento do sono antes dos sonhos começarem?  Quantos de nós estão conscientes mesmo quando sonhamos que estamos a sonhar?  Imagine, então, como será difícil permanecer consciente durante o tumulto dos Bardos da morte.


Como sua mente é durante o sono e o estado de sonho,  indica como sua mente estará nos estados de Bardo correspondente; por exemplo, a maneira como você reage a sonhos, pesadelos e dificuldades agora vai mostrar como você vai reagir depois de morrer.

Eis porque o yoga do sono e do sonho desempenha um papel tão importante na preparação para a morte.

O que se procura atingir com as práticas em vida é manter, infalível e ininterruptamente, sua consciência da natureza da mente durante todo o dia e noite e então usar diretamente as diferentes fases do sono e do sonho para reconhecer e familiarizar-se com o que serão as fases nos Bardos durante e após a morte.

Então, encontramos duas práticas em vida: a prática do sono e do sonho e a prática da meditação.
Meditação é a prática de dia e o Yoga de dormir e sonhar as práticas da noite.



A suprema preparação para a morte "é agora — tornar-se iluminado nesta vida."

Os tibetanos dizem que a consciencia está montada nos ‘ventos’.
Ventos são uma espécie de comunicação energetica subtil ao longo dos multiplos centros do corpo.
Na morte a nossa consciência, precisa de uma abertura através da qual deixa o corpo, e  pode deixá-lo através de qualquer uma dos nove aberturas existentes, montada nos ventos que sobem pelo canal central.
Dependendo de qual a abertura por onde sai, isso determina para onde vai seguir.
Das 9 há apenas uma é a ‘certa’ , quando a consciencia sai através da abertura na fontanela, na coroa da cabeça, renascemos, diz-se, numa Terra Pura, na terra da Clara Luz.

Ora com a prática correcta os tibetanos pretendem em vida ‘imitar’ esta saida consciente da Consciencia para na altura da morte não terem surpresas e já ‘saberem‘ o caminho.....

A prática em sonho é nove vezes mais eficaz do que acordado em vigília, daí a sua importancia na continuação e fortalecimento da prática diurna..

No sonho estamos libertos de obstáculos, não estamos condicionados pelos nossos hábitos e estamos deles libertos, sem os apegos emocionais com que o ego condiciona nossa vida normal e assim facilitando a nossa movimentação e conhecimento espiritual.

Num sentido real, tudo o que se passa em nossa vida é um grande sonho. Se analisar-mos bem, o  grande sonho da vida e os pequenos sonhos de uma noite não são muito diferentes. Se nós virmos realmente a natureza essencial de ambos, veremos que não há nenhuma diferença entre eles.

 Quando alguém fala em "prática da noite", pensamos geralmente da prática de sonho lúcido.

No yoga do sonho, a prática do desenvolvimento de lucidez, não é fundamental. É uma prática secundária em relação á prática principal, que é chamada a "prática de luz natural" e pode surgir automáticamente dentro dela.

Esta prática, a prática da luz natural, tem a ver com o estado antes do sonho. 

Por exemplo, uma pessoa cai no sono; cai dormindo o que significa que todos os seus sentidos desaparecem.

A partir daí, há uma passagem, um período de transição, até os sonhos começarem.

Esse período pode ser longo ou pode ser curto.

Para algumas pessoas, o estado dos sonhos começa quase imediatamente depois de adormecer.
Mas o que significa, quando o estado de sonho começa? Isso significa que a mente começa a funcionar novamente.

Mas o nosso trabalho, a prática da Luz natural, é antes disso, antes da mente começar a funcionar.

É o período que começa quando você adormece e termina quando a mente começa a funcionar novamente.

O que existe depois disto? Depois disso existem os sonhos.

Quem pratica e tem consciência da presença desse estado de luz natural, no sono,  então, mesmo depois de surgirem os sonhos, se torna ciente de que está sonhando, e automaticamente alcança a mestria dos sonhos, ou seja, não é o sonho que condiciona a pessoa, mas é a pessoa que governa o sonho.
Por esta razão, a prática dos sonhos é secundária face á importancia da prática da luz natural.


Se você perseverar na prática do reconhecimento do estado de luz natural, será progressivamente mais fácil ter o reconhecimento lúcido de que você está sonhando.

Surgirá uma consciência constante dentro do sonho, e você saberá que você está sonhando.
Quando você olha no espelho, você vê um reflexo. Independentemente se é bonito ou feio, você sabe que é um reflexo. Isso é semelhante ao saber que um sonho é um sonho, estar lúcido.

Seja o sonho trágico ou glorioso, você está ciente de que é apenas um sonho.

Com esta consciência que estamos sonhando, podemos manipular o material do sonho. 
Por exemplo, podemos sonhar o que quer que seja ou escolher um tema para o sonho ou regressar ao sonho onde estavamos na noite anterior, infinitas possibilidades.
Se você sonha com uma cobra, por exemplo, ao reconhecer que você está sonhando, você pode transformar a cobra no que você quiser, talvez um homem. 
Assim, não é o sonho que comanda o sonhador, mas o sonhador que comanda o sonho.

 
Há uma correspondência exacta entre os estados de sono e sonho e o que experimentamos quando morremos. 

Por isso, quem pratica em vida, na morte sabe o que fazer e não se perde, é iluminado pela Clara Luz assim como em vida praticava a Luz natural.


Quando uma pessoa morre, em primeiro lugar os sentidos desaparecem e logo a seguir existe um estado de consciência ( se é que se pode chamar consciência) muito subtil , a fase da Clara Luz.

Nesta fase a mente espiritual ainda não está activa.
É a fase equivalente ao sono antes dos sonhos, chamada de fase da luz natural.

Ou seja, a Clara Luz na morte é o mesmo que o estado de luz natural em vida.


Na Clara Luz como que uma filha se une à mãe, há muito separadas, e esse momento de fusão é o momento da Iluminação, onde o morto permanece e se fixa pela eternidade ( já não precisa por assim dizer de reencarnar mais para aprender mais , já aprendeu tudo) ,  o equivalente a ter chegado ao Céu, se Paraiso final.


Mas isso apenas para quem praticou e experimentou em vida pela prática da luz natural  o equivalente a essa união de mãe e filha e morreu com plena consciencia e presença do que se está a passar e de imediato reconhece essa Clara Luz quando ela surge.

Quem não o fez, passa á fase seguinte seja na morte (com o surgir de processos mentais e passagem a nova encarnação ou fixado num nivel Infernal segundo as tradições) seja na vida (com o começo dos sonhos).  

  

Sem comentários:

Enviar um comentário