O Sonho e a Morte na Tradiçao
Tibetana
Yoga dos sonhos, controlar
os sonhos para controlar a morte
Em várias tradições de
Sabedoria, como a Egipcia e Tibetana, o sonho é visto como um 'ensaio' para a
morte, pois partilha muitas
características com o estado de morto no Bardo e as estradas na terra dos
mortos podem ser percorridas em vida através dos sonhos e assim nos tornarmos
familiares com aquilo que surge e sabermos distinguir o trigo do joio através
da experiencia prática.
Quem em vida através de
práticas continuas consegue permanecer consciente dos seus sonhos e os consegue
manipular e integrar nas suas vidas, quando morre encontra 'paisagens'
semelhantes e não tem medo dessa nova situação.
O medo e a ignorância são os
piores inimigos dos mortos.
Costuma dizer-se que a
maioria das pessoas que morrem não entram no caminho certo (no 'Céu' ) porque
não percebem sequer o que é, quando passam mesmo junto a ele.....ou mesmo até fogem dele.... porque têm medo do que não
conhecem e vão para outros caminhos mais negros....mais seus conhecidos desta
vida!
Na morte vamos sempre para o
que conhecemos em vida....
Por isso a tradição Tibetana
tem ensinamentos mas sobretudo práticas constantes para conseguir manter a
plena consciência durante o sono e assim estar preparado para o que vamos
encontrar na morte e não termos medo ou entrarmos em pânico com o que lá vamos
encontrar.
É uma aprendizagem em vida
para uma transição suave e sem turbulencias na morte, uma passagem tranquila
para outro plano de existencia.
Há duas razões porque os
praticantes tibetanos procuram o controle do sonho: um é associado com a vida,
o outro com a morte.
Com a vida pois a realidade
do mundo é uma espécie de sonho, e então
certamente pode ser manipulado como os sonhos do sono da noite, ficando assim
dia e noite a ‘trabalhar’ consciente e focado na nossa Essencia interior, a
plena consciência da Verdade.
Com a morte porque o yoga
dos sonhos tornou-se um meio eficaz para perceber o estado depois da morte e
para alcançar a iluminação e a libertação da roda das sucessivas vidas.
A prática do yoga dos sonhos
é pois um ‘ensaio’ em vida para o evento real pós-morte, pois sonhando se
partilha muitas características com o estado de morto no Bardo.
Examinando a mecânica do
sonho em si, enquanto sonho lúcido, você pode vir a entender como seu corpo de
sonho, seu ambiente de sonho e a estrutura subjacente de sua mente são todos a
mesma coisa - corpo e ambiente são simplesmente projecções mentais.
Isto feito, você pode usar o
sonho lúcido para experimentar a dissolução gradual da sua consciência na morte
antes de realmente morrer.
Você pode sentir por si mesmo
o que é deslizar para a Clara Luz e, em seguida, interagir mesmo com outros estados do Bardo
que possam surgir para aprender como são e não ser surprendido na morte quando
eles surgirem de novo.
O praticante prepara-se
em vida para o processo de morrer, simulando
as alterações de consciência do processo de dissolução, culminando com a
experiência da luminosidade ou "Clara luz".
O praticante também procura
manter a consciência dessas mudanças, quando cai no sono porque é importante
lembrar que esta sequência de dissolução progressiva dos estados de consciência
não acontece só quando morremos.
Também ocorre, geralmente despercebido, quando
dormimos e mesmo segundo alguns mestres
também acontece nos processos psicológicos do nosso dia a dia em estado
acordado.
Desta forma, você treina-se a
enfrentar a morte em plena consciência do que se está a passar.
Para os praticantes de yoga
de sonho, este treino é importante, seja
qual for seu estado individual de evolução espiritual.
Se a sua prática espiritual é
elevada, o treino permitirá que você passe sem medo ou repulsa diretamente para
a Clara Luz quando você morrer e ficar lá.
Você irá ignorar os outros
estados do Bardo. Já não será preciso reencarnar. Libertação e nirvana serão
seus.
Indivíduos menos evoluidos ainda
conservam a possibilidade de iluminação também.
Mesmo se você é incapaz de
manter-se no estado de Clara Luz no início, as experiencias de sonho lúcido
pelo menos lhe permitirão reconhecê-lo e predizer a aparência ilusoria dos
estados do Bardo que surgem.
Esta constatação em si pode
ser suficiente para lhe permitir a residência na Clara Luz, apesar do tropeço
inicial.
Dado que é em grande parte o
medo que leva as pessoas a se afastar da Clara Luz, mesmo os iniciantes podem
beneficiar da sua experiência de yoga do sonho.
Isso permite-lhes compreender
que no estado de sonho da morte, não há nada a temer, e o "refúgio"
de reencarnação é uma ilusão vazia. Às vezes isso em si pode ser suficiente
para bloquear o processo de renascimento e permitir que o indivíduo, com um
pouco de coragem e determinação, busque os reinos da Clara Luz.
Vejamos então o que nos diz a
tradição tibetana sobre este tema dos sonhos.
Dormir é semelhante ao Bardo de morrer, onde os elementos e
processos de pensamento se dissolvem, abrindo caminho para a experiência da
Clara Luz.
Sonhar é semelhante ao Bardo
Intermédio ou do Renascimento, o estado onde você tem um "corpo
mental" clarividente e altamente móvel que passa por todos os tipos de
experiências. No estado de sonho, também temos um tipo semelhante de corpo, o
corpo de sonho, no qual passamos por todas as experiências dessa ‘vida de
sonho’.
Claro, os Bardos da morte são
muito mais profundos e poderosos que os estados de consciência do sono e sonhos
em vida, mas as suas semelhanças podem ser usadas nas práticas espirituais.
É difícil é manter a
consciência durante os estados pós morte.
Em vida quantos de nós
estamos cientes da mudança de consciência quando adormecermos? Ou do momento do
sono antes dos sonhos começarem? Quantos
de nós estão conscientes mesmo quando sonhamos que estamos a sonhar? Imagine, então, como será difícil permanecer
consciente durante o tumulto dos Bardos da morte.
Como sua mente é durante o
sono e o estado de sonho, indica como
sua mente estará nos estados de Bardo correspondente; por exemplo, a maneira
como você reage a sonhos, pesadelos e dificuldades agora vai mostrar como você
vai reagir depois de morrer.
Eis porque o yoga do sono e
do sonho desempenha um papel tão importante na preparação para a morte.
O que se procura atingir com
as práticas em vida é manter, infalível e ininterruptamente, sua consciência da
natureza da mente durante todo o dia e noite e então usar diretamente as
diferentes fases do sono e do sonho para reconhecer e familiarizar-se com o que
serão as fases nos Bardos durante e após a morte.
Então, encontramos duas
práticas em vida: a prática do sono e do sonho e a prática da meditação.
Meditação
é a prática de dia e o Yoga de dormir e sonhar as práticas da noite.
A suprema preparação para a
morte "é agora — tornar-se iluminado nesta vida."
Os tibetanos dizem que a
consciencia está montada nos ‘ventos’.
Ventos são uma espécie de
comunicação energetica subtil ao longo dos multiplos centros do corpo.
Na morte a nossa consciência,
precisa de uma abertura através da qual deixa o corpo, e pode deixá-lo através de qualquer uma dos
nove aberturas existentes, montada nos ventos que sobem pelo canal central.
Dependendo de qual a abertura
por onde sai, isso determina para onde vai seguir.
Das 9 há apenas uma é a
‘certa’ , quando a consciencia sai através da abertura na fontanela, na coroa
da cabeça, renascemos, diz-se, numa Terra Pura, na terra da Clara Luz.
Ora com a prática correcta os
tibetanos pretendem em vida ‘imitar’ esta saida consciente da Consciencia para
na altura da morte não terem surpresas e já ‘saberem‘ o caminho.....
A
prática em sonho é nove vezes mais eficaz do que acordado em vigília,
daí a sua importancia na continuação e fortalecimento da prática diurna..
No sonho estamos libertos de obstáculos,
não estamos condicionados pelos nossos hábitos e estamos deles libertos, sem os
apegos emocionais com que o ego condiciona nossa vida normal e assim
facilitando a nossa movimentação e conhecimento espiritual.
Num sentido real, tudo o que se
passa em nossa vida é um grande sonho. Se analisar-mos bem, o grande sonho da vida e os pequenos sonhos de
uma noite não são muito diferentes. Se nós virmos realmente a natureza
essencial de ambos, veremos que não há nenhuma diferença entre eles.
No yoga do sonho, a prática do
desenvolvimento de lucidez, não é fundamental. É uma prática secundária em relação
á prática principal, que é chamada a "prática de luz natural" e pode
surgir automáticamente dentro dela.
Esta prática, a prática da
luz natural, tem a ver com o estado antes do sonho.
Por exemplo, uma pessoa cai
no sono; cai dormindo o que significa que todos os seus sentidos desaparecem.
A partir daí, há uma
passagem, um período de transição, até os sonhos começarem.
Esse período pode ser longo
ou pode ser curto.
Para algumas pessoas, o
estado dos sonhos começa quase imediatamente depois de adormecer.
Mas o que significa, quando o
estado de sonho começa? Isso significa que a mente começa a funcionar
novamente.
Mas o nosso trabalho, a
prática da Luz natural, é antes disso, antes da mente começar a funcionar.
É o período que começa quando
você adormece e termina quando a mente começa a funcionar novamente.
O que existe depois disto?
Depois disso existem os sonhos.
Quem pratica e tem
consciência da presença desse estado de luz natural, no sono, então, mesmo depois de surgirem os sonhos, se
torna ciente de que está sonhando, e automaticamente alcança a mestria dos
sonhos, ou seja, não é o sonho que condiciona a pessoa, mas é a pessoa que
governa o sonho.
Por esta razão, a prática dos
sonhos é secundária face á importancia da prática da luz natural.
Se você perseverar na prática
do reconhecimento do estado de luz natural, será progressivamente mais fácil
ter o reconhecimento lúcido de que você está sonhando.
Surgirá uma consciência
constante dentro do sonho, e você saberá que você está sonhando.
Quando você olha no espelho,
você vê um reflexo. Independentemente se é bonito ou feio, você sabe que é um
reflexo. Isso é semelhante ao saber que um sonho é um sonho, estar lúcido.
Seja o sonho trágico ou
glorioso, você está ciente de que é apenas um sonho.
Com esta consciência que
estamos sonhando, podemos manipular o material do sonho.
Por exemplo, podemos
sonhar o que quer que seja ou escolher um tema para o sonho ou regressar ao
sonho onde estavamos na noite anterior, infinitas possibilidades.
Se você sonha
com uma cobra, por exemplo, ao reconhecer que você está sonhando, você pode
transformar a cobra no que você quiser, talvez um homem.
Assim, não é o sonho
que comanda o sonhador, mas o sonhador que comanda o sonho.
Há uma correspondência exacta
entre os estados de sono e sonho e o que experimentamos quando morremos.
Por isso, quem pratica em
vida, na morte sabe o que fazer e não se perde, é iluminado pela Clara Luz
assim como em vida praticava a Luz natural.
Quando uma pessoa morre, em
primeiro lugar os sentidos desaparecem e logo a seguir existe um estado de
consciência ( se é que se pode chamar consciência) muito subtil , a fase da
Clara Luz.
Nesta fase a mente espiritual
ainda não está activa.
É a fase equivalente ao sono
antes dos sonhos, chamada de fase da luz natural.
Na Clara Luz como que uma
filha se une à mãe, há muito separadas, e esse momento de fusão é o momento da
Iluminação, onde o morto permanece e se fixa pela eternidade ( já não precisa por
assim dizer de reencarnar mais para aprender mais , já aprendeu tudo) , o equivalente a ter chegado ao Céu, se
Paraiso final.
Mas isso apenas para quem
praticou e experimentou em vida pela prática da luz natural o equivalente a essa união de mãe e filha e
morreu com plena consciencia e presença do que se está a passar e de imediato
reconhece essa Clara Luz quando ela surge.
Quem não o fez, passa á fase
seguinte seja na morte (com o surgir de processos mentais e passagem a nova
encarnação ou fixado num nivel Infernal segundo as tradições) seja na vida (com
o começo dos sonhos).
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