Mas que Mestre e onde está ele ?
O Mestre simboliza o arquétipo desta necessidade a que se aspira.
Mas como se pode distinguir o Mestre dos multiplos charlatões espirituais dos dias de hoje ,que vendem poderes mágicos, paraisos artificiais ,receitas de ‘felicidade interior ‘ e se aproveitam da carência e fragilidade das pessoas que os procuram apenas para seu próprio proveito ?
Pela humildade , o Mestre alimenta-a , os outros exibem o extraordinário e as’forças superiores’ , como se diz ‘ quem muito dá , pouco oferece‘.
Para Durkchiem existem 2 Mestres , o interior e o exterior , reunidos em trindade num terceiro , o Mestre Eterno.
O Mestre Eterno simboliza o Principio , a imagem original ou o arquétipo do Homem universal.
Quando aparece ?
Aparece quando o homem está fragilizado devido a circunstâncias da vida ,como problemas de saúde, estados depressivos , contratempos profissionais ou pessoais , desgostos sentimentais, encontros marcantes,‘ azares’ sucessivos .
Como se exprime ?
Exprime-se por uma espécie de voz, de apelo interior, que sobressalta , que introduz uma ruptura como o normal e que faz nascer uma nova consciência e aí o Mestre Eterno se transforma no Mestre Interior .
O Mestre Exterior,onde anda ?
Andava escondido mas agora que se ‘despertou’ o Mestre Interior é mais fácil descobrir o Mestre Exterior , quando aparecer , pois ‘o Mestre só aparece quando o discipulo está pronto‘!!
E andava escondido ,onde ?
Simples , estava e sempre esteve dentro de nós , pois ele é apenas um espelho da nossa própria interioridade e por ela enviada ‘a seu tempo’.
O Mestre que encontramos fora é o mesmo que aquele que nós temos dentro .
O reencontro com o Mestre é fácil ?
Nada fácil, pois é preciso não esquecer que houve uma ruptura com o cotidiano e o ‘novo’ Mestre é muito exigente,mesmo perigoso,busca apenas a verdade do Homem pleno acima de tudo , quebra barreiras convencionais que possam obstruir o Caminho,é impiedoso para quem busca paz,doçuras fáceis,segurança ou monotonia cotidianas .
Como dizia Jesus ‘ Eu venho trazer a espada não a paz !! ‘.
Mas de ser despertado até seguir cegamente o Caminho,vai ainda uma grande distância.
Quem desperta pode tornar-se discipulo,quem Caminha já o é.
Para o discipulo inicia-se um combate de morte pela Vida , por uma transformação interior que implica morrer para viver , de renascer como a fénix para nova Vida.
O discipulo é marcado pelo selo do ‘tudo ou nada ‘ .
Não foi ele que escolheu o Caminho ,foi o Caminho que o escolheu a ele .
Cristo disse ‘ Não foram vocês que me escolheram,fui Eu que vos escolhi‘.
Quem escolhe o Caminho já está fora dele .
Que meios dispõe o Mestre para orientar o discipulo?
1) Ensino
Não do pensamento teórico com formulas ou explicações , mas vindo do coração pelo exemplo . Só há uma Coisa a comunicar, sempre a mesma Coisa.
O essencial não é O que diz mas COMO o diz.
O essencial não surge de argumentos mas da Luz de quem argumenta ,pois ‘emana’ o que diz e faz com que o discipulo procure essa mesma emanação dentro de si .
2) Práticas
Qual a finalidade ? Combater a tirania do eu pequeno e libertar o Ser.
A dureza do Mestre põe à prova a obediência do discipulo que deve ser total e absoluta, não por medo da ‘autoridade’ ou de ‘regras externas’ mas porque o discipulo sabe que ambos estão no mesmo barco,no mesmo Caminho e aquilo que o Mestre exige vem apenas do Amor que o liga ao discipulo.
Os exercicios por vezes a roçar o doloroso forçam pelo choque a ‘outra dimensão’ a surgir.
Na arte marcial do Kendo ,só quando se pensa nada mais suportar é que surge uma ‘nova energia’ interior que se desconhecia até aí e se renasce no combate.
3) Choques
Com quê chocar ? Com uma critica , uma humilhação , um riso irónico, um grito súbito , uma resposta absurda ( como fazem os Koans no Zen ) .
Para quê ? Para quebrar a rotina ,tirar o tapete do monótono ,obrigar a aceitar o inaceitável !
A porta do Caminho é estreita ,tudo que a bloqueia deve saltar ,ser abandonado ,ser posto em causa .
‘Vende tudo o que tens se queres ser meu discipulo’ , disse Cristo ,que acrescentou ‘renuncia a ti mesmo e carrega a tua cruz para me seguir‘.
Nos tempos de hoje perdeu-se esta tradição do Mestre e o homem sente-se perdido sem orientação espiritual , já nem consegue reconhecer quando um Mestre lhe bate á porta e tende a considerar-se ele mesmo um deus , para sua maior desgraça.
Só quando ,por um acontecimento grave, essa porta se entreabre o homem percebe que apenas quando pára de resistir ao que tem dentro de si e se deixa guiar pelo seu Mestre é que pode começar a ter Esperança.
O Mestre tem de ser uma pessoa fisica ?
Não , pode ser apenas a Vida , o dia a dia ,que guia ,que molda ,que faz pensar .
Os Pais do Deserto dizem que ‘no dia a dia o Verbo fala sem parar’, há que saber ouvi-lo e acima de tudo deixar-se conduzir !
Cada situação diária pode ser um teste no nosso Caminho .
Entra-se no Caminho por graça ou por esforço voluntário ?
O homem tem de estar atento e preparado para receber a Graça que o torna discipulo , o Caminho inicia-se quando o discipulo começa a luta de abandonar , seja o seu pequeno ego seja o que o envolvia , os outros , as obras, os projectos, as comunidades sociais.
A seguir começa uma etapa nova que se desenvolve em torno do Divino e numa transformação interior da pessoa.
O Absoluto só pode surgir quando o relativo cede o espaço vazio para ser preenchido .
O Caminho torna-se um acolher de uma nova Vida ,de uma transformação da pessoa , o Caminho é a própria Via da pessoa , não existe ponto de chegada no Caminho, ele é em si mesmo o seu próprio fim.
Como diz Cristo ‘ Eu sou o Caminho, a Verdade e a Via‘.
O que evitar de todo ?
Resistir á tentação de orientarmos nós próprios o Caminho .
Isso só nos desvia Dele que só pede uma obediência radical.
O Caminho torna-se o Mestre Eterno e quando o discipulo se ‘apaga‘ no Caminho aí o discipulo passa a Mestre.
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