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domingo, 13 de junho de 2010

O Touro e a Festa do Divino Espirito Santo no Penedo, Sintra





CARTAZ DA FESTA 2010


Jornal de Sintra

Nos dias 12 e 13 de Junho 2010 após um interregno de 10 anos realizou-se na aldeia do Penedo , Colares , Sintra a Festa do Divino Espirito Santo que conjuga uma cerimónia pagã de uma largada de um touro com os cornos “embolados”, isto é, protegidos nas pontas para não ferir ninguém e uma cerimónia religiosa de celebração do Divino Espirito Santo.

A festa do Divino Espirto Santo ,nas suas varias vertentes em Portugal , simboliza o eterno desejo do Homem de fazer a Aliança com o Cosmos e o Divino , por meio de diversos rituais e chegar assim à união com Deus , não o Deus 'de barbas que está no céu' mas o Deus que está dentro de cada um de nós e onde se pretende regressar fazendo o Caminho para a Casa do Pai .

O Imperador é uma criança que simboliza a Pureza original perdida e que é recuperada pelo ritual de Coroação com a Coroa do Espirito Santo .

O pão e a carne do Bodo a expressão do Amor desse Deus Imperador pela sua criação.

Talvez a mais tradicional aldeia de Sintra, o Penedo está situado estratégicamente sobre um alto esporão em plena serra .






A sua origem não está muito bem definida mas existem autores que apontam para a referência ao Penedo já no séc.XIII, mais propriamente dados de 1527, que indicam que o Penedo e as Azenhas teriam já 34 “vizinhos”.

O Penedo tem no seu histórico uns festejos populares ,dos mais importantes realizados no Concelho de Sintra, conhecidas pela festas em Louvor do Divino Espírito Santo.


Em 1217, D.Sancho I em associação com a Igreja, funda a Confraria de Santa Maria de Sintra, em devoção ao Espírito Santo (a mais antiga de Portugal), embora o compromisso oficial só tenha tido lugar em 1232.

Esta e outras confrarias tinham em comum o objectivo de fazer uma festa constituída pelo bodo anual dos pobres em corridas de toiros e uma cerimónia religiosa’’ denominada Festa do Divino Espírito Santo.

A origem desta prática é já bastante recuada, havendo indicaçoes da sua origem arabe dado os portugueses terem adoptado alguns dos costumes árabes, como sejam as touradas à corda, conhecidas na altura como toureio à muçulmana.

Existe um relato sobre as Festas do Espírito Santo do Penedo, datadas de 1902 em que se descreve a corrida de toiros e em que se refere que o dito animal “durante duas horas percorre as ruas da aldeia, enquanto seis homens de cada lado do toiro utilizam uma corda de quinze metros de comprimento que puxam ou relaxam consoante o andamento ou as investidas do animal.”


A Coroa


Estas festas como as várias que se realizam em Portugal, Açores,Tomar ,Alenquer por ex.têm como origem o culto do Espírito Santo instituído no séc. XIV e cuja devoção foi criada pela Rainha Santa Isabel.

É da responsabilidade de D.Dinis e da Rainha Santa Isabel a negociação, após autorização do Papa, com os mouros da região de Sintra sobre o procedimento das Festas em honra do Divino Espírito Santo .

O Imperador e sua Coroa


Era habitual a festa pagã ter lugar no Sábado, com os cantares mouriscos, as danças e as corridas à corda e no domingo ter lugar a festa com intuito religioso, nomeadamente a coroação do Imperador e a devoção ao Espírito Santo.

Em 1488, D.João II confirmou por alvará a permissão para que se realizassem touradas à corda em Sintra, assim como autorizava o corte de lenha para a preparação do banquete que era oferecido aos mais necessitados.

Destas festas no Penedo fazia parte uma largada de um touro á corda , que posteriormente era abatido em público, junto ao fontanário, sendo a sua carne cozinhada no dia seguinte em grande panelas de cobre para um bodo aos pobres da região.

O touro que era corrido acabava por ser morto com o intuito de saciar a fome aos mais pobres.



O Bodo aos pobres


Por isso mesmo, nessa altura, Espírito Santo e touradas eram acontecimentos indissociáveis.

Este animal era então encarado como um ser sacrificial, cuja imolação redimia os pecados, sendo chamado ‘toiro expiatório’ ou ‘toiro pelo pecado’.
É sobre isto, no fundo, que assenta todo o cerimonial das coroações em honra do Divino Espírito Santo: matar (imolar) um bezerro como agradecimento pelo facto de o pedido do Imperador ter sido atendido milagrosamente.

Esta largada do touro à corda em conjugação com a Festa do Espirito Santo é unica em Portugal Continental e foi ‘exportada ‘ mais tarde para a ilha Terceira nos Açores onde de inicio se conjugou com as Festas tradicionais do Divino Esprito Santo e mais tarde se expandiu para outros dias e festas.


Corrida do touro á corda


O touro é um simbolo sagrado que representa o Espírito da Vegetação , da Fertilidade das colheitas , da Força e poder , também representa uma ligação simbolica entre o Deus Uno e o touro , daí o imolar do touro , quando o seu sangue simbolizava a lavagem dos pecados e a purificação do Homem, perante esse Deus .

Através disto, é fácil compreender por que razão durante muito tempo as touradas à corda surgiram sempre associadas ao culto do Divino Espírito Santo (Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, em que o dogma católico defende que o Pai (Deus), o Filho e o Espírito Santo são a mesma entidade).

É talvez por essa sua dimensão sagrada que na luta travada entre homem e animal, nas touradas à corda , nunca há o domínio do homem sobre o toiro, ou este vence ou mantêm-se empatados ao contrário das corridas nas praças de toiros onde toda a gente prefere ver o homem sair vitorioso.


Corrida á corda


Actualmente esta Festa no Penedo perdeu já grande parte da sua força original , faz-se numa igreja do sec. 17 dedicada apenas a Santo António no dia deste e não do dia que lhe devia corresponder que era o dia de Pentecostes , cerca de 50 dias após a Páscoa , no caso actual de 2010 devia ter-se realizado nos dias 22 e 23 Maio em vez de 12 e 13 Junho.

Só a dedicação das pessoas mais velhas conhecedoras desta tradição permite realizar actualmente esta festa , que trouxe muitos curiosos e interessados este fim semana ao Penedo .

Vale a pena participar nesta Festa com o espirito de quem vai a Caminho de Casa .

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