-- De onde vens e para onde vais ?
-- Venho de Deus na escuridão e para Deus vou na Luz.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Poemas de Tukaram - Poeta Hindu


 
Tukaram (1608-1650), carinhosamente apelidado "Tuka" foi um santo-poeta hindu do século XVII, da região de Bombaim e um dos expoentes do movimento de bhakti.

Apesar de praticamente iletrado, Tukaram desenvolveu uma forma especial de verso chamada “abhanga” e o usava com maestria, conseguindo derrotar seus adversários eruditos em todas as formas de versos sânscritos, com as suas explanações sobre a espiritualidade fundamentadas em situações coloquiais e vulgares, desdenhando as explanações místicas e a sofisticação teológica da época.

Tukaram considerava a ortodoxia religiosa e o estudo das escrituras apenas uma formalidade, sendo que a verdadeira expressão da religião era o amor a Deus (bhakti) manifesto no dia a dia das pessoas.

Ele recomendava que o serviço à humanidade era o serviço a Deus, que as tradições religiosas eram apenas um estorvo para se alcançar amor a Deus e que o ascetismo, como vestir-se com farrapos da cor de açafrão, morar em cavernas e jejuar, não eram privilégios de santos, uma vez que macacos, ratos e abutres tambem se esmeravam nessas atividades.


Poemas seleccionados 

Quando me perco em Ti / Em mim vives Tu


Quando por fim me perco em Ti, meu Deus,
Vejo e sei então,
Que todo Teu universo revela a Tua beleza,
Todos os seres vivos, e todas as coisas sem vida,
Existem através de Ti.
 
Todo este vasto mundo é apenas a forma
na qual mostras a Ti mesmo a nós,
É apenas a voz
Na qual falas a Ti mesmo para nós.


Leva, Senhor, para Ti
Meu sentido de ser e fá-lo esvair-se completamente.

Leva, Senhor, minha vida,
Vivas Tu minha vida através de mim.


Não vivo mais, Senhor
Mas agora em mim
Tu vives.


Sim, entre Tu e eu, meu Deus,
Não há mais espaço para “eu” e “meu”.


Deus está me perseguindo abertamente.
Eu caí nas mãos Dele e Ele está me usando como um criado que não recebe salário.
Ele extrai trabalho de mim sem se importar em que condição isso pode me colocar.
Onde quer que eu vá, Deus me persegue.
Ele me desproveu de todas as minhas posses.


Deus está se movendo a toda a minha volta.
Fui amarrado por Deus interna e externamente.
Ele colocou um fim em todo meu trabalho e privou-me até mesmo de minha mente.
Ele privou-me do meu sentido de 'eu' e separou-me de todas as coisas.
Bem amarrado comigo, ele está dando voltas e mais voltas.



Ele me segue onde quer que eu vá e torna impossível para mim esquecê-Lo.
Ele roubou meu coração que era meu tesouro.
Ele mostrou-se à minha visão e fez-me sair louco procurando por Ele.
Minha boca se recusa a falar e meus ouvidos a ouvir.
Todo meu corpo foi preenchido pelo calor da paixão Divina.


Com medo desta vida mundana, para onde posso correr?
Onde quer que eu olhe, Deus está presente. 
Ele me privou da solidão e não há lugar sem Ele. 
Como posso dizer que vou para outro lugar? 
Quando um homem adormecido acorda, ele descobre estar em casa. 
O que eu lhe devo, ó Deus, que O fez encurralar-me de todos os lados?


Fui possuído por Deus.
O que quer que eu fale, Deus preenche.
O que quer que eu pergunte, Ele responde imediatamente.
Quando abandonei esta vida mundana, Deus tornou-se meu servo.
É devido à minha paciência eu ter sido possuído por Deus.


Não vi nada e ainda assim vejo tudo. 
O 'eu' e o 'meu' foram removidos de mim. 
Eu tomei sem tomar, comi sem comer, falei sem falar. 
O que quer que tinha estado oculto foi trazido à luz.


Eu não pertenço a lugar nenhum; pertenço apenas a um lugar.
Eu não saio e nem volto.
Não há diferença para mim entre o meu e o seu.
Não pertenço a ninguém.
Não me é requerido nascer ou morrer.
Eu sou como sou.
Não há nem nome nem forma para mim e estou além de ação e inação. 
 


Gosto imensamente dessa Tua forma, meus olhos estão satisfeitos. 
Minha mente tendo mordido a isca da Tua visão, não a abandona de jeito algum.


É através de Teu suporte que me movo no caminho.
Carregas todo o meu fardo.
Colocas significado em minhas palavras sem sentido.
Levaste embora minha vergonha e colocaste coragem em mim.
Tua mão está em minha cabeça e meu coração aos Teus pés. 
Assim fomos interligados corpo a corpo, ser a ser.
O servir é meu e o favorecer é Teu.

Deus realmente me favoreceu.
Minhas dúvidas e delírios chegaram ao fim. 
Deus e o Ser estão agora deitados no mesmo divã em mim mesmo. 
Tukaram agora dorme em sua própria forma e sinos místicos acalentam-no para dormir.

Dei à luz a mim mesmo e saí de meu próprio útero. 
Todos os meus desejos chegaram ao fim e meu objetivo foi alcançado.
Quando me tornei poderoso além da medida, morri nesse exato momento. 
Tukaram olha para os dois lados e vê a si mesmo através de si mesmo.


A profundeza chamou até ao fundo e todas as coisas se esvaíram na unidade.
As ondas e o oceano tornaram-se um.
Nada pode vir e nada pode ir embora agora.
O Ser está envolvendo a Si mesmo por todos os lados.
O momento do Grande Fim chegou e a aurora e o crepúsculo terminaram.
Todos os homens tornaram-se agora Deus; e mérito e demérito desapareceram.

Meu país agora é o universo.
Eu vivo no mundo todo. 
Não há ninguém entre eu e Deus, não há separação. 

Sem um adorador, como poderia Deus
assumir uma forma e aceitar a tarefa?

Um torna o outro belo,
como um cordão de ouro apresenta uma jóia. 
Quem, senão Deus, poderia tornar o adorador livre dos desejos? 
Tuka diz: "Eles são atraídos um pelo outro, como mãe e filho."
 
Pode uma árvore saborear a sua própria fruta?
O adorador de Deus deve permanecer distinto Dele.
Somente assim ele virá a conhecer o alegre amor de Deus.

Mas se disséssemos que Deus e ele são um,
essa alegria e amor desapareceriam instantaneamente.


Aquele que profere o nome de Deus enquanto caminha recebe o mérito de um sacrifício a cada passo, seu corpo torna-se um lugar de peregrinação.

Aquele que repete o nome de Deus enquanto trabalha sempre encontra a paz perfeita.

Aquele que profere o nome de Deus enquanto come recebe o mérito de um jejum, mesmo que tenha feito suas refeições.



Eu não podia mais mentir
então comecei a chamar o meu cachorro de "Deus".
Primeiro ele pareceu confuso,
em seguida começou a sorrir,
mais tarde ele até mesmo dançou.

Eu continuei fazendo isso:
agora ele nem sequer morde mais.
Pergunto-me se isso funcionaria com as pessoas.


A tarefa do homem é apenas repousar em Deus e levar a cabo seu trabalho sem pedir nada Dele.
Deixe o corpo ser entregue a Deus e Ele fará como deseja. 
Ele é o suporte do mundo todo e trará a coisa apropriada no momento apropriado. 
Nessa fé devemos nos fortalecer.
Não deveríamos ter nenhuma outra crença além dessa.
Deus é todo poderoso e pode realmente alcançar qualquer coisa.
Por que deveria um homem se importar com qualquer coisa que seja?
Aquele que permeia o universo e dirige a vontade, o que Ele não pode realizar?

A santidade não pode ser comprada no mercado, nem pode ser adquirida ao vagarmos pelas florestas e montanhas. 
Também não pode ser comprada com grandes quantidades de riquezas, nem pode ser encontrada nos mundos superiores e no além.
A santidade pode ser adquirida apenas a custo da vida. 
Aquele que não está preparado para sacrificar sua vida não deveria vangloriar-se da espiritualidade.

Minha própria vida não teria razão de ser, se fosse para eu ficar esquecido de Tua presença mesmo que por um momento. 

Se levarmos a cabo nossa prática espiritual regularmente, o que ela não poderá alcançar?
A raiz úmida de uma planta quebra até grandes pedras. 
A prática pode alcançar toda e qualquer coisa. 
Nada pode impedir um esforço determinado. Uma corda pode cortar até uma pedra dura. Através da prática até o impossível torna-se possível. 
Portanto, deveríamos ir para a solidão e fixar nossa mente em Deus, não deveríamos permitir que nossa mente ficasse vagando, deveríamos evitar todas as coisas frívolas, deveríamos estabelecer nosso coração na realidade e perfurá-la como uma flecha perfura o alvo. 
Deveríamos dizer adeus à indolência e ao sono e viver na constante vigília de Deus.

domingo, 16 de agosto de 2015

As fezes da vaca e a mosca


As fezes da vaca e a mosca

Havia uma pedra sagrada rodeada por um canal de água que a circundava.

Fazer circunvalações á volta da pedra era uma prática religiosa para os peregrinos que vinham a este local se purificar e ganhar mérito espiritual.  

Neste canal de água cairam as fezes de uma vaca que passaram a circundar a pedra pelo movimento da água á volta da pedra.


Uma mosca atraida pelo cheiro das fezes nelas pousou.

Assim a mosca passou a fazer a circunvalação da pedra no canal de água.

A tradição budista diz que a mosca pousou nas fezes atraída pelo cheiro (não virtuoso), não por alguma intenção 'espiritual', mas que pelo simples motivo de ter circundado a pedra sagrada 'sem querer', a mosca 'adquiriu' virtude e transformou o motivo inicial meramente sensorial em verdadeira motivação 'espiritual'.

Esta história se aplica a nós, por vezes a Luz surge-nos por 'acaso' sem avisar e convém estarmos receptivos para a acolher e manter viva a cada segundo da nossa vida.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Ritual Elu Cohen


Um resumo de um ritual Elu Cohen 
da Ordem Martinista 
       segundo Martines de Pascually 


Antes do ritual os participante jejuava durante onze horas. 

O jejum era um costume estabelecido em rituais mágicos e, segundo Pasqually, ajudava a liberar a alma e lhe permitia se comunicar com o "centro da verdade". 

A época em que a cerimônia aconteceria era guiada através de considerações celestiais, já que Pasqually acreditava em um tipo de astrologia idissiocrática. 

"Os corpos do universo" declarou, "são todos os órgãos vitais da vida eterna."

Peculiarmente influente era a Lua, devido a sua proximidade, e o Sol, porque a vida na Terra era dependente de sua luz. 

Logo, Pasqually escolheu os equinócios para seus rituais mais importantes, e também considerou a Lua crescente como uma influência propícia. 

Estas condições animavam os espíritos bons cujo apoio era necessário para os funcionamentos teurgicos. 

Devia-se evitar, a todo custo, as influências demoníacas e as más inteligências que povoam o domínio astral. 

O mais simples ritual era a "invocação diária", na qual o adepto teria que traçar um círculo no solo, e no centro deste, colocaria uma vela e escreveria a letra W. 

Então ele se coloria de pé no círculo e sustentava uma luz para ler sua invocação que dizia: "Oh Kadoz, Oh Kadoz, quem permitirá que eu retorne a ser o que era originalmente, uma chispa da criação divina? Quem permitirá que me converta em virtude e eterno poder espiritual...?"

Os rituais mais importantes, porém, tomaram a forma de uma série de invocações que eram desenvolvidas ao longo de três dias consecutivos, que deveriam ser entre a Lua nova e o fim do primeiro trimestre do ano. 

Os detalhes do ritual, como o traçado no solo dentro do qual o adepto operava, eram mudados periodicamente na medida em que Pasqually revisava constantemente os procedimentos e introduzia novos. 

Uma característica muito constante, porém, era que o ritual produzia um aroma caracteristico durante a cerimônia. 

O adepto levava um prato de cerâmica pequeno que continha carvão em brasa, no qual ele espargiria periodicamente uma mistura que continha os seguintes ingredientes: açafrão, incenso, enxofre, sementes de papoula branca e negra, cravos de cheiro, canela branca, mastic (ou miski), sandaraca, noz-moscada e esporos agáricos.

As vestes levadas pelo operador provavelmente também eram simbolicas.

O blusão, calça e meias eram negras. 
Em cima deles,  ele levava uma túnica branca e larga com bordas vermelhas, e em cima disso uma fita azul era pendurada, uma cinta negra, uma faixa vermelha e uma faixa verde. 

Como um exemplo do procedimento levado a cabo pelo adepto sobre os três dias, o que se segue é um esboço do método prescrito por Pasqually em 1768.

Todas as manhãs o adepto iniciava seu dia lendo o ofício do Espírito Santo e quando bastava, ele entrava na privacidade de seu quarto aproximadamente às dez horas. 

Ali, lia alguns salmos e litanias de um devocionário e, tendo feito isso, ele estava pronto para delinear o traço cerimonial no solo com um giz. 

No lado oriental do quarto, traçava um segmento de um quarto (1/4) aproximadamente com o ponto defronte ao ocidente, e então desenhava uma linha através do segmento que formava um triângulo isósceles com os dois raios. 

No triângulo era desenhado um pequeno círculo dividido por uma cruz. 

Então no lado ocidental do quarto desenhava um círculo maior conhecido como "o círculo do refúgio" que estava separado a dois pés do ponto do segmento.

Neste círculo ele desenhava as importantes letras LAB e ao longo do ramo ocidental da cruz no círculo pequeno ele colocaria as letras RAP. Isto completava o traçado.

O operador então colocava oito velas no traçado: três nos pontos do triângulo, uma ao lado das letras RAP, duas em cada extremo do arco do segmento, uma ao centro da base do triângulo e uma ao centro do círculo do refúgio. 


Ele também escrevia outros nomes místicos.

O adepto então estava pronto para a operação que teria que começar precisamente à meia-noite. 


Quando os dozes toques do sino começavam, ele retirava seus sapatos, removia a vela do círculo do refúgio, acendia ela fora do círculo, disposta a sua direita. 

Em seguida, inclinava-se no círculo, com seu rosto contra o chão, sua testa descansando em seus dois punhos.

Permanecendo durante seis minutos nesta posição, ele se colocava de pé e acendia as velas no segmento. 

Estas que ele reconstruiu para que a que estava ao lado das letras RAP e a da base do triângulo seriam colocadas fora e em situação oposta ao centro do arco.

Então ele se ajoelhava no segmento, joelho direito na terra e as mãos no solo para que as pontas dos dedos indicadores fossem formar juntos num ângulo reto. 

Permanecendo nesta posição, cada um dos nomes inscritos no desenho era repetido e fixava-os na seguinte fórmula que ele recitava três vezes por cada nome: "In quali die… invocavero te, velociter exaudi me." 

Ele então pedia a Deus que lhe concedesse a graça que ele desejava, "um coração sincero, verdadeiramente arrependido e humilde." 

Tomando o prato que continha carvão em brasa, ele atirava diante dele um pouco da mistura aromática e executava uma volta no segmento. 

Finalmente se sentava com o prato, no círculo de refúgio e então um período de meditação era estabelecido.

Presumia-se que o adepto deixava o círculo somente entre 1:30 e 2:00 da madrugada na primeira noite. 

Quando terminava, apagava todas as figuras traçadas no chão e repetia as invocações e sinais que havia efetuado, os quais representavam os anjos bons e degredando as fórmulas para as representações do mal. 

Quando todos os traços fossem apagados, retirava-se para seu leito. 

O exílio dos espíritos maus e a invocação dos bons era uma parte importante dos rituais de Pasqually. 


Outra cerimônia, chamada de "o Trabalho do Equinócio", incluía o seguinte discurso aos anjos maus:

"Eu conjuro-te, Satanás, Beelzebub, Baran, Leviatã: todos vós, terríveis seres, seres de iniqüidade, confusão e abominação, escutem minha voz e tremam ao meu mando; vós todos, os grandes e poderosos demônios das quatro regiões universais e todas as regiões demoníacas, espíritos sutis de confusão, horror e perseguição, escutem minha voz e tremam quando esta soar entre vós e durante suas operações malditas; eu vos ordeno através daquele que profere morte eterna a vós todos."

Há então, em seguida, uma pronunciação a cada um dos quatro demônios principais mencionados, começando com Satanás. 

"Em ti, Satanás, eu imponho excomunhão, ato-te e delimito-te a tua espantosa região em nome do Altíssimo, Deus, o Vingador Eterno e Recompensador..." 

Em seguida, uma invocação aos anjos bons era realizada. 

Tudo isto ocorria dentro de um esquema similar ao que já era utilizado para a cerimônia descrita. 

Nenhum destes rituais, no entanto, tinha o principal objetivo de chamar espíritos particulares e especiais. 

O objetivo principal era de uma ordem maior, a saber, a comunicação com o que Pasqually chamou de "A Causa Ativa e Inteligente". 

"Por isso", diz A. E. Waite, "a escola de Martinez de Pasqually põe-se totalmente fora dos limites estreitos e motivos sórdidos da magia cerimonial."

A aptidão nestas cerimônias não era o único elemento exigido do Eleito Cohen. 
Também era exigido seguir certas normas de conduta. 

Por exemplo, sempre era proibido consumir sangue, rins ou gordura de qualquer animal ou comer a carne de pombos domésticos.

Não era permitido, exceto com moderação, agradar os sentidos e deveria evitar a fornicação