-- De onde vens e para onde vais ?
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quinta-feira, 29 de maio de 2014

A Tradição Espiritual dos Incas


A Tradição Espiritual dos Incas 


Em termos simples, os povos andinos concebem a Mãe-Natureza, chamada de Pachamama, como um universo dividido em três instâncias: Janaj Pacha, que é a “terra de cima”, todo espaço aberto que nos permite ver o sol, a lua, as estrelas e demais corpos celestes; Kai Pacha, ou “terra em que vivemos”, onde desenvolvemos nossos afazeres cotidianos; e Uku Pacha, ou “interior da terra”, o mundo subterrâneo.

Cada um desses níveis acha-se habitado por inúmeras divindades, deuses maiores e menores de acordo com suas funções mitológicas.

Segundo sua cosmovisão, há um equilíbrio permanente e íntimo entre ser humano e natureza, que só é possível em termos de reciprocidade, pois tudo aquilo que fazemos à natureza, dela recebemos em proporção e semelhança. 

Existe uma visão holográfica do Universo; o corpo humano, por analogia, reflete a Pachamama em sua totalidade. 


Macro e microcosmo não estão separados.

Todo e qualquer dano que se faça à natureza é um mal que o homem comete contra si mesmo, também em prejuízo de sua comunidade e de sua saúde.

Isso explica o absoluto respeito que o povo andino tem pela Pachamama, que para '' nós é sagrada, o que justifica tanto nossa preocupação ecológica quanto as oferendas que fazemos à Mãe-Natureza sempre que desejamos alcançar alguma cura física ou espiritual por meio de nossos rituais''.

Divulgar este Conhecimento não é profanar aquilo que é sagrado, mas de criar meios eficientes para que uma cultura milenar se perpetue.
 


MESA ANDINA

A "mesa" ou altar pessoal andino contém ao mesmo tempo o centro de uma cosmovisão ancestral e atual. 


Os objetos do altar pessoal, são componentes de um centro de poder onde trabalhamos e plasmamos a energia mágica e mística. 

Os objetos rituais são como que portais que "enganam", driblam, adormecem os filtros conscientes da mente para que se abra o coração e o espírito. 

Também são uma representação da nossa cosmovisão pessoal, e afinidade com determinado caminho com o qual trabalhamos.

É um pequeno pano tecido em cores, um têxtil de lã de lhama ou alpaca, aonde cada um dispõe seus objetos de poder (pedras de cura, penas, folhas de coca, conchas, punhais, pedras de locais sagrados e até crucifixos, se trabalhar pela linha do sincretismo cristão). 


Normalmente de começo inclui uma concha que simboliza a criação-o nascer do homem e a expansão espiritual durante a sua vida e uma cruz Solar andina a Chakana simbolo dos 4 elementos-4 direcçoes, com o buraco a meio, simbolo do 5ºelemento(criação-aniquilamento).  

  


Místico e mágico se fundem na busca do ser humano em equilíbrio. 
A mesa andina é "dividida" em três partes: o lado mágico, o lado místico e o centro.
 

 
O lado mágico é o da prática mágica, dos feitiços, é o lado esquerdo, o feminino e está ligado ao mundo subterrâneo que é chamado Ukupacha, cujo animal de poder é a Serpente


O lado direito é o lado místico, o lado da devoção, de conexão com os deuses e é aonde se desenvolve o trabalho interior, de crescimento espiritual e de devoção. 
A este lado está associado o Condor(kuntur), ou também o Colibri(q'enti), que são os animais mensageiros dos deuses e que nos unem ao Hanan Pacha, o mundo celeste. 


Ao centro está o Kaypacha, ou mundo terreno, o mundo das energias em movimento, aonde o lado místico e mágico se fundem em perfeito equilíbrio. 

O animal de poder do Kaypacha é o Puma, que nos ensina a astúcia para atuarmos no mundo das energias em movimento.


Oferendas à PACHAMAMA, a Mãe Terra e aos Apus ou espíritos das montanhas



As oferendas ou despachos são feitas no centro quadrado de um papel com o desenho da Cruz Andina, a Chakana, e  depois de concluida a colocação ritual de todos os componentes, esse papel é dobrado da esquerda para a direita e de baixo para cima, fazendo o quadrado final .

Os "despachos", são compostas geralmente por caramelos, incenso, tabaco, flores, vinho e cerveja. 
A principal oferenda ritual chama-se "k'intu" que são três folhas de coca (ou seis ou nove, ou mais, múltiplos de três), sendo que a maior folha é dedicada aos Apus, espíritos da natureza protetores representados nas montanhas e picos andinos. 
A segunda folha, mediana, é dedicada à Pachamama. 
E a terceira folha, de menor tamanho, representa a humanidade. 

 
O conteúdo do despacho é fechado em papéis coloridos e varia conforme a energia que queremos trabalhar dedicando-os à Pachamama ou aos Apus (que em quéchua significa "senhores") que são os espíritos das grandes montanhas muito respeitados e invocados nos rituais. 

As oferendas ao Ar-Agua-Fogo são queimadas nas brasas de uma fogueira e as ofertas à Terra são enterradas. 





O ato de oferecer é extremamente importante, pois é um ato de reciprocidade (ayni) que é a síntese da cosmovisão andina, do dar e do receber, do nutrir-se e agradecer, uma troca constante com esses espíritos que em um plano sutil atuam conosco para que possamos mover e atuar nos três mundos em sintonia e equilíbrio


Para os andinos, Pachamama é a Mãe Terra. 
A palavra "Pacha" originalmente significa universo, mundo, lugar, tempo, enquanto que "mama" significa mãe. 
É a geradora de abundância e de tudo que na terra existe. 
É a vida, as estações, a fecundidade, é o ciclo da vida, da morte, do renascimento. 

 
Conectar-se com a grande mãe, é conectar-se com a abundância e alegria da vida. 


O 1º de Agosto é o dia de oferendas à Pachamama, dar de comer à Terra, com nosso agradecimento no coração, por tudo que recebemos e por tudo que doamos. Ayni, reciprocidade, compartilhar o que se é, conectar-se. 

O mais importante de tudo é nossa conexão e nossa Intenção.

Fazer um despacho, é um ato de conexão, de amor, de doação e de recebimento, bem como, é uma arte, uma mandala de cura. 
Cada item de um despacho é rezado, carregado com nosso hálito, oferecido com o coração. 

Para quem não tem afinidade ou disposição em fazer uma oferenda grande, o que importa não é a parafernália, mas sim o coração. 
Ofereça flores, ou faça o primeiro prato de sua refeição para Pachamama e entregue-o à Terra. 


Ou simplesmente ofereça-lhe um perfume, um incenso, um tabaco, eleve seu pensamento para aquela que está sempre ao seu lado, pois é no corpo dela que vivemos cada dia de nossas vidas. 

Para finalizar, lembremos que segundo nossos irmãos andinos Q'eros, as portas entre os mundos estão novamente se abrindo e este é um momento propício à exploração de todas nossas capacidades humanas. 

Recobrar a nossa natureza luminosa é hoje uma possibilidade para todos aqueles que se atrevem a dar um salto em suas vidas. 

Talvez não recebamos exatamente o que desejamos, mas certamente receberemos o que realmente precisamos. 

Os incas nos deixam três fundamentais ensinamentos, traduzidos nas palavras em quéchua: Munay: Amor. Llankay: Trabalho. Yachay: Sabedoria. 

Que aprendamos com os rios, com as montanhas, com as árvores, com os animais. Que aprendamos a ver com os olhos da alma, nos comprometendo com o essencial. 

Que nossas vidas sejam repletas de abundância, reciprocidade, amor, trabalho e sabedoria.

Trailer do Documentario Paco Andino-WisdomKeepers sobre a Tradição Andina



 Ritual Andino ao Pai Sol


Aqui segue um ritual ao Pai Sol, adaptado ao nosso tempo,  que por muito simples pode ser praticado por qualquer pessoa de qualquer outra tradição espiritual.


  
Ao levantar de manhã, depois da higiene matinal e antes de te vestires, senta-te, fecha os olhos e visualiza por 10 segundos o escuro da noite, a seguir durante 10 segundos visualiza o Sol a nascer no horizonte, pequenino mas a subir lentamente até veres 1/4 da esfera solar, ou seja, apenas o cone superior.


Repete isto por 3 vezes , ou seja, 9x10 segundos.


No fim dos 90 segundos ergue os braços e imagina estares a abraçar e a recolher os raios de Sol nascente no teu coração, com toda a tua intenção de encheres o teu Espirito da luz do Pai Sol para a tua jornada diaria.


Ao tomares de seguida o teu pequeno almoço agradece ao Sol esse alimento, essa energia que unida à Luz Solar que colocaste no teu coração te vai proporcionar um dia pleno de Vida.

Simples mas poderoso e eficaz para quem o fizer com Amor e Intenção, que dia em cheio terá.


Claro que....quem o fizer, em plena natureza ao nascer do Sol, terá beneficios extra....neste caso, o processo é inverso, os 10 segundos iniciais é para fixar o Sol e para não ferir a retina, baixar os olhos nos 10 segundos seguintes, repetindo o processo 3 vezes e terminando na recolha interior da Luz do Pai no teu coração e numa oferta e ingestão de comida numa comunhão sagrada.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

O Fumo Sagrado dos Indios das Planicies Americanas

O Cachimbo Sagrado
 
O cachimbo dos Indios Sioux das planicies americanas era acima de tudo um objecto de oraçao, individual e colectivo.


Como o cachimbo foi entregue aos Indios?
Reza a lenda que da planicie surgiu uma bela mulher vestida com peles de veado e com um saco às costas.

Perante o chefe da tribo disse:
- Neste saco está o Cachimbo sagrado, com ele vocês enviarão a vossa voz ao Grande Espirito ou Grande Pai.
Retirou do saco o cachimbo e dirigindo o bocal do cachimbo para o céu disse:
- Este cachimbo vos é dado pelo Grande Espirito como um dom-graça, para que com ele vocês possam adquirir o Conhecimento. 
  O forno deste cachimbo é de pedra vermelha, e representa a Terra. 
  Com este Cachimbo, vocês viverão sobre a Terra, pois a Terra é a Grande Mãe e é sagrada. 
  Cada passo que derem em vida deverá ser uma oração a ela.
   Este bisonte gravado na pedra do forno e que olha para o centro, representa os animais.
   O bocal é de madeira e representa tudo o que cresce na terra.
Todos os povos e seres do Universo estão ligados a ti quando fumas o cachimbo. 
Todos enviam suas vozes ao Grande Espirito através de ti e quando rezas com este cachimbo, rezas por todos os seres e com eles.  
Este cachimbo tem 7 circulos gravados que representam os 7 rituais segundo os quais o cachimbo será utilizado.

Nota: Os 7 circulos estão dispostos ao redor do forno por ordem de grandeza, estando o mais pequeno ao lado do maior.

A mulher despediu-se dizendo: Agora me vou, mantém sagrado este cachimbo, que eu regressarei no fim dos tempos.
À medida que se afastava a mulher foi sucessivamente se transformando em bisonte vermelho, depois branco e finalmente preto que saudou os 4 quadrantes até desaparecer no horizonte.
  
O cachimbo é constituido por 2 partes : o forninho onde se coloca o tabaco e o bocal onde se coloca a boca.



O forninho é a alma-altar do cachimbo e representa o sangue dos antepassados (normalmente era em pedra de cor vermelha).

 
Ritual de Invocação do Grande Sagrado, bocal dirigido ao céu, corpo abandonado ao Divino e forninho junto ao coração, alma em União com o Sagrado, crâneo de bisonte aos pés , simbolo da vida e da sua impermanência.   


O bocal em madeira, simboliza o corpo.

Quando alma e corpo se unem, é a vida que se inicia e o eixo que forma constitui o caminho que conduz da terra ao céu. 

Cada porção de tabaco que se coloca no forninho representa cada um dos aspectos da Criação e assim o fornilho ao reunir todos estes aspectos contém a totalidade da Criação.

                         Tipos de cachimbos tribais 

Quando o fogo, com a ajuda do sopro do homem, consome o tabaco, produz-se a unificação com o Grande Mistério.


                            Saco onde se guarda o cachimbo

O fumo que se escapa do fornilho pela boca do homem, sobe ao céu para transmitir as orações e os louvores ao Criador.

Quando o índio fuma o Cachimbo Sagrado, ele o dirige às quatro direções e ao céu e à terra, e em seguida ele deve ter cuidado com sua língua, suas ações e seu caráter

O acto de fumar marca a 'presença espiritual' do homem face à 'presença sobrenatural' de Deus como ilustra esta invocação:
Glória a Ti, que tudo criastes, escuta nossa voz, nós obedecemos aos teus mandamentos. Aquilo que criaste a Ti retorna, o fumo deste tabaco sagrado se eleva para Ti, para comprovar que a nossa palavra é verdadeira.

No ritual do cachimbo, o homem representa o estado da 'individuação', o espaço onde o fumo se propaga representa o Tudo, o Um, Deus, onde o individuo deve regressar trasmutando-se, sendo o simbolo dessa transmutação-mudança o fumo que se perde nesse espaço.
O homem não é um elemento isolado na Criação, ele é parte desse espaço e a ele deve retornar, 'ele deve tornar-se no que é'.


       Tenda de purificação com entrada a Este e caminho ritual para o fogo exterior

O homem, ao inspirar o fumo sagrado, recebe o 'perfume da Graça' e ao expirar o fumo para o espaço infinito, produz uma expansão sobrenatural no espaço Divino que o reintegra nele.

O fogo, que é Deus, consome o tabaco, que é o homem, e transmuta-o em fumo que se eleva para Ele, fazendo-o assim regressar ao seu 'espaço' original.    


Em cerimónia colectiva, o cachimbo passa de mão em mão para ser fumado sempre na direcção de Este para Oeste, seguindo a marcha do Sol.



Denominado cachimbo da paz pelos Europeus era efectivamente fumado aquando de alianças e tratados entre individuos ou tribos, garantindo assim espiritualmente perante o Criador a inviolabilidade do pacto.