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domingo, 22 de março de 2020

Felicidade e Alegria



O que há por aí para se estar feliz?  Não muito, mas a Alegria é diferente.

A felicidade depende de circunstâncias externas ou de formas de relacionamento. Enquanto estas duram, caímos facilmente numa gratidão que assume que o tempo da felicidade é permanente.

E, afinal, o que é que é permanente?  Nada, ´´tudo passa só Tu ficas´´.

Contudo, a Alegria não depende de circunstâncias externas ou relacionamentos passageiros.

Ela flui continuamente de uma fonte, uma fonte pura, do próprio Ser.

Nada a pode bloquear excepto a nossa  tendência sombria para engarrafar a água da fonte, para possuir, para poluir a sua pura e inocente realidade com ilusões de proveito próprio e de ganância.

Nada é tão doloroso no início como a transição da felicidade perdida para a pura Alegria.

Há algumas décadas que temos vindo a estar conscientes de que a felicidade material sem precedentes, identificada com a abundância, tem um preço irracional e insustentável.

A nossa humanidade pessoal, a civilidade e a justiça social, a sanidade e a nossa própria casa global estavam a ser poluídas e abusadas.

Mas o que poderíamos fazer a esse respeito?

As pessoas que fizeram soar o alarme foram desacreditadas como sendo excêntricas    ou exageradas.

Os que gemiam e suspiravam também se tornaram uma classe, uma indústria.

Os políticos estavam entre aqueles que detinham o poder.

A confiança e o respeito pela política e pela lei, necessárias para qualquer forma de civilização, afundaram-se.

Assistimos ao caos eleito e a governos de bárbaros.


A Alegria de viver foi sendo, gradualmente, sugada e engarrafada em graus cada vez piores de injustiça e egoísmo surreal:  os 1% mais ricos de hoje possuem metade da riqueza mundial – mesmo agora, ao estarmos distanciados socialmente e em quarentena e estando os mais vulneráveis a sofrer a parte pior. 

Alguns dos 1% são pessoas generosas e boas, mas até as piores estavam lentamente a compreender que a situação era demasiado irreal para durar.

A raiva contra eles pode aumentar – como aconteceu com a agressão passiva do populismo. Mas demonizá-los é injusto e também irreal.

Na tradição cristã, Jesus cura um cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe quem era o culpado pela sua desgraça e Ele recusou-se a apontar o dedo da culpa.

Ele disse que o significado era a própria cura – ela revelou a divina plenitude da vida, a Alegria de Ser,  que ultrapassa as limitações e inferioridades humanas. Jesus curou o homem cuspindo no chão e fazendo uma pasta com terra, aplicando-a nos olhos dele se dizendo-lhe para se lavar na piscina natural de Siloé.

Mais tarde, o homem disse: “tudo o que eu sei é que antes era cego e agora vejo”.    

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