As nossas crenças não nos dão a Fé.
Elas fazem, apenas, de nós membros de uma seita, de uma conspiração fundamentalista.
Bloqueiam a mente como órgão de percepção e de verdade e leva-nos a ocupar um mundo privado, egocentrico.
As pessoas religiosas temem, muitas vezes, o poder da Fé precisamente porque ela se inclina para este reino indiferenciado do Espírito, onde as diferenças de religião, sociais e até de género, que as nossas crenças sacralizadas conseguem controlar minuciosamente, são totalmente desmanteladas.
A Fé é a auto-estrada para o Espírito.
Cada acto de Fé que realizamos é um destapar do labirinto do Espírito.
A crença, construída com os estilhaços da Fé, conduz-nos a um labirinto de espelhos, uma série interminável de regressões, o labirinto egoísta.
Este tipo de labirintos das crenças conduz a becos sem saída e, quanto mais nos perdemos, maior é o nosso pânico.
Enquanto que os labirintos do Espírito só nos pedem que sigamos fielmente as suas voltas e esquinas estranhas e, basicamente, simétricas, para nos levar de volta a casa, ao centro.
Confundir Fé com crença e tentar separá-las faz-nos cair na armadilha da Lei – no âmbito das coisas que podemos definir, regulamentos que podemos fazer cumprir, fórmulas de crença específicas que nos fornecem justificações para excluir os outros.
Mais do que qualquer religião, o Cristianismo cedeu às tentações do poder que é criado pela uniformidade de crenças.
Reverenciar a ortodoxia de crenças – cultivando a exacta correcção nas palavras, nos rituais, nos aspectos exteriores e nas fórmulas – trai o Deus vivo por um outro, falso e de construção exclusivamente nossa.
A crença pode ser heróica. Podemos recusar negar as nossas crenças e ficar felizes por sermos queimados na fogueira ou passar por enxovalhos e vergonhas por causa delas. Muitos crentes são educados com histórias destes heróicos mártires, que abdicaram das suas vidas para não negarem as suas crenças. Não devemos menosprezar a heroicidade da crença enfrentando a opressão e a perseguição. É preciso força e integridade para resistir aos poderes violentos que têm o propósito de nos fazer negar os nossos princípios e crenças.
Mas o reino espiritual nada tem a ver com heroísmo.
A Fé é mais do que a mais heróica das crenças. É mais do que uma apaixonada convicção , é mais do que um conceito e mais do que um sinal de pertença leal a um determinado grupo.
É o relacionamento com aquilo em que acreditamos; com aquilo em que acreditamos porque o experienciamos e com o que experienciamos porque fomos simplesmente feitos para isso. E por isso.
A Fé lança-nos para os mistérios do Ser Interior e revela-os infinitamente.
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