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domingo, 19 de maio de 2019

O Suicidio Metafisico

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                       O  Suicídio Metafisico

Num tempo de facilidades e querer tudo rápido sem dores nem sofrimentos,  será que a Verdadeira Espiritualidade se encaixa nestes moldes  'modernos' ?
Texto abaixo reflecte esse Abismo entre o  ‘querer ser’  Espiritual e a meta de  ‘ O ser verdadeiramente’ ,  não admira que cada vez mais no estado actual da Humanidade ‘muitos os chamados e poucos os escolhidos’  .
A compreensão interior deste texto simbólico é,  óbviamente,  proporcional à evolução de cada um.
  
O  Suicidio Metafisico
Numa fase adiantada do Caminho,  existe um Suicidio sem o qual se fica parado e não se avança.
Suicidio não é o significado dado neste mundo, mas a mais completa negação do eu.
Quem Caminha e atinge esta fase fica com o pensamento e a ação paralisados até ao ponto em que o Caminhante  se torna totalmente incapacitado e não pode mais se satisfazer nem mesmo na presença de Deus-Luz- Presença.
Nessa fase, o desejo torna-se infinito e muitas vezes se transforma em seu contrário, envolvendo o desespero e o ódio, pois nada o consegue satisfazer.
O mito de Tristão e Isolda, enfatiza o anseio místico dos amantes pelo infinito e também o caráter anti-social e a busca da morte implícitos em seu amor.
O amante de Deus também deve enfrentar esse amor sem esperança de paz e que impele para a morte nos mais altos estágios da vida mística.
O objetivo final era destruir qualquer senso de ipseidade, qualquer eu exceto o divino.
Mestres de várias Tradições nesta fase ao invés de “abraçarem a ausência do Amado – Deus – Luz - Fonte como uma união mais perfeita, escolhem estar dela ( dessa união ) mesma ausentes.
Ela desocupa o espaço psicológico que ocupava de uma vez e para sempre (“suicídio metafísico”) , fazendo nele um Espaço livre para o Incriado ocupar.
Nesta fase  a Alma se dá conta da necessidade de extinguir toda a sua vontade e também o seu desejo de amor ( para com Deus-Luz- Fonte)  para atingir o estado de união que aspira.
Para se tornar verdadeiramente livre, a Alma dispensa as obras, as virtudes e as mortificações, mas precisa de ultrapassar uma série de “ obstáculos’  que não são fáceis e até cruéis, para avaliar o quão completa é a sua submissão ao seu Amado,  obstáculos que visam uma mortificação do desejo e que a levam a abandonar o seu amor humano.
É apenas ao consentir no impensável e após a rendição incondicional às provas impostas pelo Amado que ela pode receber dele uma recompensa incondicional.
A Alma nestas provas é de tal maneira desafiada pelo Amor que termina por ser levada à aniquilação.
É dessa maneira que a vontade da Alma chega ao fim, pelo martírio tanto de seu desejo quanto de seu amor e ela cai no Nada.
O Amor exige que a Alma aniquile o próprio amor.
Tudo o que é próprio da Alma, tudo o que é criatural, deve ser destruído para a obtenção do estado de liberdade para o qual o Amor a chama.
Alguns nesta fase chamam ao seu Amado de Longe Perto, que é em si uma contradição, indicando uma presença que é também uma ausência. Ele permanece com um desejo de presença que nunca é totalmente satisfeito, um desejo indefinidamente adiado, que se tornaria insaciável se não fosse pela apófase desse mesmo  desejo.
Muitos permanecem  aprisionados neste estágio de inebriação apaixonada.
Essas são as “almas perdidas”, que ao invés de aceitarem a ausência como uma parte intrínseca da união com Deus, tentam trazer de volta a experiência desse encontro por meio do sofrimento, do ascetismo, das obras e da contemplação.
Para as Almas que se libertam desta ‘’inebriação apaixonada’’, os termos que permitem uma relação psicológica com Deus são queimados, afogados e aniquilados precisamente por esse Amor que se torna nesse momento o Amor do único Amante que permanece: Deus-Luz-Fonte.
Explicando à Razão qual a vontade que trabalha na alma aniquilada, o Amor  diz:
Não é a sua vontade que deseja, mas é a vontade de Deus que deseja nela.
Porque essa alma não permanece no amor que impulsiona sua vontade para algum desejo. 
É o Amor que permanece nela, que a privou de sua vontade e, portanto, o Amor realiza sua vontade com ela, e o Amor trabalha nela sem ela, por isso nenhuma ansiedade permanece nela.
É exigido nesta fase que a Alma se aniquile por meio da destruição de sua vontade.
O Caminhante que começou o Caminho a  buscar por Deus-Luz-Fonte  nesta vida e não o encontrava, torna-se numa fase mais adiantada ( se a ela chega …)  numa Alma aniquilada e como tal,  ela não mais existe.
A Alma aniquilada e o ‘’Fino Amor’’  não são mais eus separados, mas permanecem indistintos em tranqüilidade.  
Em contraste com o estado precedente de amor violento e de luta com sua vontade, a transformação da Alma em Amor nesse estágio é acompanhada de Paz, finda a luta dual chegou ao Uno.
Para ai chegar não há necessidade de tormentos corporais e demonstrações públicas de humilhação, comuns nas vidas dos santos e de muitos Misticos.
Não é preciso ir pelos caminhos do sofrimento do corpo e da alma , basta a renúncia de tudo que é criatural.
Só assim é possível para a Alma superar o sofrimento causado pela aparente ausência de Deus – por meio da aniquilação que torna a presença divina aparente.
Quando a Alma reencontra seu fundamento incriado no divino, o sofrimento e a alienação são suplantados, e ela é transfigurada no Amor.
É somente dessa forma que a Alma recebe asas, como os serafins–ela pode deixar o “ país estrangeiro” e retornar à corte de seu amado Rei, pois a aniquilação é uma “Terra” para onde as almas tristes e caídas podem retornar.
Nessa “Terra”, a alma não tem mais nenhuma “relação” com Deus, nem mesmo de Amor.
Esse é o resultado final de todo o seu Amor.

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