A Paralisia do sofá
segundo o Papa Francisco
Na vida, há uma paralisia ainda mais perigosa e difícil, muitas vezes, de
identificar e que nos custa muito reconhecer.
Gosto de a chamar paralisia, que
brota quando se confunde a FELICIDADE com um SOFÁ!
Sim, julgar que, para ser
felizes, temos necessidade de um bom sofá.
Um sofá que nos ajude a estar
cómodos, tranquilos, bem seguros.
Um sofá contra todo o tipo de dores e medos.
Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos nem nos
preocuparmos.
Provavelmente, o sofá-felicidade é a paralisia silenciosa que
mais nos pode arruinar; porque pouco a pouco, sem nos darmos conta,
encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos enquanto
outros – talvez os mais vivos, mas não os melhores – decidem o futuro por nós.
Certamente, para muitos, é mais fácil e vantajoso ter jovens pasmados e
entontecidos que confundem a felicidade com um sofá;
Não viemos ao mundo para «vegetar», para
transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça;
pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca.
É muito
triste passar pela vida sem deixar uma marca.
Mas, quando escolhemos a
comodidade, confundindo felicidade com consumo, então o preço que pagamos é
muito, mas muito caro: perdemos a liberdade.
É
precisamente aqui que existe uma grande paralisia: quando começamos a pensar
que a felicidade é sinónimo de comodidade, que ser feliz é caminhar na vida
adormentado ou narcotizado, que a única maneira de ser feliz é estar como que
entorpecido.
É certo que a droga faz mal, mas há muitas outras drogas socialmente aceitáveis, que acabam por nos tornar em
todo o caso muito mais escravos.
Umas e outras despojam-nos do nosso bem maior:
a liberdade.
É preciso decidir-se a trocar o sofá por um par
de sapatos que te ajudem a caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo
pensadas, por estradas que podem abrir novos horizontes, capazes de
contagiar-te a alegria, aquela alegria que nasce do amor de Deus, a alegria que
deixa no teu coração cada gesto, cada atitude de misericórdia.
Caminhar pelas
estradas seguindo a «loucura» do nosso Deus, que nos ensina a encontrá-Lo no
faminto, no sedento, no maltrapilho, no doente, no amigo em maus lençóis, no
encarcerado, no refugiado e migrante, no vizinho que vive só.
Caminhar pelas
estradas do nosso Deus, que nos convida a ser atores políticos, pessoas que
pensam, animadores sociais; que nos encoraja a pensar uma economia mais
solidária.
Dir-me-ás: Mas, eu sou muito limitado, sou pecador… que posso fazer?
Quando o Senhor nos
chama não pensa naquilo que somos, naquilo que éramos, naquilo que fizemos ou
deixamos de fazer.
Pelo contrário: no momento em que nos chama, Ele está a ver
tudo aquilo que poderemos fazer, todo o amor que somos capazes de comunicar.
O caminho,
chama-te a deixar a tua marca na vida. convida-te a deixar as estradas da
separação, da divisão, do sem-sentido.
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