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sexta-feira, 1 de abril de 2016

Os pecados mortais - A Inveja




A inveja

"Tristeza com o bem de outrem, porque esse bem é entendido como uma diminuição da sua própria excelência pessoal"

A inveja é um dos mais terríveis pecados que podemos cometer, porque ter inveja é sentir desgosto, raiva ou tristeza por ver o bem ou a felicidade do próximo, que deveríamos amar como a nós mesmos. 

Podemos notar, por esse prisma, o quanto estamos afastados do Caminho. 

A inveja é um dos frutos da natureza humana que, entre outros, causa profundas feridas na vida espiritual. 

Essas feridas são graves, a ponto de lançar os que se entregam à inveja numa existência de trevas.

Tudo se complica ainda mais pelo fato de a inveja ser um pecado que pode passar desapercebido pelas pessoas ao redor, mas que internamente consome as vidas dos que a ela se entregam.


A cobiça das coisas que não nos pertencem é a marca do pecado da inveja. 

É assim que a inveja pode levar ao roubo, outra desobediência aos Mandamentos de Deus e grave pecado capital.
 ‘’A paz de espírito dá saúde ao corpo, mas a inveja destrói como o câncer.” (Pv 14, 30)
 “O ódio é cruel e destruidor, mas a inveja é ainda pior.” (Pv 27, 4)


A inveja é, ao mesmo tempo, paixão e vício capital, diretamente oposto à virtude da caridade. 
Como paixão, é uma espécie de tristeza profunda que se experimenta na sensibilidade à vista do bem que se observa nos outros; esta impressão é acompanhada duma constrição do coração que lhe diminui a atividade e produz um sentimento de angústia.


Dante Alighieri reservou o segundo Circulo do Purgatorio aos invejosos que, como castigo, tinham os olhos costurados com arame para que não fossem capazes de ver a luz.


A Natureza da Inveja

A) A inveja é uma tendência a entristecer-se do bem de outrem, como se fosse um golpe vibrado à nossa superioridade. 
Muitas vezes é acompanhada do desejo de ver o próximo privado do bem que nos faz sombra.
Nasce, pois, do orgulho este vício, que não pode tolerar superiores nem rivais. 

Quando um está convencido da própria superioridade, entristece-se, ao ver que outros são tão bem ou melhor dotados que ele, ou que ao menos alcançam maiores triunfos. 
Objeto da inveja são sobretudo as qualidades brilhantes; contudo em homens sérios também o podem ser as qualidades sólidas e até a virtude.
Manifesta-se este defeito pela mágoa que um sente, ao ouvir louvar os outros; e então procura-se atenuar esses elogios, criticando os que são louvados.


B) Muitas vezes confunde-se a inveja com o ciúme; quando se distinguem, define-se este como um amor excessivo do seu próprio bem, acompanhado do temor de que nos seja arrebatado por outros. 
Este era, por exemplo, o primeiro do seu curso; notando os progressos dum condiscípulo, começa a ter-lhe ciúme, porque receia que ele lhe leve o primeiro lugar. 

Aquele possui a afeição dum amigo: começando a temer que ela lhe seja disputada por um rival, entra a ter ciúmes. Aquele outro tem uma numerosa clientela, e entra a recear que ela diminua por causa dum concorrente. Daí aquele ciúme que por vezes grassa entre profissionais artistas, literatos, e às vezes até sacerdotes.   

Numa palavra, tem-se inveja do bem de outrem e ciúme do seu próprio bem.


C) Há diferença entre a inveja e a emulação: esta é um sentimento louvável que nos leva a imitar, igualar, e, se possível for, a sobrepujar as qualidades dos outros, mas por meios leais.

O invejoso é um insatisfeito compulsivo e, geralmente, desconhece esta condição; sente secretamente e de forma dissimulada um grande rancor contra as pessoas que são invejadas por possuírem alguma coisa (beleza, dinheiro, êxito, poder, liberdade, amor, personalidade, experiência, felicidade, etc.) que o invejoso deseja mas não tem ou não quer ter. 
O invejoso é, neste sentido, uma pessoa incompleta, uma pessoa defeituosa aos seus próprios olhos.

O invejoso não aceita as suas carências ou não tem motivação e coragem para superá-las e simplesmente odeia e deseja destruir toda pessoa que lhe recorda estas carências. 
Toda vez que o invejoso vê o invejado, ele se coloca ante um espelho que reflete, não as suas qualidades, mas os seus defeitos e suas carências.

Para o psicólogo, a inveja, além de ser um pecado capital que condena o pecador ao inferno, é um comportamento doentio que caracteriza pessoas imaturas, insatisfeitas e neuróticas. 
A inveja, neste caso, pode ser curada com a maturação da personalidade e resolução das carências vivenciadas ou imaginadas.

A pessoa madura e resolvida,  não inveja nada.


 A Malícia da Inveja 

Pode-se estudar esta malícia em si e nos seus efeitos.

A) Em si, é a inveja pecado mortal, de sua natureza, porque é diretamente oposto à virtude da caridade, que exige nos regozijemos do bem dos outros. 
Quanto mais importante é o bem que se inveja, tanto mais grave é o pecado; e assim diz, Santo Tomás, ter inveja dos bens espirituais do próximo, entristecer-se dos seus progressos ou dos seus triunfos apostólicos é gravíssimo pecado. 
É isto verdade, quando estes movimentos de inveja são plenamente consentidos; muitas vezes, porém, não passam de impressões, ou sentimentos irrefletidos, ou ao menos pouco refletidos e voluntários: neste último caso, não passa de venial a falta.


B) Nos seus efeitos, é a inveja muitas vezes sobremaneira culpável:

a) Excita sentimentos de ódio: corre-se risco de odiar aqueles de que se tem inveja ou ciúme, e, por conseqüência, de falar mal deles, de os desacreditar, caluniar, ou de lhes desejar mal.

b) Tende a semear divisões, não somente entre estranhos, mas até no seio das famílias , ou entre famílias aliadas; e estas divisões podem ir muito longe e criar inimizades e escândalos.

c) Impele à conquista imoderada das riquezas e das honras: para sobrepujar aqueles a quem tem inveja, entrega-se o invejoso a excessos de trabalho, a manobras mais ou menos leais, em que se encontra comprometida a honradez.

d) Perturba a alma do invejoso: não há paz nem sossego, enquanto se não consegue eclipsar, dominar os próprios rivais; e, como é muito raro que se chegue a alcançá-los, vive-se em perpétuas angústias.


Remédios da Inveja

São negativos ou positivos.

A) Os meios negativos consistem:

a)  em desprezar os primeiros sentimentos de inveja ou ciúme que se levantam no coração, em os esmagar como coisa ignóbil, à maneira de quem esmaga um réptil venenoso;

b) em divertir o pensamento para outra coisa qualquer; e, depois de restabelecido o sossego, refletir então que as qualidades do próximo não diminuem as nossas, antes nos são incentivo para as imitarmos.

B) Entre os meios positivos, dois há mais importantes:

a) Somos todos irmãos, todos membros do corpo místico que tem a Jesus por cabeça, e tanto as qualidades como os triunfos dum desses membros redundam sobre os demais; em vez, pois, de nos entristecermos, devemos antes regozijar-nos da superioridade dos nossos irmãos,  já que ele contribui para o bem comum e até mesmo para o nosso bem particular. 

b) O segundo meio é cultivar a emulação, esse sentimento louvável e cristão, que nos leva a imitar e sobrepujar até, apoiando-nos na graça de Deus, as virtudes do próximo.


Para ser boa e se distinguir da inveja, deve ser a emulação cristã:

1)  honesta no seu objeto, isto é, ter por objeto não os triunfos, senão as virtudes dos outros, para as imitar;

2)  nobre na sua intenção, não procurando triunfar dos outros, humilhá-los, dominá-los, senão tornar-se melhor, se é possível, para que Deus seja mais honrado e a Igreja mais respeitada;

3)  leal nos seus meios de ação, utilizando, para chegar os seus fins, não a intriga, a astúcia, ou qualquer outro processo ilícito, senão o esforço, o trabalho, o bom uso dos dons divinos.

Assim entendida, é a emulação remédio eficaz contra a inveja, porque não fere em nada a caridade e é, ao mesmo tempo, um excelente estímulo. 
E na verdade, considerar como modelos os melhores dentre os nossos irmãos para os imitar, ou até mesmo para os sobrepujar, é, afinal, reconhecer a nossa imperfeição e querer dar-lhe remédio, aproveitando os exemplos dos que nos rodeiam. 
Assim não será para nós a inveja senão uma ocasião de praticar a virtude.

Outra boa prática de combate a este pecado devastador é pedir ao Espírito Santo que lhe dê a sensibilidade para perceber essa fraqueza ainda no início (em sua mente), reconhecendo que está sentindo inveja, enquanto ela ainda não é mais forte que o seu desejo de fazer o que é certo e ser santo. 

A decisão e o esforço para viver em santidade são seus. 
Assim não deixará as portas abertas para qualquer tipo de cobiça das coisas ou qualidades do seu próximo.

Gera :

Cochichos - Procurar rebaixar a glória de alguém falando em segredo.

Maledicência - em seguida, fere-se a sua reputação, dizendo abertamente mal.

Alegria com o mal de outrem - Se o mal chega a alguém: "É bem feito!"

Tristeza pelo seu bem - Inveja-se a pessoa pelos seus bens materiais e espirituais (este último ponto é um pecado contra o Espírito Santo).

Rancor pelo próximo - Deseja-se mal ao próximo.

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