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sexta-feira, 25 de março de 2016

Os Pecados Mortais- A Ira ou Cólera


A Ira ou Cólera

A Ira é uma aberração daquele sentimento instintivo que nos leva a defender-nos, quando somos atacados, repelindo com força. 

A Ira manifesta-se nos acesso de cólera característicos, mas também na impaciência, na intolerância para com os outros e as suas (deles) fraquezas.
Manifesta-se também em maus modos quando a pessoa é contrariada.
Ou quando os planos não correm como gostaria que corressem.
Há mesmo uma Cólera que volta a pessoa contra si própria, se a pessoa é contrariada.

 Natureza da ira.


Há ira paixão e ira sentimento.

1.º A ira, considerada como paixão, é uma necessidade violenta de reação, determinada por um sofrimento ou contrariedade física ou mo­ral. 
Esta contrariedade desencadeia uma emoção violenta que distende as forças no intuito de vencer a dificuldade: sentem-se então impulsos de descarregar a cólera sobre pessoas, animais ou coisas.

Distinguem-se duas formas principais: a cólera rubra ou expansiva nos fortes, e a cólera branca ou pálida, ou espasmódica nos fracos. 

Na primeira, bate o coração com violência e impele o sangue para a perife­ria: acelera-se a respiração, purpureia-se o rosto, incha o pescoço, dese­nham-se as veias sob a pele; eriçam-se os cabelos, faísca o olhar, saltam das órbitas as pupilas, dilatam-se as narinas, enrouquece a voz, entre­cortada, exuberante. 
Aumenta a força muscular, todo o corpo se disten­de para a luta, e o gesto irresistível fere, quebranta ou afasta violenta­mente o obstáculo. 

Na cólera branca, contrai-se o coração, torna-se a respiração difícil, cobre-se a face de palidez extrema, goteja a fronte suor frio, cerram-se as maxilas, guarda-se um silêncio impressionante; mas a agitação, contida no interior, acaba por estalar brutalmente, des­carregando-se por meio de golpes violentos.


2.º A ira, considerada como sentimento, é um desejo ardente de repelir e castigar um agressor.

A) Há uma cólera legítima, uma santa indignação, que não é senão o desejo ardente, mas radical, de infligir aos criminosos o justo castigo. 
Foi assim que Cristo Senhor Nosso entrou em justa cólera contra os vendilhões que com o seu tráfico contaminavam a casa de Seu Pai;

Para ser legítima, a cólera tem que ser:

a)  justa no seu objeto, não tendo em vista senão castigar a quem o merece e na medida em que o merece;
b)  moderada no seu exercício, não indo mais longe do que reclama a ofensa cometida e seguindo a ordem que demanda a justiça;
c)  caritativa na sua intenção, não se deixando arrastar a sentimen­tos de ódio, não procurando senão a restauração da ordem e a emenda do culpado. 


Qualquer destas condições que falte, haverá excesso repre­ensível. 
É sobretudo nos superiores e pais que a cólera é legítima; mas os simples cidadãos têm por vezes direito e dever de se deixarem infla­mar de cólera santa, para defenderem os interesses da cidade e impedi­rem o triunfo dos maus; é que, efetivamente, há homens que a doçura deixa insensíveis, e nada temem senão o castigo.
          
B) Mas a cólera, que é vício capital, é um desejo violento e imoderado de castigar o próximo, sem atender às três condições indica­das. Muitas vezes é a cólera acompanhada de ódio, que procura não somente repelir a agressão, mas ainda tirar dela vingança; é um senti­mento mais refletido, mais duradouro, e que por isso mesmo tem mais graves conseqüências.


3. ° A cólera tem graus:

a) ao princípio, é apenas um movimento de impaciência: mostra-se mau humor à primeira contrariedade, ao primeiro revés;

b) depois, é arrebatamento, que faz que um se irrite desmedidamen­te e manifeste o descontentamento com gestos desordenados;

c) às vezes, vai até à violência e traduz-se somente por palavras, mas até por golpes;

d) pode chegar ao furor, que é uma loucura passageira; o colérico nesse caso já não é senhor de si mesmo, mas deixa-se arrebatar a pala­vras incoerentes, a gestos tão desordenados que antes se diriam um verdadeiro acesso de loucura;

e) enfim, degenera por vezes em ódio implacável que não respira mais que vingança e vai até desejar a morte do adversário. Importa dis­cernir estes graus, para apreciar a sua malícia. 



Na Divina Comédia, Dante coloca a Ira no no Quinto Ciclo do Inferno, quem comete o pecado da Ira era atirado no Lago Estiges, e se agrediam violentamente tentando sair do lago que parecia um pântano.
Contudo tais pecadores nunca conseguiriam sair do lago e passariam a eternidade se agredindo dentro dele.
Já no Purgatório, Dante conta que os irados eram punidos no Terceiro Ciclo, onde viviam em meio a uma densa fumaça e cantavam o hino da misericórdia.
A fumaça seria uma alusão à "cegueira" causada pela Ira. 


Malícia da ira

Podemo-la considerar em si mesma e nos seus efeitos.

1. ° Em si mesma, pode sugerir ainda várias distinções:

A) Quando a cólera é simplesmente um movimento transitório de paixão, é de sua natureza pecado venial: porque então há excesso na maneira por que ela se exerce, neste sentido que ultrapassa a medida, mas não há, assim o supomos, violação das grandes virtudes da justiça ou da caridade. 
Há casos contudo em que é tal o excesso, que o coléri­co perde o domínio de si mesmo e se deixa arrastar a graves insultos contra o próximo. 
Se estes movimentos, posto que passionais, são deli­berados e voluntários, constituem falta grave; muitas vezes, porém, não passam de semi-voluntários.

B) A cólera, que chega a ódio e rancor, quando é deliberada e voluntária, é pecado moral de sua natureza, porque viola gravemente a caridade e muitas vezes a justiça. 
Mas, se o movimen­to de ódio não é deliberado, ou se não se lhe dá senão consentimento imperfeito não passará de leve a falta.


2. ° Os efeitos da cólera, quando não são reprimidos, são às vezes terríveis.

A) Sêneca descreveu-os em termos expressivos: atribui-lhes trai­ções, assassínios, envenenamentos, divisões intestinais nas famílias, dissensões e lutas civis, guerras com as suas funestas conseqüências. 
Ain­da quando não chega a tais excessos, é fonte dum sem-número de faltas, porque nos faz perder o senhorio de nós mesmos, e em particular per­turba a paz das famílias e cria inimizades tremendas.

B) Sob o aspecto da perfeição, é a ira, diz São Gregório, um grande obstáculo ao progresso espiritual. 
     É que, de fato, se a não repri­mimos, faz-nos perder:

    a sabedoria ou a ponderação;
    a amabilidade, que faz o encanto das relações sociais;
    a preocupação da justiça, porque a paixão impede de reconhecer os direitos do próximo;
    o recolhimento interior, tão necessário à união íntima com Deus, à paz da alma, à docilidade, às inspirações da graça. Importa, pois, en­contrar-lhe o remédio.


 Remédios contra a ira 

Estes remédios devem combater a paixão da cólera e o sentimento do ódio que às vezes dela resulta.

1. ° Para triunfar da paixão, não se deve descurar meio nenhum.

A) Há meios higiênicos, que contribuem para prevenir ou moderar a cólera: tais são um regime alimentício emoliente, banhos tépidos, duchas, abstenção de bebidas excitantes, e em particular das alcoólicas: por causa da união íntima entre o corpo e a alma, é mister saber moderar o mesmo corpo. 


B) Mas os remédios morais são ainda melhores.

a) Para prevenir a cólera, é bom acostumar-nos a refletir, antes de fazer qualquer coisa, para nos não deixarmos dominar pelos primeiros ímpetos da paixão: trabalho de longa duração, mas eficacíssimo.

b)  Quando esta paixão, a despeito de todas as cautelas, nos sobres­saltou o coração, «melhor é sacudi-la com presteza que querer negociar com ela; porque, por pouco lugar que lhe demos, se faz senhora de toda a praça, havendo-se como a serpente que introduz facilmente todo o corpo, por onde pode meter a cabeça... E mister, logo que a sentirdes, convocar prontamente vossas forças, não áspera nem impetuosamente, mas suave e ainda assim seriamente». 
Aliás, se quisermos reprimir a cólera com ímpeto, mais nos perturbaremos.

c)  Para melhor sofrear a ira, é útil divertir a atenção, isto é, pensar em qualquer coisa diversa do que a possa excitar; é necessário, pois, desterrar a lembrança das injúrias recebidas, afastar as suspeitas, etc.

d)  Devemos invocar o auxílio de Deus, quando nos vemos agita­dos pela cólera, à imitação dos Apóstolos, combatidos pelo vento e tem­pestade no meio do mar, porque Deus mandará às nossas paixões que sosseguem e sobrevirá grande tranquilidade.

Como ensina Isabel da Trindade, ''quando te sobreveêm estas agitações, imprevistos e contrariedades, desce para o mais fundo de ti, onde tens uma cela pequenina e onde sabes que Deus lá se encontra à tua espera,  descansa Nele e espera para Ele te instruir a seu tempo. Assim te acalmas, dás tempo ao tempo e não te deixas levar para fora de ti por movimentos coléricos e impetuosos que só danificam a tua alma e não te deixam avançar no caminho da salvação dela.''

          
2. ° Quando a cólera excita em nós sentimentos de ódio, ran­cor ou vingança, é impossível curá-los radicalmente com outro remédio que não seja a caridade fundada no amor de Deus. 
É caso, então, de nos lembrarmos que somos todos filhos do mesmo Pai celestial, incorpora­dos no mesmo Cristo, chamados à mesma felicidade eterna, e que estas grandes verdades são incompatíveis com qualquer sentimento de ódio. Assim pois:

a) Recordaremos as palavras do Pai-Nosso: perdoai-nos as nossas (dívidas), assim como nós perdoamos (aos nossos devedores); e como desejamos vivamente receber o perdão divino, de mais bom grado per­doaremos aos nossos inimigos.


b) Não esqueceremos os exemplos de Cristo Senhor Nosso, cha­mando a Judas Seu amigo, ainda no momento da traição, e orando do alto da cruz pelos próprios verdugos; e pedir-lhe-emos ânimo para es­quecer e perdoar.

c) Evitaremos pensar nas injúrias recebidas e em tudo que a elas se refira. 
Os perfeitos orarão pela conversão de quem os ofendeu, e encon­trarão nesta prece bálsamo suavíssimo para as feridas da sua alma.          

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