No início da Obra deve aparecer a necessária Putrefação onde os sete corpos passionais devem desaparecer, e com eles os sete pecados capitais, que escurecem a Alma e surgirem as sete Virtudes em seu lugar.
Eis aí as cabeças do Dragão do Apocalipse, em número de sete, que se opõem às sete Virtudes, quatro Cardeais (Prudência, Temperança, Justiça e Força), e três teologais (Caridade, Fé e Esperança).
É totalmente inútil tentar ir adiante se esta fase imprescindível não foi realizada.
De fato, não é possível fazer evoluir o Aspirante no sentido em que entendemos, se ele não consente em admitir, de uma vez por todas, que tudo o que ele tenha podido adquirir em leituras mal digeridas, ou em ensinamentos desconformes com a doutrina que ele deseja seguir e aplicar, não fará nada além de se opor a sua caminhada mística.
E sómente após ter purificado as ruínas do edifício originalmente degradado, o Aspirante poderá reiniciar sobre uma rota interiormente nova para ele.
AS SETE VIRTUDES
A Terra dos Filósofos: A Prudência
A Prudência é um princípio de ação moral que aperfeiçoa a razão prática do Homem, a fim de que em cada uma de suas ações ele disponha e ordene as coisas como lhe convém, ordenando a si mesmo (ou a todos cuja ação lhe seja subordinada e dependente), o que convém fazer a cada instante para a realização perfeita de cada Virtude.
Ela é constituída, em suas aplicações correntes, de diversos aspectos, a saber:
A - a lembrança de coisas passadas, ou memória;
B - a visão clara de princípios de ação, gerais ou particulares;
C - a reverência das coisas determinadas pelos sábios que nos precederam;
D - a sagacidade para descobrir o que seria impossível de perguntar subitamente aos outros;
E - o sadio exercício da razão, aplicado a cada ação;
F - a previdência, ou a determinação desejada no momento da ação, quanto à substância deste ato;
G - a circunspecção com respeito a tudo o que envolve o referido ato;
H - a precaução contra tudo o que poderia obstaculizar ou comprometer o resultado.
A Prudência é, apropriadamente falando, a virtude de comando:
.- comando de si próprio, ou prudência individual;
.- comando na família, ou prudência familiar;
.- comando na Sociedade, ou prudência real.
SALMO 142 -Para obter a virtude da Prudência
Senhor, ouvi a minha oração; pela Vossa fidelidade, escutai a minha súplica, atendei-me em nome de Vossa justiça.
Não entreis em juízo com o Vosso servo, porque ninguém que viva é justo diante de Vós.
O inimigo trama contra a minha vida, ele me prostrou por terra; relegou-me para as trevas com os mortos.
Desfalece-me o espírito dentro de mim, gela-me no peito o coração.
Lembro-me dos dias de outrora, penso em tudo aquilo que fizestes, reflicto nas obras de Vossas mãos.
Estendo para Vós os braços; minha alma, como terra árida, tem sede de Vós.
Apressai-Vos em me atender, Senhor, pois estou a ponto de desfalecer.
Não me oculteis a Vossa face, para que não me torne como os que descem à sepultura.
Fazei-me sentir, logo, Vossa bondade, porque ponho em Vós a minha confiança.
Mostrai-me o caminho que devo seguir, porque é para Vós que se eleva a minha alma.
Livrai-me, Senhor, de meus inimigos, porque é em Vós que ponho a minha esperança.
Ensinai-me a fazer Vossa vontade, pois sois o meu Deus.
Que Vosso Espírito de bondade me conduza pelo caminho recto.
Por amor de Vosso nome, Senhor, conservai-me a vida; em nome de Vossa clemência, livrai minha alma de suas angústias.
Pela vossa bondade, destruí meus inimigos e exterminai todos os que me oprimem, pois sou Vosso servo.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à Virtude da Prudência e é o Dom de Conselho.
Compreende-se, sob este nome, uma disposição superior e transcendente que aperfeiçoa a razão prática do Homem.
Esta disposição particular o deixa então pronto e dócil para receber o Espírito Santo (sem a procura particular), e tudo o que é necessário à iluminação final.
Essa mesma disposição vem em auxílio da razão humana, cada vez que ela é necessária.
Pois, mesmo provida das virtudes, adquiridas ou infundidas desde o nascimento, a razão humana está sempre sujeita a erros ou a surpresas (na infinita complexidade das circunstâncias que podem interessar sua ação), seja por ela mesma, seja por outrem.
E aí reside, na maioria das vezes, o conjunto das armadilhas que a virtude da Prudência permite evitar!
Como essencial ao desenvolvimento futuro, ela é a primeira a se adquirir, e antes de tudo o Dom de Conselho.
A Prudência e o Dom de Conselho se obtêm pela prática do Silêncio, que corresponde à Terra Filosófica.
O Silêncio é de dois tipos:
1 - Silêncio da língua: Consistindo na abstenção de falar senão "Para Deus", ou "com Deus", ou "Um outro como Deus", estas condições são solidárias. Entendemos por "um outro como Deus", o contato com o Mestre da assembléia celeste, sobre o qual retornaremos;
2 - Silêncio do Coração: Consistindo na rejeição de qualquer outro pensamento relativo a Seres ou Coisas criadas.
O Silêncio procura e conduz ao Conhecimento de Deus.
"Pensai em Deus mais seguidamente que tu respiras.", nos disse Epictète. É a primeira via do Aspirante.
O Silêncio eqüivale à Terra e à Prudência.
A Água dos Filósofos: A Temperança
A Temperança é uma virtude que mantém, em todas as coisas, a parte afetiva sensível ao comando da razão, a fim de que ela não se deixe levar pêlos prazeres que interessam mais particularmente aos cinco sentidos exteriores.
Ela se manifesta em diversos aspectos, a saber:
A - a continência, consistindo na escolha de não seguir os movimentos violentos da paixão;
B - a clemência, consistindo em moderar ou regrar, segundo a virtude da Caridade, um modo de corrigir o mal cometido por outros, e que a virtude da Justiça exige ver judiciosamente corrigido e expiado, coisas inelutavelmente necessárias;
C - a mansidão, consistindo em descartar o movimento interior de paixão pela justiça, o qual não seria nada além da Cólera;
D - a modéstia, consistindo em refrear, moderar ou regrar a parte afetiva em coisas menos difíceis que as precedentes (ou seja, o desejo de sua própria excelência, o desejo de conhecer o que não nos é imediatamente útil ou que é inútil para nossos fins, as ações e os movimentos exteriores do corpo carnal e, enfim, a ordem exterior), quanto à maneira de se comportar com relação à Virtude da Temperança.
SALMO 37 - Para obter a virtude da Temperança
Senhor, em Vossa cólera não me repreendais, em Vosso furor não me castigueis,
porque as Vossas flechas me atingiram, e desceu sobre mim a Vossa mão.
Vossa cólera nada poupou em minha carne, por causa de meu pecado nada há de intacto nos meus
ossos.
Porque minhas culpas se elevaram acima de minha cabeça, como pesado fardo me oprimem em demasia.
São fétidas e purulentas as chagas que a minha loucura me causou.
Estou abatido, extremamente recurvado, todo o dia ando cheio de tristeza.
Inteiramente inflamados os meus rins; não há parte sã em minha carne.
Ao extremo enfraquecido e alquebrado, agitado o coração, lanço gritos lancinantes.
Senhor, diante de Vós estão todos os meus desejos, e meu gemido não vos é oculto.
Palpita-me o coração, abandonam-me as forças, e me falta a própria luz dos olhos.
Amigos e companheiros fogem de minha chaga, e meus parentes permanecem longe.
Os que odeiam a minha vida, armam-me ciladas; os que me procuram perder, ameaçam-me de morte; não cessam de planejar traições.
Eu, porém, sou como um surdo: não ouço; sou como um mudo que não abre os lábios.
Fiz-me como um homem que não ouve, e que não tem na boca réplicas a dar.
Porque é em Vós, Senhor, que eu espero; Vós me atendereis, Senhor, ó meu Deus.
Eis meu desejo: Não se alegrem com minha perda; não se ensoberbeçam contra mim, quando meu pé resvala;
pois estou prestes a cair, e minha dor é permanente.
Sim, minha culpa eu a confesso, meu pecado me atormenta.
Entretanto, são vigorosos e fortes os meus inimigos, e muitos os que me odeiam sem razão.
Retribuem-me o mal pelo bem, hostilizam-me porque quero fazer o bem.
Não me abandoneis, Senhor. Ó meu Deus, não fiqueis longe de mim.
Depressa, vinde em meu auxílio, Senhor, minha salvação!
Um Dom do Espírito Santo corresponde à Virtude da Temperança, é o Dom do Temor.
O Dom do Temor consiste no fato de se ter presente, ante a Revelação Tradicional, uma imagem mais ou menos exata de Deus, com um santo respeito, em razão da excelência ou da bondade da Majestade Divina, da qual se tema afastar-se, por efeito de nossos erros e de nossas faltas.
Consiste, também, no fato de considerar, relativamente à excelência dos fins últimos que nos propõe a Revelação Tradicional, todas as coisas baixas vindas dos prazeres dos sentidos, como perfeitamente inexistentes ou perigosas.
A Temperança e o Dom do Temor se obtêm pela prática da Solidão.
A Solidão é o meio de assegurar o silêncio da língua.
Ela consiste no fato de:
1 - Evitar misturar-se materialmente a outros, à turba profana, a preocupações fúteis. Por isso o islã, que, em sua heresia Sufi, ensina a necessidade das quatro vias, separa os homens das mulheres na vida normal, assim como no manaquismo cristão de antigamente. Eis aí a primeira via do iniciado;
2 - Evitar interiormente o contato com Seres e Coisas deste Mundo, esta é a primeira via do Adepto.
Ela objetiva a três condições:
A - evitar o mal proveniente dos Homens;
B - evitar o mal que podemos fazer ao Próximo;
C - ter a companhia permanente do Mestre da Assembléia Celeste.
A Solidão procura o Conhecimento do Mundo.
Corresponde à Água e à Temperança.
O Ar dos Filósofos: A Justiça
A Justiça é uma virtude que tem por objetivo fazer reinar entre os Seres uma harmonia de relações, embaçada no respeito dos Seres entre si, e daquilo que constitui em diversos graus seus próprios bens, morais ou físicos, espirituais ou materiais.
Ela tem por objetivo principal regular nosso deveres em relação aos outros Seres.
Como tal, ela se distingue da Caridade, que é de um espírito diferente e menos submisso a normas limitadoras.
Ela faz reinar a paz e a ordem, tanto na vida individual, quanto na vida coletiva.
Aplica-se tanto aos bens corporais, quanto à dignidade espiritual e reputação do próximo.
SALMO 6 -Para obter a virtude da Justiça
Senhor, em Vossa cólera não me repreendais, em Vosso furor não me castigueis.
Tende piedade de mim, Senhor, porque desfaleço; sarai-me, pois sinto abalados os meus ossos.
Minha alma está muito perturbada; Senhor, até quando?...
Voltai, Senhor, livrai minha alma; salvai-me, pela Vossa bondade.
Porque no seio da morte não há quem de Vós se lembre; quem Vos glorificará na habitação dos mortos?
Eu me esgoto gemendo; todas as noites com lágrimas inundo o meu leito.
De amargura meus olhos se turvam, esmorecem por causa dos que me oprimem.
Apartai-vos de mim, vós todos que praticais o mal, porque o Senhor atendeu às minhas lágrimas.
O Senhor escutou a minha oração, o Senhor acolheu a minha súplica.
Que todos os meus inimigos sejam envergonhados e aterrados; recuem imediatamente, cobertos de confusão!
Um Dom do Espírito Santo corresponde à Virtude da Justiça, é o Dom da Piedade.
A Piedade consiste numa disposição habitual da vontade, que faz com que o Homem esteja apto a receber a ação direta e pessoal do Espírito Santo, levando-o a tratar Deus, Causa Primeira, considerado nos mais longínquos mistérios de sua vida divina, como um "pai" ou um "chefe" terna e filialmente reverenciado, servido e obedecido.
Igualmente, a tratar todos os homens da mesma forma com que trata outras Criaturas racionais (Anjos, Espíritos, Demônios), em suas relações exteriores com elas, de acordo com o Bem Divino e Superior que as une em diversos graus, à Causa Primeira como ao pai da grande família divina.
O Dom da Piedade é seguramente aquele que coloca o selo mais perfeito nas relações exteriores que os homens podem ou devem ter, seja entre eles, seja com Deus.
É o coroamento da virtude da Justiça e de todos os seus anexos.
A Justiça e o Dom da Piedade se obtêm pela prática do Jejum.
A Fome, ou o Jejum, consiste na redução do alimento, e isto leva à diminuição natural das necessidades deste gênero.
Ela deve ser assegurada através do espírito da pobreza, da modéstia, da docilidade, da calma, da pureza.
Que o Aspirante tome como exemplo o jejum de todos os grandes profetas e missionários da Escritura, e particularmente do jejum de quarenta dias, nas terríveis solidões do deserto de Judá, no fim do qual, ao Cristo apareceu o Príncipe das Trevas e lhe testou através de sua tripla tentação (Mateus, Evangelho, IV), ou ainda o insucesso dos Apóstolos na cura de um endemoninhado, e de seu recurso a Cristo, o qual lhes explicou que certos tipos de Demônios somente são expulsos através de jejum.
A Fome procura com efeito o Conhecimento de Satã.
Ela eqüivale ao Ar, do qual ele é o Príncipe, e à Justiça.
O Fogo dos Filósofos: A Força
A Força é uma virtude que tem por objetivo a perfeição, de ordem moral, da parte afetiva sensível no Homem.
Ela consiste em lutar contra os maiores temores, e, também, moderar os movimentos de audácia mais atrevidos, a fim de que o Homem, nestas ocasiões, não se desvie jamais de seu dever.
Ela se manifesta em diversos aspectos, que são:
A - a magnanimidade, consistindo em fortalecer a esperança, no sentido das obras grandes e belas, que desejaria concluir;
B - a magnificência, consistindo em uma disposição da parte afetiva, que fortalece ou regra o mecanismo da esperança, em relação ao que é árduo e custoso de concluir;
C - a paciência, que é apropriada para suportar com estoicismo, em vista da Reintegração final, todas as tristezas que possam nos vir na vida presente, e também, suportar mais particularmente a intervenção hostil dos outros homens em suas relações conosco, ou ocasionalmente, aquelas do Espírito do Mal;
D - a perseverança, que consiste em combater o medo da duração de um esforço em direção ao Bem, ou seu fracasso.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à virtude da Força, é o Dom da Coragem.
SALMO 50 -Para obter a virtude da Força
Tende piedade de mim, Senhor, segundo a Vossa bondade.
E conforme a imensidade de Vossa misericórdia, apagai a minha iniqüidade.
Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado.
Eu reconheço a minha iniqüidade, diante de mim está sempre o meu pecado.
Só contra Vós pequei, o que é mau fiz diante de vós.
Vossa sentença assim se manifesta justa, e recto o vosso julgamento.
Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado.
Não obstante, amais a sinceridade de coração.
Infundi-me, pois, a sabedoria no mais íntimo de mim.
Aspergi-me com um ramo de hissope e ficarei puro.
Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve.
Fazei-me ouvir uma Vossa palavra de gozo e de alegria, para que exultem os ossos que triturastes.
Dos meus pecados desviai os olhos, e minhas culpas todas apagai.
Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza.
De Vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de Vosso santo Espírito.
Restituí-me a alegria da salvação, e sustentai-me com uma vontade generosa.
Então aos maus ensinarei Vossos caminhos, e voltarão a Vós os pecadores.
Deus, ó Deus, meu salvador, livrai-me da pena desse sangue derramado, e a Vossa misericórdia a minha língua exaltará.
Senhor, abri meus lábios, a fim de que minha boca anuncie Vossos louvores.
Vós não Vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu Vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis.
Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar.
Senhor, pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, reconstruí os muros de Jerusalém.
Então aceitareis os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; e sobre Vosso altar vítimas Vos serão oferecidas.
Mas ainda que a virtude deste nome não lembre senão os obstáculos e os perigos que estão ao alcance do Homem sobrepujar ou a eles sucumbir, o dom correspondente do Espírito Santo se endereça aos perigos e às maldades, cujo sobrepujar não está em poder apenas do Homem.
Assim, o Dom da Coragem permite-lhe suplantar a dor que acompanha a separação, própria da Morte, de todos os bens e alegrias da vida presente, sem dar, por ele mesmo, o único bem superior que as compensaria e preencheria sua ausência ad infinitum, a saber da Reintegração e da Vida eterna que dela decorre.
Esta substituição efetiva, fácil e desejada, da Reintegração em lugar de todos os males e misérias da vida terrestre, apesar das dificuldades e dos perigos que possam se pôr no caminho do Homem que marcha em direção ao Objetivo Supremo (aí compreendida a própria Morte, que resume a todos), é obra exclusiva do Espírito Santo, de sua ação própria.
E segundo o Dom da Coragem, que o Homem é, então, amadurecido pelo Espírito Santo.
Se bem que o objetivo essencial desse dom seja, de fato, a vitória do Homem sobre a Morte e sobre todos os terrores que ela inspira.
A Força e o dom da Coragem, se obtêm pela prática da Vigília.
A Vigília é fruto do jejum, pois a fome expulsa o sono inútil, na maioria das vezes entorpecido por uma alimentação excessiva.
Ora, os contatos entre o Homem e as Assembléias Celestes não podem se realizar com êxito a não ser durante o Sono, quando há um tipo de desdobramento da Alma fora do Corpo.
O sono suscetível de liberar a Alma é aquele que tem lugar durante um importante jejum.
Mas nossa Vigília tem outros objetivos.
Há dois tipos de Vigília:
A - A Vigília do Coração, a qual busca instintivamente a contemplação;
B - A vigília do Olho (visão), que realiza e objetiva aquela no Coração (Templo interior e Ovo Filosófico), onde a fixa.
A Vigília procura o Conhecimento da Alma.
A vigília tem por objetivo a Meditação.
Ela é uma espécie de processo de reflexão em diversos temas particularmente importantes para o gnóstico: o problema do Mal, estudo dos mistérios divinos, das relações entre Deus e o Homem, etc...
Ela tem por elementos de base a razão, a consideração de elementos do problema e de seus argumentos.
Ela repousa, necessariamente, sobre um perfeito conhecimento de textos sagrados tradicionais, sobre uma comparação justa e razoável dos argumentos analisados.
Ela constitui a meditação discursiva, e deve sempre ser precedida de uma Oração que tem por objetivo entrar em contato com planos superiores.
Esta Oração constitui a meditação purgativa.
O Sal Princípio: A Caridade
A Caridade é uma virtude que nos eleva a uma vida de comunicações, primeiramente com as Potências Celestes intermediárias, depois, com o próprio Plano Divino, segundo sejamos merecedores e dignos de tal comunicação.
A Caridade considerada sob o aspecto de contato, de comunicação mística, supõe em nós duas coisas:
A - Uma participação de Natureza Divina que, divinizando nossa própria natureza, nos elevará, a despeito de toda a ordem natural, seja humana, seja angélica (acima do mundo inicial de manifestação da Criação), até a ordem que é própria de Deus, fazendo de nós deuses (deuses secundários, evidentemente), e nos introduzindo em sua intimidade. Donde a frase do Salmo: "Deus se levanta na Assembléia Celeste, em meio aos deuses ele julga..." (SL. 82), e aquela do Evangelho: Eu vos digo: vós sois deuses..." (João, X, 34);
B - Princípios de ação, proporcionando por este estado divino, que nos põe em condições de agir como verdadeiros agentes secundários, filhos de Deus, como o próprio Deus age, conhecendo como ele conhece, amando como ele ama, alegrando-se como ele se alegra.
Estas duas realizações místicas estão intimamente ligadas à presença, na Alma do Adepto, da Caridade absoluta.
A Caridade absoluta decorre de um ato de amor total, pelo qual o homem deseja de Deus esse Bem infinito que a Fé lhe revelou, e que ele deseja, para si e para os outros Homens, este Bem que é inseparável de Deus.
SALMO 101 - Para obter a virtude da Caridade.
Senhor, ouvi a minha oração, e chegue até Vós o meu clamor.
Não oculteis de mim a Vossa face no dia de minha angústia. Inclinai para mim o Vosso ouvido.
Quando Vos invocar, acudi-me prontamente,
porque meus dias se dissipam como a fumaça, e como um tição consomem-se os meus ossos.
Queimando como erva, meu coração murcha, até me esqueço de comer meu pão.
A violência de meus gemidos faz com que se me peguem à pele os ossos.
Perdi o sono e gemo, como pássaro solitário no telhado.
Insultam-me continuamente os inimigos, em seu furor me atiram imprecações.
Como cinza do mesmo modo que pão, lágrimas se misturam à minha bebida, devido à Vossa cólera indignada, pois me tomastes para me lançar ao longe.
Os meus dias se esvaecem como a sombra da noite e me vou murchando como a relva.
Vós, porém, Senhor, sois eterno, e Vosso nome subsiste em todas as gerações.
Levantai-Vos, pois, e sede propício a Teu servo; é tempo de compadecer-Vos dele, chegou a hora...
As nações pagãs reverenciarão o Vosso nome, Senhor, e os reis da terra prestarão homenagens à Vossa glória.
Quando o Senhor tiver reconstruído Sião, e aparecido em sua glória, quando ele aceitar a oração dos desvalidos e não mais rejeitar as suas súplicas, escrevam-se estes fatos para a geração futura, e louve o Senhor o povo que há de vir, porque o Senhor olhou do alto de seu santuário, do céu ele contemplou a terra;
para escutar os gemidos dos cativos, para livrar da morte os condenados;
para que seja aclamado em Sião o nome do Senhor, e em Jerusalém o seu louvor,
no dia em que se hão de reunir os povos, e os reinos para servir o Senhor.
Deus esgotou-me as forças no meio do caminho, abreviou-me os dias.
Meu Deus, peço, não me leveis no meio da minha vida, Vós cujos anos são eternos.
No começo criastes a terra, e o céu é obra de vossas mãos.
Um e outro passarão, enquanto Vós ficareis. Tudo se acaba pelo uso como um traje. Como uma veste, vós os substituís e eles hão de sumir.
Mas Vós permaneceis o mesmo e Vossos anos não têm fim.
Os filhos de Vossos servos habitarão seguros, e sua posteridade se perpetuará diante de Vós.
A Caridade comporta certos aspectos secundários:
1 - A Misericórdia, que faz com que se compadeça com a miséria dos Seres, em todos os aspectos ontológicos da vida, e que se sinta esta miséria e esse sofrimento a seus mesmos, a ponto de sofrê-los, real e intimamente;
2 - A Beneficência, que faz com que se estejamos, imediatamente e sempre, prontos a impedir o mal e a facilitar o bem, tanto no domínio espiritual quanto no domínio material. O Homem, ser dotado de uma consciência que não participa em seus próprios compromissos, não saberia em efeito nem ignorar o mal e o bem, mesmo conhecendo os dois, pretende situar-se "além" de um e de outro, ou seja, iludir suas próprias responsabilidades.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à virtude da Caridade, é o Dom da sabedoria que não deve ser confundido com a virtude sublimal de mesmo nome.
O Dom da sabedoria (que não é, pois, A Sabedoria) faz com que o Homem, sob a ação oculta do Espírito Santo, julgue todas as coisas por sua inteligência, tomando como norma ou como regra própria de seus julgamentos, a mais alta e mais sublime de todas as Causas que é a própria Sabedoria Divina, tal qual ela tem se dignado a manifestar-se a nós pela Fé.
A Caridade corresponde, na vida iniciática, ao voto de Pobreza que é o primeiro postulado, que faz com que desprezemos os bens, as honras e as alegrias deste Mundo inferior.
É pelo voto de Pobreza que obtemos igualmente o Dom da sabedoria.
O Mercúrio Princípio: A Esperança
A Esperança é uma virtude que faz com que nossa vontade, apoiada sobre a ação divina, nos conduza para Verdades Eternas, que a Fé nos tem revelado, como aquilo que pode e deve ser um dia nossa iluminação total.
Esta virtude é absolutamente inacessível sem a Fé que ela pressupõe necessariamente, pois é somente a Fé que dá à Esperança o objetivo e o motivo sobre a qual ela se apoia.
SALMO 129 -Para obter a virtude da Esperança
Do fundo do abismo, clamo a Vós, Senhor;
Senhor, ouvi minha oração. Que Vossos ouvidos estejam atentos à voz de minha súplica.
Se tiverdes em conta nossos pecados, Senhor, Senhor, quem poderá subsistir diante de Vós?
Mas em Vós se encontra o perdão dos pecados, para que, reverentes, Vos sirvamos.
Ponho a minha esperança no Senhor. Minha alma tem confiança em Sua palavra.
Minha alma espera pelo Senhor, mais ansiosa do que os vigias pela manhã.
Mais do que os vigias que aguardam a manhã, espere Israel pelo Senhor, porque junto ao Senhor se acha a misericórdia; encontra-se Nele copiosa redenção.
E Ele mesmo há de remir Israel de todas as suas iniqüidades.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à virtude da Esperança, é o Dom da Ciência.
A Ciência sob a ação do Espírito Santo, deve poder julgar com uma certeza absoluta e uma verdade infalível (não usando aqui o procedimento natural da razão, mas instintivamente e de forma absolutamente intuitiva), o verdadeiro caráter das coisas criadas em suas relações com aquelas da Esperança segundo devam elas ser admitidas e professadas, ou devam servir de objetivo à nossa conduta, sabendo assim imediatamente o que, no Mundo material, está em harmonia com as Verdades Eternas ou, ao contrário, em oposição.
A Esperança corresponde, na via iniciática, ao voto de Castidade (que não é, segundo o casamento cristão, a continência sexual).
O voto de Castidade que é seu primeiro postulado, permite ao Homem libertar-se pouco a pouco da escravidão dos sentidos, assim como ao casal humano ordinário, de trabalhar, de maneira natural e legítima, na perpetuação das formas da Espécie, sem depravar-se mutuamente.
É também pelo voto de Castidade que obtemos o Dom da Ciência.
O Enxofre Princípio: A Fé
A Fé é uma virtude que faz com que nossa inteligência se una, muito firmemente e sem receio de enganar-se mesmo que ela não perceba de forma inteligível, a tudo o que lhe chega pelo Canal da Revelação Tradicional, notadamente sobre Deus, sobre a sua vontade de comunicar ao homem a Reintegração como objetivo de seu derradeiro fim, sobre a existência de um Mundo invisível, do qual este aqui não é senão o reflexo imperfeito e invertido.
SALMO 31- Para obter a virtude da Fé
Feliz aquele cuja iniqüidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido.
Feliz o homem a quem o Senhor não argúi de falta, e em cujo coração não há dolo.
Enquanto me conservei calado, mirraram-se-me os ossos, entre contínuos gemidos.
Pois, dia e noite, Vossa mão pesava sobre mim; esgotavam-se-me as forças como nos ardores do verão.
Então eu Vos confessei o meu pecado, e não mais dissimulei a minha culpa.
Disse: Sim, vou confessar ao Senhor a minha iniqüidade. E Vós perdoastes a pena do meu pecado.
Assim também todo fiel recorrerá a Vós, no momento da necessidade.
Quando transbordarem muitas águas, elas não chegarão até ele.
Vós sois meu asilo, das angústias me preservareis e me envolvereis na alegria de minha salvação.
Vou te ensinar, dizeis, Vou te mostrar o caminho que deves seguir;
Vou te instruir, fitando em ti os meus olhos:
Não queiras ser sem inteligência como o cavalo, como o muar, que só ao freio e à rédea submetem seus ímpetos; de outro modo não se chegam a ti.
São muitos os sofrimentos do ímpio.
Mas quem espera no Senhor, Sua misericórdia o envolve.
Ó justos, alegrai-vos e regozijai-vos no Senhor.
Exultai todos vós, rectos de coração.
Um Dom do Espírito Santo correspondente à Fé, é o Dom da inteligência que não devemos confundir com uma das duas virtudes Sublimais deste nome.
O Dom da inteligência (que não é A Inteligência) ajuda a virtude da Fé no conhecimento da verdade divina, fazendo com que o Espírito do Homem, sob a ação do Espírito Santo, penetre o sentido dos termos que comportam as afirmações da Revelação Tradicional, de todas as proposições que possam levá-lo a compreendê-los de forma plena, ou ao menos (no caso dos mistérios profundos), poder aproximá-los, mas conservando intacta toda sua importância.
A Fé corresponde, na via iniciática, ao voto de Obediência que é seu primeiro postulado, e permite obter o Dom da Inteligência.
As duas Virtudes Sublimais
A Prata dos Sábios: A Inteligência
A Inteligência é o atributo daquilo que corresponde à visão, à intuição, à penetração e à informação.
Como tal, a Inteligência é portanto o conhecimento (gnose) das Coisas Divinas Absolutas a Ciência do Bem e do Mal.
É ela que nos dá o discernimento dos Espíritos, a possibilidade de perceber, sob as espécies ou obje-tos materiais, aquilo que os relaciona aos pólos opostos do Bem e do Mal, da Luz e das Trevas.
Salmo 25 – Pedir a Inteligência
Fazei-me justiça, Senhor, pois tenho andado rectamente e, confiando em Vós, não vacilei.
Sondai-me, Senhor, e provai-me; escutai meus rins e meu coração.
Tenho sempre diante dos olhos Vossa bondade, e caminho na Vossa verdade.
Entre os homens iníquos não me assento, nem me associo aos trapaceiros.
Detesto a companhia dos malfeitores, com os ímpios não me junto.
Na inocência lavo as minhas mãos, e conservo-me junto de Vosso altar, Senhor,
para publicamente anunciar Vossos louvores, e proclamar todas as Vossas maravilhas.
Senhor, amo a habitação de Vossa casa, e o tabernáculo onde reside a Vossa glória.
Não leveis a minha alma com a dos pecadores, nem me tireis a vida com a dos sanguinários,
cujas mãos são criminosas, e cuja destra está cheia de subornos.
Eu, porém, procedo com retidão. Livrai-me e sede-me propício.
Meu pé está firme no caminho recto; nas assembléias, bendirei ao Senhor.
Ela nos faz penetrar o sentido oculto das palavras, o esoterismo dos textos, sua significação superior, e mais particularmente o sentido profundo das escrituras cristãs, ou dos Livros Santos de outras religiões.
Ela nos faz perceber, sob as aparências as realidades espirituais e nos reflexos imperfeitos deste mundo, as realidades celestes deformadas ou veladas.
A Inteligência nos mostra os efeitos na causa, por exemplo, no sangue de Cristo, derramado no Calvário, a purificação de nossa Alma e nossa reconciliação.
E no flanco perfurado do Cristo, ela nos revela a fonte invisível e única dos Sacramentos essenciais.
A Virtude Sublimal da Inteligência está relacionada com o Dom da Integridade.
O Dom da Integridade comporta três privilégios: a ciência infusa, o domínio das paixões, a imortalidade do corpo.
Esta Virtude nos mostra as Realidades Eternas atingidas pela Fé sob uma clareza tal que, sem no entanto compreendê-las sempre de forma total, ela nos fortalece em nossa certeza, não mais intuitivamente como pela Fé, mas por um tipo de visão intuitiva e subconsciente.
Em um grau superior, ela nos dá uma visão parcial de Deus, não revelando-a totalmente, o que é impossível, mas nos fazendo compreender com uma certeza absoluta o que Ele não poderia ser.
A Inteligência nos revela então, o que Denys o Aéropagita denominava a "treva divina".
O Ouro dos Sábios: A Sabedoria
A Sabedoria consiste na escolha do melhor entre as coisas acessíveis à Inteligência.
A Sabedoria pressupõe a Inteligência, e opera nesta apenas por eliminação.
Ela é a submissão espontânea, inteligente e compreensiva, a um bem que ela percebe como dominante, como tal, é uma discriminação entre o Bem e o Mal, a Ciência desses dois opostos.
Salmo 18 – Pedir Sabedoria
Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de Suas mãos.
Nos confins do mundo aí armou Deus para o sol uma tenda.
E este, qual esposo que sai do seu tálamo, exulta, como um gigante, a percorrer seu caminho.
Sai de um extremo do céu, e no outro termina o seu curso; nada se furta ao seu calor.
A lei do Senhor é perfeita, reconforta a alma; a ordem do Senhor é segura, instrui o simples.
Os preceitos do Senhor são rectos, deleitam o coração; o mandamento do Senhor é luminoso, esclarece os olhos.
O temor do Senhor é puro, subsiste eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros, todos igualmente justos.
Mais desejáveis que o ouro, que uma barra de ouro fino; mais doces que o mel, que o puro mel dos favos.
Ainda que Vosso servo neles atente, guardando-os com todo o cuidado;
Quem pode, entretanto, ver as próprias faltas? Purificai-me das que me são ocultas.
Preservai, também, Vosso servo do orgulho; não domine ele sobre mim, então serei íntegro e limpo de falta grave.
Aceitai as palavras de meus lábios e os pensamentos de meu coração, Senhor, minha rocha e meu redentor.
Se a Inteligência é o Conhecimento total, a Sabedoria é, portanto, a utilização que dele se faz.
È, de qualquer forma, um aspecto superior, por ser resultado da ação da Fé e da Caridade.
A Sabedoria nos faz julgar todas as coisas segundo a mais alta das Causas, da qual todas as outras dependem, e ela mesma não depende de nenhuma.
É, então, por tal virtude que o Adepto pode atingir o mais alto grau de conhecimento acessível ao ser humano neste mundo, visto que esse conhecimento não reside apenas em um fenômeno de percepção geral (como na Inteligência, Ciência do Bem e do Mal), mas em um fenômeno de percepção particular, que é, de fato, a Ciência apenas do Bem, de seu conhecimento absoluto.
E igualmente, é a Caridade que está na base do nascimento da Sabedoria em nós.
Em efeito, a Caridade absoluta, nós já vimos, surge de um ato de amor total, pelo qual o Homem deseja de Deus, esse Bem infinito que a Fé lhe fez conhecer, e que ele deseja para si mesmo e para todos os outros Seres, Bem esse, inseparável de Deus.
A partir de então, não buscando senão esse Bem, tendo-o compreendido e definido, ele não poderá mais confundi-lo com seu oposto, e, em tudo o que possa arrastar sua inteligência das coisas, de sua visão de todas as "possibilidades" em Deus, é este ato de amor total que lhe servirá de pedra de toque.
A Sabedoria será o filtro de ação da sua inteligência.
A Virtude Sublimal da Sabedoria está relacionada com o Dom da Graça.
O Dom da Graça comporta a união com Deus, sua descida em nós.
A VIRTUDE DIVINA
Fazendo uma harmoniosa e perfeita síntese
das duas Virtudes Sublimais precedentes, a Inteligência e a Sabedoria , o Adepto alcança a Divinização e a Iluminação, a Virtude da Luz Divina.
É, pois, necessário que o exercício destas duas Virtudes Sublimais
seja perfeitamente sincronizado.
Em uma palavra, nunca deve haver hesitação,
nunca alguma dúvida.
Trata-se de fato da
Infalibilidade espiritual.
Encontramo-nos em presença de um ser que se tornou sobre-humano,
aquilo que os meios religiosos designariam pelo termo de santo.
A Divinização corresponde, na vida
iniciática cotidiana, ao que alguns chamam de Abandono.
Realmente, o termo Renúncia seria de melhor escolha.
Primeiramente ele consiste na renúncia aos bens exteriores, aos títulos, às
possessões, o que é igualmente uma renúncia de si mesmo, e convém agora
desligar-se de si, do terrível instinto de conservação.
Sacrificar-se por outro
é então uma coisa que deve parecer totalmente natural ao Adepto.
Enfim, esta
Renuncia, a morte do velho homem, é um ato que fere irremediavelmente a
natureza inferior e atrofia as suas más tendências; o Adepto está então maduro
para sacrificar-se pelo Ideal Comum.
O Adepto põe sua alma em um perfeito estado passivo
deixando suas faculdades superiores aptas para serem livremente penetradas pelo
Absoluto, indefinido e incomunicável, bem como intraduzível, ele está apto a
ser inundado pela Luz Interior.
Então, no centro da alma do Adepto, lá onde as faculdades
superiores se fundem em uma coisa única, lá reina então uma soberana
tranqüilidade e um perfeito silêncio, pois jamais qualquer imagem perturbadora
consegue aí chegar.
É nesse ―centro da alma--- donde se dissimula a imagem do
Absoluto, é lá que aos poucos o Adepto realizará a sua própria divinização usando as técnicas da Teurgia pelas quais
o homem pode realizar esse ato de transferência do divino sobre si próprio,
esta transelementação pela qual o Adepto se divinizava progressivamente.
OS SETE PECADOS
1 - A AVAREZA
A Avareza levará o místico errante a um isolamento total e estéril. Ele acumulará livros e manuscritos, documentos e iniciações, mas não conceberá jamais que possa ser ele próprio um simples instrumento de transmissão.
Às filiações iniciáticas que porventura a ele se ligarem, fracionar-las-á, multiplicando as provas, os graus, as classes, no único intuito de retardar o máximo possível, o instante em que estará na obrigação de concluir seu próprio papel e do discípulo de ontem, fazer seu igual hoje, e talvez seu superior amanhã.
A Avareza é o contrário da Prudência, seu excesso mesmo.
2 - A GULA
A Gula levará nosso Ocultista a devorar sem nenhuma medida todos os documentos, livros, tratados, esquemas, que lhe sejam acessíveis.
As doutrinas mais estranhas, os ensinamentos mais disparatados, tantas misturas que não o repugnarão.
Ávido de tudo o que favoreça sua curiosidade e seu apetite de conhecimentos, ele deglutirá tudo, valha o que valha, e , desta estranha mistura, se o Orgulho aí se mescla, ele tentará extrair uma doutrina pessoal que lhe assegure completar, em realidade modificar, as Tradições iniciais que ele tenha pilhado e misturado.
Se, pelo contrário, é a Preguiça, que vem se misturar a seu apetite, o próprio excesso de seus conhecimentos disparatados, mal digeridos por um espírito preguiçoso, o fará um dia, subitamente, retornar ao materialismo, no qual ele desejará repousar.
A Gula é a contrária da Temperança.
3 - A LUXÚRIA
A Luxúria introduzirá um certo sensualismo nos domínios iniciáticos onde nosso Ocultista será levado a trabalhar.
Ele será, a prior, hostil a doutrinas muito espirituais ou muito ascéticas, e sustentará a necessidade de conviver, de forma bastante liberal, com as exigências da natureza humana inferior.
As religiões e as doutrinas onde a sexualidade cumpre um papel (tantrismo, gnosticismo licencioso, magia sexual, etc...), encontrarão nele um defensor. Para ele, uma organização iniciática mista será sempre muito superior a uma organização exclusivamente masculina ou feminina!
Mas sobretudo, este defeito se exercerá no terreno da facilidade. Ele transmitirá, inconsideravelmente, as iniciações e os ensinamentos dos quais for depositário, para suplicantes inadaptados, ou estranhos a essa corrente.
Cederá facilmente os segredos iniciáticos aos indivíduos do sexo oposto, em troca de seus favores! Enfim, como para as fornicações e para adultério espirituais, ele se fará sectário de doutrinas, de iniciações, de cerimônias, muitas vezes diametralmente opostas.
Ele não hesitará, seu interesse ou seu prazer, visto que sua simples curiosidade o incitará a voltar-se para correntes inferiores tão logo ele perceba que as Forças Superiores não lhe servirão de nada em tais domínios.
A Luxúria é oposta à Justiça.
4 - A PREGUIÇA
A Preguiça levará o Aspirante errante para uma espécie de quietismo que lhe fará considerar a perfeição no banal amor de Deus, na inação da Alma, e na ausência de toda obra exterior, nada mais.
Ele ficará indiferente aos sofrimentos dos Seres à sua volta, se ele os percebe, nada fará para aliviá-los, estimando que os males aos quais estão submetidos são resultados proporcionais aos seus erros passados.
Enfim, ele se desinteressará de si mesmo, entregando-se à Providência para facilitar seu acesso à perfeição moral, e considerará a ignorância como um caminho tão seguro quanto o Conhecimento.
A Preguiça se opõe à força.
5 - A INVEJA
A Inveja levará o pseudo-iniciado a desejar, não somente os primeiros lugares e as falsas honras, mas também não hesitará em retardar e, muitas vezes, impedir o avanço de outro, se ele vê neste outro uma superioridade que possa eclipsar a sua.
Ele manterá o abafador sobre as doutrinas, ensinamentos, livros e documentos suscetíveis de prejudicar seus interesses.
Ele não deixará de querer possuir tudo o que os outros possuem, considerando como uma ofensa haver algo que ele não possa ter, mesmo se ele estiver decidido a não se servir disso, tendo em vista que tal coisa lhe é intelectualmente oposta.
A Inveja se opõe à Caridade.
6 - A IRA OU CÓLERA
A Cólera se manifestando no Aspirante, faz com que ele perca o controle de si mesmo.
Seu autoritarismo e sua atividade exacerbada não lhe permitirão admitir que seus semelhantes sejam mais bem aquinhoados que ele.
Seus julgamentos serão tão prematuros quanto definitivos, e sua impaciência o levará a tratar com rudeza os fracos, os ignorantes.
E se ele tiver a infelicidade de ser odioso (forma mais tenebrosa ainda de inveja), seus pseudo-conhecimentos poderão fazer dele um mago negro.
A Cólera se opõe à Esperança.
7 - O ORGULHO
É denominado pai de todos os Vícios, com Justa razão. Em nosso ocultista incipiente, o Orgulho levará a se imaginar moralmente superior a todo o profano, porque intelectualmente ele é mais rico.
Ele se imaginará, vaidosamente, possuidor de segredos e de ensinamentos que foram revelados somente a ele, imaginar-se-á predestinado a uma preeminência certa, justificada por seus méritos.
Além disso, afirmará seguidamente ter sido este ou aquele personagem importante ou célebre em pseudo-vidas anteriores.
De todo este clima, ele adquirirá um sólido e orgulhoso desprezo por aquilo que chama de humanidade, e estará na impossibilidade de perceber, seguidamente dissimuladas na banalidade destas existências modestas, Almas de elite mil vezes superiores a sua.
Em resumo, no Passado, no Presente e no Futuro, ele é aquele a quem tudo é devido e que, por conseqüência, pode tudo exigir.
O Orgulho se opõe à Fé.
Sete Vícios duplicam os sete Pecados Capitais e, são deles, uma espécie de frutos.
Hei-los: a Imprudência, fruto da Avareza; a Intemperança, fruto da Gula; a Injustiça, fruto da Luxúria; a Covardia, fruto da Preguiça; o Ódio, fruto da Inveja; a Presunção, fruto da Cólera; a Ignorância, fruto do Orgulho.
Portanto, o Homem é punido por onde ele peca...
Trataremos agora as duas Virtudes Tenebrosas (Cegueira-Ignorância e Erro), que se opõem às duas Virtudes Sublimais (Inteligência e Sabedoria), evocadas no capítulo precedente.
Como vimos, a Cegueira ou Ignorância se opõem à Inteligência, e o Erro à Sabedoria.
8 - A CEGUEIRA OU IGNORÂNCIA
Esta Potência Tenebrosa tira o discernimento dos Espíritos, coloca-nos na impossibilidade de perceber, dentre as espécies ou objetos materiais, aquele que se referem aos pólos opostos do Bem e do Mal, da Luz e das Trevas.
Ela nos obtura o sentido oculto das palavras, nos vela irremediavelmente o esoterismo e o sentido superior dos textos, nos faz preferir a letra que mata ao espírito que vivifica. Particularmente, ele nos impede de acessar ao sentido profundo das Escrituras cristãs, ou de qualquer Livro Santo, quando se trata de outra religião.
De fato, ela reina absoluta na Alma de todo materialista, de todo ateu, quando eles assim o são por um ato deliberado de sua vontade, e também por uma descida progressiva em direção à Cegueira ou Ignorância, em conseqüência de um deixar-se levar consciente.
Ela nos vela as realidades espirituais dissimuladas sob as aparências, e se pode dizer que, por ela, as Verdades Eternas tornam-se inacessíveis ao Homem errantes.
9 - O ERRO
Esta Potência Tenebrosa nos leva à confusão interior, nos tira o sentido do Bem e do Mal, do Justo e do Injusto, do Belo e do Feio. Nestes domínios, toda discriminação desaparece pouco a pouco. Ela se torna mais grave quando nos obscurece o sentido do verídico e do autêntico em matéria religiosa.
Pelo Erro, o Aspirante perdido não está mais em condições de perceber o que lhe é útil, e então a Alma caminha em direção às Trevas espirituais, dificilmente pode vislumbrar um retorno por seus próprios meios.
Na impossibilidade de distinguir o que ele perdeu, a aptidão de apreciar claramente a situação, o Aspirante perdido tomará facilmente o Mal pelo Bem, e imaginará, obstinadamente estar no caminho da Luz, mesmo estando no das Trevas. É na Alma do satanista ou do luciférico que esta Potência Tenebrosa brilha e irradia-se com maior amplitude.
A TREVA ESPIRITUAL
Fazendo uma junção das duas Virtudes Tenebrosas precedentes, a Cegueira e o Erro, o homem alcança a Treva ou Loucura Espiritual.
Este Vício Capital consiste, pois, no exato contrário da
Iluminação, quer dizer, na manifestação conjunta, sincronizada, da Cegueira e
do Erro.
Nele, o pobre homem acede ipso facto a pseudo leis
científicas, a pseudo verdades morais, a conceitos ilusórios. Quando por acaso
ele chega a apanhar alguma Verdade transcendental, ele a considera com
menosprezo como um erro de sua imaginação.
Em uma palavra, a Falibilidade é seu
estado permanente.
Quanto a tudo que ultrapassa suas próprias possibilidades de
compreensão ou de acesso, ele o nega, simplesmente.
Em lugar de procurar a
solução do enigma, ele suprime o problema.
E se alguém colocar sob seus olhos
algum argumento suscetível de esclarecê-lo, por pouco que seja, ele penderá
invariavelmente para a solução falsa.
Um dos aspectos da Loucura, reside no
fato de se apaixonar pelas formas pseudo místicas inferiores, com pleno
conhecimento de causa.
O Satanismo reside essencialmente na profanação ou no
sentido oposto consciente de toda forma espiritual ou religiosa.
CONCLUSÃO
Da mesma forma que o Céu e os influxos dos Astros lançarão seus raios regularmente, segundo um ciclo bem determinado, sobre a evolução da Obra hermética, também no seu "céu interior" o Aspirante verá se desenrolar uma sucessão de "estações" simbólicas.
À "estação" mística de cada Virtude Cardeal corresponderá uma estação terrestre, um Elemento, um Temperamento, um modo ascético, segundo a Tabela:
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