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domingo, 15 de fevereiro de 2015

Carnaval e seu Simbolismo Espiritual



 

Carnaval e seu Simbolismo Espiritual

O Carnaval, essa festa que arrebata multidões para as ruas, promove desfiles suntuosos, comida farta e excessos.
 "É Carnaval, ninguém leva a mal"

Qual a sua origem e simbolismo?

Provavelmente originário dos “Ritos da Fertilidade da Primavera Pagã, o primeiro carnaval que se tem origem foi na Festa de Osiris no Egito, o evento que marca o recuo das águas do Nilo. 

Adorada pelos Gregos e pelos Romanos, Ísis era considerada a deusa universal e suprema, a iniciadora, aquela que detinha o segredo da fecundidade, da vida, da morte e da ressurreição. 

Das cerimónias com as quais a celebravam, destacava-se a de lançar ao mar uma barcaça – o carrus navalis (carro naval) – repleta de oferendas, após ter sido abençoada por um sacerdote, tendo o ritual por objectivo a purificação e a fecundidade das terras.

A multidão assistia mascarada à partida da barca, prosseguindo depois em procissão pelas ruas, crente nos favores de Ísis, isto é, na generosidade da terra com o germinar das novas sementeiras e o provir de colheitas abundantes. 
O carrus navalis fazia-se representar nas procissões e nas mais diversas manifestações festivas, ficando o seu nome, com o passar do tempo, associado, com ou sem razão, ao do Carnaval.


O Carnaval dos nossos dias, urbano ou rural, remonta, na sua origem, às antigas festas da Natureza, "de fundo agrário" , as Saturnais romanas e as Lupercais celebradas em honra de Pan, o deus dos rebanhos. 

A expressão popular "é Carnaval, ninguém leva a mal" encontra o seu fundamento nos rituais licenciosos próprios destas festividades, uma licenciosidade autorizada que, a par de outros rituais expurgatórios, constitui ainda hoje a sua principal característica. 

A destruição pelo fogo de figuras alusivas ao passado (tudo o que é velho), o julgamento e queima, em cerimónia pública, do Entrudo, do Velho e de outras figuras míticas, o castigo que os mascarados infligem às mulheres que se atrevem, nesse dia, a sair à rua, a serra da velha, as "chocalhadas", como rito regenerador e fecundante que os espalhafatosos caretos aplicam às mulheres e a crítica social expressa são rituais expurgatórios deste período de passagem que é o fim do Inverno e a entrada na Primavera e a celebração do renascimento da natureza. 


Procura-se acalmar a ira dos céus e garantir favores de uma boa colheita. Nesses tempos idos da agricultura de subsistência, a diferença entre a vida e a morte quase se cingia à dimensão da lavra.

Por outro lado, o carnaval permite paródias, e separação temporária de constrangimentos sociais e religiosos. 


Por exemplo, escravos são iguais aos seus mestres durante a Saturnália Romana; os pobres vestem-se de ricos e mascarados percorrem as vilas gozando com os habitantes mostrando que a vida é mudança continua, e a cada segundo tudo pode mudar para cada um, seja rico ou pobre. 

Apesar da "cristianização" que todas estas práticas festivas sofreram ao longo de dois milénios, podemos entender ser ainda hoje esse mesmo o sentido a dar aos actuais rituais carnavalescos.

O importante é que se possa falar de tudo e de todos, num ambiente de permissiva licenciosidade, em que tudo é permitido e consentido. 

Estaremos perante um momento de escape e de purificação social que a comunidade conserva como absolutamente necessário à sua boa saúde social. 
São momentos que podem ser considerados de escape ou de válvula em que publicamente tudo e a todos se pode dizer sem que qualquer sanção daí resulte e sem que os visados possam levar a mal tais palavras, gestos ou atitudes.


A função das máscaras


O mascarado na Antiguidade era um elemento de ligação entre os vivos e os mortos, entre o homem e a divindade, hoje o mascarado parece desempenhar, de forma inconsciente, as mesmas funções mas, aos olhos do povo, representa o diabo e conscientemente se assume como tal nos gesto e atitudes que toma. 

Mascaram-se de diabos para gozar com as pessoas e se perceber que os ‘diabos’ andam á solta todos os dias e não só este....neste são ‘permitidos’ pela sociedade ‘ética’,  nos outros andam escondidos dentro de cada um, com a máscara de cada um....

Qualquer momento de passagem é crítico para a comunidade que o vive. 
O carnaval situa-se no momento de passagem do Inverno para a Primavera. 
Logo, o Carnaval corresponde a um momento crítico para as sociedades agrárias. 

A presença do mascarado justifica-se assim e a sua acção relaciona-se com a preparação para essa passagem, através do desempenho das suas funções sagradas: purificação das comunidades, pela crítica social; o culto da Natureza, pelas suas atitudes licenciosas relacionadas com as mulheres com o apelo à fecundidade, num apelo à fertilidade da Mãe-Natureza, no início do novo ciclo de vida.; o culto dos mortos e da divindade com a transformação de uma pessoa humana num ser com poderes que estão acima das normas sociais instituídas. 


Por isso, o mascarado activo transforma-se num ser superior, gozando de uma força e liberdade sem paralelo; coloca-se acima de toda a lei humana e, como se se tratasse de um ente sagrado, mas possuído pelo diabo, se liberta de todos os entraves e dá largas às suas faculdades de destruir e de castigar, de troçar e de acariciar, de dançar e de gritar, a seu bel prazer.

Os mascarados de Podence em Trás os Montes enquadram-se nestas funções: expurgatórias por um lado, ao castigar os elementos da comunidade com as suas "chocalhadas" violentas (pelas ruas, correm atrás das mulheres – principalmente das novas e solteiras – para «chocalhá-las», isto é, para abraçá-las lateralmente e com movimentos rápidos de semi-rotação da cintura fazer com que os chocalhos que transportam à cinta lhes batam repetidamente nas nádegas) e, por outro lado, propiciatórias, ao tomarem atitudes licenciosas para com as mulheres, outrora consideradas fecundantes, num apelo à fertilidade da Mãe-Natureza, no início do novo ciclo de vida.
 
O mesmo se poderá entender das funções dos "diabos" que, em Bragança e Vinhais, saem à rua, no dia seguinte ao Carnaval, a Quarta-feira de Cinzas. 



 http://museudamascara.cm-braganca.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=27582


As atitudes castigadoras que tomam são relacionadas "nas Festas Lupercais celebradas pelos sacerdotes de Pan a 15 de Fevereiro, que despidos, tapando apenas as partes genitais com uma tira de pele caprina, recentemente imolada e tinta de sangue, percorriam as ruas, batendo com um chicote em quantos encontravam, principalmente nas mulheres, que julgavam fecundar com estas pancadas".

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