"Que me importa que Cristo haja nascido ontem em Belém se não nasce hoje na minha alma?"
- Angelus Silesius, Peregrino Querubínico
O Natal não é uma simples data em que se comemora um fato histórico ocorrido há 2.000 anos, na Palestina.
Trata-se de uma das quatro festas cardeais correspondentes à fenômenos cósmicos, a saber: o Natal, a Páscoa, a festa de São João e a festa de São Miguel.
Ao longo de um ano, o Sol passa pelos quatro pontos cardeais que marcam o Equinócio de Primavera, o Solstício de Verão, o Equinócio de Outono e o Solstício de Inverno.
Durante estes períodos produzem-se na Natureza grandes fluxos e circulações de energias que influenciam a terra e todos os seres que nela habitam.
Se o homem estiver atento, preparado e em harmonia para receber estas emanações, poderá alcançar grandes transformações.
Em primeiro lugar, quem eram Maria e José?
Para que a nova criatura nasça é preciso um Pai e uma Mãe.
O pai, José, é a inteligência, o espírito do homem.
A mãe, Maria, é o coração, a alma do homem.
Quando o Espírito e a Alma estão purificados a criança nasce, mas nasce da Alma Universal ou através do Espírito Santo sob a forma de fogo, de amor divino.
Uma chama pura que vem fecundar a alma e o coração deste homem.
Quando Maria e José procuraram abrigo, já não havia lugar para eles, assim também acontece com o interior dos homens, não há lugar para o instrumento que procura encarnar esta chama que purifica e regenera, chamada Força Crística.
Seguindo este sentido alegórico, o estábulo é o símbolo das dificuldades exteriores que o homem enfrenta.
Mas graças à luz que ele projeta acima da manjedoura, outros o verão de longe e virão visitá-lo.
Esta luz está representada pela estrela de cinco pontas e é uma realidade absoluta.
Ela brilha por cima de todos os Iniciados cujo princípio feminino, a alma, deu à luz o menino Jesus concebido pelo Espírito Santo.
Neste momento a inteligência, o espírito, José desaparece dizendo humildemente: "Foi Deus que aflorou no coração e na alma de Maria, eu não conseguiria fazê-lo".
Maria e José são símbolos da vida interior, aqueles que repudiaram Maria secaram-se a si mesmos e nada mais têm do que intelecto inferior, que divide, critica e está sempre descontente com tudo.
O homem não pode permitir que este intelecto inferior continue prevaricando.
Só um sentimento puro para com a Divindade poderá reconciliar sua alma.
Os três Reis Magos: Melchior, Baltazar e Gaspar sentiram a Luz e reconheceram o fenômeno astrológico que se produziu no céu há 2.000 anos.
Eles trouxeram o ouro, pois Jesus era Rei; a cor dourada é o símbolo da sabedoria, cujo brilho cintila por cima da cabeça dos Iniciados, como uma coroa de Luz.
Eles trouxeram incenso, querendo dizer com isto que Cristo era um Sacerdote, pois o incenso significa o domínio da religião, que é também o do coração e do amor universal.
Eles também trouxeram mirra, que é o símbolo da imortalidade, pois era usada para embalsamar os corpos e livrá-los da destruição.
Assim, os Reis Magos trouxeram presentes ligados aos domínios do pensamento, do sentimento e do corpo físico.
Cada um está ligado também a uma Sephirot na Árvore da Vida: a mirra ligada à Binah, que conserva tudo; o ouro à Thiphereth, a luz e o incenso à Chessed a religião.
No estábulo havia um boi e um asno.
O Cristo em cada um de nós também nasce entre animais, entre o boi da vontade própria e a asno da ignorância.
O estábulo representa o corpo físico, o boi o princípio da geração; o asno, sob a influência de Saturno, representa a personalidade humana.
Estes dois animais estavam lá para servir ao menino Jesus. Mas como?
Quando o homem começa a trabalhar em seu interior para se aperfeiçoar, entra em conflito com as forças de sua personalidade e de sua sensualidade.
O Iniciado é justamente aquele que domina estas forças do boi e do asno e as coloca ao seu serviço.
O que dizer então do Anjo que avisou aos pastores sobre o grande acontecimento ocorrido no estábulo?
Os anjos avisam todas as almas boas e afortunadas das bênçãos do mundo espiritual.
São Paulo recomendava aos seus discípulos que se purificassem e se pusessem num estado de aceitação, submissão e de adoração, pois estas são as condições necessárias para receber o gérmen que vem dos mundos superiores.
Não faria sentido acreditar que o Cristo nasceu uma única vez e há tanto tempo.
Ele nasce todos os anos no Universo e a cada instante na alma dos homens.
Este novo nascimento é a esperança de que Deus não abandona os homens, apesar de suas faltas e transgressões às Suas leis.
É no Natal portanto, que ocorre o nascimento do princípio Crístico na Natureza, a vida, a luz e o calor que tudo transforma.
Os mundos da criação também ficam em festa, os Anjos cantam e todos os grandes Mestres e Iniciados se reúnem para orar e glorificar o Eterno.
Na verdade, é preciso ter consciência da importância de tal acontecimento e ser sensível aos influxos divinos.
O homem só não recebe a Graça de Deus porque não se prepara interiormente.
Tenhamos todos o desejo de fazer com que o nosso Cristo interior floresça em nossas almas, para que sejamos como Ele e a terra fique povoada de Cristos, assim como Ele mesmo pediu: "aquele que crê em mim fará, ele também, as obras que eu faço. Ele fará até maiores".
Que esta data de reflexão, de oração, de caridade e de amor universal desperte nos homens o desejo de compreender o simbolismo contido no nascimento de um novo Cristo e que todos possam manifestá-Lo em seu interior.
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