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terça-feira, 18 de novembro de 2014

A respiração como prática do Caminho




        A RESPIRAÇÃO COMO PRÁTICA 
           DO CAMINHO ESPIRITUAL

O ser humano quando nasce traz consigo o número fixo de respirações que fará até morrer.
Por isso, quanto mais lentamente o homem respirar, mais longevidade alcança.

Tradição Hindu

Notas :

1)  Respirações significa o conjunto inspiração-expiração (e não o somatório de cada) , por ex. 50 quer dizer 50 inspirações e 50 expirações e não 25 inspirações e 25 expirações.
2) A lentidão da respiração está ligada ao nível espiritual da pessoa, quanto mais centrada em si e ligada ao  seu 'nucleo' interior Divino e menos apegada ao mundo e às coisas mais lentamente a pessoa respira e mais longevidade alcança.
    No Tibete existe a tradição daqueles Yoguis que são de tal modo evoluidos espiritualmente que podem controlar a respiração conforme as necessidades, de resistir ao frio ou calor extremos, de viver com batimento cardiaco e respiração quase imperceptiveis e assim prolongar sua vida terrena para cumprir a sua missão nela.  
 

Qual a importância da respiração na evolução espiritual do homem?

Respirar representa o movimento da Vida.
A Sabedoria da Via é tal como a respiração um movimento perpétuo que não permite paragem.


Quando pedimos a alguém para fazer uma expiração profunda a pessoa em geral faz uma grande inspiração convencida que isso permitirá fazer a tal grande expiração pedida.

Isso é verdade no plano existencial, não o é no plano do Ser, no plano espiritual.

No plano espiritual é o contrário, é preciso dar=bem expirar, antes de receber=bem inspirar.


A inspiração é o 'presente' de uma boa expiração, 'Vivemos' Bem quando Bem 'morremos'.  

O sopro que nos enche na inspiração tem um duplo significado, traz energia para o funcionamento do nosso corpo ao mesmo tempo queno plano espiritual, somos 'inspirados' por Algo, uma Presença entra no vazio deixado e se apodera de nós.

Esse Algo é a fonte da Vida, o Ser que nos preenche.
 


Com a expiração nos damos, com a expiração 'morremos', com a inspiração recebemos, com a inspiração 'nascemos'.

Pela vida fora é um continuo ciclo de morrer e nascer, um continuo processo de metamorfose e transformação individual se nos soubermos identificar a essa respiração 'justa'.

É um processo igual ao da própria Criação.

Sem a respiração 'justa', ocorre o dominio  do eu existencial sobre o Eu divino.


Quem está agitado, com stress, ligado ao mundo, apegado ás coisas, ao ter e não ao Ser, respira pela parte superior e 'voluntária' do peito accionada pelos musculos auxiliares, o homem diz-se que  'está fora de si', ou melhor, está a respirar 'alto de mais'.

O eu existencial dominador = ao Diabo adversário da Vida, que quer manter a sua posição no mundo, retira o Sopro da respiração do centro profundo do diafragma, pois quer 'acelerar' o ritmo e apressa/sobe o nivel da respiração, parando o movimento fluido correcto cima-baixo-cima-baixo da respiração justa. 

Perde-se assim a ligação do homem ao seu centro que deixa de ter a cadência respiratória divina para ter o ritmo animal mecânico.



Quem está calmo, sem medo, em paz consigo e desligado do mundo e das coisas, respira naturalmente com a parte inferior, com o diafragma e está centrado, equilibrado, consciente do seu papel de Ser na criação.
O Sopro aqui permanece centrado na zona do abdomen, no diafragma e não sobe para o peito.

Convém sublinhar a importância da 'boa' expiração que representa o 'deixa andar' , o 'let go', o abandono, o despapego de tudo e todos, o ar sai e nada fica.   
Ficamos vazios e aptos a 'receber' o que vier.
'Deus só entra quando estamos vazios do mundo e de nós próprios'.



Quando existe uma 'boa' expiração , a 'boa' inspiração surge por si.
'O Mestre surge quando estás pronto'.
'Deus surge quando te abandonaste sem nada a perder, sem medos'.

A inspiração tem 3 aspectos num único movimento: Abertura, entrada e plenitude.

A expiração também tem 3 aspectos num único : Deixar ir, dar-se sem medos e abandono.

Quão importante são os espaços entre cada movimento, depois de expirar e antes de inspirar (quando estamos vazios) e depois de inspirar e antes de expirar ( quando estamos cheios retendo o ar) ?



No momento em que estamos vazios, é uma sensação única de estarmos perante um abismo misterioso, de termos saltado para o desconhecido sem medo, de leveza, de plenitude, de ter Algo que não tinhamos antes que nos 'enche' de Vida , nada tem de estático como se poderia pensar mas tem tudo de um instante em Tudo se consume, em que Tudo é possivel.

É o instante em que Cristo na cruz diz : " Meu Deus, por que me abandonaste?" para finalizar com "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito".
É também o instante em que Cristo diz : 'Quem perde a vida por minha causa, encontrá-la-À'.

Perante o abismo nos abandonamos ( 'Vende tudo o que tens e segue-me') e entramos na noite mistica, nas trevas da morte para como a fénix ressurgirmos das cinzas e ressuscitarmos como um Homem Novo.
  
Quando estamos cheios, a sensação é de vitalização energética, de nos sentirmos integrados, enraizados no mundo sem a ele estarmos apegados e ao mesmo tempo noutro plano estarmos a ser visitados-ocupados pelo Ser essencial que Vive em nós ( 'Não sou eu que vivo, é Deus que vive em mim').


A prática do Caminho Justo assim como a prática da respiração justa requerem anos e anos de esforços continuos.

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