Jacob Boehme e a Alquimia
Jakob Böhme, foi um Mistico cristão que nasceu na Alemanha no ano de 1575 e morreu na Silésia em 1624.
Tinha pouca escolaridade e desde muito pequeno trabalhou como pastor de ovelhas numa montanha nos arredores de Gorlitz e mais tarde se tornou aprendiz de sapateiro.
Um dia, enquanto era aprendiz de sapateiro um forasteiro disse-lhe :
"Jacob, você é ainda muito pequeno, mas será grande e se tornará outro homem, e será objeto da admiração de todos. Isto porque é piedoso, crê em Deus e reverencia sua Palavra, acima de tudo. Leia cuidadosamente as Santas Escrituras, nas quais encontrará consolo e instrução, pois sofrerá muito; terá de suportar a pobreza, a miséria e as perseguições; mas seja corajoso e perseverante, pois Deus o ama". Em seguida, fixando-o bem nos olhos, apertou-lhe a mão e se foi, sem deixar qualquer indício.
Profundamente impressionado com a previsão, Böhme se tornou cada vez mais intenso em sua busca da verdade e em 1600 entrou num estado alterado de consciência que lhe trouxe Visões Divinas durante sete dias nos quais permaneceu numa misteriosa condição e os mistérios do mundo invisível lhe foram revelados.
."Abriu-se para mim um largo portão e em um quarto da hora vi e aprendi mais do que veria e aprenderia em muitos anos de universidade.
Por essa razão, estou profundamente admirado e dirijo a Deus minhas orações, agradecendo-lhe por isto.
Porque vi e compreendi o Ser dos seres, o Abismo dos abismos e a geração eterna da Santíssima Trindade, o descendente e origem do mundo de todas as criaturas, pela divina sabedoria:
Soube e vi por mim mesmo os três mundos, ou seja, o divino (angelical e paradisíaco), o das sombras (que deu origem e natureza ao fogo) e o mundo exterior e visível (sendo à procriação ou o nascimento exterior tanto do mundo interior como do espiritual).
Vi e conheci toda a essência do trabalho o mal e o bem original e a existência de cada um deles; e também como frutificou com vigor a semente da eternidade.
E isso de tal forma que dela fiquei desejoso e rejubilei-me".
Jakob Böhme revelou para toda a humanidade os mais profundos segredos da alquimia.
Ele morreu cercado por seus famíliares em um domingo, 20 de novembro de 1624, ouvindo músicas celestiais.
Jacob Böehme tinha como emblema uma cruz negra com rosas douradas.
Os escritos de Boehme são atualmente de muito difícil leitura, mas a sua existência brilhou como um farol através das obscuras épocas do “iluminismo” secular.
Tratava-se de um artesão e pai de família – não de um pastor, um monge, um cardeal ou um aristocrata – que foi eleito para desentranhar mistérios muito profundos, e que não viveu apenas a crença que era conveniente para sua posição social, mas viveu a lúcida consciência de Deus.
O exemplo de Boehme demonstrou que o Cristianismo poderia ser mais do que ética e Escrituras (ainda que ele fosse um grande conhecedor delas), e mais que ritos, estética e sacramentos.
Poderia ser uma realidade interior mais real que tudo o que existe no mundo e mais preciosa que tudo o que o mundo podia ensinar.
A sua mensagem, se dirige tanto ao intelecto como às emoções mas também penetra nas atividades da metafísica e da cosmogonia.
Talvez possa ser desnecessário saber como funcionam as partes da alma e do espírito humanos que fazem as diferentes hierarquias angelicais, ou quão complicado é o próprio ser de Deus.
Não obstante, alguns são naturalmente inquisitivos e não se contentam quando lhes dizem “não te metas naquilo que não te diz respeito e deixa estas questões em mãos de quem as entendem”.
A mensagem de Boehme é esta: “Eu as entendo porque as vi, as senti e as fui”.
Se o homem é capaz disso, por que não utilizarmos nosso divino dom cognitivo em lugar de nos escondermos sob uma ignorância disfarçada de humildade?
Fiel ao princípio hermético (“como é acima, é embaixo”), o Deus que Boehme descobre é também ele mesmo que se descobre como ser divino.
Seu Deus é um processo angustioso e dinâmico no qual o Imanifesto dá a conhecer a si mesmo.
As sete qualidades que este processo cria geram o cosmos com todas as suas variedades e sua evolução cíclica e igualmente agonística.
Por conseguinte, as contradições e os conflitos que bem conhecemos têm suas raízes não só na rebelião de Lúcifer e na queda do Homem, mas também no próprio ser de Deus.
Participamos no processo como indivíduos, como raça humana e como Natureza.
“Efetivamente, Deus se acha tão perto de ti que o nascimento da Sagrada Trindade se efetua ou opera inclusive em teu coração, sim, as três Pessoas foram geradas na plenitude em teu coração, inclusive Deus Pai, Filho e Espírito Santo” .
“De maneira que cada um chega a ser um Cristo (ou um Ungido) a partir desta deificada raiz que se abre dentro de sua própria alma” .
Mas, assim como todos os Sábios se encontram no topo da montanha, essas expressões são o lugar no qual, como Boehme bem sabia, se encontram juntos o Cristianismo e a Kabbalah, o Hermetismo e a Alquimia, aos quais podemos somar o Sufismo, o Hinduísmo dos Upanishads e o Budismo Mahayana.
O teósofo sabe que, qualquer que seja o destino deste planeta, o indivíduo ainda tem a possibilidade de conseguir nesta vida o que Boehme chama de “novo nascimento”.
Em princípio, o caminho do teósofo cristão é uma senda estritamente interior, sem necessidade de que outros o saibam.
Em muitos aspectos, a Alquimia e a Teosofia são paralelas, se é que não idênticas em sua intenção; mas seu vocabulário imaginal é diferente.
A teosofia cristã espera, e recebe experiências no mundo imaginal que se revestem de figuras bíblicas e símbolos: a Trindade, Lúcifer, Cristo, a Virgem Sophia, etc.
Os dramatis personae da alquimia consistem mais de metais e minerais (Mercúrio, Enxofre, Sal, Magnésio, Antimônio, Prata, Ouro, etc.), uma coleção de animais e aves (Dragão, Leão, Sapo, Águia, Pelicano, Perú Real, etc.) e uma quantidade de figuras da mitologia clássica (os sete deuses e deusas planetários, mais Hércules, Atalanta, Osíris, etc.).
Com segurança, na alquimia houve “roupagens” cristãs (e também judaicas e islâmicas), tal como a teosofia de Boehme tem uma “roupagem” alquímica, mas seus princípios e metas foram estabelecidos independentemente de Moisés e antes de Cristo.
A literatura alquímica se propõe a ensinar como devem ser trabalhadas as substâncias físicas, e um primeiro nível interpretativo de seus símbolos constitui um código pré-científico de procedimentos químicos.
Os historiadores da ciência mostraram que os textos alquímicos ensinam como se deve fazer, por exemplo, para extrair ouro de minerais compostos valendo-se do antimônio.
Mas, especialmente desde 1600, coincidindo com a teosofia de Boehme e movimentos afins, os textos alquímicos se tornaram, aparentemente, cada vez menos químicos.
Autores como Heinrich Khunrath, Cessare della Riviera e Thomas Vaughan estão claramente menos interessados no trabalho de laboratório do que em uma alquimia espiritual.
O princípio da alquimia espiritual estabelece que as substâncias representem elementos existentes no homem e no mundo espiritual, e os procedimentos têm lugar dentro de sua alma.
Eis aqui alguns exemplos: o alambique ou o crisol é o complexo psicofísico humano, e o laboratório é o mundus imaginalis, o universo real, mas que não é físico, no qual têm lugar as transmutações espirituais.
O fogo é o esforço interior e deliberado que se efetua durante a meditação, o qual pode chegar a induzir uma sensação de calor, e sua regulação se realiza mediante controle da respiração, como no yoga.
A purificação do material requer agora um controle além do normal da mente (= a “fixação do Mercúrio”), mas o trabalho real de transmutação ocorre só então.
Corre-se um perigo verdadeiro: que o recipiente rache presumivelmente por esgotamento físico ou nervoso.
O operador enfrenta em cada etapa forças opostas às quais deve dominar ou, caso contrário, deve retroceder, e tentar de novo.
Como no cosmos de Boehme, estes são seres reais que procuram afastá-lo de sua meta; e, ao mesmo tempo, formam parte dele mesmo.
É necessário fazer heroicos esforços e vencer múltiplos temores para manter “intacta” nossa matéria ao longo da obra, ou seja, persistir nesta busca interior que põe o buscador em situações absolutamente inimagináveis para um estranho.
O ouro que finalmente fica no crisol é o Ser do herói totalmente transformado que liderou a batalha e ganhou.
É também a Panaceia Universal porque é a cura de todos os males que são produto da mortalidade.
Para quem em seu coração (para citar a Boehme) “operou a Sagrada Trindade”, a morte não pode ser nada mais que um acidente químico.
Os novos alquimistas trabalham com substâncias físicas, mas com conhecimento das forças sutis (planetárias, elementais e, inclusive, angelicais) e com o efeito do operador sobre o material.
De modo reverso, o processo espagírico se reflete, na alma do operador.
Aqui não faz sentido o princípio científico universal de que o experimento deve ser reproduzível: as coisas não funcionarão se a pessoa carecer da “virtude” requerida.
Tampouco existe uma rígida divisão entre o corpo e a alma, que se acham estreitamente vinculados pelo princípio de correspondência.
É de suma importância uma atitude reverente para com a Natureza.
Efetivamente, é extraordinário que a mente moderna, tão brilhante em física e química, seja tão ignorante enquanto ao mundo interno e imaginal.
Quase enternece esta fé que as pessoas têm de que o mundo material é o único real, e todo o resto seus epifenômenos.
Mas, o que ocorreria se invertêssemos as coisas e sugeríssemos que o mundo interno precede o externo?
E que a imaginação, em lugar de vir após um acontecimento, o precede?
E que vemos as estrelas pela única razão de que nesse momento compartilhamos de sua perpétua criação?
Então, os estados mentais e imaginais seriam os que teriam precedência, seguidos pelos procedimentos químicos.
Como pessoas normais sub-evoluídas só somos capazes de perceber e viver em um mundo normal e sub-evoluído, e este é o mundo que a ciência conhece.
Mas, aparentemente, é provável que uma vez que dominássemos os estados conscientes sobrenormais, passaríamos a viver em um mundo sobrenormal com leis distintas das da física clássica.
Isto explicaria as curas milagrosas atribuídas a Cristo e a outros, e até a transformação do chumbo em ouro.
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