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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Rituais de Repetição verbal e corporal - Método do Dikr Sufi



 Método do Dikr Sufi


Todas as tradições espirituais tem rituais baseados na repetição.

Pretende-se com essa repetição uma focagem interior, uma focagem na Presença Divina no homem.

As técnicas podem implicar verbalização e movimentos do corpo para 'esvaziar o coração', para entrar como hoje se diz, em EAC (estado alterado de consciência) ou transe mistico, para esvaziar o copo para nele poder entrar Nova água, ao sermos 'esvaziados de nós', Deus mais fácilmente entra em nós!!


Os judeus utilizam os multiplos nomes-atributos de Deus em hebraico, ADONAI, YEOVAH, etc.

Os budistas usam os mantras OM , HUM, etc para o mesmo fim.

Os cristãos usam quer a oração de Jesus quer a palavra mantra Maranata ( Vem a mim Senhor), "Maranata" é a palavra de oração recomendada pela Comunidade Mundial de Meditação Cristã, a comunidade de seguidores da doutrina de John Main sobre a prática da meditação cristã . 

 
Os sufis usam os 99 atributos-nomes de Deus (Deus O Misericordioso, Deus O Justiceiro, etc) em árabe.


Método do Dikr sufi


No Sufismo a técnica comum é o Dikr, uma cerimonia colectiva e mais tarde individual, que contém recitação, repetição e memorização.

O Dikr consiste em repetir um nome ou uma formula por milhares de vezes contadas por um rosário de contas, na posição de sentado, pernas cruzadas e mãos sobre os joelhos, a cabeça caida sobre o peito, adaptando a dicção da formula à respiração.

Esta técnica provoca a hipnose e o vácuo intelectual e sensitivo, prelúdios da actividade visionária.

O Sufi para praticar Dikr individual retira-se para sua cela, está em estado de pureza corporal expressa por uma ablução e pelo porte de vestuários lavados e perfumados, e o seu pensamento está apenas concentrado em que lhe venha ao espirito o Deus Altissimo, aqui o Sufi não quer saber de mais nada, nem familia, nem do Corão ou outros livros santos.

Uma vez sentado nas condições acima, o Sufi pronuncia incessantemente com os lábios o nome Allah, continuamente e com a preesença do coração até que atinja um estado em que abandone o movimento dos lábios e veja a palavra como que escorrendo sobre a lingua.
Depois apaga o rasto da palavra sobre a lingua e encontra o seu coração integralmente dedicado á repetição.
Fica assim até que apague do seu coração a imagem da locução, das letras e das formas da palavra e que o sentido da palavra fique só no seu coração, presente, junto dele, não o deixando.


  

O efeito desta técnica é o vácuo mental, o torpor e o estado de aniquilamento.
Sem nada de nós, vazios de nós, Deus entra em nós e nos tornamos a Sua imagem.

A fórmula incantatória preferida é La ilah illa Allah ( lá ilá ilálá ) que significa Não há Deus senão Allah.

E o método é pronunciar a 1º parte La ilah como se ela saisse debaixo do umbigo e a 2º parte illa Allah a sair do coração.
Se alguma ideia/pensamento surgir na mente, o Sufi rejeita-o com a negação La ilah e substitui-o com a afirmação illa Allah como prova do seu amor a Seu respeito,a fim de que o coração fique vazio das imagens da fantasia e se ocupe unicamente da contemplação.


O método concreto era :

Usa-se a formula La ilah illa Allah e faz-se com que esta frase ' circule em torno do coração'.
Começa-se do lado esquerdo sob o umbigo dizendo a parte negativa la, prolongando-a.
Faz-se ressair distintamente o i de ilah do fundo da garganta e pronuncia-se o h (vocalizado ha) seguido de uma pausa e inclinando o pescoço para o ombro.
Diz-se illa Allah fazendo sair o i do fundo da garganta 'tocando-se o lado direito do coração com a emissão da voz'.
Acentua-se a palavra Allah afectando o som ah com um prolongamento profundo e extenso.
Repete-se milhares de vezes.
O esvaziamento, a repetição mecanica e o rodar da formula incantatória em torno do coração levam à hipnose, ao transe e ao delirio teofânico.

Eis o segredo da Via.

Quando o som fica retido no coração, não o deixando, isso equivale ''ao estado de fusão com o Nomeado, à presença do Nomeado, ao poder sobre o Nomeado, a uma comunicação com a natureza intima do Nomeado''.

A formula La ilah illa Alalh usa-se enquanto se está consciente, depois o Sufi em estado de rapto, usa apenas Allah ou um mero som la, a, h, ou até um som não sustido por uma letra, quer dizer, qualquer formula, nome, letra ou som produz o resultado.

Em confrarias do Magrebe, utilizam a palavra Allah, mas reduzem-na progressivamente á segunda silaba, lah e mudam-lhe as vogais- laha, lahi, lahu- virando a cabeça em cada entoação, para a direita, para a esquerda e para baixo.

As repetições são contadas com um rosário, desde 300, 3000, 6000, 12.000 repetições diárias.


O Dikr menos mistico e mais 'popular' usa a repetição mecanica na vida diária dos 99 nomes de Deus que constam no Corão, usando um rosario especifico de 99 contas, dividido em 3 partes de 33.

O Dikr em comunidades misticas mais ou menos secretas, pratica-se em santuarios nas montanhas perto da sepultura de santos.
Os participantes recitam incessantemente duas ou três formulas durante dois ou três dias, deambulando, dançando ou torneando-se pelos caminhos dos santuarios.
Acontecem assim formas de transe individual que esvaziam a pessoa do mundo para nela entrar Deus.

 
No Sufismo o papel do Mestre guia é essencial.


É o mestre que guia o aluno pelas veredas complexas do mundo espiritual, nomeadamente a distinguir as visões que surgem, e a explicar ao aluno que elas são aspectos muito secundários do caminho espiritual e assim livra o aluno destes novos 'idolos' a que poderia se prender como falsos deuses e retê-lo numa adoração falsa, que o travaria no caminho verdadeiro. 



Os métodos Sufi utilizam mais as técnicas de corpo e verbalização enquanto os métodos cristãos usam e meditam, sobretudo na palavra de Deus deixada nos livros sagrados e na obra do Criador.


Os monges cristãos do Monte Sinai usavam a repetição do nome Jesus ou Senhor Jesus (mais tarde Senhor Jesus Cristo ajudai-me) com a indicação de que o nome divino deve acompanhar o ritmo da respiração.



Os monges do monte Athos procediam assim : 
Volta o teu olho sensorial para o centro do teu ventre-umbigo, comprime a respiração do ar que passa pelo nariz de modo a não respirar à vontade e explora mentalmente o interior das tuas entranhas para aí encontrares o lugar do coração que todas as potências da alma se comprazem em encontrar.
No principio encontrar-te-ás com uma treva e uma espessura impenetravel, mas tendo persistência neste exercicio, dia e noite, encontrarás,oh maravilha, uma felicidade sem limites.
Logo que o espirito encontre o lugar do coração ele aperceber-se-á do que nunca soubera; apercebe-se do ar existente no ventre do coração e vê-se a ele próprio integralmente e com discernimento, e quando um pensamento se apresentar, antes que ele se complete e tome forma, persegue-o e elimina-o pela invocação do nome de Jesus ....o resto se aprende, com a ajuda de Deus, praticando a guarda do espirito e retendo Jesus no coração.
Também aqui se recorre á tecnica respiratória.

Outro exemplo cristão é a Oração de Jesus do Peregrino Russo.
Aqui a expressão verbal e a oração ajustam-se ao batimento do coração '' introduzindo a oração no coração e fazê-la sair ao mesmo tempo que a respiração''.



 ''Procurava eu descobrir o meu coração: fechando os olhos, dirigia o meu olhar para o coração tentando representá-lo no lado esquerdo do peito e escutando cuidadosamente o seu batimento. Praticava este exercicio primeiro meia hora, várias vezes ao dia; no principio não via nada, só trevas; depois aparecia o meu coração e sentia o seu batimento profundo; depois conseguia introduzir nele a oração de Jesus e a fazê-la sair ao ritmo da respiração.
Para isso, olhando em espirito para o meu coração, inspirava o ar e retinha-o no peito dizendo 'Senhor Jesus', e expirava-o dizendo 'Tende piedade de mim'. 


Passava uma hora ou duas neste exercicio, depois mais tempo e por fim, quase todo o dia.

Finalmente sentia que a oração se fazia por si só, sem nenhum esforço da minha parte, mesmo durante o sono, sem se interromper um segundo sequer, esta oração espontanea do coração.

Se trabalho, leio, ou escrevo alguma coisa, a oração funciona por si própria, e sinto as duas coisas como se eu estivesse desdobrado, como se houvesse duas almas no meu corpo''.

Antes da oração se fazer automáticamente, a duração do exercicio do Peregrino russo era de 3.000, 6.000 e depois 12.000 repetições diárias, contadas por um rosário.

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