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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Porquê e como criou Deus o homem e os restantes seres ?





Porquê e como, criou Deus o homem e os restantes seres ?

 Ibn Arabi-Epistola das Luzes


‘Onde estava nosso Senhor antes de criar?
Estava numa nuvem, sem ar em cima, nem ar por baixo, não havia ali nenhuma criatuta.O Seu Trono estava sobre a água’.

‘ Eu criei-te antes, quando tu não eras, criei-te para te pôr á prova e saber qual de vós é melhor em obras’.

Deus insuflou em cada forma que configurou um espirito procedente Dele, de modo que cada forma veio à vida.
Existem as formas minerais, vegetais, animais e humanas.

Ele deu-se a conhecer à forma por ela própria, a fim de que ela O viesse a conhecer por algo para que estava naturalmente inclinada por sua própria definição. 
Ele não Se lhe deu a conhecer senão por ela mesma, de maneira que ela apenas O vê à sua própria forma.
Assim os minerais, as plantas, os animais, os humanos, cada um vê Deus à sua forma-maneira, conhecem-O a partir delas e contemplam-O nelas mesmas, cada um com sua definição. 
Deus criou cada forma com naturezas predispostas a uma adoração particular, revelando-Se-lhes por ela. Os minerais e as plantas ‘falam’ com Deus à sua maneira.
Assim é neste mundo e no Outro, como sabem as gentes de visão.

Deus não transporta um servo de um lugar (céu incriado) para outro (vida na terra) para que ele O veja, mas para lhe mostrar (em vida, na terra) alguns dos Seus sinais, que lhe estavam ocultos (quando ainda estava incriado), para que o servo ganhe conhecimento, Certeza e abra o olho da comprensão, ganhe o ‘olho da certeza’(ayn al-yaqin) que se obtém por visão ou testemunho visionário. 
Esses sinais distinguem e servem para O demonstrar, por virtude de uma caracteristica especifica que não se aprende Dele, a não ser por esse sinal e que corresponde à Sua Palavra.

‘Eu fi-lo viajar de noite para que ele visse os sinais, não a Mim, porque nenhum lugar Me contém, e a relação dos lugares para Comigo é única, pois Eu sou Aquele que é abarcado pelo coração do Meu servo crente, e ele só Me pode ver através dos Meus sinais. 
Porque o faria, pois, viajar de noite para Me ver, quando estou junto dele, e com ele, onde quer que ele esteja?’.

‘Nem os Meus céus nem a Minha terra me abarcam, mas o coração do Meu servidor crente abarca-me.’

Esta viagem nocturna Nele implica a dissolução da composição (o desapego, o abandono) dos viajantes que Ele permite (pelo mérito e pela crença verdadeira) que viajem. 
O viajante passa por cada mundo e deixa nele a parte de si mesmo que lhe corresponde, porque Deus faz descer um véu entre ele e essa parte e por isso deixa de a ver. 
Mas fica ao viajante a visão do que resta, até ficar só com o secretu divino, que é a face particular de Deus para consigo. 
E, ao ficar asssim só, é-lhe removido o último véu da cortina e fica com Ele, da mesma maneira que cada coisa fica com o seu mundo correspondente (tal como os semelhantes se atraem e o bom atraie o bom e o mau procura o mau).

O viajante ao completar a jornada nocturna nos Nomes, fica a conhecer o que esses Nomes lhe deram como sinais, e retorna e reintegra isso na sua vida numa composição (mudança de atitude) diferente da anterior, pelo conhecimento que obteve e que antes não tinha.  

‘Fá-lo-emos ver alguns dos Nossos sinais no horizonte e neles mesmos’.

A viagem é para ver os sinais ( as flutuações dos estados no mundo são todas elas sinais), pois as pessoas estão neles mas não se dão conta.

Via-O, mas não sabia que era Ele. Mas quando a morada se alterou ( quando mudei de atitude) e O vi, soube Quem via.
E quando regressei e deixei de estar velado (por atitude errada), a Sua visão acompanhou-me para sempre. 

É esta a diferença entre nós e aqueles cujos conhecimentos estão velados pelo que vêm Dele.  

O limite extremo da solicitude=misericordia divina para com uma pessoa, é que Deus a instrua com a face que é particular e exclusiva a essa pessoa especifica, e não com a de outra. 
’Possuo um conhecimento que Deus me ensinou que tu não conheces’. ’Nunca vi uma coisa sem ver Deus antes dela, pois antes de ver Deus eu não ‘’via’’ as coisas como elas são’.

O meu indicio, em Ti, é a minha coloração,
E isto, vindo de Ti, basta-me.
Não me interrogo acerca do assunto que
Para Ti me exorta
Não o reconheço,
Nem ele me reconhece.
Se ele me reconhecesse, não tornarias
A minha genese distinta,
E nós não haveriamos dito, nele eles haveriam dito:
‘ Ele guiar-me-á’ e ‘Ele dar-me-á vida’
Mas eles disseram-no e nós dissemo-lo.
Eu cuido, pois, Dele e Ele cuida de mim.
Eu extinguo-O e faço-O permanecer;
E Ele extingue-me e faz-me permanecer.
Eu satisfaço-o e Ele louva-me,
Agasto-O e Ele escarnece-me.

Nota: A coloração é a manifestação divina existente em cada pessoa e especifica dessa pessoa. Reproduz nessa pessoa um estado, equivalente a uma Sua Palavra, ‘ Em cada pessoa, Ele está envolvido numa tarefa’.  


Porque o homem sempre há-de buscar Deus ?

Porque assim como o mundo é uma esfera, quando o homem foi criado foi estabelecido um circulo e o homem ao inicio do circulo tem de retornar, pois ele mesmo é um circulo, se assim não fosse, se fossemos criados em linha recta, nunca a Ele regressariamos. 
Todas as formas criadas são circulos que regressam ao lugar donde sairam.     

Se o Criador se ocultasse ao Mundo por um milésimo de segundo, o Mundo extinguir-se-ia de imediato, pois só subsiste pelo Seu olhar e protecção.

Contudo, a luz da Sua manifestação ( directa) é tão intensa que as débeis percepções humanas não a conseguem suportar ( ningúem consegue olhar directo para o Sol ) e é preciso haver um véu intermediário.

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