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sábado, 1 de fevereiro de 2014

As portas da Ascenção e os Nomes de Deus

IBN ARABI-- EPISTOLA DAS LUZES


As portas da Ascenção


O discipulo subiu aos céus com o Sábio e viu que uma porta em certo nivel lhe estava vedada pela qual passou o Sábio. 

Foi-lhe dito que esta porta era o seu ponto final, ele então declarou para passar na porta que  ‘submeto-me á mesma autoridade que o meu companheiro’ mas é-lhe objectado ‘Este não é o lugar próprio para se aceitar o Islão, regressa á tua terra e aí, sim, quando te submeteres e creres e seguires o caminho daqueles que se remetem a Deus, só então serás aceite’.

O Sábio continua a sua ascenção até ao Trono, onde aprende os Nomes divinos, que a sua constituição e evolução espiritual pode suportar, em seguida regressa, buscando o seu ponto de partida e o Real viaja com ele por uma via diferente da primeira. 

É uma via de que é impossivel falar, apenas conhecida por quem a experimenta. 

Quanto ao discipulo, ele regressa á terra e presta juramento de fidelidade e passa a crer em Deus, porque Deus lhe decretou a Fé Nele, e não por lhe haver fornecido alguma prova conclusiva-racional. Ele encontra então uma luz no seu coração que antes não havia encontrado e graças a essa luz, vê, do lugar onde se encontra, e de um só relance, tudo o que havia visto na ascenção anterior e agora já não é detido e sobe pela mesma escada do Sábio até á Nuvem Primordial.

Sem deixar o seu lugar, vê a coisa nas coisas, e a necessidade de ser das realidades, cuja existência se lhe havia mostrado por reflexão e intelecção. 
Recebe o elixir da genese e vê a congregação dos corpos animados, passando de uma condição a outra, por uma alteração de propriedade e de ciclo, de tal modo que as configurações fisicas das coisas se encontam modificadas e os seus estados invertidos.

Nota: O muçulmano é aquele que se submete, e que, ao fazê-lo, conhece a Paz ( Al Salam, que é um dos Nomes Mais Belos de Deus).       

Os Nomes de Deus contêm Tudo.

Dos 99 Nomes de Deus, não há nenhum que Ele que se tenha nomeado a Si mesmo, são os Seus servos que ao passar por esses ‘estados’ a Ele atribuem esses Nomes para Sua glória e por isso quem nesses ‘estados’ passa, Ele fá-los viajar de noite pelos seus Nomes e mostra-lhes ainda mais sinais para que eles se tornem mais ouvintes e videntes.

Desses 99 Nomes, uns existem como o Vingador , o Terrivel na Punição e o Avassalador que estão em conflito com outros como O Misericordioso, o Perdoador, o Subtil. 

Pois o Vingador busca a ocorrência da vingança no objecto sobre que se exerce, enquanto o Misericordioso busca a remoção da vingança nesse mesmo objecto. 

Prova de quem em Deus está Tudo, incluindo a ‘polaridade’ dos Nomes divinos. 

Mas esta polaridade, este exercicio da propriedade permanece na relação (ou seja, as propriedades dos Nomes permanecem nos Nomes)  e não em nós. 

Eles, os Nomes, são relações que se opõem pelas suas próprias realidades e jamais concordam, pois nunca cessam a sua oposição, mas nunca em nós. 

Daí, nós devermos buscar a união e não a polaridade (que só existe nos Nomes) pois buscando-a estamos a buscar algo que não nos pertence na realidade e a afastarmo-nos da nossa real propriedade, que nos foi dada pelo Deus dos 99 Nomes que nos criou.

  
A Perfeição (em vida) é ter Deus e não o Mundo?

Quem chega a Deus, só vê Deus e nada do Mundo resta que se Lhe compare.
Deixaram de ver o Mundo.
Mas acaso despareceu do Mundo o que desapareceu para esses? 
Não ! Então, falta-lhes o que lhes desapareceu e ficam privados do Real (pois o que perderam do Mundo faz parte do Real) e Dele, pois o Mundo inteiro, para quem conhece o Real, é a Sua própria Epifania.


A Transformação dos seres

Pode ser pelo arrependimento e obra meritória (orações-rituais-esforço pessoal de procura) ou após algum ‘castigo’ cobrar o seu direito ( após acidentes-doenças graves-crises psicologicas). 

Para quem lá conseguiu chegar, o que é mais elevado, permanecer Nele em contemplação, a ouvir o que Ele te diz, Nele dissolvido ou regressar de novo?
O que é mais elevado em vida, a extinção na Essencia (fanã) ou a extinção nos actos (baqã)?

Digo-te que a estação mistica de lá ficar é inferior à do retorno, pois enquanto formos vivos,  no retorno ficamos na Presença dos Seus actos, por Ele e para Ele e isto é superior a só O  contemplarmos.

Os mestres dizem que é inferior porque é um desperdicio do momento espiritual e procedimento inadequado para com a morada actual, porque este Mundo é uma prisão provisória que tem de ser aproveitada enquanto se está nela preso.

Se ficas em contemplação, ficas estático numa estação e deixas de ascender a outra superior, pois a Epifania molda-se ao conhecimento e à forma.

Obténs, assim, (se alcanças e ficas em contemplação em vida) o que devias ter deixado para a sua morada apropriada, que é a casa do Outro Mundo, na qual não há a prática de actos.

Deves, sim, neste Mundo, em vez de ficares em contemplação ( te extinguires na Essência – fanã) , te ocupares de actos meritórios exteriores e receberes, interiormente, por eles, um melhor conhecimento Dele ( te extinguires nos actos-baqã).

Fanã é o servo ter a visão do seu acto executado por Deus (o contemplativo não age, Deus age por ele).

Baqâ é o servo ter a visão que Deus está em todas as coisas ( o que se extingue nos actos que pratica, vê Deus em cada um deles e assim engloba este Mundo Nele).   

Isso seria preferivel para ti, porque aumentarias virtude e beleza à tua dimensão espiritual -- que busca o seu Senhor- assim como à tua alma – que busca o seu Paraiso. 

Quando abandonares o mundo da sujeição à Lei, colherás então o fruto do que semeaste pelos teus actos em vez de uma contemplação estática.

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