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segunda-feira, 25 de março de 2013

O Xamanismo primitivo e moderno



 O Xamanismo primitivo e moderno



Actualmente, o Xamanismo tem vindo a ser reduzido a uma técnica psicológica de auto ajuda, em detrimento da sua essência verdadeiramente iniciática.


O Xamanismo primitivo 


O Xamanismo constitui a mais antiga forma de espiritualidade da humanidade.

Não se baseia em seitas , igrejas , lideres ou gurus, é uma experiência mágico-religiosa de contornos muito individualistas.

O Xamã tradicional era escolhido pelos Deuses ancestrais, não pela comunidade que serve, que apenas o confirma e aceita.   
Ao nascer certas caracteristicas particulares indiciam essa pessoa como futuro xamã e isso será confirmado mais tarde pela comunidade. 

Ninguém é xamã por decisão pessoal ou livre vontade, o seu destino é imposto pelas circunstâncias, quer se queira quer não. 

Quem foi ‘escolhido’ pelos Ancestrais com visões ( parte esotérica) , continua a sua aprendizagem com um xamã mais avançado quanto aos ritos e tradições exotéricos, tendo no meio a experiência imprescindivel do Xamanismo : a simulação do suplicio e desmembramento do seu corpo.

O desmembramento constituia a passagem do homem normal para o homem Primordial, uma reminiscência de que o sagrado é , por natureza, transgressão e violência transfigurante, que só se revela pelo sacrificio de si próprio.  


Existem muitas facetas do xamã primitivo, desde curandeiro fisico ( com base em plantas, medicina natural) e espiritual (aquele que restaura o equilibrio perdido da alma, aquele que junta as partes perdidas da alma), a guia de almas pós morte (psicopompo).

Há quem distinga também entre xamã negro e branco.

Xamã negro é aquele nasceu para isso, tem capacidades psiquicas inatas para ter visões e êxtases e fazer a ponte entre os mundos dos vivos e dos mortos.

Xamã branco aprende a sê-lo por instrução e aprendizagem oral. 
Tende a comunicar não por visões e êxtases mas por rituais e invocações. 
Tem o papel que mais tarde passou para os sacerdotes das religiões, de mediador ritual já incapaz de alcançar estados alterados de consciencia como os êxtases visionários e por isso usando de outros métodos como a imaginação associativa activa e a visualização criativa para essa comunicação e mediação ritual.  

Para o xamã negro a Iniciação (ou revulsão radical da consciência) é sempre violenta, pois para eles só com ruptura violenta o ego pode ser vencido.

O Xamanismo original criou técnicas altamente sofisticadas de matar o ego, pois segundo eles só a violencia desaloja o ego da sua condição de ignorância e finitude. 
A destruição do ego é comparável ao da destruição da crisálida para emergir a borboleta.

Para o xamã branco da era moderna, do xamanismo new age,  esta violência deixa de existir, sendo substituida por técnicas imaginativas de não-ruptura.

Enquanto o xamã negro ‘vê’ através do véu da realidade para outros planos, o xamã branco se parece com o sacerdote já cego para as realidades supranaturais e que precisa do mito para viver pelos olhos da fé o que já não consegue ver pelos olhos da alma. 





O Xamanismo moderno

Hoje em dia, o que se ensina nos workshops xamanicos são técnicas meramente de devaneio e imaginação criativa longe desta ruptura com o ego, e das comunicações em êxtase-transe com os planos espirituais.

O praticante moderno de xamanismo altera a sua consciência pela fantasia-imaginação criativa (ajudado pelo ritmo do tambor) mas sempre na esfera do corpo fisico, daí a importância da cura no xamanismo moderno, e nunca saindo do corpo, vive nas forças primárias do ego, confundindo os conteúdos de sua imaginação primária e os seus desejos inconscientes com forças autónomas e transcendentes vindas de fora de si mesmo. 

Assemelha-se a um escravo que sonha ser livre, mas que na realidade não o é.

O praticante xamã primitivo, ao invés, transfere a sua consciência, via práticas rituais rigorosas, para fora de si mesmo, para fora da esfera corporal e do seu ego e integra-se na força cósmica universal. 

Ele sai do seu corpo fisico, ele ‘voa’ para a última Realidade donde regressa com Sabedoria e Conhecimento mais para a sua própria evolução individual que para a comunidade (para essa existe o xamã curandeiro ou o xamã do colectivo).  

Não será de certeza um fim de semana a ouvir a batida monótona de um tambor que despertará o praticante moderno para essa sua vertente mais espiritual, só a ruptura da morte o poderia despertar, ou então, uma qualquer ‘outra morte’.    

Através das leituras de livros de auto ajuda e espiritulidade new age criou-se a ideia que o acesso aos recantos mais profundos da nosssa Alma se pode fazer comodamente sentado num sofá a fazer visualizações ao som de batidas de tambor e de cascatas de agua gravadas em cd.

Infelizmente isso não é possível, pois como o xamã primitivo sabia, isso só se consegue desencandeando uma morte transitória mas verdadeira do corpo, em plena consciência, vivendo a nossa morte final, que nos faz deslocar o principio consciente da nossa personalidade para as regiões do mundo suprasensível.
      
 
O homem moderno tem um bloqueio ( o Véu, a Nuvem ,etc..)  profundo e uma ideologia subconsciente anti-transe que o impede de vivenciar os niveis mais profundos do xamanismo, assim como de vivenciar a espiritualidade religiosa mais esotérica que lhe é equivalente, como por exemplo os êxtases misticos dos grandes místicos cristãos, sufis ou tibetanos.   

Esse bloqueio faz-nos esquecer uma grande verdade, que somos Deuses em exilio e meros serviçais neste mundo, serviçais que em dias distantes derrubaram o Rei ( pensaram, mal, que podiam viver sem Ele ) e o exilaram para o fundo sombrio de si mesmos. 
Esquecidos deste golpe palaciano e julgando-nos mestres de nós mesmo, transformámo-nos em seres sem alma.

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