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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 10






O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos


Parte 10


O Processo de Renascimento

Se a ilusão se manteve devido ao mau karma e à falta de compreensão da pessoa, segue-se o caminhar para o renascimento num ventre.


Existem ainda duas possibilidades de isso não acontecer (o renascimento) : 

1) Impedir o defunto de entrar num ventre.
Aqui o defunto tem uma derradeira possibilidade de se libertar se conseguir manter a serenidade e meditar seja na sua divindade tutelar seja no Bem e desfazendo essa imagem se concentrar de seguida na Clara Luz.

2) Fechar as portas de entrada no ventre existindo 5 métodos possiveis. 

Método A
Decidir firmemente ter um único proposito, pensar apenas o bem, abandonar toda a inveja e conservar apenas o amor e a fé.

Método B
Perante visões cada vez mais pressionantes de casais copulando e atraindo-o, o defunto deve pensar na sua divindade tutelar, mestre, guru e solicitar deles a graça de o libertar e fechar os ventres que o solicitam.

Método C 
As visões de actos sexuais aumentam, o defunto deve evitar qualquer sentimento em relação aos seus hipotéticos futuros pais, seja de ódio/repulsa ou atracção.

Normalmente quem nasce macho tem ódio ao pai e atracção pela mãe e vice versa. 

Deve manter a mente nessa firme determinação de distanciamento emocional.

A mensagem aqui é :
‘’ És livre agora, não queiras ser enclausurado numa forma oval num ventre e ser transformado num cachorro, és agora um ser humano, não queiras sofrer como um cachorro num canil ou um porco numa pocilga.
Não queiras provar a estupidez, a brutalidade, e a obscuridade intelectual miseráveis e sofrer inúmeros sofrimentos ligados ao nascimento no mundo’’.


Método D 
Aqui o defunto deve pensar que tudo é ilusório e nada tem realidade.
Tudo são sonhos e fantasias da sua mente.
Para quê então se prender a algo que não tem realidade ?
Para quê então ter medo de algo que não tem realidade ?
Se o defunto estiver concentrado nisto, consegue imprimir esta convicção na sua consciencia e verá a porta do ventre fechada.


Método E 
Aqui o defunto deve conservar a mente em atitude serena, natural (não modificada) meditando na Clara Luz ou no vazio. 


Nota :
Pode perguntar-se para quê tantas e sucessivas confrontações ?

Porque quando se está morto todas as nossas faculdades estão ‘amplificadas’ (ouvimos e de imediato compreendemos e captamos), a memória é nove vezes mais lúcida que em vida e por aí adiante relativamente ás restantes faculdades .

O morto já não tem suporte fisico que o impeça de pensar e ‘estar lá’, não tem barreiras fisicas e de compreensão, pode por isso comprender algo de imediato se lhe for dito.

Por isso, há que ‘aproveitar’ esse estado mais ‘desperto’ do morto para lhe incutir as instruções necessárias à sua libertação por meio de sucessivas confrontações até ele perceber que, se quiser, se tiver vontade forte, pode ser livre e evitar o renascimento. 


Daí os inúmeros actos funerários simbólicos em todas as tradições e os 49 dias do Bardo para confrontar o morto sucessivas vezes. 


A Escolha do ventre 

Para quem não fechou as portas anteriores agora tem de fazer uma ‘boa’ escolha do ventre para renascer. 

O defunto verá várias alternativas, seja em continentes, paises , cidades, aldeias, e finalmente seus pais. 

A mensagem aqui é :
‘’ Não entres em lugares escuros, desertos, decrépitos, desolados, lugares de forte atracção ou repulsão, procura locais onde a religião e o espiritual prevaleça.

Agora que tens um pequeno poder de presciência, podes escolher adequadamente.

Se vires ameaças (de entidades, sons, visões terriveis) não te inquites e mantém a calma sem buscar refúgio (num ventre) por isso.

Se buscares um refúgio para te esconderes-protegeres das ameaças, dificil será de lá saires (pois o ventre é ‘acolhedor’) e teres errado na escolha do ventre, um renascimento em local errado e que te trará sofrimentos.

Escolhe um ventre sem estares ‘pressionado’e mantém tua mente serena’’. 



Nascimento Sobrenatural e no Ventre 

O defunto tem aqui duas alternativas: 

Num derradeiro esforço da sua consciência pode transferi-la para outro nível-plano existencial de Buda puro (céus, paraisos, edens, purgatórios ,etc ) sem renascer como humano impuro e escravo do destino.

Para isso tem de meditar:

‘’ Ai de mim, este nascer em ventre me desgosta, me horroriza, me repugna, quero nascer na Terra pura de Buda no meio da uma flor de lótus.’’

Esta firme e sentida resolução se for mantida pelo defunto irá libertá-lo do renascimento em ventre humano.

Caso contrário, o ventre o espera e só pode de melhor escolher aquele que for o mais adequado para si, como se disse acima , sem atracção nem repulsão, com a maior imparcialidade e onde o espirito mais prevaleça.

O defunto mais inapto nestas práticas deve pelo menos, antes de entrar num ventre, de manter a cabeça erguida e meditar na Luz e no paraiso.

Ao ventre e pais escolhidos, dirigir sentimentos de amor e confiança, assim como se abençoa uma catedral-igreja a inaugurar, ‘ visualiza como uma catedral celeste o ventre onde estás entrando para o purificar’.

O ventre ideal dará um corpo dotado e livre das 8 servidões :

Prazeres excessivos, guerras-conflitos continuos, escravidão da brutalidade, sede e fome, frio e calor, irreligião, defeitos fisicos e cargas genéticas negativas.

A entrada num ventre ideal seria : Entrar nele intencionalmente, estar nele consciente e sair dele sábiamente.


Assim se conclui o Bardo Thodol, livro da Arte de BEM  viver para MELHOR morrer.

Em conclusão, os mais adiantados no momento da morte (Chikhai Bardo) apreendem de imediato a Clara Luz e têm libertação imediata.


Os menos exercitados passam ao Chonyid Bardo onde poderão apreender ainda a Clara Luz em algumas das suas ramificações secundárias e seguir caminho ascendente ou se integrar mais tarde nas Divindades pacificas e iradas e passar aos planos respectivos.

Os mais fracos de espirito passam ao Sipda Bardo e terão hipóteses de renascer seja em planos espirituais ou em ventres humanos para prosseguir sua evolução kármica. 





Notas finais : 

A leitura do Bardo Thodol é aconselhada aos vivos para se prepararem para a morte. 

É aconselhada à pessoa (se tiver ainda faculdades activas) que está a morrer, recitar e reflectir no texto para se relembrar ou fixar agora nesse momento crucial o que precisa saber para se ‘orientar’ pós morte. 

É aconselhada que seja lida pelos parentes ou religiosos que acompanham o morto, pois este está agora a ‘ouvir’ melhor que em vida (e a leitura fica melhor ‘impressa na sua mente) e assim pode ‘despertar’ para uma ‘mudança’ de atitude fundamental para na filosofia budista (que não acredita em alma individual ou Deuses) alcançar o Nirvana, o estado de Buda e se libertar do ciclo de renascimento como ser humano. 


Para obter esse ‘efeito’ os parentes/familiares devem ser abster de excessos emocionais (choros incontidos, lamúrias e gemidos) que só ‘destabilizam e intraquilizam ‘ o defunto e o podem fazer ‘desviar’ do seu caminho.

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