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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Só temos uma vida ou a reencarnação existe ?






A queda de Adão 

O Homem tem só esta vida para evoluir ? 

A Reencarnação existe ? 


segundo Jacob Boehme  



A revolta e queda de Lúcifer nada tem a ver com a queda de Adão.

Lúcifer pelo orgulho quis elevar-se para cima do seu Criador e ser mais poderoso que Ele, em vão, pois esqueceu-se das suas limitações ‘essenciais’ e originou o reino das trevas onde residirá pela eternidade, cumprindo seu papel de carrasco e justiceiro como servo da cólera de Deus.

Verá a Luz perto de si, mas nunca a poderá alcançar e esse será seu tormento eterno.

Adão, pelo contrário, não se revoltou contra o seu Criador, face ao livre arbitrio lhe concedido pelo Criador, teve o desejo de conhecer o mundo e seus prazeres (a árvore do conhecimento e das maravilhas do mundo atraiu-o) e esqueceu-se da sua origem e do seu trabalho original como ‘cooperante’ com Deus (virou-se para o mundo e voltou costas a Deus), por isso o seu crime não é tão grave como Lúcifer, não tem condenação eterna e pode ter solução caso se torne a virar para Deus e seja co-criador com Ele, não querer ser Deus, nem se substituir a Ele, mas sim, co-criar em cooperação com Ele fazendo a Sua Vontade em vez da sua vontade própria.

Nós, homens, temos a ver com Adão não com Lúcifer e por isso a queda de Adão é a nossa queda neste mundo e daí temos de tirar lições se queremos regressar a Casa do Pai, ao equilibrio perdido, como filhos que andaram perdidos e desnorteados e agora querem a Paz eterna, co-criando, obrando a Obra Divina com o Pai.

Quando vemos um homem orgulhoso, vemos a terrivel queda de Adão e uma representação do mundo infernal.
Vemos um meio-homem , meio-diabo a quem o demónio tem continuo acesso e de quem é escravo.
Pensa que é belo e importnate e não passa de um louco diante de Deus.
E quando a veste estrangeira ( o seu corpo fisico) se vai, ele assume a sua forma bestial.



O Homem tem só esta vida para evoluir ?
A Reencarnação existe ?
O que não foi feito nesta vida pode ser feito noutras vidas sucessivas, até apagar o karma como dizem algumas, poucas, tradições (hindus e budistas) ? 


Vejamos o que Boehme nos diz.

Apenas durante a vida é possivel a regeneração do homem porque só neste mundo a qualificação do centro colérico da natureza é detida e aprisionada pela água, que lhe dá a sua doçura.
Porém quando o homem morre fisicamente existe uma separação do espirito da vontade da alma (o centro de luz interior) do mundo exterior e subsiste por si mesmo em sua propriedade, o que não acontecia em vida.
Então há pouco remédio, a menos que, durante a vida, o espirito da vontade se tenha voltado ao amor de Deus e dele tenha apreendido uma centelha em seu centro interior que subsista em sua propriedade após a morte.
Neste caso, algo ainda pode ocorrer, mas quanta angústia e trabalho são necessários para essa centelha possa quebrar a tenebrosa e colérica morte!
Grande é o purgatório para aqueles que partem deste mundo tão nus, com tão pouca Luz’.

Ou ainda Se em vida o mundo da Luz não foi soberano no homem, na sua morte a sua alma fica nua nas trevas.
Não é mais possivel acender o mundo de Luz porque se quebrou, pela morte fisica, o espelho que reflectia essa Luz na alma em vida, tudo se separou, tudo foi para seu sitio.
A Luz ou coração de Deus não se manifesta no mundo das trevas (são propriedades incompativeis eternamente) aonde a alma agora está por toda a eternidade.
Por isso só em vida, pelo reflexo no espelho, a Luz se pode manifestar ao homem em oposição ás trevas e ele escolher segui-la.’


Durante a vida Deus colocou á disposição do homem, por empréstimo, o espelho do exterior onde se reflecte o seu olho externo e o Sol.
A razão externa do homem pensa que só esse olho externo existe e agarra-se a ele, pois diz que não existe outra visão.
O homem sente o desejo de Deus ( de outra visão) mas o demónio para onde o homem se virou, coloca um véu e encobre essa outra visão desviando a atenção do homem para a pompa do mundo ( e o homem morde a isca e deleita sua má imaginação nisso), para o homem não a ver e não ser despertado para ela.
O problema é quando na morte esse espelho externo, como tudo externo, se quebra, porque era emprestado não esqueçamos, o que fica?
Nada, fica o homem nu e cego (pois sem mais olho) nas trevas, sem Sol que o iluminava por dádiva divina, sem esse olho externo que o suportava ilusóriamente em vida.
Daí o medo e o pânico do homem que se apercebe disso a tempo e luta para salvar sua alma substituindo em vida o espelho externo ‘que acaba um dia’ pelo espelho interior ‘que é eterno’.

Ou seja, para Boehme não existem mais vidas, não existem reencarnações para ‘limpar karmas’, tudo se resolve numa vida, o homem escolhe, ou com Deus ou contra Deus pela eternidade.


Boehme apenas dá esperança a quem em vida apesar de sempre voltado de costas para Deus (mas com uma vida inocente, honesta e caridosa, sem pecados capitais que esses, sim, seriam fatais) possa ter tido um último arrependimento sincero antes de morrer de ter vivido no erro e após a morte dispor de um ‘tempo de purga’ (angustiante e doloroso) para se re-ligar ou não de novo plenamente a Deus ( e o que for, será pela eternidade, não haverá mais oportunidades de correcções-emendas) .

Ouçamos de novo Boehme :

‘ Embora sufocado pela substancialidade má deste mundo introduzida em nós por Adão, sempre produz (pelo seu arrependimento sincero) essência para a chama do sagrado’. 





Qual o poder do demónio ?

Boehme diz também que o demónio só tem poder no homem porque o homem lhe dá esse poder ao fazer a sua má vontade, o demónio sem o homem é impotente, por isso o usa para agir neste mundo em seu nome, para matar, para guerrear, para ofender, para ambicionar, pois o demónio é incapaz de acções concretas neste mundo porque lhe falta a propriedade ternária (capaz de acções neste mundo) que só o homem tem e daí a sua necessidade do homem como seu escravo.

O demónio é, para Boehme, a mais miserável das criaturas, não mexe uma folha sequer a menos que a cólera esteja no interior dela ou seja, ele só move aquilo que está na sua propriedade colérica.
Por isso mesmo, se o homem se afastasse do demónio pela sua vida dedicada ao bem e a Deus, o demónio simplesmente não ganharia força neste mundo e permaneceria em sua propriedade tenebrosa e colérica em seu eterno mundo de Trevas.

É o homem que dá força ao demónio ao ser colérico (estar de costas para a Luz e apenas virado para a materialidade) e assim ‘entrar’ na propriedade (a cólera) do demónio que o passa a controlar como macaco que esse homem passa a ser.

Para Boehme, o demónio só sofre por não alcançar a Luz que está tão perto, mas fora do seu alcance, não sofre por estar qualificado no seu reino de Trevas, aí é sua casa de fogo e inflamação eternas.
E mesmo o reino onde está não é seu, pois esse reino é o abismo de Deus, onde o demónio é prisioneiro, apenas uma criatura serva da Cólera de Deus.

O demónio quer ser soberano mas não passa de um prestidigitador da severidade, uma vez que só pode agir conforme sua propriedade e por isso neste mundo usa o homem que se volta para a propriedade colérica (que pertence ao demónio) como seu servo para fazer coisas que ele não pode e assim lhe dar a força que ele sem isso não teria.




Qual o caminho do homem ? 

Eis o caminho que o homem deve fazer em vida nas palavras de Boehme .

‘Neste mundo o homem está entre duas opções, virar-se para o exterior, para o mundo e suas maravilhas, o que é fazer a vontade do demónio (será um louco do diabo e um macaco para a Luz) , ou virar-se para dentro de si, para a sua Luz interior o que é fazer a Vontade de Deus.
O homem deve perceber a ilusão, a impermanência deste mundo, onde nada lhe pertence, tudo lhe é emprestado , até seu corpo fisico, e voltar-se para o que é permanente e eterno, a sua Luz interior, a sua vontade de servir a Deus não como servo-escravo ( que só o é na realidade quando cumpre as ordens do diabo, mas disso não ‘se lembra’ ) mas como seu filho querido que coopera com Deus na Criação’.


Boehme ainda complementa dizendo que :

‘ A verdadeira alma é o espirito do Mundo Triplo, no mundo tenebroso é a colérica qualificação e chama-se de cólera de Deus, no mundo da Luz é o doce reino da alegria, é o espirito do coração de Deus, o Espirito Santo, no mundo exterior é o espirito dos 4 elementos e deixa-se usar segundo a vontade do homem, tudo para as grandes maravilhas.’

O homem é Ternário em propriedades e tem em si os 3 Principios e os 3 mundos, das Trevas, da Luz e do mundo fisico e só mantendo os 3 em equilibrio, em justa ordem, não os misturando, é que o Homem é a imagem de Deus’.

Ou seja, não deve apenas voltar-se para um com desprezo pelos outros, mas sim, fazer o equilibrio certo entre todos, equilibrio esse só possivel se estiver consciente, focado e concentrado nessa sua missão.
Seria errado se só estivesse focado na Luz ( viveria nas nuvens como lunático), pois tem um corpo e precisa de o bem tratar, está no mundo e precisa de se posicionar em equilibrio nele, possui a propriedade colérica das Trevas e precisa de a equlibrar com a Luz. 

O homem deve conhecer-se que é o mesmo que saber em que propriedade, substância ou figura está (na colérica ou na divina) para definir o que quer fazer de sua vida com seu livre arbitrio.

Sem isso junta-se aos homens bestiais de quem Deus está oculto pois os ‘ porcos não merecem pérolas ‘.

Para combater os elementos do demónio (a materialidade dos 4 elementos terrenos) deve usar os 4 elementos de Deus, o amor, a doçura , a misericórdia e a esperançosa paciência .

Boehme enfatiza que Deus deu ao homem livre arbitrio e com base nesse livre arbitrio o homem é livre de semear o que escolher, semeia o bem , o bem colhe, semeia o mal , o mal é sua colheita.

‘O homem deve combater sem tréguas o demónio, se quer tornar-se um cidadão do céu, não deve ser um dorminhoco preguiçoso, não comer nem beber com voracidade, mas deve ser sóbrio, jejuar e vigiar como um guerreiro diante do seu inimigo, pois no continuo combate com a cólera de Deus (o demónio), será preciso muito trabalho e firmeza.
Nunca desistir mesmo se virmos os outros todos na impiedade, e que sejamos os únicos a avançar para a Luz mesmo que o mundo e o demónio nos digam que somos loucos insensatos pois respondemos de imediato, que o nosso caminho é agradável a Deus e que Deus é a nossa meta. 
Só assim Ele nos liberta do demónio e nos conduz ao Seu reino’.

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