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sábado, 8 de setembro de 2012

A Espiritualidade Pagã em Timor Leste


                              

Crâneos de bufalo espetados num pau na campa de um defunto 


A Espiritualidade Pagã em Timor Leste


Mesmo após a evangelização cristã, Timor mantém as tradições ancestrais bem vivas em suas aldeias recônditas.

Apesar da religião católica, presente há tantos anos, ainda existem muitas formas pagãs na expressão da fé cristã. 
Nas zonas do interior mantêm-se os rituais ancestrais, muitas vezes misturados com os dos sacramentos e outros sinais cristãos. 

Numa grande diversidade de crenças populares, há um respeito enorme pelo sagrado, não se sabendo bem os limites entre a fé cristã, a crença animista e o medo ao matan-dook (feiticeiro). 
Conservam-se ainda as uma-lulik (casas sagradas) onde se presta culto aos antepassados em altares próprios. 
Estas casas estão construidas de tal forma que mantêm o seu sentido sagrado. 
Além da lareira propria para uso diário tem outra lareira destinado ao "tei" que significa sagrado, onde se faz a cozinha para as almas dos antepassados. 

LENDA DA CRIAÇÃO

Uma lenda da Criação diz que quando o Deus Maromak criou a ilha de Timor, Deus criou primeiro um homem num lugar que se chama Ili kere-kere, que quer dizer rocha pintada ou rocha com pinturas rupestres. 


Naqueles tempos, a terra era vazia, sem montanhas, plantas, animais e mais outras, o solo era ainda lamaçal. Tudo o que agora existe, existe pela força do Deus Maromak e conforme o pedido ou a oração e o desejo deste primeiro homem.

Este homem é que pediu a Deus Maromak para criar mais homens como ele nesta terra porque ele se sentia sózinho.
Então Deus Maromak mandou-o descer para um lugar de nome LORI, e ali, Deus Maromak mandou-lhe
amaçar a lama até obter sete (7) bonecos de lama.
Depois de isso feito, Deus deu a estes sete bonecos um
sopro de vida.
Estes sete bonecos transformaram-se em sete homens e começaram a falar. 

 
Nesse momento foi o início da língua Makua ( hoje apenas falada por uma pequena minoria ) e do povo de Timor. 


Os simbolos de Maromak são 2 objectos em ouro, discos ao peito e um kaibauk, uma aplicação em forma de meia lua para a cabeça, ou seja , símbolos masculinos e femininos, o sol e a lua que simbolizam o deus Maromak.








A cultura timorense é amplamente baseada em crenças animistas.

Os diferentes tipos de cultura que existem em Timor-Leste podem ser classificados de acordo com três principais elementos animistas:

1) Na'i-Tasi / Dewa Laut / Deus do Mar / Deus do Mar: a crença no mar e seus habitantes, tais como peixes, crocodilos, tartarugas, polvos, tubarões e outras criaturas; 

2) Na'i-Raiklaran / Dewa Bumi / Deus de Terra / Deus da Terra: a crença na terra e natural recursos, tais como pedras, montanhas, terrenos, poços, as árvores e bambus, figueiras, e animais (como lagartixas, corvos, cobras) . 
 
3 ) Na'i-Lalehan / Dewa Langit / Deus de Céu / Deus do céu: a crença no céu e seus componentes, tais como planetas, o sol, a lua e as estrelas.


Estes três elementos principais são criações da Maromak Aman (Deus Pai), a quem o povo nas Uma-lulik (casas sagradas) prestam culto , rezam, e dão ofertas.
Esses três elementos servem como principais pilares para garantir o respeito entre os membros da comunidade e promover a harmonia social.

As práticas nas Uma-lulik (casas sagradas ) variam de aldeia para aldeia mas sempre respeitam os mandamentos fundamentais que regulam e mantêm as relações tanto entre os seres humanos e entre humanos e natureza, de modo a fortalecer a relação entre o homem e Deus.

Enquanto os costumes, criados por seres humanos podem variar,  as crenças fundamentais nos três Principios acima não pode ser alterada, uma vez que constitui a base espiritual de Deus e das práticas nas Uma-lulik (casas sagradas ).

Estas casas são consideradas sagradas como morada dos antepassados ​​onde existem altares de adoração a eles e objetos sagrados, como o kaibauk (decorações tradicionais para serem usadas na cabeça feitas com ouro e prata), belak (objetos tradicionais feitos de prata e ouro), Tais (tecido), Surik (espada), Tambor (tambores grandes), bandeira (flag) e Rota (um pólo que simboliza autoridade de governo) que são considerados elementos importantes que significam os valores simbólicos (de paz e amor) na comunidade.

É hábito em Timor, quando acontece um terremoto bater em pratos. Segundo os timorenses mais velhos, esse hábito vem da crença local que Deus (Maromak) leva o planeta Terra em seus ombros, e quando Deus dorme, deixa a Terra cair. O bater dos pratos seria para "acordar Deus". Outra versão diz que se deve bater nos pratos para lembrar a Maromak que ainda estamos aqui na Terra e que não queremos morrer.


A morte e seus rituais

Em Timor, quando um homem morria, sacrificava-se o seu cavalo para que não partisse sozinho. 


Mais tarde começou-se a recorrer às representações desses animais. 
A estátua acima em pau rosa representa a viagem para o plano celestial e encontra-se em exposição no museu do Oriente .

E os Timorenses, como encaram a morte e a vida “do além”? 

Antes da entrada dos missionários, os Timorenses eram animistas e acreditavam na existência de um ente supremo, MAROMAK, sinónimo de Naroman, que significa “Brilhante”, “Luz”. 


Em 1975, a Fretilin publicava um jornal chamado Nakroman (Luz).
Apesar de crerem na existência de Maromak, os Timorenses cultivam especial culto aos espíritos dos Antepassados através das “Lulik” ou casas sagradas.





Os Antepassados são venerados como fonte de vida e protectores dos vivos. 

Acreditam que são os Antepassados que presidem os destinos da família e protegem os membros. 
Por isso, quando alguém morre, os timorenses realizam cerimónias especificas de protecção ao defunto , ritual chamado de “Hakoi Mate” (funeral e enterro) e todos os anos, regressam às suas aldeias de origem, para celebrarem o Dia dos Finados pois para os timorenses os mortos imiscuem-se no destino e nas actividades dos vivos e portanto há que aplacá-los com oferendas seja nas casas sagradas seja nos cemitérios.

Os nativos crêem que os mortos aparecem em forma humana a que, em tetum se chama ‘mate clama’ .

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