O livro dos Mortos do Egipto
Este livro começou a ser descoberto a partir de 1800 .
Inclui diversos textos encontrados em papiros e sarcógafos, tais como os Papiros de Hunefer( 1400 a.c.), de Ani, Gerusher, de Enhai, de Nezemi.
Os antigos egipcios acreditavam que foi Tehuty (Thoth ou Hermes) a escrever estes textos há 50 mil anos e que eles representavam o conhecimento da eternidade da alma humana .
O titulo inicial era ‘O Livro para sair para a Luz ‘ que indica precisamente porque foram escritos os textos, para ensinar aos vivos a melhor maneira de viver (uma forma de iniciação espiritual) e de atingir a imortalidade da sua alma após a morte.
O livro dos Mortos, ao contrário dos seu nome, encerra afinal a explicação dos mistérios da vida, actual, futura e eterna.
Os antigos egipcios acreditavam existirem 3 mundos : o mundo inferior Ta, o superior Nut e o intermédio Dwat ( purgatório dos cristãos).
A alma viaja de Ta para Dwat até atingir Nut.
Interessante é a tradição egipcia dizer que estes 3 mundos são vividos pelo homem durante o curso do dia e da noite, Ta entre as 6 e as 18 horas, Dwat entre as 18 e as 24 e Nu das 24 ás 6 horas, ou seja, podem vivenciar-se as expêriencias dos 3 mundos todos os dias e assim o homem se prepara em vida para o que ocorre ém outros planos após a morte (‘ o que está em baixo é o que está em cima ‘).
O Universo para os egipcios era gerido por 42 leis naturais de Osiris , nove das quais são as principais e se chamam de Paut Netru .
Estas Leis reflectem todas as qualidades e dinâmicas existentes na psique humana.
A salvação na terra dos mortos depende do comportamento da pessoa em vida, alcançando conhecimentos da verdade pois a morte resulta apenas da ignorância e enchendo a casa da vida (o corpo) de Luz para viverem eternamente.
Este conhecimento era o mapa para saber viajar neste e no outro mundo.
Para Thot ‘a maldade da alma é a ignorância e a virtude da alma é o conhecimento’.
Toda a educação no Egipto valorizava a importância de aprender o controle das emoções e ensinar como é possivel ser bom, criativo, ter auto estima e alcançar a auto realização.
Cada acto de maldade cometido nesta vida leva ao menosprezo pessoal e fica registado em nosso cérebro e na nossa alma aquando chegar o tempo de sua saída do corpo e de se ‘fazer as contas’.
Consequentemente temos de estar atentos aos nossos sentimentos, pois eles se transformarão em pensamentos, depois os pensamentos se transformam em acções que se tornarão hábitos e nossos hábitos são nosso destino.
A psicologia sagrada egipcia exige o comprometimento de sermos verdadeiros com a nossa natureza interna e que não a neguemos para obter bens materiais ou outra razão.
Essa negação resulta em neuroses e desprezo por nós mesmos.
Para os antigos egipcios o ser humano deve tornar-se iluminado pela iniciação no conhecimento para encontrar o caminho nas trevas.
Deve dominar a parte malévola de si mesmo para se desenvolver e alcançar a imortalidade.
Deve permitir ao Ka exprimir as suas boas qualidades e não reprimi-las, pois repressão significa doença mais tarde ou mais cedo.
Para despertar-perceber o Ka é preciso disciplina e persistência na vida.
Algumas vezes experiências negativas como frustação, dores, tragédia , actuam como um professor para despertar o Ka a fim que as pessoas ganhem controle sobre os impulsos internos e o comportamento externo que dita o seu destino.
O despertar consegue-se com um mestre ou seguindo um caminho pessoal de auto conhecimento com disciplina e persistencia.
Depois há que purificar corpo e psique, por meio da combinação de ervas e laxantes.
Só a seguir se está preparado para purificar os sentimentos e pensamentos.
Isso implica contemplar –visualizar as suas qualidades negativas e maus eventos que passou na vida por um periodo de 3 a 7 dias.
Depois de recordar-se de todas as dores e sofrimentos e libertar-se deles e perdoar tanto a si mesmo como aos outros que lhe fizeram mal.
Depois contemplar as suas qualidades positivas e depois de as recordar há que libertar-se dessas energias também e dizer convicto :
Renuncio aos prazeres da Terra pelos prazeres do Céu.
Assim tendo contemplado e renunciado a pessoa terá renunciado e se libertado de todos os recursos internos de energia.
Este processo é vital para a purificação da psique ( alma e mente).
Após esta purificação a tradição egipcia recomenda o método de activação da cura e aquisição de boa saúde pela realização de exercicios fisicos que fazem parte da cultura egipcia (respiratórios, desenvolvimento de poder e treino e postura do guerreiro).
Quando a pessoa tiver completado estas 3 fases , despertar , purificar e activar, então chegará a altura da parte Celeste intervir e produzir um rejuvenescimento, uma ‘nova’ atitude da pessoa perante a vida.
Quando o corpo tem uma ‘nova’ atitude todas as energias fluem em harmonia e cria-se uma ‘nova pele e novos tecidos’ que a tradição egipcia aponta para um periodo de 15 anos seguido de um periodo de 10 anos durante os quais a pessoa passa por fases de ‘aquecimento e luz’ seguidos de aumento de ‘longevidade’ de acordo com as carateristicas de cada um.
A chapa 4 do papiro de Hunefer contém a ilustração e a descrição do dia do julgamento.
Antes da pessoa morrer, ocorre um processo de fotografia psiquica por meio do qual todas as experiências de vida e memórias cerebrais formam uma estampa ou marca na alma da pessoa.
Entao a alma parte abandonando o corpo sem vida.
Parte em forma de uma espiral de energia, chamada de halo e então os olhos do morto estão como que vidrados no processo mantendo-se consciente do efeito esmagador do mesmo .
Diz-se que as pessoas estão adormecidas e despertam ao morrer.
Na cerimónia funebre queimava-se uma cópia do Livro dos Mortos para dar à alma do defunto as armas para assegurar seu futuro eterno.
Mesmo que uma cópia seja queimada na morte é melhor aprender este conhecimento divino com o coração e vivê-lo praticando-o durante a vida para que as palavras se tornem verdades enraizadas, pois só assim o Livro dos Mortos desta vida se torna no Livro da Vida para os mortos.
O julgamento ocorre na noite da morte do individuo.
O defunto apresenta-se diante das 42 leis naturais que são os seus juizes e de Osiris, como rei do mundo do além e fornece um relato completo de sua vida.
Theuty está presente para registar as acções da vida do defunto.
Anubis está presente para seguar a balança da justiça onde se pesam as acções do defunto com a pena da verdade.
Os orgãos do defunto estão presentes para serem testemunhas das suas acções e confirmar a veracidade das suas declarações.
O defunto observa todas as acções praticadas em vida como num filme e tem de decidir o destino da sua vida futura ( em nova reencarnação ou em ascenção para outro plano espiritual ) com base nas acções cometidas em vida.
Não há mentiras nem ardis, só a verdade é dita no filme que se desenrola á frente da pessoa.
Por isso Hunefer pede a seu coração para estar a seu favor neste dia.
Depois o falecido é julgado por Osiris que decide o que o defunto vai fazer a seguir.
Nesse Julgamento tem de responder a si mesmo sobre as seguintes questões :
--- Aceitou a vida suficientemente para estar apto a viver novamente na morte?
--- Desenvolveu uma personalidade suficientemente forte para dar continuidade à mesma ?
--- O seu coração abriu-se para a espiritualidade ?
--- Quantas sementes de eternidade plantou durante a sua vida ?
--- Esforçou-se para superar os seus limites materiais ?
--- Esforçou-se para merecer a posse de sua alma eterna ?
--- Fez das palavras da verdade, uma realidade na sua vida diária em actos práticos ?
As opções dependem se em vida o defunto conseguiu ou não se conhecer a si mesmo, controlar a sua mente caótica com uma firme determinação e assim se unir ás leis naturais e se libertar do mundo das aparências.
O sofrimento humano segundo os egipcios é devido a esta ausência de conhecimento e é necessário como forma de ‘forçar’ a conscientização para este processo de transformação interior.
Quem não o fez e permaneceu ignorante do seu próposito de nascer (dizem os egipcios de não ter conhecido o seu próprio Ka, sua natureza interna ou seu corpo de desejo) .
A chapa 7 do papiro de Hunefer explica o ritual da abertura da boca.
A boca do defunto é fechada quando morre e aberta novamente após a morte.
O morto pede que sua boca seja aberta, ou seja, que a sua memória seja resgatada por ele após o silencio da morte.
Este ritual era dos mais profundos segredos do Egipto.
Assim as obras divinas cultivadas em vida tornam-se activas após a morte em beneficio do defunto que assim reune todas as manifestações de protecção ou palavras de poder que o ajudam a superar os obstáculos de Dwat a caminho dos Campos de Paz.
No capitulo 90 está escrito :
Ó tu, que restauras a memória na boca dos mortos pelas palavras de poder que eles possuem, permite que minha boca seja aberta pelas palavras de poder que possuo.
Este texto reflecte a crença que a boca do defunto é aberta por Ptah e que Thot lhe confere as palavras de poder que abrem todos os portais.
Na chapa 8 do papiro de Hunefer o falecido em evolução superior atravessa o Dwat (mundos inferiores) e unido às 42 leis sente que está integrado ao único todo poderoso, unido ao Criador.
Afirma que todas as almas devem travar uma batalha que é inerente á ilusão de viver, batalha essa que se baseia na doutrina da Purificação e que se incia com a concepção do homem e seu nascimento.
Assim os seres humanos só alcançam a graça suprema do Céu depois de superar todos os estágios intermediários e suas consequências.
Identifica-se como o guardião do livro das ‘coisas que são e que serão‘, declara que Deus se manifesta pelas suas criações.
Conclui com o defunto dizendo que colocou um fim aos seus erros e dominou seus pecados sendo severo com a parte corruptivel de si mesmo, assim se tornado capaz e digno de se unir a Osiris.
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A chapa 9 do papiro de Hunefer diz :
Adquiri a purificação do meu corpo e da minha alma no tempo da minha juventude, quando as outras pessoas estavam ocupadas com a ilusão deslumbrante da vida.
Hunefer explica que foi a Fé no Criador Deus todo poderoso que o inspirou na sua busca.
Passou a vida tentando entender as leis naturais e ao alcançar este conhecimento descobriu o futuro da alma e o que acontece com ela após a morte.
Dedicou-se ao combate entre o bem e o mal e denuncia as ilusões fascinantes da vida criadas pelo mal para acorrentar o homem.
Percebeu finalmente que o mal será sempre vencido pelo bem e que a autoridade do mal só advém se o homem lha der.
Descobriu o caminho da imortalidade pelo portal a sul de Rastau no qual o individuo se torna uma alma perfeita após se desprender de tudo que pertence á Terra.
Henufer sobe pela escada de Heru para a Luz e diz ::
‘Elevo minha escada ao céu, pois eu observei as leis’.
A chapa 10 do papiro de Hunefer explica que a sua salvação lhe deu ‘prosperidade e saude sem pecado’, que ao ver o Sol nascer e morrer todos os dias com uma nova vida isso lhe deu força para também se regenerar e ‘mudar de atitude de vida’.
Compara-se a um gato que luta para obter felicidade e autocontrole, pois os gatos não resistem ao movimento e assim não se magoam mesmo quando caem de grandes alturas rodando no ar para cair naturalmente em posição flexivel e relaxada.
Mesmo a dormir os gatos estão atentos e assim está o homem que ‘acordou’.
O papiro de Gerusher foca as técnicas respiratórias como centrais no caminho espiritual.
A chapa 5 do papiro de Ani é o começo das orações cerimoniais para entrar no Dwat que devem ser recitadas no dia do sepultamento.
Ani reconhece que está unido ás leis naturais, declara que Tehuty, o conhecimento, está com ele e pede que lhe seja concedida a entrada na casa de Osiris com uma alma perfeita e vitoriosa.
A chapa 6 do papiro de Ani refere que Ani assumiu a personalidade de Osiris em vida, ou seja, seguiu o conhecimento e inteligencia de seu coração e extingiu em si a luta do bem e do mal e pede a Osiris que lhe conceda o poder para seguir a luz do seu coração nas trevas da noite por ter conseguido controle sobre seu corpo espiritual e assim se tornando poderoso.
A sua recompensa resulta de ter comprendido e obedecido á verdade.
As súplicas desta chapa eram memorizadas em vida pelo defunto para seguir adiante nos mundos inferiores após sua morte.
O papiro de Nemezet nomeia as 42 confissões negativas que o defunto tem de fazer no acto do julgamento, e são um testemunho que o defunto teve um bom comportamento moral e ético na sociedade.
Diz por exemplo, Eu não matei , Eu não roubei, Eu não destrui meu coração, Eu não me fiz surdo ao ouvir as palavras da justiça e da verdade.
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