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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Tripla Vida do Homem-Parte1




A Tripla Vida do Homem

por Jacob Boehme


PARTE 1


Excertos deste livro escrito em 1620.


Nós estamos numa tripla vida.

A alma está sobre o abismo entre dois principios ( o celeste e o infernal) e está ligada a um e a outro.

O corpo está apenas neste mundo e vive no espirito deste mundo, por isso busca só comer e beber como os animais.
Devemos reprimir o corpo e seus desejos se não queremos ser apenas meros animais a chafurdar na pocilga deste mundo, a fim de que ele não se torne um asno glutão e permita a entrada do diabo na nossa estalagem.

A alma deve lançar a sua vontade firmemente em Deus como se fosse impotente em si mesma, embora seja forte e aí o demónio se afasta pois não pode nada contra a Vontade de Deus onde a pobre alma se abandonou.

É verdade que isso faz grande dano ao corpo, por sua vontade e seu desejo serem quebrados, mas isso é nada, a eternidade é longa mas o corpo tem um tempo curto e regressa á sua mãe terra e deixa a pobre alma ir para aonde ela pode.

O demónio é de facto um vizinho infiel para a alma.


Cada vida deseja por alimento sua mãe, da qual essa mesma vida nasceu.



Na vida de nossa alma existe um apetite por uma vida mais elevada , não se contenta com seu próprio alimento neste mundo mas deseja com ardor esse Alimento supremo não para se deliciar mas como que premida pelo ’instinto’ que só esse Alimento pode apagar o seu fogo e lhe dar paz.

A alma do homem não pode penetrar com suas essências no Fogo de Deus para dominá-lo, como quis fazer Lucifer em vão, mas deve, em si mesma, como num segundo principio, penetrar em Deus em Seu amor, em Sua Luz.
Aqui ocorre um segundo nascimento na alma, pelo facto de que não tem que sair apenas para fora da vida astral mas também para fora da fonte da sua própria vida, e extrair sua vontade no amor de Deus ( se quer estar Nele), e essa extraida vontade é concebida de novo por Deus e Deus habita nessa vontade.

A cólera faz parte da Natureza eterna, nessa parte se encontra o abismo do demónio mas também o veneno da criatura.
Sem veneno ou aguilhão e sem cólera não haveria espirito nem vida , pois deixaria de haver combate, deixaria de haver movimento, tudo estaria não-manifestado no repouso da Liberdade eterna.
Mas a eternidade desejou a vida e a vida não pode ser engendrada de outra forma e é por isso que a geração colérica não pode cessar na eternidade.
A matriz da cólera pode ser considerada uma morte em Deus, no entanto, não há morte numa nem noutra,mas a vida eterna numa fonte dupla.


O Verbo é no centro tenebroso uma angústia e um mal venenoso mas no centro de luz é uma fonte de alegria que provoca o som, o tom, mas como um ‘falar’ e não como o som do fogo no centro tenebroso.

A cólera selou o homem com o espirito deste mundo e o conduz de maneira a cumprir sobre ele todas as suas maravilhas, sim, porque elas existem quer no Amor quer na cólera, todas para a alegria e a glória de Deus.


Eu bem queria fugir do dragão e ir ao deserto com a Virgem que está sentada sobre a lua e eu mesmo tenho de montar no dragão.
Senhor, que seja feita a Vossa Vontade! Vossas vias nada mais são que maravilhas.



As obras que o homem faz fora da Vontade de Deus e nas quais se agrada são arte-indústria natural e ficarão eternamente perante Deus em imagens-figuras que subsistem nas maravilhas para a glória de Deus.

Os homens pensam encontrar Deus pela sua vontade mas Ele não está lá, nessa vontade, pois Ele absolutamente só permanece na vontade que se abandona a Ele com todas as suas ciências e toda sua razão e só a essa vontade abandonada Ele dá a ciência e o poder de conhecer Seu ser.

As obras feitas pelo homem na Vontade de Deus, com firme vontade e abandono humilde ficam no Coração de Deus como seus filhos queridos ‘substanciais’ como frutos da efectiva regeneração do ser humano.

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