O homem interior e o homem exterior
Segundo Jacob Boehme
Segundo Jacob Boehme
O homem interior vê a criação em seu principio, mas para o homem exterior ele é como morto, mas o que ele vive para o mundo externo, vive em Deus e por causa das Suas maravilhas a fim de trazer em ser o que existe em figura no oculto.
Isto significa que o homem interior, aquele que está voltado para o interior, vive a criação de Deus apenas no seu princípio, ou seja, apenas na sua origem, contempla (=vê) a fonte/origem de onde Deus emana a criação.
Isto significa que quanto ao homem exterior ele está como se estivesse morto.
Ou seja, ele não está morto porque está voltado para dentro, mas está morto no que diz respeito a estar voltado para fora.
Isto significa que o homem interior, aquele que está voltado para o interior, manifesta as maravilhas que estão contidas em Deus e que dentro da fonte de Deus estão escondidas maravilhas, tal como dentro de uma fonte de água estão contidas todas as maravilhas que nascem a partir dessa mesma água.
Uma fonte de água produz uma vegetação luxuriante à sua volta e portanto podemos dizer que essa natureza luxuriante está contida na fonte de água, e o mesmo se passa com Deus e o homem interior.
Assim, o homem interior, porque vai "beber" da água de Deus vai manifestar no seu reino interior (= o microcosmo) as maravilhas de Deus.
O homem interior, ao beber da água de Deus fica "divino", portanto, nas suas ações exterioriza essa mesma divindade.
Em primeiro lugar na forma como organiza o mundo interior, em segundo lugar numa espécie de "difusão" para o mundo exterior.
Ele não vive no exterior, porque quanto ao exterior ele está morto.
A primeira parte da frase é bem explícita: o homem interior está vivo, e o homem exterior está morto.
O homem interior está completamente (= 100%) voltado para o interior.
No entanto, aquilo que ele bebe em Deus manifesta-se no mundo interior e no mundo exterior, mas num processo de difusão.
Ele não se pode voltar para o exterior porque já está morto para o exterior.
O homem voltado para o interior ainda vê o exterior, vê a aproximação de inimigos, e também pode ver como as coisas estão no exterior.
Ou seja, o homem interior vê, ou vigia, os outros ‘reinos vizinhos’, mas não vai lá ter com eles.
Na prática isto significa que eu posso ver o que está à minha volta, mas não me concentro nessas coisas.
Assim, eu não saio fora de mim.
Mas se eu me concentro nalguma coisa fora de mim, por muito pequena que seja, saio imediatamente fora de mim.
Pelo seu lado, o homem interior, limita-se apenas a "vigiar" aquilo que se passa no exterior sem se concentrar em nada.
No Kendo eles chamam a isso "Enzan no metsuke", que significa "olhar para a montanha distante".
É assim que o homem interior "olha" para o exterior, sem se concentrar em nada, mas vendo tudo.
Assim, o espírito não se prende a nada de exterior.
Por isso é tão importante no Kendo.
Quem está dentro vê em seu interior com os proprios olhos, e no exterior com o olho do mundo. Olho do mundo = como observador e não actor.
Devemos ficar em 9, não podemos ir a 10, em 10 fazemos o que Lucifer fez, quis ser criador e buscou o fogo do original eterno e lá ficou eternamente nas trevas desse 10.
Devemos ficar no 9 , na humildade, com alma temerosa , sem conceber nem ter vontade de entrar no centrum = 10, mas nos alegrarmos por ficar eternamente diante do 10, ver diante de si o 10, a cruz do Trinário e sermos recebidos como um filho querido pela Sua Majestade.
O paraiso está perante o Trinário como a Sofia.
Toda a ação do homem interior se passa na sala da sua alma.
No centro dessa sala está a fonte da água viva que é Deus.
Portanto, tudo aquilo que o homem interior faz é na presença de Deus.
Mas o homem interior não vai para dentro da fonte.
A fonte serve para ele, e aqueles que vivem com ele, se alimentarem dessa água viva que dá a eternidade.
Tal como os deuses no Olímpo que apenas se alimentam da ambrósia celeste.
O homem interior tem que estar sempre junto da fonte.
Tem que estar sempre no 9.
Mas nunca avança para o 10.
Isso seria querer ser Deus junto com Deus.
Não é essa a nossa função.
Não foi para isso que fomos criados.
Pelo contrário, fomos criados para mantermos o maligno afastado de se querer apropriar dessa mesma fonte de água viva.
A meta é ficar na humildade perante Deus, fazer a Sua vontade e nada mais além.
Não deves imaginar Nele ( no 10, na Trindade) nas maravilhas.
Assim que isso te ocorre, sais de Deus e ficas preso na imaginação.
Cada imaginação produz substancia onde ficas e se não saires daí de novo não contemplas Deus.
E Seu desejo é manifestar-se em contemplação.
Deus cria através da imaginação (= através de imagens).
Podemos dizer que Deus imagina uma coisa e envia essa imaginação, essa imagem, na sua emanação.
Quando o homem interior bebe essa imaginação de Deus, ele vai procurar exteriorizar essa imagem.
Isto quer dizer: ele vai "viver" em si essa imagem.
Um exemplo: Deus tem um pensamento de Bondade.
Ele emana esse pensamento de Bondade.
O homem interior bebe essa emanação e dentro de si vai atualizar essa bondade.
Ou seja, a imagem passa de imagem a facto real no interior do homem interior.
Depois o homem interior vai traduzir essa bondade (que sente dentro dele) em atos dentro do seu reino interior.
Por fim, essa bondade no reino interior vai-se exteriorizar numa espécie de emanação para os reinos limítrofes, ou mesmo para o mundo, da forma que se disse antes (não diretamente, mas indiretamente).
As imaginações pertencem a Deus.
É a Deus que pertence imaginar.
Nós devemos apenas beber nessa imaginação.
Porque se nós imaginarmos, ou seja, se formos nós a imaginar, então estamos a pretender ser criadores em vez de Deus.
Nós não podemos imaginar no sentido de sermos criadores em vez de Deus.
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