Como nos deixamos enganar quando buscamos
Estando o homem entre três reinos ( o divino, o colérico demoniaco e o mundo), existe um combate permanente no homem para pender para um deles.
Todos três querem a sua imagem pois sabem que nenhuma outra criatura senão o homem pode trazer à luz do dia as maravilhas do mundo.
Cada reino o quer para si, para nele manifestar as suas maravilhas e a pobre alma humana debate-se sem descanso neste puxar da corda para um lado e para o outro.
Primeiro, deseja o poder, a honra e a glória, quer que todos o respeitem e temam, isso é a rubrica do diabo que satisfaz o homem neste aspecto tanto quanto pode.
Segundo, deseja as riquezas para comer e beber muito, não o suficiente mas muito, sem perguntar como o obtém, isso é o espirito deste mundo que não pede mais que abundância como os animais.
Terceiro, deseja também o reino de Deus, angustia-se e suspira por ele, mas numa grande impotência, e continua sempre na dúvida se é ou não pecador e se Deus o quererá.
Angustia-se com a cólera de Deus e deseja ser salva, libertada dessa angustia. Reza mas duvida.
Espera dia após dia corrigir-se e ser libertado.
Sempre pensa: É amanhã! Amanhã terás força de ir para mudar de vida.
Mas esse amanhã nunca chega ....
Não falamos aqui de homens porcos, que nada mais fazem que chafurdar na imundice e que nem pensam sequer de lá sair, falamos sim do pobre pecador na balança entre o céu e o inferno, que tem esse impulso duplo e que hesita no pára ou avança.
É verdade que o diabo vem ao homem sob várias formas.
Semeia pensamentos segundo o espirito do mundo no homem, semeia cobiça, dirige seus olhos para o orgulho e sensualidade de pessoas belas, ocupa seu espirito com a atracção da imaginação referente a homens e mulheres conforme seu sexo.
Outra forma é de anjo.
Quando a pobre alma está prostada de fadiga e procura consolo ele diz-lhe : És piedosa, podes ir ás casas de pedra ( igrejas, seitas) e busca aí consolo.
Sabe que nessas casas de pedra estão os ‘seus’ pregadores que dão palavras e conselhos ‘agradáveis’ ás pessoas para as confortar e elas saiem de lá repetindo de cor essas palavras e bem melhor quando se trata de criticar os outros. Alimentam-se com isso toda a semana pois lhes é mais ‘doce’ que a Palavra verdadeira.
Crêem que basta correr para a igreja para se ser um bom cristão.
Mas teriam feito melhor se durante esse tempo estivessem a chafurdar na lama ou a dormir, ao menos o demónio não teria ferido seus corações com paixões e desdém.
Melhor seria ter adormecido na igreja para não ter o demónio por hóspede no coração .
Outra forma mais astuta do demónio é esta.
Quando ele vê que a alma busca a penitência sincera, diz-lhe sim para rezar e se penitenciar.
Quando a alma se prepara para rezar na sinceridade do coração o demónio se introduz e tira do coração a inteligência como se Deus não a escutasse, apresenta-lhe os pecados diante do coração e diz que ‘amanhã será melhor, hoje não serás escutada’ .
Então o coração se detém na sua sinceridade inicial e começa a dizer as palavras da oração (não a sinceridade do coração) tal como as aprendeu, uma após outra, e assim o demónio tira a força do coração de modo que a alma não pode apreender o centrum da Natureza com o ardor e sinceridade iniciais.
Reza com palavras mas sem o Verbo, sem ter acendido o fogo necessário para subir a Deus.
Se o demónio se te opõe ao rezares pelo Verbo, ponde-vos contra ele, sabei que tendes a graça de Deus que ultrapassa qualquer obstáculo, junta teus pecados e lança-os na misericordia de Deus com humildade e despojamento.
Não disputeis muito tempo sobre os pecados, é essa a intenção do demónio, fazer-se envolver aí e fazer ‘valer’ os pecados afim que vós vos desespereis.
Experimenta isso que te digo e logo sentirás outro homem com outro pensamento e outra vontade.
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