Santuário Natural da Curvaceira
Na aldeia de Curvaceira a 15km de Tomar existe um Santuário natural pouco conhecido cuja história mostra a evolução das práticas religiosas no local.
Desde tempos primitivos pré-cristãos ( celta e mesmo pré-celta ) existe neste local uma grande clareira envolvida por uma floresta milenar de carvalhos, um deles de grande porte, o Carvalho Grande ( para os celtas o Carvalho era o equivalente a um Templo) e uma fonte santa.
No meio da clareira a cerca de 3 metros da Fonte foi colocado por povos pré celtas um menir com forma fálica com 1,2 m de altura e 40 cm de diametro.
Nota-se a concavidade causada pela raspagem da Pedra
para fins curativos ou religiosos
para fins curativos ou religiosos
Temos aqui reunidos os elementos chave da Trilogia primitiva, Fonte-Pedra-Bosque de Carvalhos.
A água da fonte escorria em direcção à ribeira de Beselga a 300 m mais abaixo.
Decerto este local foi usado para rituais pagãos e suas festas religiosas associados aos cultos da água, da Pedra e do bosque de carvalhos.
Na época romana diz-se ter existido perto uma localidade romana chamada Concordia.
Existe uma lenda que fala na perseguição e o martirio nessa época de muitos cristãos, nomeadamente de Santa Catarina que teria sido morta pelos romanos em cima da Pedra e daí ter esta passado a ser chamada da Pedra dos Santos Martires.
Este local foi depois integrado nos dominios à epoca dos Templários e protegido pelos monges de Cristo .
Foram esses monges que se pensa terem construido á volta da fonte uma construção em argamassa para protecção da fonte que ainda hoje subsiste escondida por vegetação espessa.
Abertura de acesso à Fonte Santa
A integração cristã do local fez-se progressivamente introduzindo a Festa da Coroa na aldeia da Curvaceira, festa com base no culto do Espirito Santo à semelhança da Festa dos Tabuleiros em Tomar.
Nesta festa da Coroa o simbolo axial da Pedra foi substituido por um mastro em madeira formado por 2 troncos de pinheiros, usado numa competição onde os homens tentavam chegar ao cimo do mastro.
No cimo do mastro era colocada uma bandeira vermelha ,um grande bolo de massa e uma quantia em dinheiro.
Para dificultar a subida estava untado de sebo a meio ( os mais espertos levavam no bolso uma porção de cinza que esfregavam no sebo para diminuir o seu efeito ).
Nesta Festa da Coroa à semelhança dos Tabuleiros em Tomar havia raparigas que levavam à cabeça uma coroa com pães e era simbolica da ligação entre o Espirito e a Mulher, a Sofia, a Sabedoria portadora de vida.
Desde essa altura o local foi frequentado, seja para colocar ex-votos no Carvalho, seja para buscar remédios para as maleitas na fonte e na Pedra sendo uma das práticas o roçar a Pedra com uma mais pequena para retirar algum pó, juntar esse pó à água da fonte e fazer uma mistura destinada a curar doenças, à altura chamadas sezões.
A Pedra tinha sido rodeada, no séc. XVII , de um nicho quadrado em alvenaria para a proteger mas existiam pequenas aberturas em cada lado que permitiam a raspagem da superficie da Pedra para os efeitos acima referidos.
Actualmente a Pedra foi retirada para local seguro para protecção, da fonte ainda nasce e brota água agora desviada para rega de hortas mais abaixo, continua lá a clareira e o bosque milenar de carvalhos com o Carvalho Grande por cima da Fonte.
Mantém-se no local um pouco acima da Fonte e do Carvalho Grande, uma Cruz onde se realizava a Festa cristã da Coroa ou do Espirito Santo.
Cruz ligada ao culto cristão do Espirito Santo com o Carvalho Grande ao fundo.
Infelizmente o local está cheio de silvas e muita vegetação que impede uma visão mais nitida dos seus componentes sagrados, impunha-se uma limpeza do mato à volta para dignificar o local .
Mais um local para passar e meditar a Caminho de Casa perante a atmosfera religiosa e ‘telúrica’ que ainda envolve este local sagrado e transcendente usado pelos nossos antepassados desde tempos imemoriais.
Coordenadas GPS da Fonte Santa : N 39º 32.522 - W 8º 26.016 .
Latitude =39.542110 N , Longitude =-8.433650 W
Google Maps
http://maps.google.pt/?ie=UTF8&ll=39.541895,-8.434205&spn=0.001663,0.003396&t=f&z=18&ecpose=39.54054895,-8.43420487,247.92,0,44.995,0
Quem quiser detalhes mais completos adquira ou peça fotocopias na Biblioteca da Camara Municipal de Tomar ( Tel. 249 329 874) do Boletim Informativo e Cultural nº 6 de 1983 onde a paginas 25 a 91 existe um excelente artigo de Antonio Cerejo sobre este tema.
Bela investigação
ResponderEliminaracrescento:
os quais relacionam directamente o corroído miliário do Casal dos Santos Mártires e a necrópole romana escavada perto, em 1659, com os mártires de Concordia, concluindo o processo com a construção de um modesto santuário rural, em 1660 (Fig. 2), infelizmente hoje muito degradado (Luz, 1659: 76; Mantas, 2012: 309).
https://books.google.pt/books?id=adjFDwAAQBAJ&pg=PA204&dq=concordiae+beselga&hl=pt-PT&newbks=1&newbks_redir=1&sa=X&ved=2ahUKEwinrOS7oYT-AhWvUKQEHYQ6ADkQ6wF6BAgDEAE
cumprimentos
lm
António Cerejo (?): "O numero 1660, gravado na extraordinária argamassa do reboco da parede, em grafia antiga, deve referir-se, provavelmente, a data da edificaçao. A construçao ocupa um espaço rectangular de dois metros e setenta centimetros de comprimento por dois metros e trinta de largo. A parede do lado poente, logo abaixo da empena triangular, apresenta uma abertura rectangular, janela por onde se podia entrar no interior, para limpeza periódica. As paredes construídas, parte em pesada cantaria, parte em alvenaria, têm a espessura de cerca de cinquenta e cinco centímetros, pelo que a área interior se reduz a cerca de dois metros quadrados. A água corria por uma estreita bica, talhada em cantaria e enquadrada na própria parede do lado norte, para uma pia cavada num bloco semelhante aos cunhais da construçao e dai descia em direção à ribeira, que passa cerca de trezentos metros mais abaixo."
ResponderEliminarlm