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quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Genese segundo Jacob Boheme - 21





PARTE 21


O Mundo futuro


A Consumação





A multiplicidade do mundo futuro.


Boehme baseia a sua doutrina de que a alma não pode mudar a sua vontade após a morte com o argumento de que, após a morte, a alma não tem opçoes como aqui na terra onde possa mudar a sua vontade .

Todos estão lá , nessa altura , emaranhados no conteúdo espiritual, a imaginação que cada um traz deste mundo inferior, e só essa imaginação pode ser aí desenvolvida .

Boehme parece, assim, afirmar que nenhum problema novo pode ser apresentado para a alma no mundo do além após abandonar o corpo fisico, não pode adquirir no além nenhum novo material para a sua energia e aí vai permanecer como está sem qualquer mudança na sua vontade.

O Mundo Futuro

Bohme ensina que as almas levam consigo deste mundo uma imagem plástica e uma imaginação que foi moldada neste mundo , e que os incrédulos e os ímpios sofrem terríveis fantasias e penas , geradas por eles mesmos.

As almas estão certamente fora do corpo.
Mas todos os órgãos do corpo, as orelhas, os olhos, a língua, etc, transmitiram suas formas para as almas, que estão cercadas por formas que pertenceram a esses órgãos físicos.
Cores, palavras, sons, fogo e outras formas físicas estão ao redor delas de acordo com o padrão a que estavam familiarizadas neste mundo.
Em suma, elas levam com elas a forma da sua condição anterior, exatamente como elas se renderam a essas condições com todo o seu apetite, ou, como diria Boehme, com a sua imaginação e desejo.





A consumação.


Vamos agora falar da doutrina de Bohme sobre a consumação de todas as coisas.
Bohme olha apenas para a conclusão.
Deus desde a eternidade moveu-se por duas vezes: a primeira vez para a criação do mundo, que pertence ao Pai, pela segunda vez para a Encarnação, que pertence ao Filho, mas, no fim do mundo, Ele vai mover-se pela terceira vez, na forma do Espírito Santo, quando o Espírito Santo se revelar como o Espírito Criador com os sete espíritos , e em seguida, o terceiro princípio que é este mundo será abolido e retornará ao éter e os mortos se levantarão.

Depois do mundo ter tido uma época na forma de um "reinado de mil anos", seguir-se-à uma época de "paz na terra" durante o qual todas as desavenças religiosas vão cessar e Cristo governará como um pastor de seu rebanho , em seguida a Pedra Filosofal , pela qual passaremos a saber todas as coisas e a saber extrair o Espirito dessas coisas , será descoberta e o mundo perecerá pelo fogo.
Este fogo não é um incêndio comum, é o Fogo do Centro Natureza , que incendeia o mundo por dentro e explode por todo o lado .

O Julgamento Final

Agora ocorre o Juízo Final, a Crise Final, com a derradeira separação.

A mistura de bem e do mal, de amor e de ira, que é a característica fundamental do mundo actual, vai terminar .

O meio termo acaba , tudo vai ser dividido em luz ou escuridão.
Desta crise, em que tudo o que não pode suportar a provação do fogo se afunda na escuridão, o novo mundo surge em glória indizível.

Céu e terra serão unidos, e os crentes ascenderão à bem-aventurança perfeita.

Tudo é penetrado e preenchido com a Luz de Deus.

Cristo Juiz

Quando Cristo é revelado em Sua majestade, como o Juiz, o demónio e os ímpios são tomados por um desespero indescritível, e pela sua condenação eterna , afundam-se com seu caráter e com todas as suas acções, na mais profunda escuridão.

Mas os crentes erguem-se numa corporalidade transfigurada à imagem do Cristo Ressuscitado.

Eles agora já não estão no estado intermediário , na mera "magia", mas com uma realidade espiritual e corpórea.

Seus corpos são palpáveis, mesmo assim espirituais e incorruptíveis, livres de tempo e espaço, como o Corpo de Cristo, com que Ele passou através de portas fechadas.
Os ressuscitados são andróginos; as relações terrenas do sexo e da família permanecem apenas como uma longinqua lembrança.

O Mundo Abençoado

Na realidade, cada homem ou cada mulher tem em si a combinação perfeita entre o masculino e o feminino.

Eles são agora, pela primeira vez, seres humanos perfeitos, que não se casam nem se dão em casamento, mas são iguais aos anjos.

Eles vivem sob Cristo, que já entregou o Reino ao Pai, e já não é nosso Redentor, mas continua a ser o nosso Lider e Irmão.

O conjunto deste mundo abençoado habita agora em perfeita e imutável "temperatura" em harmonia indissolúvel do espírito e da natureza.
E todos os espíritos, anjos e homens, são agora os instrumentos e os ministros de Deus, em harmonia completa com Deus e uns com os outros.

O demónio e os condenados não são restaurados

A idéia da Redenção sugere que a criação, perturbada pelo pecado, deve ser restaurada à "temperatura".

Parece pois natural esperar que, no final do sistema, o Mal, como mal, deve ser aniquilado e reduzido a uma mera base coadjuvante do Reino de Deus, assim como o Principio da Natureza escura em Deus é apenas a base coadjuvante e necessária para o Pirncipio da Luz se manifestar . Mas, segundo Böhme, que está aqui em harmonia com a doutrina da Igreja, o demónio e os condenados continuam fora da "temperatura", e não podem ser restaurados nela.

A eternidade do Inferno

Bohme tem a sua doutrina da eternidade do inferno.

Sempre que a questão é apresentada a ele, se o inferno não deve, em algum momento ou outro, chegar ao fim, e haver a salvação universal em toda a criação inteira, ele responde que isso não é possivel , e que isso está totalmente em conflito com a Fundação do Inferno.
Para o diabo se tornar novamente um anjo, ele devia voltar a entrar na unidade de Deus e no Amor, o seu fogo de vida, a sua vida de orgulho devia ser transformada em humildade.
Mas isso o diabo e os demônios não querem nem podem fazer , porque não têm a inclinação para isso nem o desejo de arrependimento e humildade.

Toda a sua vida nada mais é do que um "Não!" contra o "Sim!" de Deus , nada mais é que veneno e mau cheiro, e quando ouvem falar de amor e humildade, eles fogem, porque o amor é a morte para a sua vida falsa.
Isto se aplica tanto aos demónios como aos homens ímpios e condenados.

Portanto para Boehme quem não se salvou nesta vida terrena pela sua prática de entrega a Deus e Seu louvor e preferiu a via do pecado e da matéria , não é depois de morto que se salva , apenas permanece onde sempre esteve , na Ira de Deus e no Inferno interior .

O castigo da vontade perversa

Boehme toma esta posição sobre a base do mistério do livre-arbítrio.
Ele sustenta que o livre-arbítrio da criatura pode atingir um tal grau de obstinação e escuridão que a mudança da vontade já não é mais possível, porque a liberdade de escolha se perdeu definitivamente , dado que a imagem divina nessas criaturas empalideceu, e se tornou numa mera ‘figura‘ sem vida, impotente, e inoperante.

Eles nada mais querem senão o mal; o seu livre-arbítrio tornou-se uma necessidade inalterável .
Esta vontade que se auto-escureceu , que se auto-retirou da imagem divina , tem a liberdade de escolha irremediavelmente perdida e Boehme assenta nela a Fundação do Inferno, assim como a Fundação do Céu assenta na vontade que se auto-iluminou pelo Bem , na qual o Amor e a Luz são uma necessidade santa .

A partir do percurso de vida na terra se cria esta Vontade fixa e que já não muda mais , e que dora avante pertence a quem esta Vontade se abandonou , ou ao céu ou ao inferno .

Não é Deus que arbitrariamente atribui as penas eternas do Inferno.

Os ímpios desbloquearam o Inferno , acenderam o fogo do Inferno dentro de si, e agora devem seguir a sua escolha como irrevogável. Eles não vão estar no Céu ; não terão comunhão com Deus e não serão salvos .

Os condenados continuarão a opor-se a Deus

A concepção de Boehme sobre a condenação eterna consiste nisto: que os condenados vão ,com certeza, perceber que, após o Juízo final é absolutamente inútil lutar contra Deus, mas eles são, no entanto, obrigados a lutar incessantemente contra Ele, muito embora esta não seja uma luta real, mas uma fome para se opor , um desejo de unir-se a uma realidade que não podem alcançar.
Os condenados não podem ser aniquilados, porque um espírito não pode morrer. Um espírito deve mover-se incessantemente com a sua energia, mas, porque o condenado não pode adquirir os motivos para um novo movimento da vontade no sentido da humildade e do amor por meio do arrependimento, eles devem continuar indefinidamente a processar e repetir o seu falso movimento da vontade.

Localização do Inferno

Onde se situa o Inferno , quando a nova ordem da natureza é estabelecida, quando tudo se tornou no Céu, e o Reino da Glória chegou?
Não parece haver espaço para ele, mas Schelling , proximo da doutrina de Boehme , afirma que o inferno está no abismo mais profundo, abaixo da natureza, de modo que o inferno é o substrato da natureza, assim como a natureza é o substrato do Céu, do mundo dos espíritos abençoados. Segundo Schelling, o mal não existe mais em relação a Deus e ao universo, ele continua a existir apenas em si mesmo.
Tem agora o que ele quer - o isolamento absoluto, e, conseqüentemente, a separação do Mundo geral e Divino.
Está entregue às agonias do seu próprio egoísmo, à fome desse egoísmo.

As esperanças infundadas

Pode-se perguntar se Deus não é capaz de mudar a vontade da criatura ao longo do caminho da liberdade e do desenvolvimento educativo, o que não exclui, mas inclui, as punições mais severas e também castigos.
Se a imagem divina, que se encontra nestes espíritos perdidos como um cadáver sem vida, não pode mais uma vez tornar a viver por meio destes castigos e das influências da graça divina e a liberdade de escolha poder ser restaurada, de modo que eles possam redescobrir os motivos de humildade e amor ?

Um professor humano, pode chegar à conclusão de que ele deve desistir de alguns alunos que lhe foram confiados e admitir que todo o seu trabalho com eles foi infrutífero e desperdiçado.
Mas Deus pode ser concebido como um professor que é incapaz de superar a vontade da criatura, e deve abandonar parcialmente o Seu objeto, o universal e abrangente Reino do Amor?

Este é o pensamento que constitui o ponto de partida para aqueles que negam a doutrina da condenação eterna.

No entanto , como não são capazes de explicar como a restauração do diabo e dos homens ímpios para com Deus pode ser efectuada, esta ideia de restauração é uma suposição, e, por assim dizer, um tema apenas de falsa esperança, que ainda mantêm em virtude de ainda possuirem uma vaga recordação do que era o poder do amor eterno de Deus durante a vida na terra e pensarem, erradamente , que no inferno esse poder ainda possa existir e possa ser causa duma eventual restauração.

Mas ,segundo Boehme , no inferno não existe mais esse poder do Amor de Deus pelo que essa eventual restauração não poderá existir .

O demónio nunca será humilde

Para Böehme, é inquestionável que o diabo não pode, e não quer , tornar-se humilde.

Ao ver as agonias dos ímpios , ele repete as palavras de Cristo a Jerusalém,
"Vocês não quiseram !" O Senhor não diz: "Vocês não puderam !", e, porque eles querem continuar no mal de seus pecados, eles não podem.

Admoestação final

Para dar alguma esperança neste mundo de problemas, onde tudo depende de agarrar a Gaça oferecida, Ele repete frequentemente :
"Os lírios florescem sobre os montes e os vales em todos os confins da terra. Aquele que buscar achará!


Amén !!!






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