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sexta-feira, 7 de maio de 2010

A Genese segundo Jacob Boheme - 20

A Visão das 4 bestas -Ilustração de Gustavo Doré



Parte 20

A condição mágica após a morte.


As regiões do além.


A forma de existência da alma depois da morte


O estado após a morte é um estado de interioridade no reino de interioridade, em que não há esta corporeidade externa , em que, de fato, não há corporeidade real, na medida em que isso não faz o seu aparecimento senão após a Ressurreição e a consumação final.

Uma absoluta ausência de corporeidade é impensável, porque o espírito e a natureza, o interior e o exterior, não podem ser inteiramente separados, Boehme vem dizer , que existe uma corporeidade fina imperceptível aos nossos sentidos, uma corporeidade que não adquirimos no além, mas levamos connosco deste mundo.

Ele ensina, de fato, com Paracelso, que, por trás do nosso corpo material - que ele chama de "elementar, pois é formado a partir dos quatro elementos – existe um corpo mais sutil imperceptível aos sentidos, que ele chama de sideral, e , de fato, que, por trás deste corpo sideral, que mantemos apenas um breve período após a morte, há um corpo de Luz , que os piedosos e abençoados desenvolvem como se de uma roupa celeste se tratasse .
De acordo com Bohme ,a alma pode existir numa certa corporeidade intermediária, uma figura de corporeidade, ou um corpo simbólico, que só pode fazer-se conhecido pelo brilho e pelo som, e que está destinado a ser sucedido por um corpo real, quando a hora da Ressurreição chegar .

A forma da consciência

Os mortos estão numa especie de ‘’ magia " ,eles estão auto-conscientes numa condição de relativa não-corporeidade , eles percebem e compreendem , independentemente dos sentidos materiais normais , uma visão que, sem dúvida, se coloca em oposição à visão materialista que afirma que não pode haver outra forma de consciência senão aquela que está condicionada pelos órgãos físicos e o cérebro-consciência e com o conhecimento a eles associado , discursivo, fragmentário e com lacunas com o qual estamos limitados na terra .

A consciência Magica

Como símbolo dessa consciência mágica, Boehme nos remete ao sonho.

Ele ensina que as almas abençoadas repousam em doce sono , rodeadas por imagens abençoadas, e que as ímpios têm sonhos ansiosos e perturbados, que buscam ajuda, mas não conseguem encontrá-la.

Boehme , alude ao sonho, este contraste natural para o nosso consciente diário , como um símbolo da forma de consciência que nos espera após a morte.
Em sonhos estamos relativamente independentes dos sentidos materiais.
Num sentido mais amplo, podemos dar o nome de sonhos a todos os estados em que imagens claras passam diante de nós com o selo da realidade, sem a cooperação do aparato material dos sentidos, e nos quais , em vez de percepção sensorial , outra faculdade é mais importante, a faculdade da imaginação.

Não importa o quão vazios, sem sentido e confusos os sonhos possam ser , ninguém negará a possibilidade de visões que são construidas pelo trabalho da imaginação plástica e objectiva.

Na Bíblia, os mortos são chamados de "aqueles que dormem" .

O sonho, porém, é imperfeito, como um símbolo do futuro.
O futuro não é o sonho unilateral , a que estamos habituados e que contrasta com o entendimento acordado.
Pelo contrário, o sonho do além é caracterizado pela uma vigília mais que alerta.
Em vez de falar do estado dos mortos como um estado de sonho, seria mais correto falar dele como um "estado mágico’’. Os mortos estão numa especie de ‘’ magia ", embora admitamos que a nossa concepção desse estado é imperfeita .

O Tempo e o Espaço são abolidos

Na vida do além , as relações materiais de Tempo e Espaço são abolidas, mesmo apesar de estas poderem ser concebidas em diferentes graus e estágios.

O Tempo

O Tempo no além , em vez de sucessões , separações , seqüências incessantes, atrasos e intoleráveis restrições, que são as características fundamentais do nosso desenvolvimento no tempo, é constituido por circularidade e simultaneidade, onde tudo existe ao mesmo tempo, inteiro e completo.
Os mortos vivem numa eternidade derivada , seja ela abençoado ou impura.
Mas, embora a ‘forma’ da eternidade seja fundamental, ainda existe tempo nesta fase intermedia.

Este estado intermediário é um período de expectativa, durante o qual todas as almas esperam o Juízo Final com a ressurreição do corpo, um estado em que o "mágico" se torna na realidade mais perfeita.

O Espaço

E a mesma coisa se aplica em relação ao espaço.

Entre este mundo e o mundo do além, entre a terra e o céu existem relações ‘’mágicas’’, onde as limitações espaciais materiais normais deixam de ter sentido , onde as regiões mais elevadas devem envolver e penetrar as mais baixas , de uma forma supramaterial.

Boheme diz que a distância entre o céu e a terra não pode ser definida por kilometros ou por qualquer tipo de padrão terrestre de medição, e que não devemos supor que nós precisamos fazer uma longa viagem quando nós morremos, porque tudo está perto de nós.

Esta revogação das relações espaciais é comprovada por aqueles a quem foi concedido, de acordo com a Escritura, olhar para o céu, mesmo durante sua permanência na terra.
Eles estavam numa especie de ‘’magia ", e, embora eles ainda estivessem vivos , eles conseguiam ficar extasiados fora do seu corpo.

Quando olhavam para o céu, não precisavam de mudar de lugar, de superar obstáculos ou percorrer longas distâncias , pelo seu estado de ‘magia ‘ eles ‘estavam lá ’ quando o desejavam.

Os discípulos levantaram-se e olharam para o céu quando Cristo ascendeu mas a nuvem escondeu-O de seus olhos , o véu essencial que os impedia de vê-Lo era a sua própria carne, o seu corpo material , não uma distância espacial , se esse véu não existisse seria possivel olharem directamente para Ele .

Em suma , as forças e poderes celestiais estão muito próximas de nós, mas as nossas limitações materiais ‘criam ‘ distancias que , na verdade , não existem .

O Céu

Aplica-se ao Céu a frase de Boehme, "longe e perto é uma só coisa para Deus!"

O Céu está absolutamente livre de tempo , não existe separação entre perto e longe, separação, impenetrabilidade, distâncias intransponíveis não existem no Céu .
Na Escritura existem muitos céus, e, conseqüentemente, regiões superiores e inferiores no próprio Céu mas para Böhme, ele interpreta o Céu apenas em termos gerais .

Lembremos a Escritura quando diz de Cristo,que ele passou através dos céus para o Céu propriamente dito , que só pode ser interpretado como o mais elevado,o Céu Incriado e que, na oração do Senhor, nós não apenas oraramos ao nosso Pai no Céu, mas ao nosso Pai nos Céus.

Nas Escrituras fala-se num Lugar Santo , que corresponde aos Ceus criados mas invisiveis para nós , onde reside o abençoado Espírito do mundo, os santos anjos e os homens, que, em harmonia com a sua natureza e com a sua perfeição , olham em adoração para o Santo dos Santos, onde está o trono de Deus, o trono central da Sua Glória ,o centro mais profundo da Glória em si mesma .

A ausencia do tempo e espaço , do ‘ perto e longe ‘ é definida de acordo com a limitação da realização espiritual de cada um , de acordo com o que ainda lhe falta e os varios niveis de baixo a cima , podem assim se comprender com as palavras de nosso Senhor no que diz respeito à "Casa do Pai, e das suas muitas moradas".

Para Boehme existem apenas dois niveis , Ceu e Inferno , e isso está em toda a correspondência com a sua doutrina que, após a morte, há apenas dois estados - Salvação ou Danação e com a sua afirmação de que, após a morte, a alma já não pode alterar a sua vontade.

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