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quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Genese segundo Jacob Boheme - 16

A Tentação de Cristo -Ilustração de Gustavo Doré



PARTE 16

O PROCESSO DE CRISTO.

Expiação e Redenção de Cristo


O ponto central na obra de Cristo é a expiação e redenção.

A vida na criação foi perturbada e a "Temperatura" foi perdida.

Assim, então, um novo processo de vida e de sofrimento deve ser iniciado, a fim de que o processo de cura possa ter lugar e a "temperatura" ser re-estabelecida.

No "Processo de Cristo", Bohme dá ênfase especial a dois pontos: a tentação e a morte, com a história da Paixão.

Os três princípios estão presentes em Cristo, tal como em Adão: o Princípio da Luz, o Principio do Fogo e o Princípio do mundo, estando este ultimo subordinado aos outros dois.

Ele deve, contudo, ser tentado pelo diabo, para que Ele possa ser capaz de prevalecer nesse julgamento no qual Adão não prevaleceu e daí a sua queda .

Durante esta luta, Cristo fixou a Sua imaginação sobre o Pai e sobre o Reino da Luz, venceu as tentações dos sentidos e as da arrogância e ambição, e assim cumpriu a lei em nosso lugar .

Mas isso não é suficiente. Ele deve suportar a Ira de Deus em nosso lugar, deve fazer o sacrifício da expiação , deve extinguir a Ira com o Amor.

O lado material da Ira para Boehme é composto pelas três primeiras Propriedades Naturais, que são libertadas de modo independente , é o 1º ternário que constitui a natureza anti-divina em Deus .

Todas as forças perturbadoras e destrutivas, todos os sofrimentos e as dores que foram evocados pelo pecado do homem, e que os homens têm de suportar como a penalidade desse pecado, são carregadas sobre Cristo, e Ele vencê-as, e sacia a Ira pela Sua própria devoção voluntária à Paixão.

Morte do Eu individual

O objetivo do "Processo de Cristo" é que o Eu deixe de existir no homem e o Espírito de Deus possa ser tudo e o Eu apenas seu instrumento"!

Cristo Entrega-se à morte

Para cumprir esse objectivo é necessário que Cristo se entregue à morte, a fim de que ele possa vencê-la por dentro.
Seu corpo , ligado à carne do pecado, deve morrer na cruz, a fim de que o poder do Seu sangue celeste, o poder da vida eterna, possa vir a governar na humanidade carnal e espiritual .

"Quando Cristo estava na cruz, a Palavra de Deus estava imóvel agora na propriedade humana, e a Essencialidade recém-nascida, morta em Adão, mas novamente vivificada em Cristo, gritou :” Meu Deus, meu Deus! porque me abandonaste?

'' A Ira de Deus entrou dentro da imagem da Essencialidade divina, através da propriedade humana, e a Ira de Deus devorou a imagem de Deus na alma , quando essa imagem tinha como tarefa esmagar a cabeça da Ira de Deus no fogo da alma. Assim, deve não só o egoísmo da propriedade humana, a sua vontade própria de viver no poder do fogo, morrer e ser afogado na imagem do Amor, mas também a imagem do próprio Amor deve abandonar-se e entregar-se à Ira da Morte.
Tudo deve morrer, a fim de renascer na vontade e na misericórdia de Deus através dessa Morte , no Paraiso por essa renúncia, onde o Espírito de Deus seja tudo para e em todos ".


Nota :

Esta Essencialidade é o oposto da ilusão da Ira de Deus (Ira Deus =Diabo-demonio) . Portanto ao eliminar esta imagem ( imagem apenas ,pois a Essencialidade em si não existe em Adão ou no homem ) a Ira de Deus ( activada pela ilusão-adesão de Adão e do homem) , desequilibrou o equilibrio existente entre as Trevas e a Luz e fez com que esta se retirasse de Adão e do homem ( pois a Luz não suporta o egoismo humano ) , prevalecendo neles apenas as Trevas e Cristo tem de fazer o processo oposto ,i.e , retirar pela morte dos seus Eus humanos , pela Sua Paixão e Morte, a Ira de Deus e fazer um vazio onde essa imagem da Essencialidade de Deus se possa de novo implantar em equilibrio de forças .

Quando Bohme diz que a Essencialidade, que morreu em Adão e novamente vivificada em Cristo, exclamou: "Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste?" Nós acreditamos que podemos entender essa expressão profunda mas obscura, se tomarmos a "Essencialidade" para significar o Espírito como sendo distinto da alma, sendo o Espírito a imagem divinizada na natureza humana, o que faz com que seja capaz de Amor e de união com a Idéia, a Sofia Virgem .

Morte do Eu Espiritual

Não é apenas o corpo que deve morrer na cruz, nem apenas a alma a qual anseia por auto-preservação e prazeres terrenos, mas também o Eu espiritual, a Vontade do Amor, a Vontade em relação ao Reino de Deus, que Ele aqui está para estabelecer.

Este Eu Espirtual deve morrer porque é egoísmo, como algo que pertenceu ao próprio Cristo, porque o Amor não pode ter nada como seu próprio , como sua posse.

É necessario um vazio de Eus onde Deus possa agir e preencher com a Sua Vontade.

Era necessário que mesmo o Seu trabalho e o Seu reino se deveriam afundar na morte antes dele, ao mesmo tempo que a Palavra de Deus permanecia imóvel .

Pode se dizer que Cristo, durante toda a sua vida activa, nada procurou para si , mas tudo para o Pai, que Ele não procurava a sua própria glória, mas o do Pai .

Mas é precisamente isso que está agora em jogo , na Paixão e Morte, a constituir o Seu julgamento, onde Ele tem de sacrificar tudo.

Contudo a Vida da alma e do Espírito de Cristo não foram aniquilados nesta morte sacrificial, apenas a parte humana Nele, os seus Egos ( individual e espiritual ) tinham inteiramente entregue as suas próprias Vontades e a Vida da alma e o Espirito de Cristo foram fundidos na 1ª Vontade , na Vontade do Pai que era a sua primeira origem-raiz.

Quando Ele tudo entregou nas mãos do Pai, o Amor tinha engolido a Ira, e a cólera foi afundada na morte.

A "Temperatura" foi restaurada Nele, que agiu em nome da criação caída.

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