Parte 10
A Queda de Lucifer
A Queda de Lucifer
Lucifer era um grande Espírito de Luz
Lúcifer, no mundo angélico era um espírito poderoso da Luz, era, na verdade, o mais poderoso de todos os espíritos criados: tinha acima dele só o Filho de Deus, e ele governou sobre um domínio de mundos naturais , para nós indetermináveis, mas dos quais esta nossa terra fazia parte , encontrando-se então em maravilhosa beleza e glória.
Mas Lúcifer não quis manter-se como um espírito de luz, não continuou na verdade, ele conspirou contra Deus, e uma multidão de seus anjos subordinados compartilhou a sua queda, cujos efeitos se estenderam também ao mundo natural, que estava sujeito a ele .
A Origem do Mal
Aqui enfrentamos o mistério da origem do Mal, e a primeira coisa em que devemos fixar a nossa atenção é a Tentação.
Bohme indica a possibilidade da tentação com a sua doutrina dos dois centros, o Centro Natureza e o Centro Luminoso , Egoísmo e Amor.
Um Ser para ser tentado deve ter dentro de si dois princípios contrastantes e ele pode determinar-se a si mesmo de acordo com cada um.
É necessário que mesmo os anjos sejam tentados e provados, a fim de que a sua santidade não seja simplesmente natural mas possa ser condicionada pelo seu próprio livre-arbítrio.
Tentação ocorre na 4ª Propriedade Natural onde o fogo e luz, escuridão e luz estão separados.
É a vontade de Deus que a criatura deva sacrificar o princípio de Fogo ( o Egoísmo) ao principio de Luz, deva sacrificar o fogo da própria vida entregando-o à Luz, à Vida do Amor.
Com esta vontade de Deus , Lúcifer não iria cumprir. Ele viu a sua beleza, porque era maravilhosamente belo, ele considerou o seu poder, pois era um senhor poderoso, e ele passou para o reino da falsa imaginação .
Em vez de restringir a sua imaginação a Deus e servi-lo em obediência e humildade, ele fixou a sua imaginação em si mesmo, invejou o Filho de Deus, que era ainda mais bonito e poderoso do que ele e olhou para o mundo criado e entendeu a sua fundação.
Então ele imaginou que ele também poderia se tornar um Deus e domínar sobre todas as coisas pelo poder de fogo, que poderia tornar-se o Senhor do Fogo com um regime de fogo e que, ao materializar os seus próprios pensamentos , ele poderia destruir tudo o que Deus tinha criado, e substituí-lo por algo completamente novo.
O elemento fogo queimou dentro dele e desejou manifestar-se e a escuridão nele procurou tornar-se criatura ,procurou materializar-se .
Ele abriu seu Centro Natureza, deixou o equilibrio e então sua luz se apagou . A bela estrela estava totalmente escura.
A fundação do Inferno, escondido desde toda a eternidade, foi agora revelada.
Ele despertou em si o próprio Inferno e o princípio da Ira de Deus, as três primeiras propriedades naturais que agora têm domínio sobre ele.
Seu tormento consiste nisto: ele perpetuamente sobe para destruir o Coração de Deus, mas quando chega perto , ele mergulha de novo no mais profundo abismo. ( "Aquele que se exalta será humilhado!")
O Conflito com o Criador
Pode parecer absurdo que uma criatura possa desejar entrar em conflito com seu Criador numa oposição completamente desesperada.
Mas, se reflectirmos sobre todos os absurdos do mundo actual , todas as revoltas desesperadas contra Deus e sua ordem no mundo , e em todas as ilusões de ambição a que os espíritos humanos frequentemente se abandonam , não podemos pôr de parte que um evento correspondente, numa escala maior, poderia ter tido lugar no mundo angélico.
Lúcifer , disse Bohme , sabia muito bem que ele próprio não era Deus e previu o julgamento de Deus, mas ele não tinha uma percepção sensível desse castigo , mas apenas um conhecimento simples (algo meramente teórico); a sua percepção sensível era apenas do elemento fogo que queimava dentro dele, e que o incitou a desejar alguma coisa completamente nova, para se elevar acima de todos os reinos e acima de toda a Divindade.
A Ilusão de Lucifer
Os Anjos situam-se numa Eternidade derivada, e assim a ilusão estava pronta na mente de Lúcifer, quando o principio do Fogo o tentou dizendo-lhe que ele não devia pertencer a essa Eterna derivação , que Lucifer tambem tinha direito a uma Eternidade primitiva e que ele poderia entrar, como um Deus verdadeiro, um anti-Deus, em conflito com o Altíssimo.
Outra característica que os poetas têm atribuído a Lúcifer é sua confiança em sua própria imortalidade, a sua crença de que Deus não pode aniquilá-lo, e que, portanto, ele pode entrar em conflito com Deus impunemente .
É a consciência de se saberem espíritos , pois os espíritos são imortais, incorruptíveis e inextinguíveis, que incentiva o diabo e os demônios em seus desafios-tentações .
Na sua consciência espiritual eles iludem-se com a idéia de que uma autonomia absoluta lhes deve pertencer .
Eles simplesmente esquecem que eles não são auto-existentes ,que não possuem o atributo de "Criador", que a sua eternidade não é primitiva, mas derivada, e que o significado final da sua imortalidade inquestionável é apenas isso," O seu Fogo não é controlado "
O Mal deve-se ao livre arbítrio
Segundo a visão que predomina em Bohme, a realidade do Mal deve ser ligada exclusivamente ao livre-arbítrio e à livre escolha da criatura.
Ele insiste repetidamente que a idéia de que era impossível para Lucifer ter resistido à Tentação, é inadmissível.
Lúcifer, como os outros Anjos, teve a Luz da majestade de Deus diante dele.
Se ele tivesse centrado a sua imaginação sobre isso, ele teria continuado a ser um anjo.
Mas ele retirou-se do Amor, e passou para a Ira de Deus.
É verdade que Deus previu a sua queda, mas não a podia impedir .
Verdade também que o reino da imaginação sempre existiu desde toda a eternidade e assim lhe proporcionou a oportunidade de cair.
Foi, no entanto, absoluta e exclusivamente de seu próprio livre-arbítrio, e sem qualquer outro constrangimento, que Lúcifer entrou no reino da falsa imaginação.
Para Bohme a criatura inteligente possui em si mesma o Centro onde o bem e o mal se originam.
É falso supor que não seja a vontade de Deus querer todos no céu.
É Sua vontade que todos devem ser assistidos.
Mas cada ser desperta Céu ou Inferno dentro de si.
O que tu estimulares dentro de ti, quer se trate de Fogo ou Luz, é aceite pelo que lhe é semelhante, seja pelo Fogo da Ira de Deus ou pela Luz celestial do Amor.
Se alguém quer (=vontade) ser diabo, a Ira de Deus vai acolhê-lo , se alguém quer (=vontade) ser um anjo, a Luz de Deus o acolherá com um anjo.
Se um homem entra em maldade e egoísmo, a Ira de Deus confirma-o em sua escolha.
Se um homem entra na palavra da Aliança, Deus confirma que ele é um filho do Céu.
O Mistério do Mal
Decorre desta visão de que o que tem sido chamado de o Mistério do Mal, ou a queda do pecador, é um Mistério da liberdade de escolha.
Nenhuma resposta que não seja essa pode ser dada à questão por que razão Lúcifer se colocou na hostilidade para com a Vontade de Deus.
Porque ele quis que fosse assim, porque ele quis centrar-se em si mesmo.
A mesma resposta deve ser dada quando a questão da queda de Adão .
Fantasia vs Imaginação
De início a vontade que decide num sentido ou noutro ( bem ou mal ) está indiferente , pois nenhum motivo ainda a solicitou .
É necessário que vários motivos se lhe apresentem para que possa escolher entre eles.
Todos os motivos se apresentam à vontade decisora ( livre arbitrio ) como imagens fantasmagóricas do bem, seja um bem de verdade ou apenas um bem aparente.
As várias imagens que se apresentam ao livre arbitrio assumem cada vez mais a magia da cor, crescem definitivamente em forma, e tornam-se magicamente influentes.
E quando, finalmente, a criatura livre fixa o seu desejo sobre alguma delas , rende-se a ela, e leva-a para si mesma, essa imagem torna-se um forte poder de impulsão seja para a vida ou para a morte.
Se a vontade escolhe , deixa de ser livre.
O motivo para Lúcifer era a imagem fantasmagórica de sua própria grandeza e glória, e da novidade ,por ele desejada , que a sua decisão ‘revolucionária’ iria introduzir no mundo de Deus. O Mal é uma verdadeira anomalia
Para Boehme o mal não poderia deixar de se tornar real pois para ele há necessidade de contrastes para a manifestação da vida .
A maioria dos sistemas filosóficos encara o mal e o pecado como ligados apenas à finitude ,uma visão na qual Deus se torna na origem do mal e pela qual o mal é abolido como Mal , como sendo uma ilusão .
Segundo Boehme, não é a realidade do mal, mas simplesmente a sua possibilidade que está associada à finitude, e com a concepção de uma criatura livre.
Segundo Böehme, o Mal não é uma ilusão , mas uma anormalidade que entrou na criação, o resultado de uma separação real da unidade e totalidade, derivado da perversão dos poderes originalmente morais e bons, de uma relação pervertida de supremacia e subordinação; dependente do fato de que a criatura se coloca em oposição a Deus em se tornando um falso Centro , que pretende reunir à sua volta , tanto de dentro e como de fora, uma multiplicidade de forças, que constituem a sua esfera de poder.
O Mal é impotente
No entanto, apesar de todas as perturbações que ocasiona, o Mal continua, no essencial, a ser impotente , continua a ser apenas um esforço que nunca atinje a sua finalidade; continua a ser meramente subjetivo, sem nunca se objetivar .
O diabo, não obstante todo o seu poder perturbador, ainda é apenas o escravo de Deus, é obrigado na economia Divina a ser o instrumento de Deus, e, mesmo contrariado , a contribuir para a Glória de Deus. A Turba
Quando Lúcifer, por sua auto-inflamação, perde sua relação normal com Deus, ele arrasta com ele na sua queda o seu mundo natural subordinado , que tem seu centro na nossa Terra.
O então existente mundo natural era, de acordo com Böehme, fino e subtil, e havia uma ligação mágica entre o Espírito e a Natureza.
O Espírito é a unidade da natureza, das suas forças dinâmicas , e quando uma perturbação, uma explosão, por assim dizer, tem lugar no centro, é transmitida para todo o círculo , provocando na natureza uma Turba terrível!
A ligação das forças é quebrada, e, em vez de harmonia cooperante , todas as forças são deixadas a si mesmas e cada uma procura efectivar-se de uma forma particular .
Assim, surge um estado de caos, que tem o carimbo da Ira de Deus, com o fogo consumidor , a materialização, a escuridão e a morte.
Mas não é Vontade de Deus que esta confusão seja a condição final , Ele vai reagir.
Deus submerge todo debaixo de água e inicia uma nova criação.
As diversas fases da Criação, devem ser interpretadas como as etapas de uma luta progressiva entre Deus e os poderes das trevas, na qual as forças da Luz são restauradas à sua condição anterior, até o trabalho culminar no Homem.
O Aparecimento do Tempo
É agora que o que chamamos de tempo faz a sua aparição.
Segundo Böehme o tempo começa na queda de Lúcifer e na reação divina que se seguiu .
O sentido fundamental do Tempo é a luta da Luz contra as trevas, tanto no mundo espiritual como no físico, até ao triunfo perfeito da Luz .
Outras relações de tempo e espaço teriam surgido caso Lúcifer e, posteriormente, Adão , não tivessem caído.
O Tempo teria sido a forma para uma evolução rítmada e o Espaço a forma para relações corporais, condicionadas apenas pela idéia e pelo espírito.
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