Em Jacob Boehme, a sua visão da existência e do mundo, e do
próprio espiritual, não são convencionais e, em muitos aspectos, são difíceis
de entender.
O Deus de Boehme, por
exemplo, não ocupa nenhum lugar ou espaço, não existe no tempo, não pode ser
pensado, e é referido por ele como sendo o Nada
primordial.
Num espírito heterodoxo semelhante, William Blake escreveu:
"Não procures o teu pai celeste... além dos céus / Lá, mora o Caos e a
Noite Antiga", e "A IMAGINAÇÃO... é o próprio Deus".
Ambos opunham-se a uma crença literal numa supervisão de
Deus nos céus.
Para eles, tal visão coisificava o divino. Como o seguidor
de Boehme, William Law, declarou sobre os seus escritos, "não há nada que seja sobrenatural, por mais misterioso
que seja".
Ao longo dos seus escritos, Boehme enfatiza que "pode
acontecer não ser compreendido com clareza suficiente pelo leitor
desejoso" e que "será como alguém totalmente mudo para os não
iluminados". Na Aurora, ele afirma que quando a imaginação espiritual
ativa está verdadeiramente viva nele, "Eu absoluta e infalivelmente
acredito, sei e vejo...; no entanto, não na carne, mas no espírito, no impulso
e moção de Deus... Nem é esta a minha
vontade Natural, que eu pudesse fazê-lo pela minha própria pequena habilidade; porque se o Espírito fosse retirado de mim, então eu não
poderia saber nem compreender as minhas próprias Escritas". Este
reconhecimento das limitações dos nossos modos usuais, muitas vezes
condicionados e habituais de percepção e compreensão é essencial. É necessário
um tipo diferente de envolvimento e compreensão do mundo e da existência nele.
Boehme via a imaginação como algo profundamente diferente da fantasia. Ao contrário da concepção
comum, essa imaginação não é sobre o faz-de-conta, a criação do fantástico, nem
é a realização dos desejos. Boehme considerava-a como uma parte essencial da vida, um meio de romper o "círculo enfadonho" da
"ratio" da razão abstrata, do já conhecido e através daquilo que é
diferente e que está para além de nós. É um meio de nos colocar mais em contato
- e mais dentro - do mundo, agindo como uma ponte entre o indivíduo que
experimenta e aquilo que é experimentado. Ajuda a enraizar-nos na experiência
da vida. Como Boehme colocou, "a Essência exterior não atinge o interior da alma,
senão pela imaginação". A imaginação pode, portanto, fornecer
uma forma mais plena e verdadeira de conhecimento e de compreensão. Como Evelyn
Underhill percebeu, "O verdadeiro misticismo é ativo e prático, não
passivo e teórico. É um processo orgânico vivo, algo que todo o ser faz; não
algo sobre o qual o intelecto tem uma opinião."
É notável que, em contraste com muitos místicos e
visionários, Boehme deu uma grande importância às atividades dos sentidos.
Concebendo uma elevação imaginativa dos sentidos e das emoções que manifesta o
eterno e divino, Boehme fala da "harmonia do ouvir, ver, sentir, saborear
e cheirar" que é "a verdadeira vida intelectiva". Quando a faculdade racional é integrada, como deveria ser,
com todas as faculdades, a verdadeira Razão prevalece. Boehme é um
visionário. A percepção está no cerne do seu trabalho, assim como o
envolvimento imaginativo de todos os sentidos. O corpo
é, portanto, uma parte necessária de todo o ser. Isto está de acordo com
Boehme, que viu que sem um corpo o
"Espírito é vazio... não há compreensão... o próprio espírito não subsiste
sem um corpo".
Embora a imaginação nos ajude a colocar-nos mais plenamente
no mundo como ele é, a sua relação com este mundo é ao mesmo tempo criativa.
Embora Boehme não se encaixe nas ideias convencionais do que constitui ser um
artista, ele pode ser visto igualmente criativo num sentido mais amplo. Embora
o esquema visionário de Boehme - o surgimento do divino a partir do abismo
insondável, as atividades das sete propriedades e dos três princípios, e assim
por diante - seja muito complexo e entrelaçado para ser discutido em detalhes
aqui, pode-se notar que nesse esquema ele dá ao espírito criativo uma forma
individual, pessoal. O seu sistema visionário não é um conjunto de idéias, uma
construção lógica; nem é uma descrição simples ou direta dos movimentos da
divindade; nem é uma declaração do que a divindade é ou não é - antes, é um
meio imaginativo para abordar o divino. Neste sentido, pode-se argumentar que,
na sua obra, Boehme criou a sua própria forma de arte individual. Como ele
escreveu: "Um
verdadeiro cristão é uma palavra em contínua formação na voz de Deus".
A sua visão é dinâmica e imaginativa, e de acordo com a sua visão de que a realidade não é fixa, acabada e imutável e,
portanto, capaz de ser plena e finalmente compreendida e explicada. Em vez
disso, está a caminhar, em evolução,
em constante expansão. Como ele escreveu sobre a natureza da
investigação espiritual na Aurora: "o Ser de
Deus é como uma Roda, em que muitas rodas estão feitas uma na outra,
para cima, para baixo, em formas cruzadas e, ainda assim, continuamente giram
todas juntas... Quando um ser humano vê a roda, fica muito maravilhado com ela,
e não consegue imediatamente, no seu girar, aprender a concebê-la e
apreendê-la: mas quanto mais ele olha para a roda, mais ele aprende a sua Forma
ou moldura; e quanto mais ele aprende, maior Anseio ele
tem pela Roda; pois ele continuamente vê de alguma forma, que é cada vez
mais maravilhosa, de modo que um ser humano não consegue nem contemplar nem
aprender o Suficiente."
A realidade é inesgotável e, quando apreendida com
imaginação, revela continuamente novas possibilidades. De acordo com isto, os escritos de Boehme abraçam e
nutrem uma compreensão progressiva, cada vez mais profunda e criativa. Boehme
enfatiza a necessidade de cada indivíduo encontrar e interpretar novamente as
verdades que "residem no seio humano". Boehme escreve "Um,
entende sempre de forma diferente de um outro, na medida em que cada um é
dotado de Sabedoria; e portanto também ele a apreende e a explica".
O olho da imaginação
não olha apenas para fora, por assim dizer, e assim nos coloca mais firmemente
no mundo ao nosso redor, mas também
para dentro. Em muitos aspectos, os escritos de Boehme fornecem uma
visão profunda sobre o funcionamento da mente humana. O seu trabalho pode ser
visto, como Friedrich Schleiermacher e Robin Waterfield disseram de Boehme,
como "psicologia esotérica", ou "psicologia das
profundezas". Aquilo que é outro para além de nós, para além da 'ratio' do
nosso 'Poder de Raciocínio', também está dentro de nós, e a imaginação é um
meio importante de nos colocar em contato com ele. Vitalmente, Boehme
compreendeu que existem profundas capacidades latentes em cada indivíduo que,
na sua maioria, permanecem inexploradas e não realizadas: imensas
possibilidades que fazem parte das possibilidades que são naturalmente
inerentes a nós, que são o nosso direito por termos nascido. Boehme escreve:
"No Ser
Humano está tudo sobre o que o sol brilha, ou o Céu contém, como também o
Inferno e todas as Profundezas; ele é uma Fonte inesgotável, que não é capaz de
secar".
Boehme distingue entre uma forma inferior de compreensão que
está ligada, como ele disse, por um lado à "vida natural, cuja base está
num começo e fim temporais", e. por outro lado. um conhecimento
imaginativo, vivo e superior que é capaz de "entrar no terreno sobrenatural
onde Deus é compreendido". Grande parte do trabalho de Boehme é
direcionado às maneiras pelas quais os
seres humanos estão desligados da consciência de todo o potencial que está
dentro deles. Boehme equiparou esse exílio à Queda do Ser Humano. No
Mysterium Magnum, Boehme afirma que Adão "perdeu os seus olhos puros,
claros e estáveis, que eram de essência divina", e que essa essência
"permaneceu no ser humano, mas
que ela é como um nada para o ser humano na sua vida; pois está oculta".
O racionalismo desencarnado é uma das fontes principais
dessa perda. A
religião mundana também pode desligar o indivíduo da vida interior.
Boehme lamentou que "Os nossos sacerdotes se empenharam de Pés e Mãos com
Força e Poder, com o seu máximo Esforço, pela Perseguição e Reprovação... [e
dizem] que o ser humano não deve [ousar] pesquisar, nos Solos profundos, o que
é Deus; os Seres Humanos não devem pesquisar, nem intrometerem-se com
curiosidade, na Divindade". E assim, como Boehme acrescenta, "o Templo de Cristo foi transformado
em Templos feitos de Pedras, e a partir do Testemunho do Espírito Santo uma Lei
Mundana foi feita. Então, o Espírito Santo não falou mais livremente, mas tem
que falar de acordo com as Leis deles... e assim o Templo de Cristo no
Conhecimento do Ser Humano tornou-se muito obscuro". Como resultado,
Boehme acreditava que muitas vezes o Anticristo tinha sido confundido com Deus, e
que existem, nas suas palavras, "duas... Igrejas na terra; uma que busca
apenas... o Deus exterior... onde... reside o filho da Serpente. A outra, que
busca a criança Virgem e o reino de Deus... tem que sofrer por ser
perseguida." Se "o filho da virgem... não se manifesta... o diabo
manifesta-se".
Os escritos de Boehme fornecem a resposta: o "Espírito
de Cristo em Deus não estará sujeito a nenhumas Leis", pois o Ser Humano no Paraíso "não tinha
Lei, mas apenas a Lei da Imaginação". Ele acrescenta que "o
Espírito de Deus não pode ser julgado pela razão".
Com isto em vista, Boehme entendeu que cada indivíduo deve,
nas palavras de Boehme, "buscar e encontrar a si mesmo...
pois todas as coisas são geradas pela imaginação... e cada imaginação colhe o
seu próprio trabalho que ela criou". Para ele, a vida espiritual está centrada na experiência
interior, viva e pessoal: "tu mesmo deves ser o caminho, o entendimento
tem de nascer em ti... tu tens que entrar nele, para que o entendimento...
possa ser aberto para ti". Émile
Boutroux observa, sobre a visão de Boehme: "Um método vivo, apenas, nos
permite penetrar nos mistérios da vida. Ser, apenas, conhece ser." Ser,
apenas, conhece ser. Este é um ponto essencial. A autoridade máxima reside no potencial infinito dentro do indivíduo.
Boehme pergunta:
"Como é que tu não poderias ter Poder e Autoridade para falar de Deus, que
é o teu Pai, de cuja essência és tu?" Quando
"falamos do Céu e do Nascimento dos Elementos, não estamos a falar de uma
coisa distante de nós, ou de uma coisa que está distante de nós; mas nós
falamos de Coisas que são feitas no nosso Corpo e Alma; e não há nada mais
próximo de nós do que este nascimento, porque nós vivemos e nos movemos nele,
como na Casa da nossa Mãe; e quando nós falamos do Céu, nós falamos do nosso
país natal".
Como Boehme entendeu, "O Espírito que está em nós, que
um Ser Humano herda do outro, que foi soprado da Eternidade para dentro de
Adão, esse mesmo Espírito viu tudo, e na Luz de Deus ainda o vê; e não há nada
que esteja longe, ou seja Insondável". Mais uma vez, este 'Espírito' é
naturalmente inerente a nós. E sabendo disso, Boehme pergunta: "Onde irás tu buscar
a Deus? Nas Profundezas acima das Estrelas? Tu não serás capaz de encontrá-lo
lá. Busca-o no teu coração." Este "Nascimento tem de ser feito dentro de ti: O
Coração, ou o Filho de Deus, tem de surgir no nascimento na tua Vida; e então,
o Cristo Salvador é o teu pastor fiel, e tu estás Nele, e Ele em ti".
Olhando para fora e para dentro, a imaginação explora a
relação entre o indivíduo e o divino. Boehme declara: "Tu tens de elevar
os teus sentidos ou mente no Espírito se pretendes entendê-lo e apreendê-lo".
O visionário procurou despertar a mente dos seus modos usuais, muitas vezes
habituais, de compreensão e percepção, até uma consciência real e viva dos
termos limitados em que a vida muitas vezes pode ser vivida. Uma dessas
limitações é a suposição de que simplesmente vemos as coisas como elas são, que
os nossos olhos vêem fiel e completamente o que há no mundo, quando na verdade
a realidade como a entendemos é filtrada por nós. Novamente, Boehme acreditava
que a vida não é dada e fixada.
O ser humano não é apenas uma tabula rasa na qual a realidade se escreve. Nas
palavras de Boehme, "assim como é o espírito, assim é a essência": a
essência aqui é aquilo que é produzido pelo 'Espírito' que percepciona e,
portanto, determina. A responsabilidade encontra-se no indivíduo. Quando estamos
demasiado isolados da nossa imaginação e das possibilidades profundas dentro de
nós, o mundo, que é visto e experimentado, encolhe.
Por outro lado, quando a imaginação está a funcionar
adequadamente nos mundos exterior e interior, ambos ganham mais vida. Como
Boehme declarou, a alma é "poderosa...
ela pode, por magia, alterar todas as coisas, sejam elas quais forem, na
essência do mundo exterior e introduzi-las dentro da nossa essência".
Todo "Ser
Humano é livre e é como um Deus para si próprio". E "Deus
não é uma Criatura, também não um Criador, mas Espírito e um Abridor" Por
outras palavras, por meio da imaginação, experimentamos mais; e aquilo que
experimentamos - e assim entendemos - cresce,
expande-se. Mais uma vez, a imaginação coloca-nos mais em contato com -
incorpora-nos - mais à realidade, e apreciamos melhor que ela é inesgotável e
em constante expansão. Vital, para isto, é a compreensão de que o mundo exterior e o interior não
estão separados, mas envolvidos num inter-relacionamento dinâmico e profundo.
A existência não é finalmente redutível às categorias fixas de sujeito e
objeto. Para Boehme, a vida espiritual não está isolada dentro do indivíduo,
separada de um mundo exterior que permanece impassível e intocado
por ele, nem que, para além de nós, só existem as nossas experiências. Ele
percebeu que o espírito não pode ser verdadeiramente apreendido como um objeto
de conhecimento ou um estado meramente subjetivo. Ele vive por meio da
interação dos mundos interior e exterior aparentemente separados do ser humano,
permitindo-nos perceber que tudo o que vive é sagrado.
Neste sublime inter-relacionamento, a vida espiritual
interior é primordial. Boehme acreditava que no Paraíso o primeiro ser humano "viu com
olhos puros... O ser humano interior,
que é o olho interior, viu através do exterior." O eu espiritual interior
olha para fora e vê através do exterior. Quando este olho imaginativo está engajado
com o mundo, aquilo que foi drenado de vida pelo hábito e pela
superfamiliaridade, pela 'ratio', o 'círculo enfadonho' daquilo que já
conhecemos, é visto e experimentado novamente, como se pela primeira vez.
Por meio da imaginação, experimentamos um sentido muito
maior da realidade plena da existência - isto é, realmente vemos, sentimos e sabemos como é surpreendente, quão
extraordinário é estar vivo no mundo. E como o mundo exterior não está
isolado da vida imaginativa e criativa do interior, a realidade do mundo ganha
vida. Como "tudo
o que vive é sagrado", o mundo exterior "reflete de volta" a
vida do espírito. Como Boehme percebeu, "se o ser humano nasceu de Deus,
ele pode conhecer em cada Folha de Relva o seu Criador, no qual ele vive". Esta é uma expressão perfeita da unidade dinâmica entre o exterior e o
interior, e da necessidade de estar imaginativamente vivo para o único e
individual: vivo para os mínimos detalhes da vida.
A imaginação cria a ponte entre, torna possível, a
consciência da inter-relação entre o humano e o divino. A
crença de que "Deus apenas Age e É, nos seres existentes ou nos Seres
Humanos" também está em Boehme, que argumentou que Deus "se
manifestou no Mundo exterior numa semelhança, para que o espírito pudesse
ver-se essencialmente no Ser, e não tão sozinho, mas para que a Criatura da
mesma forma pudesse contemplar e observar o ser de Deus na Figura, e
conhecê-lo". Por meio da semelhança, Boehme explora a relação entre Deus e
o homem. Ele viu que ele "deveria formar e modelar figuras e imagens
sagradas com a minha boca e expressão; da mesma forma que Vós, ó Deus eterno,
formaste e emoldaste tudo por meio do Vosso santo Nome". A relação entre o homem e o divino pode,
assim, ser considerada, com ressalvas, como uma relação de interdependência.
Para elaborar sobre isto, Boehme considerou o mundo exterior
como "um Modelo ou Plataforma formada, onde a Grande Mente da Manifestação
Divina se observa a si própria num Tempo e brinca com ela própria". Boehme
identificou aquilo onde a "Grande Mente... se observa a si própria"
como sendo a Sofia, o espelho da Sabedoria. A Sofia é o "Vidro" no
qual, olhando através e não com o olho, nós vemos o divino: "Ela é a
Substancialidade do Espírito, que o Espírito de Deus veste como uma Veste, pela
qual ele se manifesta, ou então a sua forma não seria conhecida: porque ela é a
Corporeidade do Espírito, e embora ela não seja uma substância corpórea
palpável, como os Seres Humanos, ainda assim, ela é substancial e visível, mas
o Espírito não é substancial. Porque nós, Seres Humanos, não podemos, na Eternidade, ver
mais o Espírito de Deus, mas podemos ver apenas o Relance da Majestade; e o seu glorioso poder sentimos em nós, porque é a nossa
vida... Mas nós conhecemos a Virgem
em todas as suas Similitudes ou Imagens Celestes [enquanto] ela dá um corpo a
todos os frutos, ela não é a Corporeidade do fruto, mas o Ornamento e o
Brilho."
Para Boehme, a semelhança, em última análise, direciona a
imaginação para a "Imagem Divina", Cristo. Como Boehme afirma no
Mysterium Magnum, a "alma não pode ver Deus, exceto apenas na imagem do
recém-nascido: apenas através da, e na, virgem Sofia... no nome de Jesus".
Ninguém
"pode ver Deus, a menos que Deus primeiro se torne Ser Humano nele". Onde Boehme fala do "jogo do amor" da imaginação no espelho da Sofia,
Blake escreve sobre "os desportos da Sabedoria na Imaginação Humana / A
qual é o Corpo Divino do Senhor Jesus". A 'imagem' deste 'Corpo Divino' é
uma 'forma' da qual a imaginação humana pode 'tomar conta'. A imagem da
Encarnação de Cristo "reflete de volta" para nós a nossa própria
natureza corporificada e o potencial espiritual inesgotável dentro de nós; um
potencial que Boehme localiza em Cristo. Como Boehme escreveu, "o Chão
mais interior dentro do Ser Humano é... Cristo". A "Alma Humana é uma
Centelha do... divino". Para o visionário, a imaginação une-nos a Cristo.
O trabalho de Boehme é direcionado para a revelação do
Cristo unitivo e residente no interior que, como Boehme acreditava, "trouxe a Imagem
Divina para dentro... da Alma: E isto é feito pela Imaginação".
Ao mesmo tempo, como o mundo exterior e o interior não estão afinal separados,
mas inter-relacionados, entendeu que a imaginação não só nos une com Cristo
dentro de nós, mas também, como parte de uma única e mesma realização, com
Cristo no mundo fora de nós. Assim, Boehme declara: "Deus tem que tornar-se homem, o homem tem
que tornar-se Deus; o céu tem que se tornar uma única coisa com a terra, a
terra tem que ser convertida no céu". Por meio da vida imaginativa
do Cristo residente no interior, as distinções de exterior e interior
desaparecem, revelando a unidade e identidade definitivas dos dois.
Em particular, a imaginação é vital, porque ajuda a
colocar-nos em contato com o que é diferente de nós, no mundo exterior,
principalmente com as outras pessoas. Como Boehme viu, "só há Um Deus...
quando o véu é afastado dos teus Olhos, para que o vejas e o conheças a ele,
então também verás e conhecerás todos os teus irmãos". Todos os "seres humanos são apenas um ser humano... Deus criou-o
apenas a ele, e as outras criações, ele deixou-as para o ser humano".
Quando a razão está muito desligada de todas as outras faculdades e capacidades
humanas, ela pode abstrair-nos da nossa humanidade. A imaginação incorporada
humaniza-nos, coloca-nos no mundo como seres humanos e coloca-nos em contato
com todas as possibilidades que isso traz consigo. E quando isto acontece, a
verdadeira Razão pode funcionar.
A fecundidade abrangente do ser humano espiritual interior é
a fonte da
"variedade infinita" no
exterior. Explorar o nosso potencial por meio da imaginação, Boehme
encoraja-nos e incentiva-nos a fazer novas descobertas e a criar novas formas
de vida espiritual. Ele trabalhou contra a circunscrição da realidade. Para ele,
a realidade é
inesgotável e frequentemente está em
profundidades além da aparência superficial; e qualquer forma predominante de
pensamento e compreensão é apenas parcial. Nas palavras de Boehme,
"A palavra... que começou com o começo do mundo, ainda está... a criar".
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