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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Fases do Caminho Espiritual



Fala-se muito em Meditação.

O que existe antes e depois ?   É preciso ter um Mestre ?  Em que fases ?

Texto abaixo ilumina um pouco as várias fases do percurso Introspectivo do Caminho Espiritual.

Qual o objectivo ?  Alcançar a Consciência Continua explicada no fim do texto.

ANTES DA MEDITAÇÃO 

1)  Antes sequer de se pensar em meditar é preciso sabermos ter

    CONCENTRAÇÃO

A primeira prática a efetuar é a fixação do pensamento em um ideal e assim mantê-lo, sem permitir que se desvie. Tarefa sumamente difícil, deve ser realizada regularmente pelo menos até que se possa alcançar algum progresso.

O pensamento é o poder que empregamos na formação de imagens, cenas, pensamentos-formas, de acordo com as idéias internas. É o nosso poder principal, e temos de aprender a mantê-lo sob nosso absoluto controle de modo a produzirmos não absurdas ilusões induzidas pelas circunstâncias exteriores, mas sim imaginações verdadeiras geradas pelo espírito, internamente.

A única maneira de imaginar-se corretamente é conseguida pela prática ininterrupta, dia após dia, exercitando-se o pensamento, pela vontade, a manter-se enfocado sobre um assunto, objeto ou idéia, excluindo tudo o mais. O pensamento é um grande poder que costumamos desperdiçar. Permitimo-lo fluir sem qualquer objetivo, do mesmo modo que a água despeja-se no precipício sem aproveitamento na movimentação de uma turbina.

A força do pensamento é o meio mais poderoso para obter-se conhecimento. Se é concentrada sobre um assunto, abrirá caminho através de qualquer obstáculo e resolverá o problema. Possuindo-se quantidade necessária de energia mental, nada existe que esteja além do poder da compreensão humana. Enquanto a desperdiçamos, é uma força de pouca utilidade, mas tão logo estejamos prontos a enfrentar as dificuldades para dominá-la, todo conhecimento poderá ser nosso.

Todo êxito é alcançado através da concentração persistente no objetivo desejado.
Isto é algo que o aspirante à vida superior deve aprender positivamente. Não há outro caminho. A princípio se achará pensando em tudo quanto há debaixo do Sol, ao invés de pensar no Ideal sobre o qual tenha decidido concentrar-se, mas isso não deve desanimá-lo.
Com o tempo verá que já é mais fácil cerrar os sentidos e manter firmemente os pensamentos.

Persistência, persistência, sempre PERSISTÊNCIA e vencerá por fim. Sem ela, entretanto, não pode esperar resultado algum.

Não será de nenhuma utilidade fazer os exercícios duas ou três manhãs ou semanas, e deixar de fazê-los por outro tanto tempo. Para serem eficazes devem ser praticados fiel e ininterruptamente todas as manhãs.

Escolha-se qualquer assunto, de acordo como temperamento e convicções do aspirante, contanto que seja puro e consiga elevar a mente em sua tendência.

O objeto em si pouco importa mas, qualquer que seja, precisa ser imaginado vivente em todos os pormenores.

Se for uma flor, imaginemos que plantamos a semente no solo, fixando bem nossa mente sobre ela. Observemos a seguir o seu desenvolvimento, ao deitar raízes que penetram na Terra em forma espiral. Das raízes principais vejamos sair miríades de pequenas raízes ramificando-se em todas as direções. Então o caule começa a surgir, rompendo a superfície da terra, aparecendo como uma pequenina haste verde. Cresce mais: surge um botão, e dois pequenos raminhos brotam do talo. Continua crescendo, outro jogo de raminhos aparece, e deste brotam pedúnculos com folhinhas. Surge um botão na ponta que cresce até abrir-se, dele surgindo uma formosa rosa vermelha por entre o verde das folhas. Esta continua a desabrochar, exalando delicioso perfume que sentimos perfeitamente como se chegasse até nós, trazido pela balsâmica brisa estival que balança suavemente a bela criação ante nossos olhos mentais.

Só quando “imaginamos” do modo acima, sem sombras ou aparência vaga, mas clara e distintamente, é que penetramos no espírito da concentração.
Os que têm viajado pela índia falam-nos de faquires que mostram uma semente, plantam-na e a planta cresce rapidamente ante os olhos atônitos das testemunhas,  produzindo frutos que o viajante pode provar. Isto resulta de uma concentração tão intensa que o quadro torna-se visível, não somente para o próprio faquir mas também para os espectadores.

As imagens produzidas pelo aspirante serão a princípio obscuras e de fraca semelhança, mas depois, pela concentração, poderá evocar imagens mais reais e viventes do que as coisas do Mundo Físico.
Quando o aspirante estiver apto a formar tais imagens, e já conseguindo manter a mente sobre as imagens assim criadas, poderá tentar o desaparecimento súbito da imagem, mantendo a mente firme, sem pensamento algum, esperando o que possa surgir nesse vazio.
Talvez nada apareça durante muito tempo, mas o aspirante deve ter o cuidado de não criar visões por si mesmo. Se a prática for seguida fiel e pacientemente todas as manhãs, chegará o dia em que no momento que faça desaparecer a imagem, o Mundo do Desejo que o rodeia abrir-se-á aos seus olhos internos como num relâmpago. A princípio pode não ser mais do que um mero vislumbre, contudo não deixa de ser um sinal daquilo que virá mais tarde, sempre que o deseje.

2)  Após ter dominada a Concentração passa-se então à  

MEDITAÇÃO

Tendo praticado a concentração durante algum tempo, enfocando a mente sobre um objeto simples, construindo um pensamento-forma vivente através da faculdade imaginativa, o aspirante pode aprender pela Meditação tudo o que se refere ao objeto assim criado.
Se evocou e concentrou-se na imagem de Cristo por exemplo, é muito fácil reproduzir em meditação os incidentes de Sua vida, Seus sofrimentos e ressurreição, porém muito mais pode ser aprendido pela meditação.

Um conhecimento jamais sonhado inundará a alma com uma luz gloriosa. É melhor praticar com algo que não desperte tanto interesse e não sugira nada de maravilhoso. Procure descobrir tudo o que se refere, digamos, a um fósforo ou a uma mesa comum.

Quando a imagem da mesa se formar com precisão na mente, pense na espécie de madeira de que é feita e donde veio. Volte até ao tempo em que, como delicada semente, caiu na terra do bosque, desenvolvendo-se depois na árvore da qual a madeira foi cortada.
Observe-a crescer, ano após ano, coberta pelas neves do inverno e acalentada pelo Sol estival, crescendo continuamente enquanto as raízes penetram incessantemente na terra. A princípio é um tenro broto, balançado pela brisa. Depois, um arbusto que gradualmente cresce e se torna cada vez mais alto, buscando o ar e os raios do Sol. Com o passar dos anos a copa e o tronco tornam-se cada vez maiores. Por fim chega o lenhador, com seu machado e serra brilhando aos raios do Sol invernal. A árvore é derrubada e despojada da ramagem, ficando só o tronco que logo é cortado em toras e arrastado pelos caminhos gelados para a margem do rio. Ali têm de esperar a primavera, quando a neve derretida aumenta a correnteza. Faz-se um grande amarrado de toras, entre as quais estão os pedaços da nossa árvore. Conhecendo todas as suas pequenas peculiaridades, reconhecemo-la imediatamente entre milhares de outras, tão claramente temo-la gravado em nossa mente! Seguimos o curso da balsa pela corrente, observando as paisagens e familiarizando-nos com os homens que cuidam da balsa e dormem em pequenas barracas sobre a carga flutuante. Por fim, vemo-la chegar a uma serraria. Então, uma a uma as toras são presas a uma cadeia sem fim e içadas d'água. Aqui vem uma das nossas toras, de cuja parte mais larga será feito o tampo da nossa mesa. É erguida com alavancas pelos homens e arrastada para o galpão. Ouvimos o ávido chiado das grandes serras circulares. Giram tão rapidamente que parecem torvelinhos aos nossos olhos. A tora, posta sobre um carro, é conduzida a uma dessas serras, e num momento os dentes penetram na madeira, dividindo-a em tábuas e pranchas.
Algumas madeiras são separadas para formar parte de algum edifício, mas as melhores são levadas às fábricas de móveis. Metidas em estufas, são secadas pelo vapor para não empenarem depois de feito o móvel. Depois são alisadas por uma grande plaina, provida de muitas lâminas afiadas. Finalmente são cortadas em diversos tamanhos e coladas, para formar os tabuleiros das mesas. As pernas são torneadas das peças mais grossas e encaixadas na armação que suporta o tabuleiro. A seguir todo o móvel é alisado novamente com papel-lixa, envernizado e polido, ficando assim acabada, em todos os seus pormenores.
Por último é enviada à loja junto com outros móveis, onde a compramos. Transportada para nossa casa, deixamo-la na sala de jantar.

Dessa maneira, por meio da meditação, familiarizamo-nos com os vários ramos da indústria, necessários para converter uma árvore da Floresta numa peça de mobiliário.
Observamos todas as máquinas, os homens e as peculiaridades dos diferentes lugares. Até seguimos o processo da vida que fez surgir a árvore da delicada semente, e aprendemos que atrás de toda aparência, por simples que seja, há uma grande e absorvente história interessante. Um alfinete; o fósforo com que ascendemos o gás; o próprio gás; e o aposento em que acendemos o gás; tudo tem histórias muito interessantes que vale a pena aprender.

3) Depois de termos dominado a técnica de Meditar podemos passar à  

OBSERVAÇÃO

Um dos mais importantes auxílios ao aspirante que se esforça é a observação. A maioria das pessoas atravessa a vida quase às cegas. E literalmente certo dizer delas: “têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem”. Na maior parte da humanidade há uma deplorável falta de observação.

É muito importante que o aspirante à vida superior possa ver todas as coisas em redor de si de maneira clara, nítida, distinta, em todos os pormenores. Para os que sofrem da vista, o uso de lentes é como o abrir-se um mundo novo à sua frente. Em vez da anterior nebulosidade, tudo é visto clara e definidamente. Se a condição da vista requer o emprego de dois focos, não deve a pessoa contentar-se com dois pares de óculos, um para as coisas próximas e outro para as distantes, que obrigam a mudanças freqüentes. Não somente porque as mudanças são incômodas, mas também porque pode-se esquecer um dos pares ao sair de casa. Pode-se ter os dois focos num só par de lentes bifocais, e esses são os que devem ser usados para facilitar a observação dos pormenores.

4) Depois de praticar a Obeservação é tempo de ganhar

DISCERNIMENTO

Quando o aspirante tiver cuidado de sua visão, deve observar sistematicamente todas as coisas e todas as pessoas, e tirar conclusões dos fatos a elas relacionadas, a fim de cultivar a faculdade do raciocínio lógico. A lógica é o melhor instrutor no Mundo Físico, assim como é o guia mais seguro em qualquer mundo.

Quando se pratica este método de observação, é necessário ter bem presente que deve ser empregado exclusivamente para agrupar fatos, não com o propósito de criticar, nem que seja por brincadeira. A crítica construtiva, que assinala os defeitos e o modo de remediá-los, é a base do progresso. Mas a crítica destrutiva, sem nenhuma finalidade superior, que destrói vandalisticamente tudo quanto toca, de bom ou de mau, é uma úlcera do caráter que deve ser extirpada. As conversações frívolas e os mexericos são estorvos, obstáculos. Se bem que não é necessário dizer que o branco é negro, e dissimular que não se vê a má conduta alheia. A crítica sempre deve ser feita com propósitos de ajudar, não com o de manchar irresponsavelmente o caráter do nosso próximo quando nele encontramos alguma pequena nódoa. Relembrando a parábola do argueiro e da trave, voltemos nossa impiedosa crítica contra nós mesmos. Ninguém é tão perfeito que não necessite melhorar. Quanto mais impecável é o homem menos se inclina a encontrar faltas nos demais e atirar a primeira pedra nos outros. Ao assinalarmos alguma falta e indicarmos o meio de corrigi-la, devemos fazer isso impessoalmente. Procuremos sempre o bem que se acha oculto em tudo. O cultivo desta atitude de discernimento é especialmente importante.

Quando o aspirante ao conhecimento direto, tendo praticado os exercícios de concentração e de meditação durante algum tempo, neles se torna razoavelmente
proficiente, deve dar um passo mais elevado.

Vimos que a concentração consiste em enfocar o pensamento num só objeto. É o meio pelo qual construímos uma imagem clara, objetiva e vivente da forma, acerca da qual desejamos adquirir conhecimento.


Meditação é o exercício pelo qual seguimos a história desse objeto, pondo-nos em relação com todos os pormenores a ele relativos e ao mundo em geral.
Esses dois exercícios mentais relacionam-se, da maneira mais profundamente imaginável, com as coisas. Conduzem a um estado mais elevado, penetrante e sutil de desenvolvimento mental, que se refere à alma das coisas.

5 )  O nome desse estado mais elevado é a Contemplação.

CONTEMPLAÇÃO

Diferentemente da Meditação, na Contemplação não é necessário esforço de pensamento ou de imaginação para conseguir-se a informação desejada. Este exercício consiste simplesmente em mantermos o objeto ante a visão mental e deixar que a alma dele nos fale. Repousando tranqüilamente num divã ou na cama - não de modo negativo, mas completamente alerta - esperamos a informação que virá com certeza, se já alcançamos o devido grau de desenvolvimento. Então a Forma do objeto parece desvanecer-se, passamos a ver unicamente a Vida em atividade. A Contemplação ensinar-nos-á tudo relativamente ao aspecto da Vida, assim como a Meditação nos ensinou tudo sobre a Forma.

Quando alcançamos esse estado, e pomos diante de nós, digamos, uma árvore na floresta, perdemos de vista a forma por completo e só veremos a Vida, que neste caso é o espírito-grupo. Descobrimos então, para nosso assombro, que o espírito-grupo da árvore inclui os diversos insetos que dela se alimentam. Assim, tanto o parasita quanto o tronco em que ele se prende são emanações do mesmo espírito-grupo, pois quanto mais subimos nos domínios do invisível menos formas separadas e distintas encontramos, e mais completamente a Vida Una predomina, e imprime no investigador a noção suprema de que não há senão Uma Vida - em Quem realmente “vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”. Os minerais, as plantas, os animais e o homem - todos sem exceção - são manifestações de Deus, e este fato fornece a verdadeira base da Fraternidade, uma fraternidade que inclui tudo, desde o átomo até o Sol, porque todos são emanações de Deus. Fracassaria o conceito de fraternidade que se baseasse noutro princípio qualquer, como o das distinções de classes, das afinidades de raça ou de ofício, etc.. 

O ocultista compreende claramente que a Vida Universal flui em tudo que existe.


6 )  Quem consegue dominar a Contemplação pode avançar para a 

ADORAÇÃO

Quando, por meio da Contemplação, se alcança esta altura, isto é, quando o aspirante compreende que de fato ele contempla Deus na vida que tudo compenetra, deve dar um passo ainda mais elevado e atingir a Adoração.

Através deste exercício ele se une à fonte de todas as coisas, alcançando assim a maior altura possível de realização pelo homem fisico, até que chegue o tempo em que essa união torna-se permanente, ao fim do Grande Dia de Manifestação.

É opinião de todas as Tradições que nem as alturas da contemplação nem o passo final da Adoração podem ser alcançadas sem a ajuda de um Mestre. O aspirante nunca deve temer que, por falta de um Mestre, seu progresso seja retardado. Nem necessita preocupar-se em procurar um Mestre. Tudo o que precisa fazer é começar a aperfeiçoar-se, e continuar nesse trabalho diligente e persistentemente. Desse modo purificará seus veículos, que começarão a brilhar nos mundos internos. Este brilho não pode deixar de atrair a atenção dos Mestres, os quais sempre atentos a tais casos, estão ansiosos e contentes por ajudar aqueles que por seus sinceros esforços de purificação adquiriram o direito de receber ajuda. A humanidade está duramente necessitada de auxiliares que possam trabalhar nos mundos internos.

Portanto, “buscai e achareis”.  Contudo, não se imagine que a procura consiste em andar passando de um Mestre para outro. “Procurar”, no sentido da palavra, nada significa para este mundo tenebroso. Nós mesmos é que temos de acender a Luz, - a Luz que seguramente irradia dos veículos do aspirante diligente. Essa é a estrela que nos conduzirá ao Mestre, ou melhor, que conduzirá o Mestre até nós.

O tempo necessário para alcançar-se resultados por meio dos diversos exercícios varia de indivíduo para indivíduo, e depende da sua aplicação, grau de desenvolvimento e dos seus registros no Livro do Destino, pelo que não se pode estabelecer um tempo-padrão.
Alguns, que já estão quase prontos, obtêm resultados em poucos dias ou semanas. Outros têm de trabalhar durante meses, anos e talvez durante uma vida inteira, sem obter resultados visíveis. Não obstante, os resultados são uma realidade, de modo que se o aspirante persistir fielmente obterá algum dia, nesta ou em futura vida, a recompensa de sua paciência e fidelidade: os Mundos internos abrir-se-ão aos seus olhos, tornando-se cidadão de reinos onde as oportunidades são imensamente maiores do que no Mundo Físico somente.

Daí em diante - desperto ou adormecido, através de tudo que o homem chama vida e de tudo o que chama morte - sua consciência será ininterrupta.

Levará uma vida de consciência contínua, beneficiando-se de todas as condições que permitem um avanço mais rápido para posições cada vez mais elevadas, e empregá-la-á na elevação da humanidade.

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