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sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Não reprimir mas ''limpar'' os Demónios




O Eremita Evágrio dava grande importancia à consciencialização do que são os nossos "demónios", a reconhecê-los e, assim, privá-los do seu poder. 

Ele falava sobre a “purificação das emoções”: purificação e transfiguração das emoções, de regresso ao seu estado original de energia divinamente concedida.

É importante ter em mente que Evágrio não estava falando em reprimir emoções, mas em “limpá-las”. 

Precisamos de purificar aquelas que foram distorcidas por necessidades não satisfeitas do ego. 

Na verdade, elas precisam ser expressas, o que é melhor explicado por Máximo, o Confessor, quando diz:

“No entanto, não crescemos por evitar o conflito, a irritação ou o aborrecimento, mas por tentar, delicadamente, esclarecer os mal-entendidos e, se isso não for possível, incluindo a outra pessoa nas nossas orações, mantendo o silêncio, recusando-nos inteiramente a dizer mal dela”.

Quando Deus criou a Humanidade, não nos deu apenas o nosso instinto de sobrevivência, mas também uma alma, a sede das emoções, para aprofundar e enriquecer as nossas experiências. 

Todavia, a parte emocional da alma pode tanto ser uma ajuda quanto um obstáculo.

Já vimos que as emoções são um obstáculo quando dirigidas, maioritariamente, por desejos materiais e necessidades não satisfeitas, pois elas nublam a visão e dificultam o acesso ao que os filósofos gregos chamam o "nous", a inteligência intuitiva, a parte mais elevada da alma, o nosso ponto de comunhão com a Realidade Divina. 

A vitória sobre os “maus pensamentos” conduz à “apatheia”, um estado de equilíbrio emocional, serenidade e harmonia. 

Então, já não somos dominados pelos apaixonados desejos do nosso ego e podemos tornar-nos conscientes da luz do Divino dentro de nós. 

Isso permite-nos viver na Presença Divina e “saber”, intuitivamente, como ela se relaciona com a realidade quotidiana e como a influencia:
"O Reino de Deus é “apatheia” da alma, juntamente com o conhecimento verdadeiro das coisas existentes." (Evágrio)

Esta harmonia, a reintegração de todo o seu ser e da consequente liberdade espiritual eleva os ascetas ao nível de "anjos". 

Como vimos, os “demónios” estão lá para nos atrapalhar, os "anjos" estão lá para nos ajudar. 

Portanto, quando os ascetas atingissem este estado, eles também se tornariam mais e mais preocupados com o bem-estar dos outros e auxiliá-los-iam, guiados pelo amor:

 "Agape [amor incondicional] é o fruto de apatheia."

 A “praxis”, portanto, nunca é vista como se referindo ao nosso próprio progresso espiritual; ao contrário, a experiência do "amor incondicional" na visão de Deus leva a um aumento do amor compassivo em relação a todos e à harmonia e união com todos: 

"Feliz é o monge que vê o bem-estar e o progresso de todos os homens com tanta alegria como se fossem seus”.


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