São Teófanes o Recluso - A Guerra contra as Paixões
Teófanes o Recluso (1815–1894) , também conhecido como como Teófanes o Eremita, foi um santo da Igreja Ortodoxa Russa, traduziu para russo as obras dos Padres do Deserto e da Filocalia.
Se nosso espírito se afastar de Deus, o poder de auto-determinação dado ao homem por Deus também será retirado de nós.
Dessa forma um homem não pode mais dominar nem as
inclinações da alma ou as necessidades do seu corpo ou os contatos externos.
Ele será despedaçado pelos desejos de sua alma e de
seu corpo e pela vaidade da vida exterior, embora todas essas coisas no nível
superficial pareçam contribuir para seu próprio prazer e felicidade.
Compare esses dois estados da vida e você verá que no
primeiro o homem vive totalmente dentro de si mesmo diante de Deus e que no
segundo o homem está totalmente fora de si mesmo, esquecendo Deus.
Esse segundo estado da vida é tornado muito pior pela
entrada das paixões que se enraízam no ego e penetram toda a alma e o corpo e
dão uma direção maligna a tudo o que está lá, uma direção que não é
construtiva, mas sim destrutiva, afastando o homem do caminho do Espírito e do
temor a Deus, colocando-o contra a sua consciência.
Dessa maneira o homem se torna ainda mais superficial
do que antes.
Dando a si mesmo numa entrega súplice para Deus e Sua
graça, chame cada uma das coisas que incitam-lhe ao
pecado e tente afastar o seu coração delas, dirigindo-o
para o oposto delas.
Dessa forma elas serão arrancadas do coração e sua
violência irá retroceder.
Nessa tarefa, dê livre redea
ao seu poder de discernimento e conduza o coração vigiando-o.
Essa luta contra as forças do mal é absolutamente
essencial se queremos dominar nossa vontade.
É necessário continuar trabalhando sobre nós mesmos dessa maneira, assim, ao invés de auto-piedade, é nascida em nós uma atitude impiedosa e implacável para com nós mesmos, um desejo de sofrer, de torturar a nós mesmos, de cansar nossa alma e nosso corpo.
É necessário continuar trabalhando sobre nós mesmos dessa maneira, assim, ao invés de auto-piedade, é nascida em nós uma atitude impiedosa e implacável para com nós mesmos, um desejo de sofrer, de torturar a nós mesmos, de cansar nossa alma e nosso corpo.
Isso deve ser continuado até que, em vez de tentarmos agradar os homens, formemos um sentimento de repulsão contra todos os maus hábitos e conexões – até que formemos uma resistência hostil e feroz contra eles, ao mesmo tempo submetendo-nos a todos os males e depreciações que os homens inflijam a nós.
É necessário prosseguir trabalhando até que nosso apetite exclusivamente por coisas materiais, sensórias e visíveis desapareça completamente e seja substituído por um sentimento de desgosto por tais coisas, que em seu lugar comecemos a ansiar e buscar apenas o que é espiritual, puro e divino.
Em vez da mundaneidade - a limitação da vida e da
felicidade somente à essa Terra – o coração venha a ser preenchido com um
sentido de ser apenas um peregrino na Terra, cujo
anseio seja totalmente por seu lar celestial.
Após o despertar inicial
através da graça, o primeiro passo cabe ao livre arbítrio do homem.
Exercendo esse livre arbítrio, ele viaja para dentro
de si mesmo de três maneiras.
Primeiro, sua vontade inclina-se para o que é bom e
escolhe isso.
Na segunda, ela remove os obstáculos: para desatar as
amarras que o atam ao pecado, ela bane do seu coração a auto-piedade, o desejo
de agradar os homens, a inclinação pelas coisas sensórias e mundanas e em seu
lugar ela incita a impiedosidade para com ele mesmo, a ausência de desejo por
coisas dos sentidos, a aceitação de todo tipo de desgraça.
Ela o faz sentir que seu
verdadeiro lar está no mundo vindouro, enquanto que aqui ele é apenas um
errante e um exilado.
Em terceiro lugar, o livre arbítrio é inspirado a
prontamente enveredar pelo caminho correto, não permitindo auto-indulgência e
fazendo o homem manter-se constantemente em alerta.
Dessa forma tudo se acalma na alma.
Incitado pela graça, o homem é libertado de todas as
algemas e com total prontidão diz para si mesmo: vou
erguer-me e seguir adiante.
A partir desse momento outro movimento se inicia na alma – um movimento na direção de Deus.
A partir desse momento outro movimento se inicia na alma – um movimento na direção de Deus.
Tendo dominado a si mesmo através da compreensão dos
motivos de todas as suas inclinações e assim reconquistando a liberdade
interior, ele deve agora sacrificar-se por completo para Deus.
Ainda assim, apenas metade do
trabalho foi alcançado.
A guerra contra as paixões que é requerida de nós é essencialmente uma guerra da mente.
Nós obtemos êxito nela ao negar todo alimento para as
paixões e assim matando-as de fome.
Mas há também a guerra da
ação, que consiste em deliberadamente empreender e realizar o que é diametralmente oposto às nossas paixões.
Por exemplo, para conquistar a avareza deveríamos
distribuir dinheiro livremente; para lutar contra o orgulho deveríamos escolher
algumas ocupações degradantes, para superar um anseio por divertimento
deveríamos ficar em casa e assim por diante.
É verdade que esse método usado sozinho não conduz
diretamente à meta, pois quando suprimida a paixão pode forçar sua entrada ou
retirar-se para dar lugar a alguma outra paixão.
Mas quando essa luta ativa une-se com a interior, as
duas juntas rapidamente tonam-se aptas a superar qualquer ataque das paixões.
Se a batalha é conduzida apenas internamente ela
expulsa a paixão da consciência do homem, mas a paixão ainda permanece viva,
embora não esteja em evidência.
Mas a oposição ativa apunhala essa cobra bem na
cabeça.
Isso não significa que a luta interna deveria ser
abandonada.
Ela deveria permanecer constante, de outro modo a luta
poderá ser infrutífera e nossa inclinação às paixões poderá até aumentar em vez
de diminuir.
Se abandonarmos a batalha interna, poderemos descobrir
que enquanto lutamos com uma paixão, uma outra nos cliva: por exemplo, nós
expulsamos a glutonia com o jejum e então a vanglória assume o seu lugar.
Se falhamos em dar a devida atenção à batalha
interior, nenhum esforço, não importa o quão enérgico, dará frutos.
A batalha interna aliada à oposição ativa às paixões ataca-as igualmente de dentro e de fora e assim destrói-nas tão rapidamente quanto um inimigo é destruído quando e cercado e atacado pela frente e pelas costas.
A batalha interna aliada à oposição ativa às paixões ataca-as igualmente de dentro e de fora e assim destrói-nas tão rapidamente quanto um inimigo é destruído quando e cercado e atacado pela frente e pelas costas.
De modo a impedir seus pensamentos de vagarem, você
deveria adquirir um sentimento de estar constantemente com Deus no coração.
Assim não haverá espaço para pensamentos estrangeiros.
Para parar de condenar os outros você deveria
tornar-se profundamente consciente da sua própria
pecaminosidade e afligir-se a respeito dela, lamentando por sua alma
como se ela estivesse morta.
Como foi dito: com alguém da
sua familia morto em casa você não se preocupará com o funeral de outra pessoa.
É dito que a vaidade é um ladrão interno que está coligado
com ladrões de fora.
Ela abre a porta e as janelas para eles, eles entram e
causam grande devastação internamente.
Quem sabe? Talvez o período de trevas que você
experimentou e que o abandonou assim que você orou é uma fraude do inimigo para
engendrar pensamentos de vaidade – para fazê-lo dizer para si mesmo: 'Como sou
bom na oração! No momento em que oro todos os demônios se afugentam!'
Atente-se: se pensamentos de vaidade vêm a você após a oração, isso mostra que
o inimigo está tentando aguçar o seu orgulho.
Torne uma regra nunca encorajar de bom grado qualquer
pensamento, sentimento ou desejo proveniente das paixões e manda-los embora com
aversão assim que você os notar.
Dessa forma você será sempre inocente perante Deus e
sua consciência.
Você ainda terá a impureza da paixão em você mas
também terá inocência.
O diabo não tem acesso à alma, a alma não abriga ela mesma nenhuma paixão.
Em tal estado ela é
transparente e o diabo não pode vê-la.
Mas quando ela admite o movimento de uma
paixão e consente esse movimento, ela
escurece e o diabo a vê.
Ele aproxima-se dela audaciosamente e assume
controle sobre ela.
Duas paixões malignas principalmente perturbam a alma
– a luxúria e a irritabilidade.
Quando o diabo consegue aprisionar alguém através da
luxúria, ele o deixa sozinho em seu turbilhão: o diabo não se incomoda mais,
exceto talvez para o perturbar um pouco com a raiva.
Mas se um homem não adere à luxúria, o diabo
apressa-se em incitar-lhe à raiva e reúne ao redor dele um número de coisas
irritantes.
Um homem que falha em discernir as artimanhas do diabo
permite-se ficar irritado com qualquer coisa, permitindo que a raiva o domine,
então ele 'dá lugar ao diabo'.
Mas um homem que abafa toda explosão de raiva resiste
ao demônio e repele-o e não dá lugar a ele dentro de si mesmo.
A raiva que 'dá lugar ao diabo', faz com que o inimigo
imediatamente entre na alma e começa a sugerir pensamentos, cada um mais
irritante que o outro.
O homem começa a inflamar-se
com a raiva como se estivesse em chamas.
Esse é o fogo do inferno.
Um homem que rapidamente supera a ira dispersa essa
ilusão e assim repele o diabo como se lhe desse um forte golpe no peito.
Existe alguém que, após extinguir sua raiva e analisar
todo o assunto de boa fé, não percebe que havia algo errado na base de sua
irritação?
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