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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Rogo a Deus que me liberte de Deus !!


Imaginar Deus é o maior estorvo no caminho espiritual.
Mestre Eckhart

2 seres, um “ser individual”,  impermanente e sujeito à mudança; hoje, chamar-lhe-íamos o “ego”, o eu superficial.
Um segundo  ser o o nosso “verdadeiro ser”, que é a ideia de nós mesmos, tal como já existia na mente de Deus antes da Criação.
Esta é a nossa essência divina, a nossa “faísca”, que é, portanto, eterna e imutável.


 Uma consequência inevitável de sermos criados é a de ficarmos somente focados no nosso “ser individual”, impermanente e sempre em mudança; esta preocupação pode esconder totalmente o nosso “verdadeiro ser”.
Esquecemos a nossa verdadeira origem e o nosso verdadeiro destino.
Essencial, portanto, que desenvolvamos a clareza de visão, desapegando-nos da nossa preocupação obsessiva com o nosso ser material e o seu ambiente.

 É a este nível que fazemos Deus à nossa imagem:
Por isso, rogo a Deus que me possa libertar de Deus, pois o meu ser real está acima de Deus, se tomarmos Deus como sendo o princípio das coisas criadas.” 
Mestre Eckhart

Afirmação arrojada que o colocaram em sarilhos.
Eu interpreto-a do seguinte modo: “Portanto, rogo à Deidade que me liberte das minhas imagens de Deus, pois Ele e o meu verdadeiro ser são mais do que qualquer imagem.”
A ênfase está na recordação da nossa “faísca”, que é “o templo da Deidade”, consistindo, assim, na mesma substância da Deidade e, portanto, superior a qualquer coisa criada.
“De modo similar, tenho dito muitas vezes que há algo na alma que está estreitamente relacionado com Deus, que é uno com Ele e não apenas unido. […] É uma unidade e uma pura união.”

Qualquer imagem de Deus apouca Deus.
 
Não é apenas a imagem de Deus que nos cega para a Verdade, mas, também, a tendência para ver tudo a partir do nosso ponto de vista, fazendo equivaler os nossos padrões com os de Deus:
Ao expressar a impossibilidade de descrever Deus e as Suas qualidades, Eckhart fá-lo, como sempre, de forma audaz, para chocar os seus ouvintes, forçando-os a sair das suas ideias preconcebidas. 
 
A sua visão é uma visão unitiva da profunda experiência espiritual, onde tudo é Um: “Verdadeiramente, sois o Deus oculto no terreno da alma, onde o terreno de Deus e o terreno da alma são um só terreno.”

As nossas imagens de Deus são vistas por Mestre Eckhart como a consequência das nossas imagens de nós mesmos e dos que são importantes para nós, o que afecta de forma significativa o nosso relacionamento com Deus. 

Além disso, elas mantêm-nos focados no Deus “externo”, ao qual sentimos que podemos dar um nome e, desse modo, podemos controlar; mas Mestre Eckhart sublinha: “Deus não é nem isto nem aquilo”. 
Ele é muito crítico destas imagens e da mentalidade utilitária que exibem e sabe que estas constituem o maior estorvo no caminho espiritual. 

“Há os que estão apegados às suas próprias orações e exercícios externos ( ex. solidariedade social , rituais comunitarios) , que parecem importantes para as pessoas. 

Deus auxilie aqueles que têm a verdade divina em tão baixa estima! 
 
Essas pessoas apresentam uma imagem exterior que lhes dá o nome de santos; merecem grande estima aos olhos dos homens que não sabem ver mais do que isso, mas eu digo que elas estão erradas pois não têm qualquer entendimento da Verdade Divina.”
Nenhuma experiência da Presença pode alguma vez ser conquista nossa, mas
é um acto da Graça. 
 
Tudo o que precisamos de fazer é abrir a mente ao Divino: “Só Deus sabe o que tem de fazer… e vós tendes que passar por isso”.

Só estando verdadeiramente desapegados de todas as imagens e ideias preconcebidas é que podemos regressar à Deidade e saborear a pureza da Natureza Divina, tornando-nos plenamente um:
O olho com que vejo a Deus é o mesmo olho com que Deus me vê. O meu olho e o de Deus são um olho, um que vê, um que sabe e um que ama.”

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